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Cap1:
Por Maya Volpyn
- Eu não esperava que ela me empurrasse.
Lana me levou até o mirante como costumava fazer nos dias bons. Ela me ajudou a andar, pacientemente, enquanto eu reaprendia tudo do zero desde que saí do coma.
Quando o sol começou a aquecer os jardins da mansão, ela riu alto, como se o mundo tivesse sido feito só para ela. Caminhamos em silêncio até a beira do lago. Ela parou, encarando a água com um brilho estranho nos olhos.
- Você sabe quem está vindo à mansão hoje? - ela perguntou, e eu a encarei confusa.
- Não sei bem, parece que nossos pais vão receber um alpha?
- Não é qualquer alpha... e meus pais ouviram algo dos anciões, que o alpha, após pisar na cidade, encontraria sua Luna, e ele de repente está vindo para nossa casa. Não é incrível? - ela perguntou empolgada, mas eu baixei os olhos com desânimo. Com certeza ela poderia estar ao lado do alpha. Era bonita, inteligente e forte. Ela era realmente talentosa.
- Eu não sei muito sobre isso... mas se pode controlar quem o destino escolhe? - perguntei pensativa.
- Pois é, não se pode. Mas pode ser uma chance. Pode ser que ele seja meu companheiro. Estou torcendo para isso... além disso... - ela abaixou o olhar, quase hesitando. - As revelações poderiam dizer com fé que a companheira dele está nessa casa. E pode ser eu.
- Não se preocupe, irmã. Você será a pessoa que vai ser companheira do alpha com certeza. Porque é uma loba notável. Eu, como uma ômega fraca, nem teria o direito de olhá-lo nos olhos. No mínimo, ainda tenho que conseguir andar com minhas próprias pernas sem sentir dor. - comentei, e ela sorriu de orelha a orelha.
- Verdade, não é? Não que eu esteja feliz por isso, mas é o sonho de qualquer loba da alcateia querer se tornar a Luna. Ainda mais do alpha que se tornou superior na região. Por ser de uma descendência rara de deuses, aposto que ele possa ser tão lindo quanto dizem.
- E implacável também - pensei - o pouco que ouvi desse alfa, as histórias são como histórias de terror. Um lobo que já é feroz e forte não deveria ter o poder dos raios. É assustador saber que ele usa seus poderes para oprimir seus serviçais e todo o povo.
- Maya, você está bem? - ela perguntou, me despertando dos meus devaneios.
- Estou sim. Apenas admirando esse lugar. É lindo... Todas essas plantas, essas flores... tudo parece tão mágico, não é? - perguntei, tentando esconder a dor nas pernas, apoiando-me na grade da ponte para acompanhar minha irmã gêmea. - É por isso que você me traz aqui todo dia?
- Na verdade... - ela suspirou, ainda com os olhos fixos no lago. - Eu venho aqui com você pensando em uma coisa. Passei dias criando coragem... fingindo que só quero passar um tempo com minha irmãzinha fofa, mas a verdade é um pouco mais crua, Maya.
- O que você quer dizer com isso?
- Sabe... normalmente nos tempos antigos os lobos mais fracos eram sacrificados. Afinal... viver nesse mundo seria um sofrimento terrível para eles. Mas... você... eles tiveram nós duas ao mesmo tempo. Será que eles não perceberam que foi o destino os abençoando com a chance de saber que poderia perder uma, mas que ainda tinham outra? Mas, em vez de se livrarem de você, eles apenas deixaram você sobreviver. Até que estivesse acordada e pudesse se tornar uma pedra em meu sapato.
Eu não tive palavras para responder nada. Como ela mudou da água para o vinho tão de repente?
- Você tem recebido atenção demais, não tem? Desde que acordou, é como se eu tivesse desaparecido. Nós somos gêmeas, Maya, idênticas... Mas me tratam como uma sombra - disse ela, sem sequer olhar para mim. Seus olhos estavam fixos no reflexo do lago.
- Lana... não é assim...
Tentei responder, mas minha voz falhou. Falar ainda era difícil. Tudo estava voltando devagar: força, coordenação... palavras. E, diante do que ela acabara de dizer, eu nem sabia como reagir.
Mas Lana percebeu. E sorriu. Um sorriso cheio de desprezo.
- Sempre foi assim. A mamãe dormia no seu quarto, chorando por você todas as noites. E agora, mesmo acordada, você ainda é o centro de tudo. Até os professores são mais gentis com você. - Ela finalmente se virou para mim. - Por que você simplesmente não morreu, Maya?
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