Pecadora
. - Eu sou. - É nada! - Claro que sou. - Quer me enganar, Isa? - Balançou a cabeça. - Aquele cara não é pra você. É um imbecil! - Não fale assim do Isaque! - Um idiota, como o Ab
varais externos naquela manhã de domingo, ressaltando a aparência feia da vizinhança. A feira do dia anterior tinha deixado um cheiro de frutas podres no ar devido aos montes de lixo acumulados nos cantos à espera do lixeiro, que só passaria na segunda-feira. Para piorar, os vira- latas espalhavam todo o lixo em busca de comida. Meus pais seguiam à frente na calçada, sérios, bem- arrumados. Ele, de terno; ela, com uma roupa de domingo. Abílio ia depois, com o filho caçula no colo. Estava bem acima do peso, e suas pernas roçavam uma na outra. Seus cabelos rareavam, embora não tivesse nem trinta anos. Suava muito e, assim como Ruth, parecia acabado. Minha irmã vinha ao meu lado, respirando fundo por conta do peso da barriga de sete meses. Levava a filha pela mão. Nas esquinas, prostitutas e travestis já tinham encerrado o expediente da noite anterior. Algumas iam para casa por ali mesmo, outras paravam num bar para tomar a saideira. Eu tinha a impressão de que a pobreza se perpetuava em certos lugares. Muitas pessoas tinham passado pelo bairro, mas eu não via ninguém melhorar de vida nem tentar mudar aquele lugar. Digo, meu pai bem que tentava. Ele tinha montado na igreja um programa de arrecadação e distribuição de alimentos e iniciativas para arrumar emprego e moradia para quem não tinha e para auxiliar vítimas de tragédias. O pastor Sebastião podia ser excessivamente rígido, seguindo seu entendimento dos textos bíblicos e impondo costumes à família e aos fiéis, mas era um homem honesto, que tentava ser justo e nunca tinha desviado nem um real da igreja para proveito próprio. Vivíamos apenas do seu salário como pastor. Tudo o que arrecadava ele investia em obras sociais. Ajudava muita gente, a ponto de não ter tempo para si mesmo. Deixava suas vontades de lado em nome de algo maior, que era evangelizar. Cada pessoa que levava para a igreja, cada alma que libertava do que entendia como vício ou pecado, era uma vitória para ele. Dizia ser esse seu papel no mundo. Depois de muitos anos de trabalho, a sede da igreja Deus É