Transdiferenciação
já apa
sse acesa perto de seu rosto. Sua pele, entretanto, ainda estava arrepiada, gelada após dormir sem pro
e. Uma camisa grande de quando ela fora mais gordinha, com um cachorro de boca aberta est
chamasse sua atenção. Era um espelho grande, barato, que estava colado na parede. Refletido na superfície, Natália
seu antig
estava acontecendo. Ela tinha dormido na poltrona de Breno, lembrava-se bem. Não tinha acordado
va-se bem dele. Antes de adormecer, por muitos anos no final da infância e em toda a adolescência, ficava de barriga para cima na cama vendo-o girar devagar, o motor lentamente morrendo sem jamais ceder. Ela gostara mu
ível aquele ventilador continuar em seu quarto, funcionando em glória dec
de se lembrar que não tinha mais cabelo comprido desde a época da faculdade. Estremeceu e sentou-se na cama por alg
ão, o que precisava fazer. Recuou da janela e, d
estava acontecendo, mas sabia o que veria: seu eu mais jovem. Era o mesmo cabelo loiro, as m
erta estampado na cam
ingou na própria cabeça que girava enquanto se sentava no chão e tentava examinar o rosto. Ainda não tinha
a da mesinha. 05:15, revelou a tela quando ela clicou no botão para ligar o aparelho. Em cima, a data apareceu nítida: segunda-feira, 30 de junho de 2008. Natália fechou os olhos, f
como fora até agora, ela teria que ir à aula. Mas teria mesmo? E se ela apenas continuasse sentada ali, mal se mexendo, mal
cordou
ue pensou ter ouvido um estalo no pescoço. Era a
enquanto terminava de abrir a porta, contornando a cama para sentar-se ao seu lado e lhe dar
ia era apenas um pouco mais claro. Os olhos, entretanto, de um tom claro de azul, que Natália pelo visto indubitavelmente herdara do pai – quem quer que ele tivesse sido, porque Joana nunca falava dele. Durante muito tem
ando d
a cabeça, aguentaria r
ê est
ia, coçando a cabeça e bocej
na
sse para se arrumar. O café
ente a aparência da mãe com tantos detalhes, mas ali ela estivera, perfeitamente real com seus quase quarenta anos. Isso lh
passo era
r e foi andando rápido, fazendo um rabo de cavalo enquanto se aproximava da mesa. Omelete francês, pensou, comovida, claro que ela tinha feito omelete francês. Era o que Natália mais gostava. H
para o outro enquanto se arrumava para o trabalho, quando a campainha toco
, vá abri
ha tocava de novo. Então ela se recordou. Terminou de destrancar a segunda fechadura, abriu e enc
nsino Médio os beijos eram por si só ritos de passagem, mas ele fora o primeiro que namorara. Apresentara à mãe e tudo, lembrou-se, contendo uma inesperada onda
antemente correspondeu, tentando não pensar que estava agarrada com um rapaz que acabara de atingir a maioridade há
ssurrou ele no seu ouvid
zer algo que evidentemente queria há muito tempo. Escrúpulos jurídicos errôneos, concluiria mais tarde. Ficou o encarando por um tempo, algo espantada de perceber o quanto ele ia mudar pouco, quase nada, conforme os anos pa
ê est
a cabeça, afas
ouco de sono. Nã
a hora n
onvenceu o professor de Matemática a deixar fazerem uma pequena fe
a
Ób
te dissera a mesmo na primeira vez. Olívia fora sua melhor amiga naquele perío
sas – continuou ela, fech
iro? Queria mijar de
ntrando em casa ele não viu seu rosto franzindo-s
ra uma pomposa instituição meio falida que se certamente se venderia como de elite até o fim. Seus preços eram, é claro, de acordo, e tanto Natália quanto Henrique só estudavam lá por meio de bolsas de estudo. Tinham sido unidos pela p
r que uma afta a e
manhã, todos haviam apoiado entusiasticamente a ideia de Olívia. Quem testemunhasse aquilo, como o professor de Matemática que rapi
ou Olívia, poucos antes de dar a primeira gar
Natália sem um v
e escorrera para o queixo dela. Olívia parecia particularmente espevitada naquela manhã com os cabelos escuros pr
ara me perdoar? – pergun
nsou Natália r
deu enquanto pousa
a pergunta de Olívia. Mas que ciclo temporal inútil seria aquele se apenas
ar para sair,
ito leve de Henrique, m quem estava apoiada. Sabia que ele tinha outros planos. Mais tarde, ele lhe confessaria isso quando ambos e
ncertada, antes de cutucar Henrique do outro
na frente deles. Adolescentes aparentemente não faziam pausa enquanto falam. Sentia-se febril enquanto entra
e estavam sempre ausentes de casa, mas o irmão mais novo dele nunca saía fora a escola, no máximo chamando amigos para jogar videogame. Desta forma, eles nunca tinham fica
para nervosismo. Aquela aberração, fosse sonho ou alucinação, certamente deveria
coma. Aquilo tudo poderia ser seu último sonho antes da morte, ou talve
há algum tempo d
o tempo de aula que era dela, sabia perfeitamente do relacionamento dos dois e, enquanto fazia os alunos rearrumarem as carteiras após a festinha, o despachou com prontidão para o outro lado da sala. Isso deveria ter sido bom para ela. Mesmo que estivesse apreensiva com toda a situação, até com repugnância, ainda assim Nat
ndo v
borno com bolo, girara para encará-la. Agora na lateral esquerda da cadeira, suas coxas estavam ainda mais morenas do que já eram naturalmente, assim como seus braços e o colo vis
ser
ra o início do nariz largo,
ê não é feita de gelo, o cara é bonito e tem uns braços
sconfortável, tentando se lembrar do motivo pelo q
inando o esmalte descascado –, acho qu
rregalou
ser
e ele estava esperando por
endo Olívia retirar os antebraços de sua mesa e recuar
ue seria a p
u alguns segundos para voltar a se inclinar. Quando pegou na mão dela, Nat
m seria a dele – e, em resposta à testa franzida de Natália, corou e comp
Natália sombriamente, el
– decretou, endirei
Nã
vamo
sem graça. Obviamente
m, m
você não me
ntes de conceder e, sorrin
orte público do que de costume, mas a leveza da companhia da Olívia de 17 anos a desanuviara de tal forma que Natália quase esquecera da situação kafkiana que estava ocorrendo. Ambas ainda se davam bem, e era impossível ter raiva dela naquele momento por algo que ainda não fizera. Natália decidira, de qualquer
cas, futuro, e, óbvio, sexo. Natália tinha se esquecido o quanto Olívia era entendida a respeito desde então. Apesar de ser alguns meses mais jovem, ela tinha perdido sua
Natália, que não tinha bebido nada apesar de ser agora legalmente habilitada para tal, tentou desviar e argumentar com a leveza apropriada, mas diante da incessante e inapropriada curiosidade de Olívia acabou, por fim, admitindo que não se sentia confortável para aquilo. Dissera mais querendo encerrar o assunto; e
Não era de admirar que não se sentisse confortável naquele momento. O que a espantara e quase indignara pelo atraso na percepção foi o fato que não se s
a se tinha tido o
ou-se Natália. Tirou a roupa e entrou no banho. Felizmente lembrara a tempo de girar a torneira que liberava água quente. Lavava o cabelo e tentava entender o motivo de seu desconforto mais cedo, que tinha sido tão
o pensamento antes de p
ostava que ele a desejasse. Tinham ficado juntos por anos, de fato, e por que não? Henrique era i
ar e, sentindo-se tonta, sentou-se no c
sta certamente perceberia o ato de ir para a cama como uma deixa para acabar. Ao fechar os olhos, já na cama quente, Natália pensou novamente que poderia estar em coma. Diferentemente de mais cedo, a impr
a e pegava o celular. 05:15, revelou a tela quando se iluminou. Terça-feira, 01 de julho de 2008. 18 anos e um dia. Fechou os olhos e gemeu, caindo para trás em direç
erceira vez, Natália finalmente reconhece
e, batera
a, você
s momentos frustrantes não estava exatamente em seu planejamento,
cola assistindo aula de Física. Não tinh
odia fazer de diferente em seu presente, não depois que Breno morrera. Tudo pareci
atá
arar Olívia, que parecia
que
ixo o caderno há uns ci
ça e escreveu a data na
. Nem consegui to
pinou Olívia – Quase parece qu
eira e cutucando os colegas aglomerados para conseguir pass
ue ao seu lado. Sentia uma dor s
e acon
omeçou a rir quando levantou os olhos e
m calo enorme – j
que ac
m a aula de Física. Eu e o professor Sa
r as horas no relógio. O segun
to se erguia da maca, sabendo bem que nunca perd
mãos em suas claví
ou se você estava grávida e eu respondi que não
ca. Era claro que não iria a
stou c
estudo
vestibular que faria estavam de fato a poucas
chou prudent
na mão dela. Natália tinha se es
se forçar assim. Pa
fé da manhã. Só d
imos anos – continuou ele antes que ela terminasse a sentença
ras por noite. Eu lembro. Est
não disse nada. Então, apertou sua mão por
ou o rosto. Henrique recuo
z, deixando a cabeça repousar no pequeno t
naquele momento o sinal tocou acima
purrando de leve com a mão direi
ão ach
ntes que uma das Irmãs ent
ra sair. Antes, porém, se inclinou sobre ela e deu-lhe um leve beijo
que
a sorte que tenho
tinha saído pa
ronco baixo do médico na sala adjacente. Para todos os ef
a casa, e Natália estremecera de frio. Enquanto cobria sua pele nua com um cobertor, Henrique fizera uma piada sobre não entender como ela estava com frio depois de tanta ativid
ivendo era uma espécie de linha temporal paralela, ela já tinha m
terminar c
ta ao seu quarto, jogou a mochila no chão e caiu na cama de costas sem se preocupar em tirar o u
poderiam estar totalmente diferentes após as pequenas mudanças que ela mesmo fizera. Não era possível saber. Antes, ela acharia que um desmaio era inócuo o suficiente, mas ele conseguira sozinho adi
om Henrique, não estariam juntos anos adiante e muito menos morariam juntos, passando a conviver então por to
, ele não
suas economias para adquirir quando ainda era uma estudante de Direito quebrada. Quando ela entrara e vira, não fizera nada, só ficara parada por alguns ins
guém colocara uma mão em seu ombro. Sentira uma
s de hesitar um pouco, e
ndagara ela antes q
táli
de qu
e ficar
almente quando Natália já a
palavras que ficariam crava
se eles estavam juntos todo o tempo do expediente e em casa? Como assim você não estava lá,
estava vazio como se nada tivesse acontecido. Após alguns dias, depois que Henrique
no automático, mais no âmbito do costume do que do sentimento. Moraram juntos por pura questão de praticidade, estendendo à casa a relação que tinham na empresa em que Natália t
Natália ainda n
la nunca tivera a oportunidade de tomar. Mas seria justo trair-se dessa forma e permitir que ele desse o próximo passo da relação entre ambos? Porque ela não queria. Quisera n
a terra lhe parecia uma indecência. Não podia fazer. Mas tinha que fazer, porque senão talvez nunca o teria con
coração para acalmar o sobressalto e, de repente, sentiu pesar. Ele estava vivo, e provavelmente continuaria vivo se Natália nunca aparecesse em sua vida. O acidente poderia ter sido uma fatalidade, mas se ela não estivesse lá não teria ocorrido. Se ela não tivesse aparecido em sua v
amara mais do que ela o amara? Poderi
utras no lugar onde havia estado a cicat
ias desculpas, desculpas esfarrapas que imaginava que começariam a estabelecer a situação na cabeça dele. Quando por fim se reun
mbra de tentativa para beijá-la – Acho qu
sido felizes, sua relação animada pela novidade da experiência sexual. Hoje, porém, não existia felicidade e muito menos novidade, e nem
reno ir em seu coração. N
ra o m
cho que preci
ada, mas ela via sua
er –Só acho que estou em outro lugar agora
stibular
o en
confortável que se estabeleceu, continuou a co
Me
ências Bi
u. Natália começou a se arrepender de ter continu
reito. Não acho que não
nsiderando a decisão de reabrir a b
a com consequências práticas dos fatos do que
eu. Dali a pouco o sinal que sinalizava o fim do recreio tocava.
a soubera que ele também tinha se casado. Talvez, naquela nova cascata de acontecimentos que ela cria
. Não poderia prejudicá-la não perder a melhor amiga daquela forma dolorosa. Podiam ser muito
que você termin
deu de
o me
ncia, então, ela soube o que se seguiria. Tal
me incomo
O q
ntar algo
umiu um ar
nun
ubitamente cansada – Se quiser pod
lhou sem a
baixinho, com a indignação na voz
À distância, s
e entrado em coma, caso em que não podia fazer nada. Queria acreditar que aquilo tinha uma explicação que poderia compreender. Se existia alguma forma de entender a temporalidade torta em que de alguma forma
ia por nunca poder cultiv
existia naquele seu presente atual. Quando confrontada com o impossível, recitou me
para Olívia - Fiz o que pud
ue fosse me