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Perdidos em um Sonho

Perdidos em um Sonho

K.Torres

5.0
Comentário(s)
2.2K
Leituras
10
Capítulo

Quando Ethan e Alicia se envolvem em um acidente de carro, suas vidas se cruzam de maneira que jamais imaginaram. Uma história cheia de reviravoltas, segredos e romance. Eles serão capazes de compreender o incompreensível? De lutar pelo inimaginável?

Capítulo 1 Maio de 2023 - Ressurgir

Alicia abriu os olhos com bastante dificuldade, sentia seu corpo dolorido e uma leve dor de cabeça. Não era para menos, por um ano ela esteve em coma após um trágico acidente de carro.

Ela acorda desorientada, olha para os lados, e sem entender muita coisa, vê sua mãe ao lado de sua cama. Vários sentimentos a confundiram nesse momento e enquanto vagava seu olhar pelo quarto em que se encontrava, lágrimas brotaram de seus olhos.

Alguns fragmentos de sonho iam e vinham rapidamente em sua cabeça. Era confuso tudo o que ela estava experimentando naquele momento, e então ela percebeu que, tudo o que havia vivido até aquele momento, teria sido apenas um sonho, um lindo sonho e somente isso.

Ao perceber então que Alicia havia acordada, sua mãe com lágrimas nos olhos se aproxima rapidamente, a abraça fortemente e por alguns minutos elas permanecem assim.

Alicia havia se tornado um verdadeiro milagre. Ainda que tentasse pôr em ordem todos os pensamentos que vinham na sua cabeça, era em vão, não havia uma explicação plausível ou lógica para tudo o que vivera até então.

As lágrimas se intensificaram, e Alicia abraçou sua mãe mais fortemente. Enquanto sua mãe a confortava com seu abraço ela apenas dizia:

 Está tudo bem agora meu amor. Estamos juntas novamente.

Mas, Alicia não conseguia parar de chorar, era um mix de emoções por ter uma segunda oportunidade na vida, e, ao mesmo tempo por perder um grande amor que até então ela acreditava ser real.

Aquele dia foi o início de uma segunda chance em sua vida, e mesmo que ainda não entendesse como ou porque teve essa chance, agradeceria cada dia pela oportunidade de abrir os olhos e estar ao lado das pessoas que ama.

Dias após sair do coma, Alicia já estava em casa descansando e se pondo ao dia com tudo o que tinha acontecido em um ano, enquanto esteve em coma.

 Mãe, não precisa se preocupar, eu dou conta daqui para frente. E eu vou organizando aos poucos as coisas que quero mudar no apartamento.

 Imagina Alicia, você ainda tem que manter repouso. Não pode pensar que só porque saiu do hospital já pode sair correndo para lá e para cá.

 Eu sei mãe, mas. Preciso retornar a minha rotina. Vocês já fizeram demais por mim.

 Para isso somos sua família. Nós ajudamos quando mais precisamos uma da outra.

 Ta sendo tão difícil mãe, entender tudo isso. Eu preciso agora ocupar minha cabeça sabe, preciso arrumar um emprego e me distrair para não pensar tanto nas coisas que aconteceram.

 Eu imagino filha. Nós até tínhamos pensado em vender seu apartamento. Mas aí Alexandra disse que quando você acordasse iria gostar de vir para o seu cantinho.

 Sim, vocês fizeram bem em não vender. Obrigada por tudo o que fizeram por mim.

 De nada. Era difícil vir aqui.

 É tudo tão diferente mãe. Tão estranho. Sinto um vazio tão grande no meu peito.

 Eu não sei nem o que falar meu anjo. Imagino que deve ser mesmo bem difícil. Por isso falamos que seria muito bom se você procurasse alguma ajuda psicológica.

 Eu sei mãe, eu vou me organizar e vou sim.

 Te fará bem.

 Tenho tantos sentimentos mãe, de tanta coisa que perdi. Eu não pude me despedir do Brian – E enquanto Alicia foi falando sua voz foi embargando – Não pude ver minha sobrinha nascer. Eu nem mesmo sei quem sou eu agora.

E nesse momento a mãe de Alicia a abraçou e deixou que ela continuasse falando e chorando.

 Eu perdi tanta coisa mãe. Brian era uma pessoa importante para mim, perdê-lo assim e ainda sem nem mesmo poder me despedir. Eu ainda não consigo entender, como tudo isso foi acontecer. Foi tudo muito rápido.

 Sinto no meu coração que Brian salvou você aquele dia.

 Eu não lembro do dia do acidente mãe, de nada, não tenho como te assegurar isso, ainda que fosse isso, ele perdeu a vida dele.

 Ele estará sempre em nossos corações. Vai ficar tudo bem Alicia.

 Eu sei que vai mãe.

Após alguns minutos ali abraçadas, a mãe de Alicia a soltou e continuou:

 Você tem certeza que ficará bem sozinha?

 Sim, mãe. Pode ir. Sei que a Ale precisa da senhora também. Eu vou ficar em casa hoje, vou descansar um pouco.

 Se precisar de algo, pode me ligar.

 Pode deixar mãe.

Ao ficar sozinha Alicia preparou uma xícara de chá e sentou-se na varanda. Era um ótimo lugar para relaxar e pensar. Alicia ainda não tinha parado para organizar tudo o que viu e viveu enquanto estava dormindo.

Colocou uma música para tocar, e ficou sentada observando a natureza desde a sua varanda. Alguns flashes do que foram esses 365 dias em coma vieram a sua mente.

Durante os três meses de recuperação, Alicia sempre estivera rodeada pela família e pelos amigos, fazendo com que não tivera tempo para colocar seus pensamentos em ordem. Sentia-se estranha, por mais que tudo o que ela considerava real até aquele momento, durante esses três meses ela simplesmente escolheu não pensar tanto nisso.

Tentando reconstruir sua rotina, estar mais tempo sozinha, lhe deu tempo para refletir, e pensar em tudo o que foram esses 365 dias.

Ao despertar Alicia tinha um único sentimento, seu amor por Ethan, e como tudo isso aconteceu de forma intensa, e inesquecível. Ainda que fosse um sonho, ela carregava o sentimento de ter ao menos uma vez em sua vida aprendido o significado verdadeiro do amor. Com o passar dos dias em que ela foi absorvendo a notícia de que esteve em coma por exato um ano, esse sentimento que ela nutria tão fortemente por Ethan foi se dissipando, e se tornando uma linda lembrança de um amor construído sob medida para ela, enquanto lutava contra o maior desafio de sua vida: Sobreviver.

Ela lutava constantemente contra qualquer sentimento desde que despertara de seu coma, uma vez que, tudo o que ela viveu em sua visão, seria apenas algo da sua cabeça e que nunca existiu.

Eram muitos sentimentos confusos, entre a Alicia antes do acidente, e a Alicia depois dele.

Os dias foram passando e Alicia foi acrescentando várias coisas a sua nova rotina, coisas que antes do acidente ela nem cogitaria fazer. Agora, ela gosta de sair para correr e respirar ar fresco. Gosta de fazer trilhas e estar em contato com a natureza. Além de continuar com seus gostos pela leitura.

Com a idéia ainda de que precisava conversar com alguém sobre seu tempo em coma, Alicia pensou em uma pessoa que ela sabia que jamais a julgaria, ou a contestaria. Foi então que ela resolveu mandar uma mensagem para sua irmã Alexandra.

Alicia: – Oi Ale, não sei como anda seu tempo, mas, eu precisava conversar com alguém. Será que você consegue passar aqui em casa?

Em alguns segundos sua irmã já responde.

Alexandra: – Oi mana, tudo bem?

Alexandra: – Na realidade eu estava mesmo pensando em te mandar uma mensagem para fazermos algo hehehehe.

Alicia: – Estou bem sim! Só precisando conversar um pouco.

Alexandra: – Para você fica bom hoje?

Alicia: – Claro, estarei em casa.

Alexandra: – Daqui meia hora mais ou menos eu chego por aí. Bjs mana.

Alicia: – Bjs. Te espero.

Umas das atividades que Alicia desenvolveu após seu acidente, foi o de cozinhar, ela conseguia se distrair, e assim ficar longe da ansiedade, enquanto fazia delícias para sua família, após retornar ao seu apartamento, ela intensificou mais ainda seu tempo na cozinha, e aproveitando o momento que receberia sua irmã, decidiu então fazer um delicioso bolo de chocolate. Ligou uma música e foi para a cozinha. Quando estava colocando o bolo no forno para assar, ouviu tocarem na porta. Rapidamente ela sai para atender.

 Oi mana. – Disse Alicia.

 Oi Alicia. Que saudade – Alexandra falou abraçando Alicia.

 Cadê a Sophia?

 Hoje a mãe do Jeremy a levou para passear, aproveitei uma folguinha heheheh. Por isso eu disse que ia te mandar mensagem.

 Fez bem Ale. Entra, vamos. Estou assando um bolo de chocolate para nós.

 Que delícia. E me conta como está sendo esse retorno para casa?

 Ai Ale, difícil. Mas, necessário, assim pelo menos eu não me sinto um fardo para ninguém.

 Não pense assim, você nunca foi um fardo para nós.

 Mas era como eu me sentia quando estava na casa da mamãe.

 Nada como a casa da gente.

 Exatamente isso. Esses meses foram muito estranhos e difíceis. Ter que lidar com todas as notícias, com tudo o que aconteceu em um ano enquanto eu estive em coma, foi simplesmente arrasador.

 Eu imagino. E eu queria ter ficado mais perto de você nesse recomeço. A Sophia demandou mais tempo do que eu imaginava esses últimos meses. Ai você coloca a Sophia, o Jeremy, o trabalho, acabei falhando com você.

 Não Ale, eu sei que não dá para simplesmente largar tudo. Eu não conseguia conversar com a mamãe. Não sei, era estranho.

 O que mais esta te incomodando?

 Eu tive um apagão de um ano na minha vida. Eu não lembro como tudo aconteceu não me lembro nada do dia do acidente. Mamãe me contou por cima, ela queria me proteger de tudo até mesmo de saber do acidente.

 Foi bizarro. Na realidade esse acidente aconteceu como naquela velha expressão, você estava no lugar errado e na hora errada.

 Como assim?

 Vocês estavam parados no semáforo, naquele dia ventava e chovia bastante, mas, não havia aviso de qualquer temporal ou tempestade. Simplesmente uma enorme árvore caiu sobre o carro de vocês. Lamentavelmente, havia outro carro parado no semáforo também. Lembro pelas notícias que era um casal, a mulher havia sofrido apenas escoriações leves, e o homem chegou a ficar em coma, mas não me lembro por quanto tempo. Brian faleceu no local e você ficou em coma por um ano.

 Tem alguma explicação?

 Pelo que os peritos disseram, os piores casos foram Brian e você devido a que o primeiro carro era o de vocês, estavam mais próximos do tronco da árvore que por sinal era enorme e grossa. Você se lembra de dirigir naquele dia?

 Não! Não me lembro de nada.

 Essa foi a explicação da perícia. Brian estava no lado do carona, então o tronco pegou mais em cima do carro de vocês e ao lado do carro de vocês estava outro carro, onde pegou uma pequena parte do tronco e os galhos da árvore.

 Essa parte do acidente eu pude entender, eu vejo muito claro isso. Você disse que havia outro carro?

 Sim!

 Isso a mamãe não me disse.

 O homem parece que quebrou o braço e sofreu um traumatismo craniano, assim como você.

 Quando tempo ele ficou em coma?

 Não me lembro, mas foi próximo a seis meses no máximo, porque recordo que falei com a mamãe que você deveria ter acordado como ele, e que não era bom sinal você continuar em coma.

 E a mulher?

 Ela ficou poucos dias no hospital, pelo que parece eles eram noivos. Ao menos foi a noticia que saiu no jornal.

 Você sabe quem são eles?

 Eu li algumas matérias, mas agora não lembro. Podemos pesquisar depois, não vai ser difícil encontrar.

 Gostaria algum dia de me encontrar com eles.

 Pode ser um encontro interessante.

 Sim.

 E a ansiedade como anda?

 Depois que vim para casa, esta um pouco mais difícil controlar. Mas, então eu criei alguns hábitos que estão me ajudando.

 Que bom!

 Ale eu me sinto tão perdida, nem mesmo sei por onde recomeçar. Eu tinha um plano antes do acidente, e agora nada mais faz sentido.

 Você tinha o Brian, a faculdade, os amigos.

 Eu tinha o Brian, mas mesmo que ele não tivesse falecido nesse acidente idiota, eu hoje não estaria com ele.

 Por quê?

 Você já se perguntou o que acontece com uma pessoa? Quando ela esta em coma?

 Ela dorme.

 Exatamente, ela dorme. E o que acontece quando dormimos?

 Sonhamos?

 Sim! Ale, sonhamos. Eu passei um ano da minha vida, vivendo outra vida em um sonho. Um sonho onde eu entendia que, eu estava em coma, e buscava de todas as maneiras acordar e não conseguia, onde Brian não havia falecido, onde eu via você ainda grávida. Onde eu conheci alguém que fez meu coração bater mais forte, e fez com que borboletas voassem na minha barriga.

 Como assim Alicia?

 Sabe o que é você acordar se sentindo outra pessoa? Eu acordei descobrindo que o meu sentimento pelo Brian não era tão intenso e forte como eu pensava. De alguém que eu levaria no meu coração pro resto da vida, mas, que não era o amor que eu pensava sentir.

 Talvez esse sentimento possa ser uma maneira que seu corpo encontrou de lidar com o luto mana. Lidar com a perda de alguém importante para você.

 Não, você não entendeu. Eu vivi um novo amor enquanto eu dormia. Eu descobri o que é amar de verdade. Eu descobri a essência do amor, o valor dele e quando eu acordei eu perdi tudo isso.

Alexandra não sabia o que falar, ela sentia tristeza nas palavras de Alicia, e entendia como toda aquela conversa estava sendo difícil para ela.

Alicia então começou a relatar tudo o que viveu durante esses dias em coma. Alicia riu, brincou, se emocionou e chorou contando a sua irmã tudo o que vivera ao lado de Ethan Muller. Ela então finalizou seu relato, limpando as lágrimas.

 Falar do Ethan faz meu coração acelerar, quando eu acordei e vi que ele não era mais que um sonho, um amor que eu mesma idealizei para mim, eu tive um sentimento de perca novamente. Não me leve a mal, Brian era maravilhoso para mim, mas de alguma maneira eu sinto que não era nosso destino ficar juntos.

 Alicia, eu estou emocionada com tudo o que você me contou. Eu nem sei o que falar.

 Para mim, foi real Ale, foi o amor mais real que eu já vivi. Ethan, me transmitia uma paz, uma tranqüilidade quando conversava comigo. Ele era calmo, paciente, era enérgico, além de lindo.

 Você já tentou procurar por ele?

 Ale, ele não existe. Ele foi apenas uma criação da minha cabeça para passar pelo tempo em coma.

 E se ele existir?

 E se não?

 É surreal tudo o que você me contou. E você está com isso desde que acordou, sem por para fora toda essa angústia?

 Por isso eu precisava conversar com alguém, e ninguém melhor do que minha melhor amiga e irmã.

 Eu falhei com você. – Alexandra falou com a voz embargada, abraçando Alicia.

 Não mana, esse era o momento que devíamos conversar. Tem algo que vou levar para a vida, nada acontece por acaso. Tudo acontece em seu devido tempo. Nós só não entendemos o motivo. Esse era o nosso momento. O acidente, a nossa conversa. De todas as maneiras eu seria outra Alicia, mesmo que Brian ainda estivesse aqui.

 E se você escrevesse um livro?

 Um livro?

 Sim, e contasse para o mundo a história de amor de Ethan e Alicia.

 Você acha que seria uma boa história?

 A melhor história.

 Vou pensar seriamente nisso.

 Não podemos esquecer do bolo. Quero comer bolo antes de ir hahahhahahahah.

 Verdade. Vamos lá na cozinha terminar ele.

E passaram algumas horas conversando e comendo o bolo de chocolate que Alicia havia feito. Mesmo conversando sobre outros assuntos com Alexandra, Alicia mantinha na mente a idéia de escrever um livro contando uma improvável história de amor.

Depois que Alexandra foi embora, Alicia ficou repassando toda a conversa que tiveram. E a idéia de escrever um livro estava cada vez mais forte na sua cabeça. Então ela colocou uma música para tocar, e pegou um bloco de notas e uma caneta.

Enquanto Alicia ouvia uma suave melodia, a mensagem por trás da música lhe direciona e lhe dá o incentivo que precisava para seguir um novo caminho.

‘‘...Eu ressurgirei e o farei mil vezes. Ressurgirei alto como as ondas...’’

A música lhe trouxe a inspiração para iniciar um novo projeto, e assim ela começou rascunhar singelas palavras pelas finas linhas de um papel em branco.

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