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Capítulo

Psicomal é um livro conto onde cada capítulo é uma crônica que narra a história do reino de Teran. Em Teran, os magos e seus totens vivem uma vida que beira a perfeição. As pessoas são movidas por sua essência e a grande maioria aparenta estar feliz. Porém Conrado, um investigador ambicioso, é convocado para solucionar uma onda de assassinatos inexplicáveis. Com a ajuda da jovem Solluáh, o investigador se vê de frente com segredos e ações que deveriam ser esquecidas. Enquanto algo aos poucos emerge das raízes e da terra e espalha sua névoa de vingança.

Capítulo 1 O Desesperançado Chorão

A Infestação

Tudo começa com um contato.

Alguma comida, algum item ou alguma perda.

Uma mudança forte e substancial que altera toda a proteção e percepção de mundo ao seu redor.

Assim surgem os sussurros, os barulhos de passos e as coisas mudando de lugares.

Uma sensação presente de ter alguém com você e te observando.

Uma presença de fora que a cada dia que passa se aproxima e se torna mais você do que você mesmo.

*******

Deitado na grama eu via o céu mudar do azul para o roxo. As estrelas usavam véus de auroras boreais dando vida à noite. Como era bonito e triste. Meu corpo se arrepiava e minha alma muda se contorcia dentro da minha mente gritando sem som, só dor e angustia.

Sabia que meus pais estavam no velório, e não se importariam em me ter por perto; eu apenas os envergonhava. Um grande fardo inútil e chorão que manchava a reputação tão imaculada da minha nobre família.

Encarava o carvalho velho, o cipó em forma de forca ainda lá, esperando que alguma mágica miraculosa se revelasse e quem sabe, saltasse em cima mim; quem sabe trazendo os risos dEla e os beijos dEla... O calor e o brilho dEla. Ela.

Por uma eternidade de tempo choveu debaixo dos meus olhos e o ar era mais sufocante quanto enxofre podre. Ainda me sentia preso nas paredes invisíveis do feitiço, vendo uma última vez o sorriso meigo dEla e o terror do corpo dEla tremendo em espasmos. Eu totalmente rendido e impotente.

Senti a terra debaixo de meus pés tremerem fazendo meu coração pular no peito, por alguns segundos acreditei que os Doze tinham ouvido meu pedido. Era uma vã esperança.

Uma voz chorosa vinha debaixo da terra, um eco abrindo um pequeno buraco e revelando miúdos olhos verdes.

A criatura rasgou o chão, parou na minha frente cabisbaixa e ficou me encarando triste.

Todo o medo passou, e foi nesse momento que eu soube que tinha o meu totem e que ele me trazia algo mais. Algo que eu desejava mais que a minha efêmera vida.

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