O Preço da Honra

O Preço da Honra

Gavin

5.0
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24
Capítulo

A umidade fria do chão de pedra subia pelos meus joelhos, um tormento constante, mais uma marca na vida de uma dívida que não acabava. Meu pai, um homem honesto, morreu nos calabouços do Senhor, acusado de um roubo que nunca cometeu. Nossa família foi destruída. Sem pai, eu e meus irmãos éramos órfãos, marcados pela desonra e presos a uma dívida cruel, que crescia como uma praga a cada ano. Eu esfregava o chão com minhas mãos em carne viva, o cheiro de lixívia invadindo meus pulmões, cada movimento um lembrete vívido da injustiça. A voz gélida do Senhor, o homem que arruinou minha família, cortou o ar: "A sujeira deste lugar é como a desonra do seu pai, nunca sai por completo." Naquela noite, fui arrastada para o pátio lamacento, forçada a comer restos de comida como um cachorro, sob os olhos amedrontados dos meus irmãos famintos. A humilhação me paralisou, mas o choro deles me quebrou, me forçando a engolir a própria derrota. Quando a consciência se esvaía sob o chicote, uma memória dolorosa me assaltou: meu pai me sussurrando sobre uma prova escondida, seu último desejo por justiça. Por que eu não agi antes? Por que a verdade, mesmo ao meu alcance, foi obscurecida pelo medo? A solidão me envolveu quando o padre, de olhos frios, fechou a porta na minha cara, confirmando que a verdade não valia nada para os homens poderosos. Então, mais uma memória: a caixa de madeira sem corpo, a morte do meu pai não o fim do nosso tormento, mas o começo do meu. Presa ao poste, sangrando, uma decisão egoísta e desesperada surgiu em minha mente: fugir. Abandonar tudo e todos. Ser uma ninguém. Uma ninguém, sem a maldição de ser filha de um ladrão. Uma esperança distorcida, mas a única que me mantinha viva. Mas a fuga física não era uma opção; havia apenas uma saída. Lendas sussurravam sobre um pacto, uma forma de deixar este mundo para trás, de renascer. Eu invocaria as sombras do poço. Mesmo que significasse uma vida de sofrimento ainda pior do que aquela, eu aceitaria. A liberdade, mesmo que custasse minha alma, era tudo o que eu queria.

Introdução

A umidade fria do chão de pedra subia pelos meus joelhos, um tormento constante, mais uma marca na vida de uma dívida que não acabava.

Meu pai, um homem honesto, morreu nos calabouços do Senhor, acusado de um roubo que nunca cometeu. Nossa família foi destruída.

Sem pai, eu e meus irmãos éramos órfãos, marcados pela desonra e presos a uma dívida cruel, que crescia como uma praga a cada ano.

Eu esfregava o chão com minhas mãos em carne viva, o cheiro de lixívia invadindo meus pulmões, cada movimento um lembrete vívido da injustiça.

A voz gélida do Senhor, o homem que arruinou minha família, cortou o ar: "A sujeira deste lugar é como a desonra do seu pai, nunca sai por completo."

Naquela noite, fui arrastada para o pátio lamacento, forçada a comer restos de comida como um cachorro, sob os olhos amedrontados dos meus irmãos famintos.

A humilhação me paralisou, mas o choro deles me quebrou, me forçando a engolir a própria derrota.

Quando a consciência se esvaía sob o chicote, uma memória dolorosa me assaltou: meu pai me sussurrando sobre uma prova escondida, seu último desejo por justiça.

Por que eu não agi antes? Por que a verdade, mesmo ao meu alcance, foi obscurecida pelo medo?

A solidão me envolveu quando o padre, de olhos frios, fechou a porta na minha cara, confirmando que a verdade não valia nada para os homens poderosos.

Então, mais uma memória: a caixa de madeira sem corpo, a morte do meu pai não o fim do nosso tormento, mas o começo do meu.

Presa ao poste, sangrando, uma decisão egoísta e desesperada surgiu em minha mente: fugir.

Abandonar tudo e todos. Ser uma ninguém.

Uma ninguém, sem a maldição de ser filha de um ladrão.

Uma esperança distorcida, mas a única que me mantinha viva.

Mas a fuga física não era uma opção; havia apenas uma saída.

Lendas sussurravam sobre um pacto, uma forma de deixar este mundo para trás, de renascer.

Eu invocaria as sombras do poço.

Mesmo que significasse uma vida de sofrimento ainda pior do que aquela, eu aceitaria.

A liberdade, mesmo que custasse minha alma, era tudo o que eu queria.

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