Oitenta e Oito Traições, Uma Fuga

Oitenta e Oito Traições, Uma Fuga

Gavin

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Capítulo

Meu noivo me deu um bolo pela 88ª vez, me deixando plantada no fórum para correr para o lado da sua irmã adotiva. Fui para casa e ouvi o plano doentio deles: queriam que eu fizesse uma laqueadura para poder criar o filho bastardo dos dois. Quando a irmã dele tentou me envenenar, ele gritou para que eu pedisse desculpas. Chegou a me trancar no porão, sabendo da minha claustrofobia severa, para me punir por "tê-la magoado". O homem que eu amava era um monstro, e eu tinha sido sua tola. Depois que ele partiu em uma viagem de negócios, fiz minhas malas, aceitei o emprego dos sonhos do outro lado do país e enviei uma última mensagem. "Acabou."

Capítulo 1

Meu noivo me deu um bolo pela 88ª vez, me deixando plantada no fórum para correr para o lado da sua irmã adotiva.

Fui para casa e ouvi o plano doentio deles: queriam que eu fizesse uma laqueadura para poder criar o filho bastardo dos dois.

Quando a irmã dele tentou me envenenar, ele gritou para que eu pedisse desculpas. Chegou a me trancar no porão, sabendo da minha claustrofobia severa, para me punir por "tê-la magoado".

O homem que eu amava era um monstro, e eu tinha sido sua tola.

Depois que ele partiu em uma viagem de negócios, fiz minhas malas, aceitei o emprego dos sonhos do outro lado do país e enviei uma última mensagem.

"Acabou."

Capítulo 1

Ponto de Vista: Juliana

A octogésima oitava vez que meu noivo me deixou na mão foi a última.

O ar no fórum da cidade era pesado e viciado, cheirando a papel velho e desinfetante barato. Eu estava sentada em um banco de madeira duro, meus dedos traçando o metal frio e trabalhado do anel de noivado que Arthur tinha colocado ali há seis meses. O diamante brilhava sob as luzes fluorescentes, uma promessa que parecia mais uma mentira a cada minuto que passava.

Três horas. Eu estava esperando há três horas.

"Juliana Campos e Arthur Loureiro?", uma funcionária chamou, a voz chapada de tédio.

Levantei-me, com as pernas duras. "Ele está a caminho", eu disse, as palavras com gosto de cinzas na minha boca. Era a mesma desculpa que eu tinha dado a ela uma hora antes.

Ela me lançou um olhar que era uma mistura de pena e impaciência antes de chamar o próximo nome da lista.

Meu celular vibrou na minha mão. O nome de Arthur piscou na tela. Um alívio, fraco e patético, me invadiu por uma fração de segundo antes que o pavor familiar se instalasse novamente.

"Arthur, onde você está? Já chamaram nossos nomes duas vezes."

"Me desculpe, meu amor", sua voz era um murmúrio baixo e arrependido que costumava derreter meu coração. Agora, apenas fazia meu estômago se contrair. "Aconteceu um imprevisto."

Sempre acontecia um imprevisto. E esse imprevisto sempre se chamava Cláudia.

"O que foi desta vez?", perguntei, minha voz perigosamente baixa. Eu já sabia. Eu sempre sabia.

"A Cláudia não está se sentindo bem. Ela disse que está com dor de cabeça e tontura. Tenho que levá-la ao hospital."

Uma dor de cabeça. Ele estava abandonando nosso agendamento para dar entrada na licença de casamento - nosso terceiro agendamento remarcado - por uma dor de cabeça.

Na semana anterior, ele perdeu o jantar da minha formatura porque Cláudia teve um pesadelo. No mês anterior, cancelou nossas férias porque Cláudia se sentia sozinha. Oitenta e oito vezes. Eu mantinha uma contagem em um aplicativo escondido no meu celular. Oitenta e oito planos cancelados, oitenta e oito promessas quebradas, oitenta e oito vezes em que me disseram que eu era menos importante que sua irmã adotiva.

"Juliana? Amor, você está aí?"

Eu encarei a tinta descascada na parede oposta. "Ela tem o próprio carro, Arthur. Ela tem um motorista. Ela pode chamar um médico em casa."

"Você não entende", disse ele, a voz carregada daquela culpa frustrada e familiar. "Ela precisa de mim. Ela salvou minha vida, Juliana. Eu devo tudo a ela."

A história era seu escudo, aquele atrás do qual ele se escondia toda vez que a escolhia. Quando eram crianças, Cláudia supostamente o empurrou para fora do caminho de um carro em alta velocidade, quebrando a própria perna no processo. Era a base do vínculo tóxico e codependente deles, a dívida que ele sentia que nunca poderia pagar.

"Eu tenho que ir, meu amor. Eu vou te compensar, eu prometo. A gente vai amanhã."

Ele não esperou pela minha resposta. A linha ficou muda.

Fiquei ali, com o telefone pressionado contra o ouvido, ouvindo o som da chamada encerrada. Os sons abafados do fórum se transformaram em um zumbido surdo. Parecia que o mundo estava debaixo d'água, e eu estava afundando.

Lentamente, abaixei o telefone. Com os dedos dormentes, girei o anel de diamante. Ele deslizou facilmente do meu dedo, deixando uma marca pálida e afundada na minha pele. Olhei para a pedra brilhante, um símbolo de um futuro que nunca aconteceria. Um futuro onde eu sempre ficaria em segundo lugar.

Caminhei até a lixeira perto da saída, sua tampa de metal ligeiramente entreaberta. Sem pensar duas vezes, abri a mão e deixei o anel cair. Fez um barulho pequeno e insatisfatório ao atingir o fundo, perdido entre copos de café descartados e papéis amassados.

"Moça?", o segurança perto da porta estava olhando para mim, a testa franzida. "Você... você acabou de jogar esse anel fora?"

Eu não respondi. O que havia para dizer?

Ele pareceu entender. Balançou a cabeça lentamente. "Ele não te merece, garota. Um cara que te dá um bolo no cartório não vai aparecer no altar."

Suas palavras atingiram uma corda profunda dentro de mim, uma verdade que eu vinha me recusando a ver. Todos viam, menos eu. Meus amigos, minha família, até mesmo um estranho no fórum. Eu era a tola que continuava acreditando em suas promessas vazias.

A lembrança do nosso primeiro encontro parecia uma cena de outra vida. Eu era uma estudante de engenharia química, dando aulas particulares para complementar a renda. Ele era Arthur Loureiro, o carismático herdeiro de um império de tecnologia, que invadiu a biblioteca da faculdade como uma tempestade, charmoso, brilhante e completamente cativado por mim. Ele me cortejou incansavelmente, com passeios de helicóptero sobre São Paulo, shows particulares e mil promessas sussurradas de um para sempre. Ele chegou a comprar o prédio onde ficava meu sebo favorito, que estava em dificuldades, só para evitar que fechasse. Ele me fez acreditar em contos de fadas.

Então, um ano depois do início do nosso relacionamento, Cláudia voltou de um intercâmbio no exterior.

No começo, foi sutil. Um jantar que ele teve que interromper porque Cláudia ligou, chorando por causa de uma prova. Uma viagem de fim de semana adiada porque Cláudia estava com gripe. Mas as intromissões se tornaram mais frequentes, mais exigentes. Minha vida começou a girar em torno das necessidades dela, dos seus caprichos, das suas crises fabricadas.

Arthur sempre tinha uma desculpa. "Ela é frágil, Juliana. Ela já passou por muita coisa."

Eu tentei ser paciente, ser compreensiva. Eu o amava. Acreditava no homem que ele era quando ela não estava por perto. Mas hoje, parada neste fórum sem alma, eu finalmente entendi. Ele nunca seria aquele homem para mim. Não de verdade. Ele pertencia a Cláudia.

Saí para o sol forte da tarde, sentindo-me oca por dentro. O caminho de volta para a mansão imponente que compartilhávamos foi um borrão. Estacionei meu carro e entrei pela porta da frente, o silêncio da casa me pressionando. Era uma casa cheia de coisas bonitas e caras, mas nunca pareceu um lar.

Quando cheguei ao topo da grande escadaria, ouvi as vozes deles vindo do quarto principal - nosso quarto. Minha mão congelou na maçaneta.

"Você tem certeza que isso vai funcionar, Arthur?", era Cláudia, a voz doentiamente doce. "E se ela disser não?"

"Ela não vai", a voz de Arthur era firme, confiante. "A Juliana me ama. Ela fará qualquer coisa por mim. Por nós."

Meu sangue gelou.

"É o plano perfeito", continuou Cláudia, a voz escorrendo satisfação. "Ela faz a laqueadura, nós nos casamos, e ela cria meu bebê como se fosse dela. Ninguém nunca saberá que a criança não é dela. Será a nossa pequena família perfeita."

As palavras me atingiram como um golpe físico. Laqueadura. Esterilização. Eles queriam que eu abrisse mão da minha capacidade de ter filhos, para criar o bebê de Cláudia - concebido com outro homem, eu presumi - como se fosse meu.

Meu bebê. Uma criança que eu nunca teria.

"E o bebê?", Arthur perguntou. "Você tem certeza... que não se importa de entregá-lo?"

"Claro que não", Cláudia ronronou. "Ele é seu filho, Arthur. É justo que ele cresça com o pai. E a Juliana será a mãe perfeita. Afinal, ela não poderá ter nenhum filho dela para competir."

Minha respiração ficou presa na garganta. Eu não conseguia sentir minhas mãos, meus pés. Um zumbido começou nos meus ouvidos, abafando todo o resto.

Eu empurrei a porta com força.

Eles estavam parados perto da janela, o braço de Arthur em volta dos ombros de Cláudia. Eles se viraram, seus rostos uma mistura de choque e culpa.

"Juliana", Arthur começou, dando um passo em minha direção.

"Que bebê?", perguntei, minha voz um sussurro rouco. "De quem é o bebê de que vocês estão falando?"

Cláudia deu um passo à frente, um sorriso vitorioso brincando em seus lábios. Ela colocou uma mão protetora em sua barriga ainda lisa. "Meu, é claro. E do Arthur."

O mundo girou em seu eixo. O bebê de Arthur.

Olhei para Arthur, meu coração se partindo em um milhão de pedaços. Seu rosto estava pálido, seus olhos suplicantes. "Juliana, me deixe explicar. Não é o que você pensa. Foi uma noite, eu estava bêbado, foi um erro..."

"Um erro?", repeti, uma risada amarga e histérica borbulhando do meu peito. "Você quer que eu passe por uma cirurgia, que eu me torne estéril, para poder criar o filho que você teve com a sua irmã? Você chama isso de erro?"

"É para o bem de todos, Juliana", disse Cláudia, a voz suave como seda. "Dessa forma, podemos todos ficar juntos. O Arthur não terá que escolher. Você poderá ser mãe. É o que você sempre quis, não é?"

Eu a encarei, encarei o homem que pensei amar, e não senti nada além de um frio profundo, arrepiante. O amor que eu sentia por ele, a paciência, a esperança - tudo evaporou, deixando para trás um vasto deserto vazio.

Virei meu olhar para Arthur, procurando em seu rosto qualquer sinal do homem por quem me apaixonei. Não encontrei nenhum. "É isso que você quer, Arthur? É este realmente o seu plano para nós?"

Ele não conseguia me encarar. Estendeu a mão para mim, trêmula. "Juliana, por favor. Podemos fazer isso dar certo. Eu te amo."

Eu me afastei de seu toque como se ele estivesse em chamas. As palavras "eu te amo" de seus lábios foram a coisa mais obscena que eu já tinha ouvido.

Sem outra palavra, virei-me e saí do quarto. Fui para o meu próprio quarto, o quarto de hóspedes onde eu vinha dormindo há meses, e tranquei a porta. Desabei no chão, meu corpo tremendo incontrolavelmente. Os soluços vieram então, violentos, arrasadores, que me rasgaram por dentro, deixando-me sem fôlego e em carne viva.

Chorei pela mulher que eu costumava ser, aquela que acreditava em amor e contos de fadas. Chorei pelo futuro que eu havia perdido.

Quando as lágrimas diminuíram, deixando-me vazia e exausta, meu telefone tocou. Era um número que eu não via há algum tempo. Dr. Evandro Chaves, meu ex-professor e mentor.

"Juliana", disse ele, a voz calorosa e familiar. "Espero não estar ligando em um mau momento."

"Não, Dr. Chaves. Está tudo bem." Minha voz estava rouca.

"Escute, eu sei que você recusou a posição de P&D na Inovações Sterling no ano passado, mas a vaga de pesquisadora-chefe acabou de abrir. O projeto é inovador, uma nova síntese de polímeros que pode mudar tudo. É o seu trabalho, Juliana. Suas teorias da pós-graduação são a base. Pensei em você imediatamente. O emprego é seu se você quiser."

Inovações Sterling. Uma prestigiosa empresa de pesquisa do outro lado do país. Um emprego dos sonhos. Um emprego que eu recusei por causa de Arthur.

Uma nova vida. Uma fuga.

Uma onda de clareza me invadiu, nítida e absoluta.

"Sim", eu disse, minha voz clara e firme pela primeira vez no dia. "Eu aceito."

"Que notícia maravilhosa! Quando você pode começar?"

Olhei ao redor do quarto opulento e estéril que havia sido minha prisão. "Estou a caminho."

Desliguei o telefone. Levantei-me, caminhei até meu armário e peguei uma mala. Tinha acabado. O conto de fadas estava morto.

E eu estava finalmente, abençoadamente, livre.

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