Meu médico me disse que eu tinha duas semanas antes que um hematoma cerebral apagasse todas as minhas memórias. Liguei para meu marido, Arthur, minha rocha, desesperada por seu conforto. Ele desligou na minha cara. Uma mensagem de texto veio em seguida: Venha para a Galeria Íris. Agora. Lá, fui drogada, despida e colocada em um pedestal giratório como uma instalação de arte ao vivo para sua amante, Beatriz. Ele assistia da multidão, sorrindo, e a beijou enquanto o público aplaudia minha humilhação. Quando descobri que estava grávida, ele escondeu o ultrassom. Então, para o próximo "conceito de arte" de Beatriz, ele mandou seus homens me arrastarem para um hospital e me forçou a abortar nosso filho. Ele expôs o corpo do nosso bebê na galeria. Depois de ser sequestrada por homens que Beatriz contratou, liguei para ele uma última vez, implorando por minha vida enquanto eles me seguravam sobre um penhasco. Ele estava com ela. "Pare com essa palhaçada", ele disse, irritado, antes de desligar. Eles cortaram a corda, e eu mergulhei no mar gelado. Mas eu não morri. Acordei em Lisboa sem memória, com um novo nome e um homem gentil chamado Caio que cuidou de mim até eu me recuperar. Dois anos depois, voltei para São Paulo de braços dados com Caio, pronta para nossa festa de noivado. E eu o vi na multidão, seus olhos arregalados de incredulidade. "Helena?", ele sussurrou, seu rosto uma máscara de esperança e horror. "É você mesma?"
Meu médico me disse que eu tinha duas semanas antes que um hematoma cerebral apagasse todas as minhas memórias. Liguei para meu marido, Arthur, minha rocha, desesperada por seu conforto. Ele desligou na minha cara.
Uma mensagem de texto veio em seguida: Venha para a Galeria Íris. Agora. Lá, fui drogada, despida e colocada em um pedestal giratório como uma instalação de arte ao vivo para sua amante, Beatriz. Ele assistia da multidão, sorrindo, e a beijou enquanto o público aplaudia minha humilhação.
Quando descobri que estava grávida, ele escondeu o ultrassom. Então, para o próximo "conceito de arte" de Beatriz, ele mandou seus homens me arrastarem para um hospital e me forçou a abortar nosso filho. Ele expôs o corpo do nosso bebê na galeria.
Depois de ser sequestrada por homens que Beatriz contratou, liguei para ele uma última vez, implorando por minha vida enquanto eles me seguravam sobre um penhasco. Ele estava com ela. "Pare com essa palhaçada", ele disse, irritado, antes de desligar. Eles cortaram a corda, e eu mergulhei no mar gelado.
Mas eu não morri. Acordei em Lisboa sem memória, com um novo nome e um homem gentil chamado Caio que cuidou de mim até eu me recuperar.
Dois anos depois, voltei para São Paulo de braços dados com Caio, pronta para nossa festa de noivado. E eu o vi na multidão, seus olhos arregalados de incredulidade. "Helena?", ele sussurrou, seu rosto uma máscara de esperança e horror. "É você mesma?"
Capítulo 1
Ponto de Vista de Helena:
Aconteceu de novo. Pela nonagésima sétima vez. Eu estava parada do lado de fora da porta do nosso apartamento, minha bolsa pesada no ombro, as chaves em lugar nenhum. Uma onda de frio me percorreu. Não apenas do inverno de São Paulo, mas do medo crescente que se tornara meu companheiro constante. Fechei os olhos, tentando visualizá-las, lembrar onde as tinha deixado. Nada. Apenas um espaço em branco onde a memória deveria estar.
Meu médico, Dr. Almeida, sentou-se à minha frente, seu rosto marcado por uma gentileza que só aprofundava meu pavor. As imagens da ressonância magnética brilhavam na tela atrás dele, um mapa borrado do meu cérebro. Ele apontou para uma pequena área escura. "Helena", ele começou, sua voz gentil, mas firme, "o hematoma cerebral é maior do que pensávamos inicialmente."
Minha respiração falhou. Hematoma cerebral. Um nome chique para um coágulo no meu cérebro. De uma queda, ele disse, quando eu tinha dez anos. Uma queda da qual eu nem conseguia me lembrar.
"O que isso significa?", perguntei, minha voz mal um sussurro. Minhas mãos estavam úmidas.
Ele respirou fundo. "Significa, Helena, que a pressão está aumentando. E com base na sua taxa atual de expansão, você tem cerca de duas semanas antes de perder todas as suas memórias." Ele fez uma pausa, deixando as palavras assentarem. "Completamente. Tudo."
Perda de memória. Duas semanas. Minha vida inteira, perdida. O mundo inclinou. A sala girou. Senti um gosto frio e metálico na boca. O pânico arranhou minha garganta. Meu amor, minha vida com Arthur, nossa casa, nossos sonhos - tudo isso desapareceria.
Saí cambaleando de seu consultório, as paredes brancas e estéreis se transformando em um túnel. Meu celular parecia um peso de chumbo na minha mão. Eu precisava do Arthur. Precisava da voz dele, da sua calma. Ele era minha rocha, minha âncora neste caos turbulento. Disquei seu número, meus dedos tremendo tanto que quase deixei o celular cair.
Um toque. Dois. Três.
"Helena", sua voz era seca, impaciente. "Está tudo bem? Estou no meio de algo importante."
"Arthur", engasguei, as lágrimas já escorrendo pelo meu rosto. "É... é grave. O médico disse..."
Um clique. A linha ficou muda. Ele desligou. Meu coração se contorceu, uma dor aguda e lancinante. Ele sempre fazia isso quando estava ocupado. Eu sabia, mas ainda doía. Uma mensagem de texto apareceu imediatamente.
Venha para a Galeria Íris. Agora. Não se atrase. Reunião importante.
Nenhum "Você está bem?". Nenhum "O que há de errado?". Apenas uma ordem. Um comando. Mas tinha que ser importante. Ele não me dispensaria assim de outra forma. Ele me amava. Tinha que amar. Eu precisava acreditar nisso. Limpei o rosto com as costas da mão, tentando estabilizar minha respiração. Eu tinha que ir até ele. Ele precisava de mim. Ou talvez, eu precisasse que ele precisasse de mim.
O táxi acelerava pela cidade, um borrão de amarelo e vermelho. Minha mente corria. Que tipo de reunião era tão urgente que ele não podia dispensar um minuto? Ele estava com problemas? Meu coração batia com uma mistura de medo e uma necessidade desesperada de estar ao seu lado. Ele era meu mundo inteiro. A ideia de perdê-lo, de nos perder, era insuportável.
A Galeria Íris era um prédio elegante e moderno, todo de vidro e aço, contrastando com as fachadas de tijolos dos Jardins. Corri para dentro, examinando a multidão agitada. Instalações de arte, algumas abstratas, outras chocantes, alinhavam as paredes. Mas nenhum Arthur. Meu celular vibrou no meu bolso. Uma mensagem dele.
Sala dos fundos. Rápido.
Abri caminho pela multidão, meus olhos dardejando, procurando. O fundo da galeria era mais escuro, mais silencioso. Uma pesada cortina de veludo me chamava. Passei por trás dela, puxando-a para fechar. O ar estava parado. Parado demais. Um cheiro estranho e adocicado encheu minhas narinas. Antes que eu pudesse processar, uma mão tapou minha boca por trás. Uma picada aguda no meu pescoço.
Escuridão.
Acordei com uma dor de cabeça lancinante e a sensação fria e lisa de mármore sob minha pele. Meus olhos se abriram com dificuldade. Figuras borradas. Um murmúrio suave de vozes. Tentei me mover, mas meus membros pareciam pesados, desconectados. Minha mente estava nebulosa, uma nuvem espessa entorpecendo meus sentidos. Então eu senti. O espaço frio e vazio onde minhas roupas deveriam estar.
Um suspiro escapou dos meus lábios, mas foi fraco, rouco. Meu corpo parecia estranho. Um calor súbito e incontrolável se espalhou entre minhas pernas, um jorro horrível. Eu estava incontinente. Publicamente. Minhas bochechas queimaram. A vergonha, quente e consumidora, me varreu. Fechei os olhos com força, desejando a escuridão novamente.
Mas as vozes ficaram mais altas. Sussurros, depois murmúrios, depois risadinhas abertas. Forcei meus olhos a se abrirem novamente. Eu estava em um pedestal. Uma plataforma giratória. Um holofote me cegava. Rostos. Centenas deles. Eles olhavam, seus olhos percorrendo meu corpo exposto. Alguns sorriam de canto. Outros apontavam. Nojo. Julgamento. Estava tudo lá, gravado em seus rostos. Eu era um objeto. Um espetáculo.
"Magnífico, não é?" A voz de uma mulher, cheia de floreio teatral, cortou o barulho.
Virei a cabeça com imenso esforço. Uma mulher alta e marcante, com traços afiados e um brilho malicioso nos olhos, estava ao lado do pedestal. Beatriz Aguirre. A infame artista performática. Ela usava um vestido justo e vanguardista que a fazia parecer uma predadora.
"A realidade crua e inalterada da forma feminina", continuou Beatriz, gesticulando em minha direção com uma mão de unhas feitas. "Despida do artifício social. A vulnerabilidade completa. A instalação 'Realidade Pós-Parto' é um comentário sobre a verdadeira natureza da existência. O corpo, indomado. A mente, indomada."
A multidão aplaudiu. Risos se misturaram com murmúrios impressionados. "Brilhante!", alguém gritou. "Tão provocador!"
Minha mente gritava. Esta não era eu. Isto não era arte. Isto era um pesadelo. Tentei falar, dizer a eles, explicar. Mas minha língua parecia grossa, meus lábios dormentes. A droga. Ela me mantinha cativa, uma prisioneira silenciosa e indefesa em minha própria pele.
Então eu o vi. Arthur. Ele estava perto do fundo, um sorriso orgulhoso no rosto. Não me olhando com preocupação, mas com uma estranha aprovação, quase possessiva, em relação a Beatriz. Meu coração despencou. Ele estava aqui. Ele sabia. E ele estava aprovando.
Beatriz, banhando-se nos aplausos, virou-se para Arthur, um sorriso triunfante no rosto. Ela estendeu a mão, colocando-a no braço dele. Ele se inclinou, sussurrando algo em seu ouvido que a fez rir, um som áspero e quebradiço. Ele beijou sua bochecha. Um beijo longo e demorado. Meu mundo se estilhaçou em um milhão de pedaços.
Eu o amava. Eu o amava com cada fibra do meu ser. Ele foi meu primeiro amor, minha única família desde que passei pelo sistema de lares adotivos. Ele me prometeu a eternidade. Ele prometeu me proteger. O que estava acontecendo? Por que ele estava fazendo isso?
Horas se passaram. Ou talvez minutos. O tempo se confundiu. O mármore frio, a vergonha ardente, o giro constante da plataforma, os olhares intermináveis. Cada músculo do meu corpo doía. A droga me mantinha em uma névoa, mal consciente, mal me movendo, totalmente indefesa. Era uma tortura que eu não desejaria ao meu pior inimigo.
Finalmente, o holofote se apagou. A multidão começou a se dispersar. O efeito da droga lentamente diminuiu. Minha cabeça clareou, o suficiente para registrar os tons abafados vindos de um canto escuro da galeria. A voz de Arthur.
"Sinceramente, Beatriz, ela foi perfeita. Tão completamente... patética. Exatamente o que você precisava para a 'Realidade Pós-Parto'. Seu histórico de órfã, seu desespero por aceitação. Isso simplesmente irradia aquela vulnerabilidade crua e animalesca que você anseia." A voz de Arthur pingava desdém, um tom que eu nunca tinha ouvido dirigido a mim.
Meu sangue gelou. Ele. Ele disse isso. Sobre mim.
"Oh, Arthur, querido", Beatriz ronronou. "Você sempre entende minha visão. Ela é tão completamente ralé. O sofrimento dela é verdadeiramente um presente para a alta arte."
Minha respiração falhou. Ele tinha arranjado isso. Ele tinha me drogado. Ele tinha me despido e me colocado em exibição. Meu marido. Meu Arthur.
"Ela é um degrau, Beatriz. Nada mais", disse Arthur, sua voz dura. "Uma necessidade infeliz para o início da minha carreira. Mas você... você é minha igual. Minha verdadeira parceira. A falta de graça dela, sua mente simples, é tudo apenas um pano de fundo para o seu brilhantismo."
Uma dor aguda, como uma faca se torcendo em minhas entranhas, me fez ofegar. Ele me chamou de sem graça. De mente simples. Um degrau. Minhas mãos se fecharam em punhos, minhas unhas cravando em minhas palmas.
"Você vai se divorciar dela, então?", perguntou Beatriz, com uma pitada de impaciência na voz.
Arthur suspirou dramaticamente. "Eventualmente. Mas ainda não. Ela ainda tem suas utilidades. Além disso, devo a ela algo por todos esses anos. Chame isso de... compensação. Mas saiba disto, Beatriz. Meu coração, meu futuro... é tudo seu. Ela não significa mais nada para mim."
Meu mundo desabou. Não foi apenas uma traição. Foi uma aniquilação. Cada palavra amorosa, cada toque terno, cada sonho compartilhado - tudo era uma mentira. O amor dele não era barato. Era inexistente. Sempre foi. Ele nunca me amou. Ele me usou.
Uma resolução fria e clara se instalou em meu coração. As lágrimas pararam. A dor ainda estava lá, uma dor surda, mas não era mais consumidora. Era um catalisador. Eu pegaria meu amor de volta. Cada pedacinho dele. Não era dele para descartar.
Peguei meu celular, meus dedos firmes agora. Reservei o primeiro voo para fora de São Paulo. Lisboa, Portugal. Um novo começo. Então, abri uma nota em branco. Adeus, Arthur. Adeus à mulher que eu era. Adeus ao amor que eu pensei que tínhamos.
Minha mão encontrou o relatório do neurologista na minha bolsa. Aquele que detalhava minhas memórias se esvaindo. Duas semanas. Não mais uma tragédia. Uma bênção. Uma chance de apagá-lo da minha mente, assim como ele me apagou de seu coração. Rasguei o papel em pedacinhos, deixando-os cair como neve aos meus pés. Um enterro simbólico do meu passado.
Nesse momento, Arthur saiu das sombras, abotoando a camisa. Ele me viu, ainda no pedestal, agora totalmente acordada. Seus olhos se estreitaram. "Helena? O que você está fazendo aqui?" Ele fez uma pausa, notando minha postura composta, a ausência de lágrimas. "E por que você está vestida assim?"
Antes que eu pudesse responder, a voz de Beatriz, afiada e exigente, cortou o ar. "Arthur! Volte aqui, querido! Temos tanto a comemorar!"
Ele olhou para mim, um lampejo de algo indecifrável em seus olhos, depois de volta para Beatriz. Ele não hesitou. Ele se virou e foi embora, sem olhar para trás. Seus passos ecoaram, desaparecendo na distância. Ele era dela. Completamente.
Eu o observei ir, os últimos vestígios de esperança se apagando como velas em uma tempestade. Ele se foi. O homem que eu amava estava morto. Tudo o que restava era um estranho, um monstro cruel e calculista. Meu coração, antes um vidro frágil, era agora um bloco de gelo.
Capítulo 1
03/12/2025
Capítulo 2
03/12/2025
Capítulo 3
03/12/2025
Capítulo 4
03/12/2025
Capítulo 5
03/12/2025
Capítulo 6
03/12/2025
Capítulo 7
03/12/2025
Capítulo 8
03/12/2025
Capítulo 9
03/12/2025
Capítulo 10
03/12/2025
Capítulo 11
03/12/2025
Capítulo 12
03/12/2025
Capítulo 13
03/12/2025
Capítulo 14
03/12/2025
Capítulo 15
03/12/2025
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