No meu leito de morte, meu marido de dez anos segurou minha mão. Ele não rezou por minha alma, mas por uma próxima vida onde ele pudesse finalmente ficar com seu verdadeiro amor, Bianca, livre de mim. Uma única lágrima caiu enquanto eu morria. E então, eu acordei. Eu tinha vinte e cinco anos de novo, de volta ao dia em que o encontrei depois que ele ficou desaparecido por cinco anos com amnésia. Da última vez, forcei suas memórias a voltarem. Funcionou, mas levou Bianca ao suicídio, e ele passou o resto de nossas vidas me odiando por isso. Seu cuidado por mim enquanto eu morria lentamente de ELA foi sua penitência, não seu amor. Meu amor tinha sido a sua jaula. Então, desta vez, quando o pai dele ligou para dizer que ele havia sido encontrado, eu não corri para o hospital. Entrei no escritório de seus pais, deslizei meu diagnóstico terminal de ELA sobre a mesa e rompi nosso noivado. "Ele tem uma nova vida", eu disse. "Não serei um fardo para ele." Desta vez, eu concederia seu desejo.
No meu leito de morte, meu marido de dez anos segurou minha mão. Ele não rezou por minha alma, mas por uma próxima vida onde ele pudesse finalmente ficar com seu verdadeiro amor, Bianca, livre de mim.
Uma única lágrima caiu enquanto eu morria. E então, eu acordei.
Eu tinha vinte e cinco anos de novo, de volta ao dia em que o encontrei depois que ele ficou desaparecido por cinco anos com amnésia. Da última vez, forcei suas memórias a voltarem. Funcionou, mas levou Bianca ao suicídio, e ele passou o resto de nossas vidas me odiando por isso. Seu cuidado por mim enquanto eu morria lentamente de ELA foi sua penitência, não seu amor.
Meu amor tinha sido a sua jaula.
Então, desta vez, quando o pai dele ligou para dizer que ele havia sido encontrado, eu não corri para o hospital. Entrei no escritório de seus pais, deslizei meu diagnóstico terminal de ELA sobre a mesa e rompi nosso noivado.
"Ele tem uma nova vida", eu disse. "Não serei um fardo para ele."
Desta vez, eu concederia seu desejo.
Capítulo 1
Ponto de Vista de Graça:
João "Joca" Dias e eu deveríamos ter a vida perfeita, mas passamos uma vida inteira mergulhados em ressentimento. Ele me odiava por forçar suas memórias a voltarem após um acidente, um ato que ele acreditava ter levado seu novo amor, Bianca, ao suicídio. Eu o odiava por quebrar sua promessa de eternidade no momento em que perdeu a memória. Após dez anos de um casamento tão frio quanto um túmulo, fui diagnosticada com ELA. Por sete anos, ele cuidou de mim com uma meticulosidade nascida da culpa, não do amor. No meu leito de morte, ele segurou minha mão, sua voz um fantasma daquela que eu um dia amei, e sussurrou seu último desejo. Ele rezou por uma próxima vida, uma onde ele e Bianca pudessem finalmente ficar juntos, livres de mim. Uma única lágrima escapou do meu olho enquanto eu dava meu último suspiro. Meu amor tinha sido a sua jaula.
E então, eu acordei.
O cheiro sufocante de antisséptico, o bipe rítmico de um monitor cardíaco. O mundo voltou a focar. Eu estava em um quarto de hospital, a luz do sol entrando pela janela, aquecendo meu rosto.
Meu celular vibrou na mesa de cabeceira. Uma mensagem de Eduardo Dias, o pai de Joca.
"Graça, nós o encontramos. Ele está em um hospital de uma cidadezinha a algumas horas de carro daqui. Ele está seguro."
Minha respiração falhou. Este era o dia. O dia em que encontrei Joca, cinco anos depois que ele desapareceu e foi dado como morto. O dia em que a tragédia da minha primeira vida realmente começou.
Da última vez, eu havia soluçado de alívio, minhas mãos tremendo tanto que mal conseguia digitar minha resposta. Eu corri para aquele hospital, meu coração uma batida frenética contra minhas costelas, pronta para trazer meu amor para casa.
Desta vez, uma calma arrepiante se instalou sobre mim.
A imagem final da minha vida anterior estava gravada em minha mente: o rosto de Joca, marcado por uma mistura de dor e alívio enquanto eu morria, finalmente o libertando. Seu desejo por uma vida com Bianca.
Como você deseja, Joca. O pensamento era um ácido amargo em minha garganta. Desta vez, eu o concederia.
Eu não respondi ao Sr. Dias. Em vez disso, apertei o botão de chamada para a enfermeira.
"Gostaria de solicitar uma avaliação neurológica completa", eu disse, minha voz firme, não traindo nenhum do tumulto dentro de mim. "Especificamente, quero ser examinada para Esclerose Lateral Amiotrófica."
A enfermeira me olhou, confusa. "ELA? Senhorita Medeiros, você só tem vinte e cinco anos. Há histórico familiar?"
"Apenas um pressentimento", eu disse, meu sorriso não alcançando meus olhos.
Os exames confirmaram meus piores medos, os mesmos medos que haviam se concretizado uma década depois em minha vida passada. Um diagnóstico latente. Uma bomba-relógio em minhas próprias células.
Armada com o relatório condenatório, entrei na sede corporativa da família Dias. Eduardo e Helena Dias, o casal que tinha sido mais como pais para mim do que os meus próprios, correram para me cumprimentar, seus rostos uma mistura de alegria e preocupação.
"Graça! Você ouviu a notícia! É um milagre!" Helena chorou, me puxando para um abraço.
"Vamos conseguir os melhores médicos para ele, Graça. Vamos trazer a memória dele de volta", Eduardo acrescentou, sua voz firme com determinação.
Eu me livrei gentilmente do abraço de Helena. Deslizei uma pasta sobre a mesa de mogno polido. Ela continha duas coisas. A primeira era uma série de fotos, granuladas, tiradas pelo detetive particular que eu havia contratado. Elas mostravam Joca, vivo e bem, seu braço envolvendo protetoramente uma garçonete bonita de cabelos escuros do lado de fora de uma pequena lanchonete. Ele estava sorrindo para ela com uma ternura que eu não via há anos, nem mesmo em minhas memórias de nossa vida antes de ele desaparecer.
A segunda era meu relatório médico.
"Estou rompendo nosso noivado", anunciei, minha voz plana.
Seus sorrisos desapareceram.
"Graça, do que você está falando?" A voz de Eduardo era ríspida. "Isso é apenas um contratempo temporário. Ele sofreu uma lesão. Ele vai se lembrar de você."
"Não importa se ele se lembra de mim", eu disse, empurrando as fotos em direção a eles. "Ele tem uma nova vida agora. Um novo amor. Olhem para ele. Ele está feliz."
Os olhos de Helena se encheram de lágrimas. "Mas vocês dois... desde que eram crianças..."
"E olhem para isto", eu disse, batendo no relatório médico. "ELA. Os médicos dizem que eu posso ter dez, talvez quinze bons anos. Depois disso..." Deixei a frase pairar no ar, um espectro de cadeiras de rodas e tubos de alimentação. "Não serei um fardo para ele. Não farei isso com o Joca."
Este foi meu golpe de mestre, a desculpa altruísta que me separaria deles completamente. Na minha primeira vida, eu invadi aquela cidadezinha, cega de amor e possessão. Encontrei Joca morando em um minúsculo apartamento em cima de uma garagem com Bianca Bernardes. Ele não me reconheceu, seus olhos frios e distantes. Bianca, agarrada ao seu braço, me olhou com hostilidade aberta.
Eu não consegui aceitar. Arrastei Joca de volta para São Paulo, convencida de que nossa história compartilhada, nossa casa, seria a chave. Quando não foi, providenciei a forma mais agressiva de terapia de recuperação de memória disponível. Funcionou. Suas memórias voltaram correndo, uma onda avassaladora de uma vida que ele havia esquecido.
E naquela onda, Bianca se afogou.
Diante da realidade de que Joca era o herdeiro de um império corporativo e tinha uma noiva que amara por toda a vida, ela caminhou para o mar.
Joca nunca me perdoou. Nosso casamento foi sua penitência. Seu cuidado por mim em meus anos finais foi seu dever. Não seu amor.
Agora, de pé diante de seus pais, segurei as lágrimas que ameaçavam cair. Eu não cometeria o mesmo erro. Eu não o enjaularia novamente.
"Não podemos simplesmente deixar você ir, Graça", Eduardo implorou, sua compostura se quebrando. "Você é da família."
"E sempre serei", eu disse, minha voz suavizando. "Mas não como sua noiva. Não como sua futura esposa. De agora em diante, sou apenas a irmã dele."
Saí antes que eles pudessem argumentar mais. Desta vez, não dirigi por horas em um frenesi. Fui com um propósito claro e doloroso.
Encontrei Bianca na lanchonete, exatamente como as fotos do detetive haviam mostrado. Ela estava limpando uma mesa, seus movimentos cansados. Quando me viu, um lampejo de pânico cruzou seu rosto. Ela sabia quem eu era. Na minha primeira vida, ela tinha visto minha foto na carteira de Joca - a única foto que ele não conseguiu jogar fora, mesmo sem memória da garota nela.
"O que você quer?" ela perguntou, o queixo erguido defensivamente.
Joca saiu da cozinha, limpando as mãos em um avental. Seus olhos, o mesmo azul profundo com que sonhei por cinco anos, pousaram em mim. Não havia reconhecimento. Apenas uma curiosidade fria e cautelosa. Ele se moveu para ficar ligeiramente na frente de Bianca, um escudo protetor.
Aquele simples movimento foi a confirmação final. Meu coração, já partido, se estilhaçou em um milhão de pedaços.
"Bianca", eu disse, minha voz surpreendentemente uniforme. "Acredito que você saiba quem eu sou."
Seu rosto empalideceu. "Eu... eu não sei do que você está falando."
"Não há necessidade de fingir", eu disse gentilmente. "Não estou aqui para causar problemas. Na verdade, estou aqui para levar vocês dois para casa."
Eles me encararam, atordoados em silêncio.
"Os pais do Joca... o Sr. e a Sra. Dias... eles sabem sobre você, Bianca. Eles aceitaram o relacionamento de vocês. Eles querem conhecer a mulher que salvou o filho deles e o fez tão feliz."
A mentira fluiu dos meus lábios, suave como seda.
Os olhos de Bianca se arregalaram, uma mistura de descrença e esperança crescente. "Eles... eles aceitaram?"
"Sim", eu sorri, um sorriso perfeito e frágil. "O noivado está desfeito. Eu tenho minha própria vida para viver. Joca tem a dele. Estou aqui apenas como sua irmã, para trazê-lo e a mulher que ele ama de volta para sua família."
A expressão cautelosa de Joca suavizou ligeiramente. Ele olhou de mim para Bianca, cujo comportamento inteiro havia mudado. A hostilidade defensiva se foi, substituída por uma excitação vertiginosa e frenética.
"Joca, você ouviu isso? Nós podemos ir! Juntos!" Ela jogou os braços ao redor do pescoço dele.
Ele olhou por cima do ombro dela para mim, uma pitada de desculpa em seus olhos. "Me desculpe. Por... seja lá o que aconteceu entre nós antes."
Lembrei-me dele dizendo exatamente essas palavras em nossa vida anterior, depois que ele recuperou a memória e todo o peso de sua crueldade se abateu sobre ele. Naquela época, elas estavam cheias de angústia. Agora, eram apenas palavras educadas para uma estranha.
Uma estranha a quem ele costumava prometer a lua e as estrelas.
"Não há nada pelo que se desculpar", eu disse, minha voz um sussurro. "Você tem uma nova vida. E eu tenho a minha."
Eu os levei de volta para a mansão da família Dias, a propriedade que um dia deveria ser nossa casa. Enquanto subíamos a longa e sinuosa entrada de carros, olhei para Joca no espelho retrovisor. Ele estava olhando para Bianca, seu olhar cheio de um amor que não era mais meu.
Para os funcionários, para seus pais, para o mundo, eu me apresentei com um aceno alegre.
"Vocês não se lembram?" eu disse com uma risada que parecia engolir cacos de vidro. "Joca sempre prometeu que encontraria uma boa moça para sua irmã mais velha. Parece que ele finalmente cumpriu."
Joca, pego de surpresa, entrou na brincadeira. "É isso mesmo, maninha. Espero que goste dela."
E com aquela única palavra, "maninha", meu novo papel foi cimentado. Eu não era mais seu amor, sua noiva, seu destino. Eu era um acessório. Uma nota de rodapé na história de amor que ele agora estava vivendo com outra mulher.
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