/0/17734/coverbig.jpg?v=4baf557a6913fde010035358e964a43f&imageMogr2/format/webp)
Hérica Fernandes se tornou uma das neurocirurgiãs mais brilhantes do país antes dos trinta, disciplinada, metódica, devota à ciência como quem tenta sufocar tudo o que sente. Steven Santouro, herdeiro de um império bilionário, aprendeu cedo que o poder não protege da dor. Aos quarenta, coleciona perdas que nenhum dinheiro consegue silenciar. Eles se conhecem em um evento de gala, onde o luxo mascara cicatrizes antigas. Ela não imaginava que aquele homem seria a primeira fissura em seu controle. Ele não esperava que aquela mulher fosse o erro mais perfeitamente calculado pelo destino. O que começa como um encontro casual transforma-se em algo impossível de conter. Hérica tenta se manter distante, mas Steven é a ruptura na vida metódica que ela construiu. Entre olhares e silêncios, nasce uma paixão intensa, tão proibida quanto inevitável. Mas o destino é impiedoso com amores que desafiam o passado. Quando Steven acredita ter encontrado descanso nos braços dela, a verdade finalmente chega, cruel, irrefutável. Hérica não é apenas a mulher que ele amou. É a mulher que o irmão dele amou primeiro. E o que ela carrega no silêncio não é só um segredo, é o sangue de quem Steven passou a vida jurando jamais perdoar. Entre culpa e desejo, redenção e instinto, eles descobrirão que existem amores que salvam... e outros que queimam até o fim. Resta saber se o coração humano suporta o peso de duas vidas presas ao mesmo destino?
A dor me moldou
Saudades, a dor que o tempo não cura
HÉRICA FERNANDES
O anúncio do voo ecoava pelo alto-falante como uma sentença.
Orlando. Portão 17. Última chamada.
Eu fechei os olhos e respirei fundo, sentindo o cheiro de querosene misturado ao da minha própria roupa, ainda manchada do ontem que eu queria esquecer.
Apertei o passaporte entre os dedos, e junto dele, a ultrassonografia amassada.
Aquela pequena sombra dentro de mim era tudo o que restava de um amor que o tempo não teve tempo de salvar.
Eu vou te proteger, meu amorzinho...murmurei, a voz arranhando a garganta.
Não vou deixar ninguém te tocar. Ninguém vai te tirar de mim.
As pessoas passavam apressadas, arrastando malas, trocando sorrisos apáticos.
Ninguém via a mulher que estava ali, só o corpo dela tentando fingir que ainda era inteiro.
Mas eu não era mais.
O som do alto-falante se misturou à lembrança.
O chão frio, o sangue.
O nome dele escapando de mim, como se dissesse um último adeus.
Matteo.
- Luta, por favor... Minha voz voltava como um eco distante dentro da cabeça.
- Você prometeu. A gente vai ter um bebê...
O olhar dele, o mesmo que um dia me fez acreditar em eternidade, foi apagando devagar.
O tempo parou. A cor sumiu.
E eu fiquei ali, tentando reanimar o impossível.
A ambulância chegou tarde demais.
Os passos, as vozes, o barulho metálico das macas, tudo distante, como se o mundo tivesse abaixado o volume pra não ouvir meu grito.
Quando o pai dele apareceu, o ar da rua mudou.
Aquela presença, fria, calculada, vestida de terno preto, carregava poder e sentença.
O homem que decidia o que devia viver e o que devia ser esquecido.
Se eu ficasse, ele tomaria o que era meu.
O bebê seria um Santouro, herdeiro de um império sujo de segredos.
Mas não teria o direito de ser livre.
Então eu corri.
Agora, no aeroporto, as lágrimas desciam sem som.
A aeromoça conferiu meu bilhete e me desejou boa viagem.
Se soubesse o que eu levava comigo, teria dito boa fuga.
Subi as escadas metálicas com o coração batendo fora do peito.
Cada degrau era uma despedida.
Da cidade. Dele. De quem eu fui.
Pela janela do avião, o amanhecer rasgava o céu em tons de cobre.
A cor preferida de Matteo.
Apertei a ultrassonografia contra o peito e sussurrei:
- Eu vou te guardar.
Vou te criar longe das promessas quebradas, longe do sangue que matou teu pai.
As turbinas rugiram.
A cidade encolheu.
E o juramento saiu de mim antes que eu pudesse medir:
- Eu nunca vou voltar.
Mas o destino, como o amor, não entende a palavra nunca.
E naquele voo, entre nuvens e silêncio, começou tudo o que eu passaria a vida tentando esquecer.
STEVEN SANTOURO
Eu não queria estar ali.
O cheiro de flores, vela e chuva me embrulhava o estômago.
Velórios sempre me pareceram uma espécie de castigo público, gente que finge consolar, enquanto cada um carrega a própria ruína por dentro.
Fiquei à sombra de uma árvore, observando o pátio do cemitério encharcado.
O vento frio cortava o rosto, e por um instante, pensei em ir embora.
Mas não fui.
Há dores das quais a gente não foge.
As pessoas chegavam de preto, com guarda-chuvas tremendo como asas de corvos.
Rostos que eu conhecia, outros que fingiam conhecer o morto.
O caixão ainda não tinha chegado.
E naquele intervalo miserável entre a espera e o adeus, eu descobri um lado de mim que ainda não conhecia.
Não era tristeza.
Era raiva.
Bruta, quente, absurda.
Trinta e um anos e um coração já velho demais.
Meu irmão. Matteo, foi tudo o que eu nunca consegui ser.
Calmo, leal, o orgulho da família.
E agora, ele estava dentro de um caixão que a chuva insistia em lavar.
O carro fúnebre dobrou a esquina.
O barulho do motor cortou o silêncio como faca.
As vozes baixaram.
O caixão desceu devagar, coberto por flores brancas que logo murchariam.
Fui até ele.
Li o nome gravado na placa dourada.
Matteo Santouro.
Meu irmão.
Meu herói.
O único que ainda acreditava que a gente podia ser bom, mesmo vindo de onde viemos.
Ajoelhei ao lado.
A madeira refletia o céu cinzento, e o meu próprio rosto.
O punho fechou sem que eu percebesse.
Uma lágrima caiu, quente, impaciente, misturada à chuva.
Sussurrei, baixo o bastante pra ninguém ouvir:
- Eles vão pagar.
Porque, dentro de mim, algo havia quebrado de vez.
E o que restou não sabia mais rezar, só prometer.
Quando o padre começou a falar, eu me afastei.
O som das palavras sobre céu e redenção não fazia sentido.
Céu era pra quem acreditava em perdão.
Eu acreditava em dívida.
Meu pai se aproximou logo depois.
O rosto duro, o luto disfarçado de poder.
- Onde você estava, Steven?
- Aqui.
- Honre o seu irmão.
- Cada um honra à sua maneira, pai.
O olhar dele me atravessou.
Talvez naquele instante ele tenha percebido o que eu já sabia:
O filho mais novo tinha herdado a dor, e com ela, a sede de justiça.
Saí antes de ver meu irmão ser enterrado.
Ouvi os passos do meu pai atrás de mim.
Ele me puxou pelo braço com força.
- Volte agora, moleque.
Balancei a cabeça.
- Não dá, pai. Essa não será a última lembrança que terei do meu irmão.
Dei as costas.
- Steven, volte agora! Ele gritou, mas eu continuei andando, com a chuva apagando o som dos passos.
Saí do cemitério enquanto a chuva engrossava.
Atrás de mim, o som das pás de terra batendo na madeira parecia o compasso do que restava do meu coração.
Entrei no carro, olhei pro vidro embaçado e disse pro silêncio do motorista:
- Descansa em paz, meu irmão.
Porque no mundo dos vivos, não haverá paz pra quem te tirou de mim.
A cidade passava lenta pela janela, coberta de cinza e memória.
E foi ali, naquele dia, que eu aprendi:
Quem nasce no fogo, aprende a queimar cedo.
E a dor, quando não mata, ensina a destruir.
Capítulo 1 💠 PRÓLOGO
19/11/2025
Capítulo 2 O IMPACTO
19/11/2025
Capítulo 3 O CONVITE QUE NÃO SE RECUSA
19/11/2025
Capítulo 4 O BEIJO QUE NÃO DEVERIA TER ACONTECIDO
19/11/2025
Capítulo 5 A ESTRADA ENTRE O QUEIMOR E O SILÊNCIO
19/11/2025
Capítulo 6 DEPOIS DO SILÊNCIO
19/11/2025
Capítulo 7 O DIA DEPOIS
19/11/2025
Capítulo 8 O DIA QUE NADA FICOU NO LUGAR
19/11/2025
Capítulo 9 O CAOS QUE VICIA
19/11/2025
Capítulo 10 O DIA DEPOIS DO CAOS
19/11/2025
Capítulo 11 A SEMELHANÇA QUE FERE O
19/11/2025
Capítulo 12 OS RASTROS DO IRMÃO
19/11/2025
Capítulo 13 O DOMINGO DO SILÊNCIO
27/11/2025
Capítulo 14 A ESTRADA DAS RESPOSTAS
27/11/2025
Capítulo 15 ENTRE BISTURIS E SEGREDOS
27/11/2025
Capítulo 16 O ÚLTIMO DIAGNÓSTICO
27/11/2025
Capítulo 17 ENTRE O AMOR E O MEDO
27/11/2025
Capítulo 18 A JANELA DA ALMA
27/11/2025
Capítulo 19 A MANHÃ QUE DESFEZ CERTEZAS
27/11/2025
Capítulo 20 O PESO DA HERANÇA
27/11/2025
Capítulo 21 O VENENO DA CIÊNCIA
27/11/2025
Capítulo 22 O DIA QUE APRENDI A DESAPARECER
27/11/2025
Capítulo 23 ENTRE O AMOR E A HERANÇA QUEBRADA
27/11/2025
Capítulo 24 AS HORAS QUE O MUNDO ROUBOU
28/11/2025
Capítulo 25 O LIMITE DO CORPO CALOSO
28/11/2025
Capítulo 26 A VIDA QUE NÃO ME PERTECE
28/11/2025
Capítulo 27 QUANDO AMAR TAMBÉM É FUGIR
28/11/2025
Capítulo 28 CÍRCULO SE FECHA
28/11/2025
Capítulo 29 ENTRE O MEDO E A FÉ
28/11/2025
Capítulo 30 QUANDO O AMOR EXIGE O QUE NÃO TEMOS
28/11/2025
Capítulo 31 ENTRE NUVENS E FULGA, UM AMOR DOI
28/11/2025
Capítulo 32 SILÊNCIO DEPOIS DAS PORTAS FECHADAS
28/11/2025
Capítulo 33 O DIA EM QUE O SILÊNCIO RESPONDEU POR ELA
28/11/2025
Capítulo 34 A NOITE EM QUE TRÊS MUNDOS SE TOCAM
28/11/2025
Capítulo 35 ONDE O AMOR NÃO PODE DEIXAR DE EXISTIR
28/11/2025
Capítulo 36 O AMOR QUE ACORDOU ANTES DO DIA
28/11/2025
Capítulo 37 QUANDO A VERDADE DOER
28/11/2025
Capítulo 38 O MENINO QUE CARREGA UMA ESTRELA
29/11/2025
Capítulo 39 O QUE O CORAÇÃO TENTA EXPLICAR
29/11/2025
Capítulo 40 O GOLPE DENTRO DA CASA
29/11/2025
Outros livros de LynneFigueiredo
Ver Mais