Ao ser salva por Bryan Elliot, um agente secreto sexy, gentil, sofisticado e milionário, a bancária Lucy Miller teve de reconhecer que ele fazia jus ao seu codinome: Casanova. Bryan era realmente um homem de tirar o fôlego! Lucy estava correndo perigo por ser espiã também, e Bryan decidiu levá-la para o local mais seguro que conhecia: sua casa em Manhattan. Lá ganhou um outro nome, roupas novas e ficou deslumbrante! Lucy estava cumprindo à risca o papel de nova namorada de Bryan, mas tinha de se lembrar a todo instante que a atração entre eles era apenas um disfarce... Ou não?
Ao ser salva por Bryan Elliot, um agente secreto sexy, gentil, sofisticado e milionário, a bancária Lucy Miller teve de reconhecer que ele fazia jus ao seu codinome: Casanova. Bryan era realmente um homem de tirar o fôlego! Lucy estava correndo perigo por ser espiã também, e Bryan decidiu levá-la para o local mais seguro que conhecia: sua casa em Manhattan. Lá ganhou um outro nome, roupas novas e ficou deslumbrante! Lucy estava cumprindo à risca o papel de nova namorada de Bryan, mas tinha de se lembrar a todo instante que a atração entre eles era apenas um disfarce... Ou não?
REGISTRO DIÁRIO
Referente ao caso da Alliance Trust
Trouxe a testemunha para a minha casa. Ela está dis¬farçada, para sua própria segurança. Ninguém saberá sua verdadeira identidade. Eu mesmo mal consigo re-conhecê-la.
Vai ser difícil esconder minha identidade secreta da minha família com ela por aqui, mas não tenho escolha.Não tinha outra maneira de eu continuar trabalhando para a polícia.
Estamos na mira dos fraudadores por causa dos da¬dos que iria conseguir baixar do sistema do banco. Es¬pero conseguir solucionar esse caso até o final do mês. Minhas investigações me levaram a algumas conclu¬sões perturbadoras. Se eu estiver certo, não podemos confiar em ninguém.
Por via das dúvidas, decidi manter a testemunha sempre perto de mim. Tenho de admitir, contudo, que com sua beleza, essa não é das tarefas mais difíceis. Te¬nho de me lembrar constantemente de que tudo não passa de mais uma missão.
Vou usar todos os recursos que o meu dinheiro me fornecer para garantir a sua segurança.
Casanova
CAPÍTULO UM
- Você tem de me tirar dessa - disse Lucy Miller entre os dentes ao falar no celular secreto que havia sido enviado para sua casa havia algumas semanas.
O aparelho tinha tocado quando ela estava saindo de uma reunião de equipe. Lucy entrara rapidamente no banheiro feminino e verificara cada um dos compartimentos para se certificar de que estava sozinha.
- Relaxe, Lucy - disse a voz do outro lado da li¬nha que ela passara a conhecer tão bem. Lucy já ha¬via perdido a conta de quantas vezes tinha fantasiado com o dono daquela voz profunda e sexy. Hoje, po¬rém, estava aterrorizada demais para pensar em qual¬quer outra coisa que não fosse salvar a própria pele.
- Não me diga para relaxar - sussurrou ela de volta. - Não é você que está preso neste banco ten¬tando agir com naturalidade, mesmo sabendo que existe alguém querendo liquidá-lo.
- Liquidá-la? Acho que você tem visto muito te¬levisão ultimamente. Não há ninguém querendo ma¬tar você.
- Você não viu o homem que estava me seguin¬do. Sei reconhecer um assassino quando vejo um. Ele estava usando um sobretudo neste calor de rachar.
- Mas também choveu hoje em Washington. Ele provavelmente estava usando uma capa de chuva.
- Casanova, você não está me levando a sério! Meu disfarce foi descoberto. Alguém entrou na mi¬nha casa. Ou você me tira daqui ou pego o primeiro vôo para a América do Sul e carrego todos os dados comigo.
- Seja razoável, Lucy...
- Eu estou farta de ser razoável. Estou farta de fa¬zer tudo o que você me pede sem questionar. Confiei cegamente em você, apesar de nunca tê-lo visto e se-quer saber o seu nome. Agora é a sua vez de confiar em mim. Não sou nenhuma idiota. Se você não me ti¬rar dessa, este aparelhinho vai acabar no esgoto você nunca mais terá notícias minhas.
- Está bem, posso encontrá-la na sua casa por volta das cinco e meia, seis horas no máximo. Você acha que consegue se segurar até lá?
Lucy respirou fundo, tentando se acalmar. Ela ti¬nha começado a ficar alerta havia três dias, mas on¬tem percebera que alguém entrara em sua casa. Seu observador, porém, não a havia confrontado direta¬mente. Talvez fosse possível esperar por mais algu¬mas horas.
- Farei o melhor que puder. Se alguma coisa me acontecer, diga aos meus pais que os amo.
- Não seja dramática. Você ficará bem.
Ela desligou antes de dizer alguma coisa da qual pudesse se arrepender depois. Dramática? Será que Casanova estava achando que ela era uma paranóica?
E tudo o que ela havia conseguido nessas últimas se¬manas não contava? Casanova. Por que alguém esco¬lheria um codinome desses, afinal?
Lucy guardou o celular em sua bolsa e já ia saindo do banheiro quando parou para dar uma olhadinha no espelho. Estava parecendo uma maluca. Seu rosto es-tava emoldurado por mechas eriçadas que haviam es¬capado do coque que usava para trabalhar no banco. Suas bochechas estavam rubras e os olhos arregala¬dos de medo por trás das lentes dos óculos. Ela ajei¬tou o cabelo, empoou o nariz e passou um batom ro¬sado nos lábios. A maquiagem não fez muito efeito, mas isso não tinha muita importância. Ela não queria ficar mais atraente, e sim manter uma aparência con¬dizente com a das outras executivas do seu local de trabalho. A última coisa que queria era chamar a atenção.
Já recomposta, deixou a tranqüilidade do banheiro e se aventurou em direção ao escritório, torcendo para poder trancar a porta e se enclausurar até o fim da tarde.
Que bela espiã você me saiu, Lucy Miller! Desmontando-se toda ao primeiro sinal de perigo.
Virou no corredor e deu de cara com o presidente do banco, o homem que a havia contratado.
- Olá, Lucy - disse ele, educadamente. - Eu estava mesmo procurando por você.
- Desculpe, eu estava no banheiro. O almoço não me fez muito bem.
Lucy achou que ele não faria muitas perguntas a esse respeito. Já havia percebido que ele ficava em¬baraçado com muita facilidade.
Ele avaliou o rosto dela com seu olho sadio. O ou¬tro fora arruinado em algum tipo de acidente, mas ela não conhecia os detalhes. Lucy estava com os nervos à flor da pele. Será que ele havia notado algu¬ma coisa?
- Você realmente não está com boa aparência - disse ele. - Acha mesmo que está em condições de trabalhar?
- Estou - disse ela.
O Sr. Vargov era sempre muito gentil com ela. Ele era amigo de seu tio Dennis e a contratara a pedido dele quando ela estava precisando de um emprego se¬guro e estável. Lucy não tinha a qualificação necessá¬ria para assumir o cargo de auditora. Possuía apenas um bacharelado em Finanças e não tinha experiência comprovada, mas havia conseguido se sair muito bem no novo trabalho.
Bem até demais, na opinião do Sr. Vargov. Ele achava que ela se dedicava excessivamente ao banco e não havia levado as suas suspeitas de fraude muito a sério. Foi por isso que ela acabou se envolvendo com a Homeland Security e, por conseguinte, com Casanova.
- Por que você não tira o resto da tarde de folga? - sugeriu o Sr. Vargov.
- Não posso. O senhor me disse que precisava da¬queles relatórios...
- Isso pode esperar. Seu tio me comeria vivo se soubesse que eu a estava obrigando a trabalhar mes¬mo doente.
- Obrigada, Sr. Vargov. Talvez eu saia um pouco mais cedo se o mal-estar não passar.
- Acho que você deveria mesmo.
Se saísse mais cedo, talvez conseguisse despistar o homem que a estava seguindo. Ela não sentiria falta da Alliance Trust. Tinha precisado de um lugar para reestruturar sua vida e aquele banco cumprira essa missão, mas agora era hora de seguir em frente. Ela decidiu passar ainda uma hora baixando o máximo de informações possíveis para o seu pen drive de altíssi¬ma capacidade e depois deixar aquele lugar para nun¬ca mais voltar.
Casanova a levaria para um abrigo para testemu¬nhas sob proteção policial. Ela permaneceria lá até que todos os envolvidos na fraude fossem presos e ela pudesse recomeçar a vida em algum outro lugar. Um novo trabalho, uma nova vida. Parecia o paraíso.
As três e dez, ela estava pronta. Escondeu o pen drive no sutiã e levou apenas a bolsa e o guarda-chu¬va. Na saída, disse a Sra. Peggy Holmes, secretária executiva do Sr. Vargov, que estava indo para casa mais cedo devido a um mal-estar do estômago.
- Oh, minha querida, espero que não seja nada sério. Você só faltou a um dia de trabalho desde que veio para cá. Creio que foi por causa de um tratamen¬to de canal.
A Sra. Peggy já passava dos 60 anos e trabalhava para o Sr. Vargov havia mais de vinte. Baixinha, gorda e com o cabelo muito armado, ela parecia a avó de todos por lá, mas Lucy sabia que ela era muito inteli¬gente e tinha uma memória que beirava o patológico.
- Ficarei bem - disse Lucy, torcendo para que aquilo fosse mesmo verdade.
A idéia de ir sozinha até o estacionamento não pa¬recia muito atraente, mas pedir ajuda a um dos seguranças significaria colocar mais uma pessoa em risco.
Ela decidiu fazer o contrário do que se poderia es¬perar e pegar um ônibus. Havia um ponto a apenas um quarteirão de distância do escritório.
O dia estava quente e úmido, com uma chuvinha fina e persistente. Ela abriu o guarda-chuva, aprovei¬tando a oportunidade para olhar discretamente ao re¬dor, tentando avistar o homem da capa.
Lucy fingiu olhar as vitrines, não querendo perma¬necer tempo demais parada no ponto. Correu ao ver o ônibus se aproximando e embarcou no último mo¬mento. Respirou aliviada ao ver que os únicos passa¬geiros além dela eram uma mãe e suas duas criancinhas.
Não havia ninguém à vista quando ela desceu no ponto perto da sua casa em Arlington, Virginia. Tal¬vez tivesse conseguido despistar seu perseguidor. Ele também poderia ter desistido dela, achando que não havia com o que se preocupar, já que, com certeza, não encontrara nada em sua casa que pudesse in¬criminá-la, pois ela mantinha o pen drive sempre consigo.
Morava numa casa minúscula com apenas uma porta que havia preparado esta manhã para saber se alguém havia estado lá dentro. Ela checou se o fio de cabelo que havia prendido entre o umbral e a porta ainda estava no mesmo lugar. Então, destrancou a porta e se preparou para entrar, detendo-se apenas para fechar o guarda-chuva e sacudi-lo ainda do lado de fora.
Já morava lá há dois anos. Seu tio encontrara a casa, e ela tinha se comprometido a alugá-la sem vê-la antes. O lugar era razoável, mas sem qualquer atrativo, assim como a sua vida, até algumas semanas atrás. Lucy não fizera esforço algum para transfor¬mar aquela casa em um verdadeiro lar. Decididamen¬te, não sentiria falta daquele lugar.
Assim que entrou e fechou a porta, uma mão tapou sua boca e um braço forte a puxou contra um corpo rígido e musculoso.
Em pânico, ela seguiu seu instinto. Mirou o guar¬da-chuva para trás e acertou a coxa de seu agressor com toda a força de que foi capaz.
Ele soltou um grito abafado e afrouxou o braço o suficiente para que Lucy pudesse dobrar os joelhos e cair no chão. Ela então agarrou uma das pernas do ho-mem e a puxou, derrubando-o. Empertigou-se e avan¬çou na direção dele, mirando a ponta de seu guarda-chuva na direção de sua garganta.
O homem agarrou a arma improvisada e a desviou a tempo de não ser atingido por ela.
- Pare com isso, Lucy! Sou eu, Casanova!
Ele arrancou o guarda-chuva de suas mãos e ati¬rou-o longe. Isso, porém, tirou-lhe o equilíbrio, fa¬zendo com que caísse bem em cima dele, olhando di-retamente nos mais belos olhos azuis que já havia visto na vida.
- Casanova? - repetiu ela, apesar de reconhecer a voz.
- Sua louca! Você quase me matou!
- Você invade a minha casa, me ataca, e a louca sou eu?
- Eu não tinha idéia de que era você. Só estava esperando a sua chegada para daqui a uma hora.
-Onde foi que aprendeu a lutar desse jeito?
- Fiz umas aulas de autodefesa. O que é que você está fazendo aqui?
- Eu não podia correr o risco de ser visto por al¬guém que possa estar vigiando a sua casa, por isso tive de invadi-la.
- Como? Eu tenho um alarme.
- Mas a sua vizinha, não.
Ele sorriu e Lucy pôs-se a averiguar a sala, depa¬rando-se com um enorme buraco no meio da parede.
- Você atravessou a parede? Você não assustou a Sra. Pfluger, não é? Meu Deus, o que o proprietário vai dizer?!
- Você não estará aqui para descobrir. Nós esta¬mos de partida.
Aquela foi a primeira coisa reconfortante que ele disse.
- Quer dizer que você acredita em mim?
- Sua casa está repleta de aparelhos de escuta. Alguém realmente esteve aqui.
Lucy baixou a voz até sussurrar.
- Eles estão ouvindo o que nós estamos dizendo neste exato momento?
- Acho que eles estão usando um mecanismo acionado pela voz, mas não creio que estejam moni¬torando sua casa quando pensam que você não está. Nós não temos muito tempo. Se você pudesse, ah...
Lucy ficou desconcertada ao perceber que ainda estava deitada sobre ele e que não havia feito o menor esforço para sair dessa posição. Ela podia sentir to¬dos os músculos firmes do corpo dele contra o seu e tinha de admitir que a sensação não era nada desagra¬dável. Já fazia muito tempo que não tinha um contato mais íntimo que um mero aperto de mão com um ho¬mem.
Ela saiu de cima de Casanova, toda estabanada, acertando-o involuntariamente com o joelho no meio das pernas.
- Nossa, você é uma mulher muito perigosa.
Ele se sentou e balançou a cabeça, como se tentas¬se clarear as idéias. Lucy sempre o havia imaginado como um homem lindo e charmoso, mas nenhuma de suas fantasias chegava sequer aos pés do verdadeiro Casanova. Ele era maravilhoso. Um corpo firme de l,80m de altura, cabelos negros e espessos e olhos in¬críveis. Seu cabelo estava todo despenteado, como se ele tivesse acabado de se levantar da cama.
Oh, Lucy, pare com isso.
- Você tem exatamente três minutos para pegar seus artigos de primeiríssima necessidade. Remé¬dios, escova de dentes e uma muda de roupa de baixo. Não se preocupe com as roupas.
Lucy seguiu as recomendações ao pé da letra. Cor¬reu para o quarto e enfiou algumas calcinhas e meias, a escova de dentes e o remédio contra alergia numa pequena mochila. Como ainda tinha algum tempo de sobra, aproveitou para tirar a saia e a meia-calça que a estava incomodando e as trocou por um jeans e um par de tênis. Ela não sabia quanto tempo teria de pas¬sar viajando, nem para onde, e queria pelo menos ga¬rantir um mínimo de conforto.
Ela saiu do quarto em cima da hora. Casanova pa¬recia impaciente.
- Já não era sem tempo.
- Você disse que eu tinha três minutos, e os apro¬veitei - disse ela, não conseguindo conter um sorri¬so.
- Está gostando disso, não é?
- De certa forma - admitiu ela. Já fazia algum tempo que não sentia a adrenalina correr em suas veias e as bochechas corarem. Até havia se esquecido de como era bom. - Você também gosta disso, caso contrário, não seria um espião.
Ele fez um meneio de cabeça, concordando.
- Vamos embora.
Casanova conduziu Lucy através do buraco que havia feito na parede.
- Ainda bem que a Sra. Pfluger não estava em casa - disse ela. - Ela teria ficado apavorada.
- O que a faz pensar que ela não estava em casa? Lucy se surpreendeu ao ver a vizinha de 82 anos, sentada em sua poltrona, assistindo à TV. Ela sorriu ao ver Casanova.
-Então você voltou - disse ela. Ela estava qua¬se incapacitada devido à artrite, mas sua mente conti¬nuava tão afiada quanto a de uma moça de 20 anos. - Olá, Lucy querida.
Lucy olhou-a, estupefata.
-Vocês se conhecem?
- Agora sim. Ele bateu à minha porta e me disse que precisava da minha ajuda para salvá-la de alguns terroristas que a estavam perseguindo - disse a Sra. Pfluger, dando de ombros como se estivesse se refe¬rindo a algo rotineiro.
- Mas ele destruiu a sua parede - disse Lucy.
- Ele me deu dinheiro vivo para pagar pelo con¬serto - disse ela a Lucy, para então voltar-se para Casanova: - Juntei as coisas que você me pediu - disse ela, apontando para uma velha sacola de com¬pras. - São roupas e acessórios da época em que eu ainda era gorda. Não vou precisar mais de nada disso.
Casanova inspecionou o conteúdo da sacola, sor¬riu e olhou para Lucy.
- Excelente. Lucy, vista essas roupas. Você está prestes a se transformar em Bessie Pfluger.
Bryan Elliot, também conhecido como Casanova, tentou não sorrir ao ver Lucy Miller repuxar desajei¬tada as enormes calças de lycra cor de laranja e pren¬dê-las na cintura.
Eleja havia recolhido muitas informações a seu respeito antes de escolhê-la para ajudar a desvendar o caso dos desfalques. Ela era uma pessoa responsável e inteligente, e provara ser de grande ajuda nas últi¬mas semanas ao baixar toneladas de informações do sistema do banco, seguindo à risca suas instruções sem questionar nenhuma delas.
Pessoalmente, porém, parecia bem mais agitada do que ele poderia supor, além de muito eficiente quando se tratava de se defender. Talvez com o trei-namento apropriado... Não, era melhor nem pensar nisso. Ele já se deixara arrastar para dentro de uma vida de mentiras e sombras, sem volta, e não desejava o mesmo para a doce Lucy Miller.
Ele podia tentar preservá-la do lado feio da vida, mas não tinha mais como evitar que ela entrasse em contato com as roupas mais feias de todo o universo. Ela havia colocado um roupão repleto de apliques com motivos de arco-íris sobre a calça laranja e co¬berto os cabelos com uma peruca de cachos pratea¬dos. Para completar o visual, colocou ainda um par de óculos antigos da Sra. Pfluger, com uma armação vermelha, ligeiramente mais feios que os da própria Lucy.
- O meu antigo andador está lá no canto - disse a Sra. Pfluger, indicando um ponto da sala.
- Isso não vai funcionar - disse Lucy, resmun¬gando. - Ninguém vai acreditar que tenho 80 anos.
- Oitenta e dois - corrigiu a Sra. Pfluger.
- Pode acreditar em mim. Quem quer que possa es¬tar vigiando este lugar não vai se preocupar com nada além do seu próprio alvo - ele montou o andador portátil e o colocou na frente de Lucy. - Vamos ver como è que você se sai no papel de uma senhora idosa.
Lucy se curvou e se apoiou no andador, fazendo uma imitação bastante convincente de alguém com artrite.
- Oh, meu Deus - disse a Sra. Pfluger. - Por fa¬vor, diga-me que não ando assim.
- Eu estou exagerando - disse Lucy, abraçando a vizinha. - Oh, Sra. Pfluger, não sei como lhe agra¬decer pela ajuda. A senhora nem conhece esse rapaz.
- Ele me mostrou um distintivo - disse a Sra. Pflu¬ger inocentemente, sem imaginar que se tratava de um distintivo falso que podia ser comprado em qualquer canto de Washington. - Além disso, ele tem um olhar confiável. Sei que ele vai cuidar bem de você.
- É o que espero - disse Lucy, olhando intensa¬mente para Bryan. - Podemos ir agora?
Bryan agradeceu a Sra. Pfluger e então "ajudou" Lucy a sair pela porta da frente e a descer pela rampa própria para as cadeiras de rodas.
- Mantenha a cabeça baixa. Isso - sussurrou ele. -Você está se saindo muito bem. Se eu não soubes¬se quem você realmente é, juraria que se tratava de uma vovozinha.
A verdade, porém, é que ele sabia exatamente quem estava por baixo de todos aqueles panos. O cor¬po que pressionara o seu depois da queda na casa de Lucy não tinha nada a ver com o de uma vovó. Ele havia se surpreendido com o corpo bem-feito que ela escondia por debaixo daquelas roupas largas e sem charme que estava usando. Seu Mercedes estava es¬tacionada no meio-fio. Ciente de que a casa de Lucy podia estar sendo vigiada, ele evitara fazer qualquer movimento suspeito, optando por dirigir-se direta¬mente à porta da vizinha de Lucy e tocar a campai¬nha. Sabia que ela estaria em casa, assim como tam¬bém sabia que fora enfermeira na Coréia e que o ma¬rido havia sido um veterano da Segunda Guerra Mun¬dial. Bryan apostara no seu patriotismo, acreditando que ela se disporia a ajudá-lo, e não se decepcionou.
Ele conseguiu relaxar um pouco depois de dar a partida no carro. Quem quer que os estivesse obser¬vando fora despistado pela interpretação de Lucy. Ninguém os seguia.
Bryan conduziu o carro até o estacionamento de um shopping e estacionou num lugar muito próximo de onde a havia encontrado.
- Por que estamos parando aqui? - perguntou Lucy.
- Para trocar de carro - ele desligou o motor e puxou a chave mestra da ignição.
- O que é isso? - perguntou Lucy, apontando para a estranha ferramenta. - Oh, meu Deus, você roubou o carro!
- Só peguei emprestado. A dona está fazendo compras no shopping, na santa paz de Deus. Ela ja¬mais saberá o que aconteceu.
- Isso é assustador - disse Lucy. - Pensar que existe uma ferramenta como essa e que agentes do governo podem roubar carros por aí...
-Acho que existam agentes do governo fazendo coisas muito mais graves do que isso - disse ele ao sair do carro. Infelizmente, havia aprendido isso da pior maneira possível.
Lucy pegou o andador do banco de trás mas não teve de usá-lo. Apenas seguiu Bryan rapidamente até o carro o para o qual ele se dirigira no estacionamento, um Jaguar prateado. Ele não estava com um carro da companhia quando falou com Lucy ao celular e não quis correr o risco de ser identificado por isso.
- Gostei ainda mais deste do que do Mercedes - comentou ela depois de colocar o andador na mala. - Este também é roubado?
- Não, este carro é meu.
- Eu não sabia que os agentes do governo ganha¬vam tão bem a ponto de poderem comprar um Jaguar.
- E não ganhamos mesmo. Essa não é a minha única fonte de renda.
Bryan nunca havia imaginado que o negócio que montara para disfarçar sua principal atividade e satisfazer a curiosidade da família e dos amigos pudesse dar tanto lucro. Ele abriu a porta para ela.
- Pode tirar o disfarce agora. Nós estamos a salvo.
- Graças a Deus.
Ela arrancou a peruca. Seu verdadeiro cabelo se soltou do coque frouxo, caindo graciosamente sobre os ombros. Ele nunca havia achado um cabelo casta-nho tão atraente antes, mas o de Lucy era espesso e sedoso.
Lucy tirou o roupão que havia jogado sobre a ca¬misa branca enquanto ele deu a volta no carro.
- Esqueci os meus jeans -- disse ela, lamentando-se.
- Não, eu os peguei - disse Bryan, mas então se deteve. Ele havia ficado tão fascinado ao ver Lucy tirá-los para colocar o disfarce, deixando entrever, por um rápido momento, a delicada calcinha branca, que tinha se esquecido de trazer os jeans. - Não se preocupe, nós arranjaremos umas roupas para você.
A lembrança da visão de Lucy se trocando o dei¬xou quase tão perturbado quanto a descoberta dos aparelhos de escuta na casa dela. Bryan não a tinha levado a sério no início, mas o grampo que ele havia encontrado em seu telefone era coisa de gente graúda. Somente o pessoal da sua agência tinha acesso àquela tecnologia de ponta russa, o que reduzia sua lista de suspeitos a alguns poucos nomes.
Ele fora traído por alguém da sua própria orga¬nização, o que significava que ele e Lucy estavam correndo sério risco até que o inimigo fosse neutra¬lizado.
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