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Coração Desprezado

Coração Desprezado

Taize Dantas

5.0
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Leituras
34
Capítulo

Ricardo Alcântara era apaixonado por Alicia Guimarães há muitos anos, mas sempre teve seu amor rejeitado por ela. Júlia Silveira já sofreu com uma grande decepção amorosa e desistiu de uma vez por todas de encontrar seu verdadeiro amor. Júlia e Ricardo são dois corações desprezados que irão se unir em busca de um mesmo objetivo, que é fugir do amor e do sofrimento causado por esse sentimento em suas vidas. Mas o amor surge quando e onde menos se espera... Importante: Esse é o terceiro livro da Série Corações Insensíveis, mas como cada um conta a história de um casal diferente, pode ser lido de maneira independente. O livro posterior pode conter spoiler do anterior, no entanto.

Capítulo 1 Só tenha olhos para a Alicia

Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro.

Sigmund Freud

Ricardo

Freud estava certo em sua reflexão e agora era um desses momentos em que eu fingia não me importar, quando na verdade o coração estava pedindo clemência.

Apesar disso, eu mantinha uma fachada de indiferença, pois estava na presença dos meus familiares e de alguns amigos, no aniversário da minha querida tia Veronica Alcântara, que era um grande evento para a alta sociedade paulistana.

Eu havia visto que o meu primo Nicolas estava conversando com seus pais, meus tios Gustavo e Veronica, quando a Alicia Guimarães se aproximou dos dois e decidi ir até onde eles estavam. Antes que eu conseguisse chegar até eles, meus tios saíram e pela expressão no rosto dos dois, pareciam terem ficado chateados com algo.

- Você está linda, Alicia. – Elogiei a Alicia, esse era o nome do meu sofrimento interno e por quem eu já fui feito várias vezes de bobo.

- Você já falou isso várias vezes hoje. – Alicia respondeu com o seu jeito petulante de sempre, fazendo pouco caso. – O João Felipe não vem? – Perguntou depois, com certeza para me fazer ciúmes.

- Para minha alegria, não. – Respondi sorrindo, me fazendo de idiota, mais uma vez.

O fato de o meu amigo não estar ali, deixava a Alicia sem uma de suas pessoas preferidas para me deixar por baixo, pois eu jamais poderia ficar com raiva do João Felipe, ainda mais se tratando daquele assunto.

- Vamos dançar? – A convidei.

Quem sabe aquele não poderia ser meu dia de sorte? Mas antes que a Alicia pudesse responder, meu outro primo, o Henrique, que era irmão mais novo do Nicolas, se juntou ao nosso pequeno grupo.

- Não mesmo! Por que você não desiste, hein? Não estou interessada! – Aparentemente, não seria hoje o tão esperado dia da virada, pois ela respondeu em um tom desnecessariamente rude.

- Você é tão insuportável, Alicia. –Henrique falou no mesmo tom usado por ela.

Meu primo não gostava da Alicia e nunca disfarçou o fato. Eu poderia sentir pena dela, caso eu também não estivesse nesse mesmo barco, sendo ela a culpada.

- E você é um idiota, Henrique! – Foi visível, ao menos para mim, que prestava atenção a todas as nuances de seu comportamento, que a Alicia ficou magoada pela forma como foi tratada pelo Henrique.

Após falar isso, Alicia saiu pisando firme, claramente chateada e eu ainda pensei em ir atrás dela, mas a presença dos meus primos ao meu lado me conteve.

Era sempre assim, a Alicia me fazia esquecer completamente o bom senso, pois no que se referia a essa garota, ele era quase inexistente e agora foi apenas mais uma dessas ocasiões em que ela me fazia de tapete.

- Quando você vai desistir de correr atrás da Alicia, Ricardo? – Nicolas perguntou.

Também não era a primeira vez que ele insistia em que eu deveria esquecer a Alicia e procurar conhecer uma "boa garota".

- Quando o sol congelar. – Henrique prontamente respondeu.

Apesar da piada, ele estava certo sobre um aspecto: eu não conseguia parar de tentar conquistar a Alicia. Se bem que conquistar era uma palavra forte demais para a nossa situação.

Tomei mais um gole da minha bebida, depois de ter sido desprezado pela Alicia de novo aquela noite, na frente dos meus primos.

Mas eu devia agradecer por não ter ainda mais testemunhas da minha rejeição, uma vez que o João Felipe não pôde vir. Ele estava bastante machucado, devido a uma briga na qual tinha se envolvido, na noite anterior. Algo bom, não o fato de ele ter levado a pior nessa tal briga e sim o fato de não ter vindo, pois a Alicia não desistia de se jogar para cima dele, em todas as oportunidades que apareciam e isso tornava tudo ainda pior para mim.

Mas o João Felipe não tinha nenhum interesse na Alicia, pois sempre foi apaixonado pela Viviane, filha de dois dos empregados mais antigos da mansão dos seus pais, pelo menos isso era algo que eu considerava bastante positivo para mim.

Eles já haviam tido um breve namoro e naquela ocasião, alguns anos atrás, eu fiquei completamente sem esperanças de ter a Alicia para mim e ainda tinha que a ver ao lado do meu amigo. Quando ele decidiu ir morar fora do país, eu fiquei muito feliz, precisava admitir.

Pensei então em ir embora da festa, mas meu orgulho não me deixou sair daquela forma, pois uma coisa era eu estar me sentindo desprezado e outra bem diferente era as pessoas saberem que eu estava daquela forma.

Fiquei olhando em volta, tentando localizar a mulher que me tirava o sono há anos, quando vi que ela já estava praticamente aos beijos com um famoso jogador de futebol brasileiro, o qual havia sido contratado recentemente para jogar fora do país. Era bem a cara da Alicia, ficar com alguém que chamasse bastante a atenção para a sua pessoa.

- Eu, em seu lugar, já teria saído daqui há muito tempo. – Nicolas disse, como sempre usando a sua racionalidade. – Não sei por que você insiste em frequentar os mesmos lugares que a Alicia.

- Você está me dizendo que eu deveria perder o aniversário da minha própria tia? – Perguntei de maneira sarcástica, pois havia entendido muito bem o que ele quis dizer.

- Não me venha com essa de se fazer de sonso, pois não combina com você, Ricardo. – O Nicolas acabou rolando os olhos, em um gesto que estava se tornando característico seu.

- Vamos esquecer o amor não correspondido do Ricardo e vamos falar agora no meu novo amor, que eu tenho certeza que será totalmente retribuído. – Henrique falou para a nossa surpresa.

A palavra AMOR e Henrique não ficavam na mesma frase, nunca!

- Que história é essa? – Nicolas se antecipou ao que eu mesmo iria perguntar. – Você tem um amor agora?

Olhei para o Nicolas e nós dois acabamos caindo na gargalhada, pois era hilário o pensamento de que o Henrique pudesse estar apaixonado. Até mesmo esqueci a minha própria situação amorosa.

- Podem rir bastante, não me importo. – Ele falou, suspirando de maneira teatral e nos fazendo rir ainda mais. – Estou completamente apaixonado.

Só o Henrique para conseguir me arrancar algumas risadas naquele momento.

- E quem é a pessoa sortuda que conseguiu conquistar esse coração maroto? – Perguntei, mas não acreditava de forma alguma que algo do tipo pudesse ter acontecido.

- A mulher da minha vida se chama Júlia e eu pretendo apresenta-la a vocês em breve. – Ele falou de forma bastante convincente.

Nós o olhamos ainda mais surpresos, já não mais rindo de suas palavras. Será que o Henrique havia mesmo se apaixonado?

- Essa Júlia que você está falando, por acaso seria a Júlia, amiga da Vivi? – Nicolas perguntou.

- Perfeitamente, meu irmão. – Henrique falou sorrindo satisfeito. – Ela será a sua cunhada, muito em breve, como eu já deixei claro.

-Mas ela não queria nem aceitar a sua carona, ontem. E vocês já estão apaixonados um pelo outro, assim, tão de repente?

Não entendi nada sobre o que eles falavam, e então o Nicolas explicou que quando eles haviam saído na noite anterior, para encontrar o João Felipe em uma boate, por acaso, a Viviane também estava lá, junto com duas amigas, Cecília e Júlia.

Só então eu compreendi que a briga na qual o João Felipe havia se envolvido tinha tudo a ver com a Viviane. Agora realmente ficou esclarecido o comportamento estranho dele na noite anterior, quando me ligou, praticamente implorando para que eu o acompanhasse a tal boate.

Mas eu já estava me sentindo muito mal por ter saído com os meus dois primos para uma boate e bebido além da conta no dia anterior, que recusei aquele convite.

Eu gostava bastante do João Felipe, erámos amigos, mas evitava beber em dias seguidos. O meu temor era encontrar na bebida um alento para o sentimento não correspondido que tinha pela Alicia. Era melhor não facilitar.

Como eu sabia que no aniversário da minha tia a Alicia também estaria, devido a amizade entre as duas famílias, eu não pretendia ter saído para beber naquela noite. Mas o Henrique havia me pedido para dar um apoio ao Nicolas, que ele estava precisando de distração, uma vez que havia flagrado sua própria esposa na cama com outro homem, e eu acabei por abrir aquela exceção.

- Então você conheceu a garota, forçou uma situação para ir deixa-la em casa, ela não aceitou as suas investidas, e agora você está apaixonado. – Recapitulei o que os dois irmãos me contaram. – É isso mesmo?

- Não da forma que você colocou, mas é basicamente isso, sim. – Henrique confirmou, mas não parecia nenhum pouco envergonhado por ter levado um fora e ainda se dizer apaixonado pela garota.

Fiquei extremamente curioso em saber quem seria ela e o que chamou tanto a atenção do Henrique, mas logo minha atenção foi desviada para a Laila, amiga e assistente do Henrique, que estava conversando com Jonas Campelo, filho de um dos maiores investidores do Brasil e que estava dentro do seleto grupo de bilionários existentes no país.

- A Laila conhece o Jonas Campelo de onde? – Perguntei aos meus primos.

Os dois homens se viraram no mesmo instante para olhar na direção em que eu estava olhando e com expressões de confusão, voltaram a me encarar.

- Nem façam essa cara de questionamento para mim. – Falei, levantando as duas mãos espalmadas para frente. – A funcionária é de vocês.

- Tendo em vista que a empresa é tão sua quanto nossa, ela é sua funcionária também. – Nicolas falou calmamente, tomando um gole da bebida em sua mão.

Apesar da fachada tranquila, eu sabia muito bem que ele deveria estar chateado, pois tinha certeza que existia sentimentos da parte dele por aquela garota. Ainda lembrava muito bem da vez em que o surpreendi aos beijos com ela, parado no acostamento de uma rua movimentada. Mas pouco tempo depois ele anunciou o seu noivado com a Natasha e depois disso, o Nicolas foi se tornando cada dia mais fechado e sem vida.

Tudo era compreensível agora, pois o casamento foi um completo fracasso, do início precipitado, até o término forçado tendo em vista a situação que o meu primo presenciou.

- Não gosto nada da forma como vocês estão se referindo a Laila. – Henrique nos repreendeu com expressão séria. – Ela é mais que uma funcionária, todos sabem disso. E não apenas para mim, não é mesmo, Nicolas? – Ele questionou o irmão, arqueando a sobrancelha de maneira irônica.

Não esperou por uma resposta, se virando e indo em direção até onde estavam a Laila e o Jonas.

- Noite agradável. – Falei de maneira irônica.

Ainda permaneci por mais algum tempo na festa, tentando encontrar alguma mulher que me interessasse ao ponto de querer passar uma noite com ela, mas foi em vão.

Eu só tinha olhos para a Alicia e já fazia bastante tempo que não conseguia ficar com nenhuma outra, o que só fazia piorar ainda mais a minha situação.

Fui embora de maneira discreta, nem mesmo me despedi dos meus primos, estava farto do bom senso do Nicolas e das piadinhas do Henrique.

Alicia havia sumido da festa, assim como o jogador também não estava em parte alguma. Preferi não ter certeza se eles haviam embora juntos ou se aquilo era apenas uma coincidência. Nesses casos, a dúvida era bem mais benéfica para o meu bem-estar emocional.

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