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Aos olhos do tempo

Aos olhos do tempo

Corinievre

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5
Capítulo

No meio de uma grande tempestade, os olhos de Cloe despertaram. O local onde seu corpo dormia não parecia com nada que ela já tenha presenciado e as estruturas ao longe nunca foram vistas por seus olhos. Os cavalos que percorriam as estradas haviam desaparecido e monstros de metal brilhante tomaram o ambiente. A última coisa que a jovem se lembrava era da sua própria adaga perfurando seu estômago enquanto as pessoas em sua volta esbravejavam furiosas que aquele sempre foi seu destino por ser uma grande aberração. Para piorar a situação, ela não reconhecia o próprio corpo. Seus cabelos antigamente longos, lisos e escuros agora era curtos e ondulados. O corpo de mulher forte e destemida que sempre teve por debaixo de seu escudo agora tinham curvas sinuosas com seios fartos de uma jovem delicada. Cloe não entendeu o que havia acontecido e muitos fatos da sua vida anterior não passavam de borrões em sua mente com frases dolorosas. Para descobrir o que aconteceu, ela precisava se lembrar de todo o passado primeiro, antes de começar a decifrar como reencarnou em um corpo já existente tão longe de casa.

Capítulo 1 O fim e o início

Eu me lembro de correr.

Estava escuro demais para os meus olhos conseguirem ver com clareza o caminho em minha frente, mas eu precisei correr o mais rápido que minhas pernas conseguiam. Minha vida dependia daquilo.

A voz gritava em minhas costas para que eu não parasse um minuto sequer e algo em minha cabeça entendia o quão perigoso seria se desobedecesse aquela ordem. No entanto, acho que correr não foi suficiente, pois a luz nos alcançou após um som estridente tentar estourar meu cérebro.

Aquela voz foi a primeira a sofrer, pois um pedido que saiu de forma engasgada ordenou que eu seguisse sem olhar para trás e meu peito ardeu dizendo-me que havia algo muito errado com aquele que me guiava. Mesmo assim eu segui sua ordem, pois dentro da minha cabeça a voz protetora me dizia que ele me encontraria de qualquer forma.

Agora eu conseguia ouvir tudo ao meu redor. Desde o som da floresta com seus animais noturnos querendo me assustar, até as vozes vindo ao longe gritando pelo meu nome e me avisando que logo eu estaria com meu corpo preso em uma enorme pira de fogo que queimaria minhas entranhas de fora para dentro enquanto me ouviriam clamar por misericórdia.

Eu me lembro de cair também.

Quando minhas pernas não foram capazes de suportar a corrida, o objeto que o inimigo segurava entre seus dedos sujos conseguiu tocar minha cabeça para acariciar violentamente meu cranio fazendo meus sentidos se perderem.

A dor foi terrível e eu ainda pude ouvir a voz dentro da minha cabeça estalar em um grito de desespero e agonia enquanto meu corpo era arrastado para longe do meu destino inicial.

Naquele instante eu sabia que tudo tinha se perdido. Sabia que meu corpo realmente queimaria naquela pira e sabia que eles iriam se aproveitar de cada grito que escapasse da minha boca. Isso me fez segurar tudo que eu pudesse expressar e joguei cada um dos meus sentimentos dentro de um pote no interior do meu coração para que nada do que aquelas pessoas quisesse ver, fosse possível para elas.

Não me lembro do que aconteceu depois, pois era como se meus olhos tivessem se fechado para qualquer dor e tortura que eu fosse sentir dali em diante.

Mas eu me lembro de sentir o fogo subindo pelas minhas pernas. Me lembro do calor fazendo-me suar enquanto me queimava de baixo para cima até que eu não tivesse mais consciência para continuar sentido. Me lembro da forma como ele perfurava minha pele para me induzir ao grito e me lembro que não dei esse gosto a ele.

Eu queimei, disso tenho certeza. Mas não me recordo das palavras que usei para desejar minha vingança e não sei nem se usei alguma para isso.

Eu só me lembro do frio que senti depois de tudo aquilo e do vazio, pois era muito quieto e chato.

Então aquela era a morte.

Varsóvia — Polônia — 2022.

Senti as gotas de água molharem meu rosto, a chuva se tornou intensa em questão de segundos e meus olhos se abriram com o impulso de meu corpo quando me sentei naquele chão encharcado. Levei as mãos ao estômago, onde antes havia golpeado a mim mesmo e acariciei o local enquanto deixava o grito escapar por entre meus lábios.

Procurei a ferida da adaga ou a própria enterrada em meu estômago, mas não havia nada ali além do tecido fino. Ergui ligeiramente a peça para poder observar melhor se tinha algum rastro da morte em mim e nada encontrei. A pele bronze não tinha um resquício de luta ou qualquer coisa que me desse clareza do que havia feito antes.

Meus olhos percorreram por meu corpo analisando os traços delicados daquilo onde me encontrava. Os dedos finos com unhas grandes pintadas em preto, tinha joias com formatos diferentes. Os pulsos cobertos por pulseiras sujas de sangue que ainda pingavam de algumas feridas e os braços fracos encobertos por uma veste pesada e molhada pela chuva, assim como as calças de um tecido grosso. Pés com botas de um formato diferente dos que já havia visto. Senti também o peso dos cabelos, totalmente molhados. Tudo o que estava em mim não era meu, nem mesmo o busto de tamanho mediano.

Observei o ambiente ao meu redor, parecia estar em uma espécie de estrada feita por uma terra preta que não se soltava do chão. A floresta era dividida por ela e eu tinha quatro opções de caminho para seguir, mas eu ainda estava preocupado com o que havia me ocorrido.

— Devo estar no inferno — disse, ouvi minha própria voz de mulher entendendo que eu era uma. — E no inferno eu sou uma garota. Deve ser o castigo de comer tanta puta.

Me ergui do chão para analisar melhor aquele lugar enquanto pensava se realmente já havia comido alguma mulher em minha vida. Eu não conseguia me lembrar.

A única coisa que vinha em minha mente, era a adaga em minhas mãos e as vozes dizendo que eu era hora de me atacar. Então veio a dor e quando olhei, havia golpeado a mim mesmo. A dor ainda estava ali, mas as cicatrizes não.

— O diabo deve estar brincando com isso.

Falei para mim mesmo novamente, já que só havia eu ali. Provavelmente outro castigo, assim como a perda da memória deveria fazer parte. Tinha certeza que os demônios iriam me fazer lembrar gradualmente. Eu tinha que fugir antes que me achassem.

O som alto invadiu minha mente, levou minhas mãos para as orelhas que pressionei firme enquanto o som tentava explodir meu interior. Os demônios já estavam lá.

— Saí da frente sua maluca! — A voz masculina saiu de dentro da fera em minha frente. O monstro de metal brilhante que havia feito aquele som doloroso e tinha uma cabeça saindo por sua cabeça como se fosse um chifre. Uma cabeça humana de homem barbado. — Ei, maluca!

Disse novamente o chifre falante e eu só conseguia me indignar com aquela aparência grotesca. Para piorar, a criatura expeliu outro chifre no lado oposto, porém esse era de uma dama com sangue negro escorrendo de seus olhos.

— É pra hoje querida! — Gritou a dama.

Assustado, eu apenas dei alguns passos para o lado, deixando que aquela criatura andasse com suas patas giratórias.

— Saí da frente? — Repeti a primeira frase da criatura depois de seu grito animal. — É pra hoje querida?... Que linguagem... estranha.

Olhei novamente para às quatro direções em busca da fera para lhe perguntar onde deveria ir, mas já havia sumido da mesma forma que aparecera. Escolhi um lado por impulso, implorando para não ver outra criatura semelhante pelo caminho.

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