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A vida normal de um rapaz é narrada em seus diários, até essa normalidade começar a ruir pouco a pouco. Dando lugar a um pesadelo onde somente os mortos tem vez... Ou será que não?

Capítulo 1 01. Os primeiros dias

15/09/2015 – Day 01

É exatamente 17:09 da tarde, terça-feira. Faz tempo que eu cheguei no trabalho. Sou um copista numa faculdade daqui de CWB, mas copista é só um nome bonitinho para tio do xerox.

Meu nome é Heitor, tenho 24 anos e moro em São José dos Pinhais, mas trabalho longe pra caralho. No Xaxim, mais precisamente. Cabelos curtos, pretos que mudam pra castanho (não, não estou brincando), 1,91m de altura, pele morena, descendente de ciganos, olhos castanhos e acho que a descrição está boa para começar.

Desde semana passada eu tenho ouvido rumores de que algo está acontecendo pelo mundo. No noticiário, nas rádios, mas mais principalmente na internet.

Zumbis...

Exatamente como nos livros, séries e filmes.

A atmosfera parece se equilibrar entre normalidade e receio.

E você deve estar se perguntando o motivo de eu ter vindo para o trabalho, certo?

Bem, a coisa toda não chegou aqui ainda, se é que isso tudo é real, e não uma jogada de marketing para algum filme ou jogo novo. É o ano das propagandas grandes, então eu não posso simplesmente abandonar tudo e deixar de trabalhar e viver. Afinal de contas, imagina se tudo é só balela? Eu saio por aí, volto pra cá, e me ferro? Obrigado, mas não. Obrigado.

Mas não muda o fato de que alguma coisa parece que ficou fora dos eixos quando as notícias começaram a chegar.

Primeiro no Camboja, gente morrendo (normal que todos achem que é de fome ou qualquer doença mais "comum"), e não que seja algo incomum. Afinal pessoas morrem todos os dias, e os vivos só se importam quando é alguém próximo, ou algum artista. Porém, gente na internet (principalmente pelo Twitter e pelo Facebook) começou a espalhar por aí que os mortos lá estavam simplesmente voltando à vida

Não sei se acredito ou se continuo por aqui.

A vida anda complicada demais pra simplesmente largar os bets e pagar pra ver.

Minha namorada, Sandra, está em casa esperando que possamos conversar, então vou parar de escrever por agora e fazer algo que me dê dinheiro até ela ficar online de novo. Amanhã eu volto para explicar direito o porquê desse diário e também trazer novidades, caso haja alguma.

Abraços.

Cordialmente, Ben.

16/09/2015 – Day 02 (E como Nietzche é um cara legal...)

14:28, uma tarde cheia de ventos e acompanhada de um sol infernal na nossa amada (pelo menos quando está fria) Curitiba. Ontem, quando saí do trabalho, notei umas coisas engraçadas enquanto o Inter 2 estava chegando no terminal do Hauer.

Coisas engraçadas, como falei antes, mas não num bom sentido.

Como o terminal inteiro em blackout, e (eu achava que isso acontecia só nos EUA) mendigos com placas de papelão onde se lia "O FIM ESTÁ PRÓSSIMO" (você leu certo...), "OS PECADORES VÃO PAGAR!", e mais algumas outras frases loucas que deixariam pessoas normais perplexas.

Um grupinho estava tentando atravessar o terminal de um lado ao outro, atravancando o caminho das pessoas, e o Ligeirão estava me esperando do outro lado. Aos trancos e tropeços, consegui atravessar a pequena multidão e por sorte, entrar no ônibus para começar a metade da minha viagem até em casa.

O resto do caminho foi tranquilo enquanto eu lia um livro. E quando cheguei em casa, pude ouvir por cima da música de meu fone o som do silêncio, que antes era tão bem recebido por meus ouvidos, que agora se tornava, pouco a pouco, incômodo...

Se tudo estiver desabando como essa sensação em mim diz que está, o presídio pelo qual passo todos os dias, ao ir e voltar do trabalho, vai ser um problema enorme.

Enquanto penso nisso, acendo um cigarro e me limito a somente calcular e pesar as possibilidades.

Nunca fui a pessoa mais normal do mundo, então estou aguardando ansiosamente pelo fim de tudo. Para descobrir se o mundo vai acabar em trovões ou em sussurros, e por isso, pensar nas possibilidades sempre fez parte da minha vida.

Sandra deve estar com esse mesmo pressentimento, pois quando conversávamos ontem, disse que estava preocupada, mas ao mesmo tempo, estranhamente animada com tudo aquilo.

Eu sempre soube que ela fora a pessoa certa para a minha vida. É como diz o ditado... "Se apaixone por alguém que tenha o mesmo tipo de retardo mental que você..."

Convenhamos... Nem que fosse lá no fundo, parte de mim também estava ansioso com aquilo, mesmo que pudesse significar todos os meus novos planos de vida indo para à merda. Mas qual é! Se as coisas estão ficando ruins, o melhor a se fazer não é se adaptar?

Depois de chegar em casa, engoli alguma comida, joguei um pouco, e fui dormir, acordando com um vendaval que está durando até agora de noite.

Até o presente momento tudo continua bem e normal. Mas não consigo me afastar do pensamento que Nietzche colocou em minha mente ao chegar à segunda parte do livro.

"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não se tornar também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você."

Todo esse vento traz consigo um cheiro estranho... Como se toda a fumaça dos incêndios do mundo inteiro fosse carregada com ele para cá... Como se confirmasse que todas as mortes que aconteceram estão vindo direto para nossa porta...

Talvez Nietzche não esteja tão errado assim...

Day 02.5 – Noite

Quando estava andando pela rua que levava até minha casa, olhei de novo para o presídio, novamente ruminando as possibilidades. Meu cérebro quase parecia um cavalo num pasto farto. Os pensamentos rodavam por minha mente como a fumaça do cigarro rodopia pelo ar da noite, que por sinal, parecia uma noite de verão.

Bem... É Curitiba, afinal de contas...

Até o céu parecia um céu de verão, ou quase isso...

Havia uma cobertura de nuvens, bem leve nas bordas, que se adensava mais para o centro. Parecia um lençol amassado sobre a cama.

Mas as nuvens cobriam apenas metade do céu...

Enquanto andava, mesmo que não fosse uma distância longa, lembrei da única vez em que havia visto aquilo.

Não precisava ser um gênio para saber que uma tempestade estava à caminho.

Podia não ser nessa noite, talvez nem na próxima, mas quando a tempestade caísse, com certeza a cidade seria levada para o bueiro.

Meus instintos me diziam isso.

***

Já é noite, e eu estou em casa. A televisão no quarto da minha mãe, que é o único quarto da casa, está ligada, só pra variar, com um jogo de futebol desinteressante passando. Liguei meu note, e procurei algum site de notícias.

As do Brasil ainda pareciam as mesmas. No entanto, a parte mais assustadora disso, é que agora havia algumas reportagens sobre algum tipo de doença desconhecida assolando outros países. Ninguém falou sobre mortos voltando à vida ou qualquer coisa do tipo, mas o alerta era para que pessoas não viajassem mais. A não ser que fosse estritamente necessário.

No mínimo, uma pandemia estava se assomando no horizonte.

Ao mesmo tempo em que uma parte completamente retardada e doente em mim reza para que isso aconteça, outra parte praticamente implora para que não seja verdade...

É um eterno embate entre meu lado normal, e meu outro lado, que nunca se encaixou onde quer que tentasse se encontrar...

O que me lembra de certo dia, no qual eu estava conversando com a Sandra, sobre o que era que me fazia tão diferente de qualquer um da família dela.

Especialmente do irmão dela.

Eu posso muito bem ainda morar com minha mãe, ter um emprego meio bosta, por mais que eu goste desse emprego meio bosta, e não ter o suficiente para dá-la qualquer luxo.

Mas eu tenho uma coisa que ele jamais terá...

A liberdade de ir e vir de onde eu quiser, e para onde eu bem entender.

A liberdade para me tornar o que eu bem entender.

Talvez eu já tenha olhado por tempo demais para aquele abismo do qual Nietzche me lembrou ontem...

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