A família formada de quatro homens tinha como seu patriarca o senhor Shuichi Fujiwara, um renomado cardiologista japonês. Órfão filho de um japonês e uma imigrante brasileira, ele fora abandonado pela mãe em Nagasaki, Shuichi cresceu em uma instituição de proteção a menores onde estudou e de lá saiu aos 18 anos trabalhando como professor de educação infantil para pagar sua moradia e seus estudos na faculdade de medicina. Quando este completara vinte e um anos, após um longo período de solidão ele partiu para um processo de fertilização invitro de uma barriga de aluguel donde nasceram seus filhos os trigêmeos idênticos: Mamoru, Sasuke e Keitaro.
Um choro pode ser ouvido em meio à noite chuvosa e escura na cidade. Uma voz
masculina e doce disse:
_Acalme-se, tudo ficará bem. Eu vou cuidar de tudo! Prometo!
...
Tudo começou num verão, a terra era desconhecida, os quatro homens desembarcam no
aeroporto da capital do estado. Todos eles estavam calados, o mais velho diz em japonês:
_Gambate mina-san! (Vamos lá pessoal!)
Eles caminham para fora do saguão onde pegam um táxi. O calor daquele mês de janeiro
era quase insuportável! Um país de clima tropical, mesmo sendo a região sul era algo
extremamente impactante em vista do verão japonês:
_Vai ser complicado nos adaptar, papai. – diz um dos rapazes.
_Não façam essas caras! Já disse que eu precisava de um descanso e tudo isso é pro bem
do irmão mais novo de vocês. Ele precisa de um lugar calmo e tranqüilo para se recuperar
e o Japão não oferece isso mais a nossa família. – falou o pai sorrindo tentando animar os
três filhos no carro.
_Ah... Vamos parar de conversa! Estamos aqui por conta do Keitaro e do papai que precisa
de descanso também, vê se não enche o saco Sasuke!
_Blá, blá, blá... Meu humor está no dedão do pé hoje Mamoru. Vê se não enche você
também!
_Dá pra vocês dois calarem a boca! Já não chega ter a mesma cara e sobrenome ainda
por cima possuem a mesma alegria em me incomodar? – disse Keitaro zangado.
_Chega de discussão aí atrás! Vamos chegar à nova casa daqui a pouco. A cidade fica no
interior, é bem silenciosa, ouvi dizer que lá apenas três pessoas além do prefeito possuem
internet, ou seja, ninguém nem faz idéia de quem seja o Keitaro e vamos manter isso em
sigilo, ao menos até quando o irmão de vocês achar conveniente, pois esse foi o acordo
que fizemos para podermos arrastá-lo para o Brasil. Meu consultório já está montado e a
clínica perfeita! Na segunda-feira eu e Mamoru começamos a trabalhar e Keitaro mais
Sousuke vão cuidar da casa nesse meio tempo.
A família formada de quatro homens tinha como seu patriarca o senhor Shuichi Fujiwara,
um renomado cardiologista japonês. Órfão filho de um japonês e uma imigrante brasileira,
ele fora abandonado pela mãe em Nagasaki, Shuichi cresceu em uma instituição de
proteção a menores onde estudou e de lá saiu aos 18 anos trabalhando como professor de
educação infantil para pagar sua moradia e seus estudos na faculdade de medicina.
Quando este completara vinte e um anos, após um longo período de solidão ele partiu para
um processo de fertilização invitro de uma barriga de aluguel donde nasceram seus filhos
os trigêmeos idênticos: Mamoru, Sasuke e Keitaro. No período em que estudava medicina,
Shuichi fez parte de um famoso conjunto de J-Rock conhecido como "Addiction", Shuichi
era um baterista muito bom, mas ele abandonou a música para dedicar-se à medicina e a
seus três filhos.
Mamoru, o filho mais velho dos gêmeos, seguiu os passos do pai na medicina e havia
recém se formado na escola de medicina de Osaka e era um excelente clínico geral. Ele
era também o responsável pela casa e pelos irmãos sempre que o pai estava ausente,
Mamoru era um rapaz muito brincalhão, um verdadeiro palhaço ambulante que não perdia
um minuto sem fazer alguma piada ou provocar seus irmãos, ele sempre era muito
preocupado com os sentimentos de seu pai e seus irmãos assim como era disposto a
qualquer sacrifício para vê-los todos sorrindo e felizes, de todos os filhos, talvez Mamoru
fosse o que mais se parecesse com o gênio de seu pai, uma pessoa sempre cuidadosa e
equilibrada.
Sasuke, o filho do meio, era um tanto quanto áspero e briguento. Ele se irritava por pouca
coisa e não era de muita paciência para com os demais, o que sempre dificultava qualquer
tomada de decisão pela família. Sempre havia nas conversas coisas como... " Mas o que
Sasuke vai achar?" Ele era muito impulsivo e passional, mas completamente devotado a
preservar a honra e a integridade de seus familiares. Era o mais fácil de identificar dentre
os gêmeos, pois era o único metaleiro e estava sempre de preto, com bandanas de
caveiras e símbolos agnósticos e era também o único que usava piercing na sobrancelha
direita, no lábio inferior esquerdo e na língua.
Keitaro, o mais novo, era um menino calmo e meigo, ele puxou a veia artística do pai e era
um exímio compositor, tocava piano como ninguém e cantava divinamente com seu timbre
contraltino de voz doce e levemente rouca, quase que sussurrante mesmo em momentos
onde as canções fossem as mais enérgicas. Esse seu diferencial fez com que Keitaro
alcançasse um sucesso extraordinário em toda a Ásia com os seus treze anos de idade e
até os dias atuais ser o artista mais requisitado e do qual a mídia se interessava e
especulava. Keitaro ultimamente havia passado por vários problemas de saúde devido a
trabalhar tanto sem descanso e em qualidades atmosféricas diversas excessivamente pela
sua gravadora, o que lhe acabou desenvolvendo uma bronquite asmática crônica, a qual
fez com que seu pai solicitasse ao seu empresário junto à gravadora uma pausa para
Keitaro se recuperar e poder voltar a fazer o que mais amava: cantar.
A ida para o Brasil foi uma saída estratégica que o senhor Shuichi encontrou para tirar
Keitaro e ele mesmo dos holofotes da mídia asiática, sem contar no clima mais favorável e
tranqüilo para a recuperação de seu filho. Quem não gostou nada disso foi Sasuke, que
teve de abandonar seu projeto com a banda de metal que montara no Japão para
acompanhar o pai e os irmãos.
A escolha estratégia de uma cidadezinha no interior do sul do Brasil fora idéia do pai dos
garotos, uma vez que o clima do sul não seria tão impactante com relação ao Japão, mas
que este já traria uma reviravolta climática e cultural gigantesca mesmo assim.
Os três gêmeos estavam com vinte anos, os filhos eram muito parecidos com o pai:
cabelos negros como betume, pele alva, muito clara e olhos puxados, porém azuis, o que
denunciava o traço da herança estrangeira da família.
A cidade para onde foram morar era muito pequena, o que acabou instigando a
curiosidade de muitos moradores ao observarem a nova construção da casa que ocupava
um quarteirão inteiro, com muros altos e amarelos e com aspectos de construções
orientais. Todos os moradores falavam sobre os estrangeiros que haviam recém chegado à
cidade. Esse fora o assunto principal nas rodas de chimarrão da pequena cidade por vários
dias. A maioria dos pacientes que freqüentavam a clínica do Dr. Shuichi e do Dr. Mamoru
eram de cidades vizinhas e vinham por indicação de dois amigos também médicos do pai
dos rapazes.
Um anúncio no mural do colégio, o único da cidade, de ensino fundamental e médio
chamava a atenção de muitas meninas do segundo ano:
_Olhem! Aquele consultório dos japoneses... Eles precisam de uma secretária. Pelo jeito
pagam bem e dizem que irão respeitar os horários de estudos. Hei! Camila! Você não quer
dar uma olhada? – disse uma garota morena chamada Ana para sua amiga ruiva.
_Eu não! Vai saber que tipo de coisa estranha pode haver naquele lugar! Isso é um
trabalho pra esquisitona! JÉSSICA!!! TAVA PROCURANDO UM SERVIÇO, NÉ!? Aqui tem
um! Agora você vai poder ajudar a sua mãe.
Jéssica se aproxima calada do mural, ela lê o anúncio e anota o telefone. No horário do
intervalo ela vai ao telefone da secretaria da escola e liga para o número:
_Mochi-mochi... Ah! Quer dizer, alô! Heheh! Aqui é o DR. Mamoru, em que posso ajudar?
_Oi, meu nome é Jéssica, eu vi o anúncio de vocês no mural da escola e pensei se
estariam interessados ainda em contratar alguém para o serviço.
_Ah! Sim moça! Com certeza estamos precisando de uma atendente aqui na clínica, se
achar conveniente poderia vir aqui após a aula para conversar com meu pai sobre a vaga.
_Sim, eu irei. Obrigada pela sua atenção senhor! Até breve!
_Até mais! Que gracinha a voz dela no telef
_Eu hein!? Cara mias estranho? – disse Jéssica meio constrangida com o comentário
sussurrado por Mamoru ao desligar o telefone.
Jéssica é uma jovem garota da cidade, com quinze anos, ela tem longos cabelos
castanhos, um sorriso encantador e olhos castanho-esverdeados. Ela é uma menina muito
meiga, filha de pais divorciados e a irmã mais velha da casa. Sua mãe estava com sérios
problemas de saúde e emocionais, pois a separação fora algo doloroso e a incomodava
diariamente a hipocrisia da cidade em julgá-la assim como suas filhas a pessoas
indesejáveis por não terem uma "família normal". Sua irmã mais nova, Vanessa, com cerca
de dez anos tem sérios problemas comportamentais e desvios de conduta psiquiátricos, o
que fora mais ainda afetado com o divórcio dos pais, a menina era uma maníaca suicida e
extremamente rude e impulsiva o que testava diariamente a paciência de Jéssica até o fim,
mas que ela nunca perdia e sempre cuidava com zelo da casa e de sua irmã. Seu pai era
um homem inconseqüente que apesar de ser filho de uma família abastada era
completamente irresponsável, não havia nem terminado o ensino fundamental e dizia que
seu maior sonho de vida era tornar-se um cigano e que para ele bastava uma tenda para
abrigar-se do frio da noite. Apesar de divorciado, ele vivia rondando a casa e ainda achavase no direito de perturbar a vida de sua ex-esposa e de suas filhas fazendo ameaças e
dando escândalos pela cidade onde quer que fosse em que ele as encontrasse.
Jéssica procurava um emprego na cidade para poder assim pagar seu transporte para que
terminasse seus estudos em uma escola particular no município vizinho, coisa que sua
mãe sozinha nunca teria condições de arcar. O anúncio no mural viera em boa hora e ela
estava disposta a agarrar este trabalho com ambas as mãos.
***
A aula havia acabado, Jéssica guarda seu material e corre para sua casa a cerca de três
quadras do colégio. Com muita expectativa ela toma um banho relâmpago, troca de roupa,
penteia os longos cabelos, aplica seu gloss transparente favorito nos lábios rosados e
calça suas sandálias. Descendo as escadas até o portão da rua ela diz a sua vizinha:
_Dona Lúcia! Avise minha mãe que fui ver um trabalho, eu volto logo pro jantar!
Jéssica sai apressada para a rua, mas com um sorriso cintilante na face iluminada por uma
alegria incalculável. Ela chega logo ao consultório:
_Construção bacana! Não tinha passado aqui em frente ainda. Vamos ver o que me espera
então!
Ela aperta o botão do interfone:
_Hi! Hehehe... Quer dizer... Oi! O que deseja?
_Sou a garota que ligou hoje, à respeito do anúncio!
_Ah! Sim! Pode entrar! Estamos esperando!
O portão é aberto, a garota respira fundo e caminha para dentro da clínica. Chegando na
recepção ela é recebida por Mamoru e pelo senhor Shuichi:
_Seja bem vinda senhorita! Eu sou o Dr. Mamoru, e esse é o meu pai, o Dr. Shuichi. Bem,
vou deixá-los conversando tenho que ir preparar o jantar. Papai... – disse Mamoru muito
contente ao vê-la.
_Sim filho.
_Maior gatinha hein!!! – diz Mamoru sem nenhum pudor e com um sorriso maroto de
moleque traquineiro nos lábios.
_Oras! Mais respeito menino! Vá logo pra casa! Desculpe esse meu filho cabeça de vento
senhorita. – disse o doutor meio envergonhado apontando a poltrona para que Jéssica
acomode-se.
_Não há problema, eu não ligo. – responde ela muito meiga.
O Doutor caminha até a janela da recepção a abrindo e começa a falar:
_Bem, senhorita, qual sua graça? Seu nome?
Ela sorri do modo estranho que o japonês fala, parecia até que ele havia feito um curso de
português com sua antiga professora do primeiro ano que ainda achava o vocábulo de
Machado de Assis contemporâneo:
_Meu nome é Jéssica Senhor. Vi o anúncio em meu colégio e então liguei e falei com o seu
filho.
_Bom, Jéssica, o trabalho aqui não é lá essas coisas nem a remuneração, mas estamos
precisando realmente de alguém para atender aos telefones, agendar as consultas e
manter a recepção ao menos e os arquivos organizados. Você seria capaz de executar tais
funções?
_Creio que sim, senhor. – diz a garota com o sorriso meigo nos lábios fitando o doutor que
caminhava pela recepção de um lado para o outro.
_Bom, pelo que percebi você estuda no período vespertino, não queremos atrapalhar seus
estudos e também não há necessidades de tempo integral uma vez que fazemos os
agendamentos todos pela manhã, seria ótimo se a senhorita pudesse nos fornecer seus
dados e passar aqui pela manhã para começarmos uma experiência. Seria de seu agrado?
_Certamente é possível senhor! Vemos-nos então pela manhã. – Jéssica preencheu uma
ficha com seus dados e saiu da clínica feliz indo para sua casa.
Na casa do Dr. Shuichi o assunto do jantar foi a nova secretária:
_Caras! Maior gatinha! E tem uma vozinha muito meiga no telefone! Chego me arrepiar os
cabelinhos da nuca e do braço só de lembrar dela me chamando de "senhor". – diz
Mamoru com um sorriso tonto nos lábios apontando para seu braço provocando os irmãos.
_Pare já com isso seu pervertido! Papai acabou de falar que ela tem somente quinze anos!
Toma vergonha nessa cara! – Esbraveja Sasuke na mesa jantando.
_Que bom que encontrou alguém para ajudá-lo papai, já que dispensou meu auxílio. – diz
Keitaro também jantando.
_Prefiro que você permaneça cuidando da casa junto com o Sousuke, você é uma péssima
telefonista, nunca se lembra dos recados e muito mais de anotá-los para lembrar-se deles
depois! – resmunga o pai.
...
No outro dia, logo cedo, o Dr. Shuichi mostrou toda a clínica para a garota e os
equipamentos de trabalho. Jéssica aprendeu tudo muito rápido e conquistou a confiança
dos doutores o que lhe garantiu o emprego ao final do dia.
_Mamãe! Cheguei! Eu consegui! Vão me contratar! – disse a moça contente chegando em
casa para sua mãe.
_Que ótimo filha! Agora talvez você possa pagar aquele cursinho para ingressar na
faculdade. – respondeu a mãe orgulhosa.
_Assim espero! – disse Jéssica muito sorridente ainda não acreditando que conseguira um
emprego.
...
Vários dias se passaram e Jéssica ganhara completamente a confiança e a amizade dos
doutores. Numa terça-feira, em meio à uma consulta o Dr. Shuichi vai até a recepção e fala
a garota:
_Jéssica querida, Mamoru está atendendo e eu no meio de outra consulta agora e preciso
de alguns dados que estão no meu notebook, acabei esquecendo ele em casa. Poderia ir
até lá busca-lo? É do outro lado da rua! Já liguei para meus filhos e Sasuke vai entregá-lo
a você.
_Certo senhor! Já trago aqui.
_Obrigado querida!
Jéssica sai do consultório, atravessa a rua e toca o interfone da casa amarela de motivos
orientais:
_Oi! É a Jéssica, secretária do seu pai! Ele pediu para que eu buscasse o notebook.
_Ah! Pode entrar moça, já estou descendo para levar ele. – disse Sasuke ao telefone.
Jéssica adentra os portões e escuta uma voz muito doce cantando uma canção pop muito
cativante e animada em japonês. Ela vai e fica esperando na soleira da porta de entrada.
Quando a porta se abre ela leva um susto. O rapaz que estava carregando o notebook era
idêntico ao Dr. Mamoru, com exceção dos piercings e do humor, uma cara meio
carrancuda.
_Que foi? Meu pai não te contou que éramos gêmeos? – pergunta ríspido Sasuke.
_Ah! Bem! É! Desculpe, ele não falou nada que tinha dois filhos gêmeos... – diz ela
completamente desconcertada e constrangida.
_Três... – interrompe Sasuke – somos trigêmeos. O babaca cantarolando lá em cima
também é meu irmão, infelizmente, toma aqui, leva logo que ele deve estar precisando.
_Sim... Obrigada! Eu já vou... – disse ela embaraçada e confusa saindo quase que
tropeçando nas flores do jardim.
_Mais que tipo de idiota é essa menina... – entra na casa resmungando e batendo muito
mal humorado a porta Sasuke.
Jéssica sai da casa e chega até a clínica onde entrega o notebook ao doutor e diz:
_Não sabia que tinha filhos trigêmeos senhor! Levei um susto quando um de seus filhos
abriu a porta agora a pouco.
_Hahah! Desculpe! Eu esqueci de avisar, isso sempre acontece! Espero que Sasuke não
tenha sido mal educado, ele é realmente um caso perdido! – responde rindo o doutor.
_Não, imagina, foi tudo bem! Só me espantei em saber que são todos tão iguais. Ouvi um
de seus filhos cantando em japonês, voz bonita ele tem! Só queria saber o que ele estava
falando! Hehehe! – responde Jéssica tentando amenizar o constrangimento.
_É, voz bonita mesmo ele é um excelente músico.
***
Os dias passam, fazia cerca de um mês e meio que a família Fujiwara estava morando na
pequenina cidade do interior. Todos os rapazes estavam tomando um delicioso chá da
tarde na pequenina casa de chás construída na residência da família.
A casinha de chá era toda feita em madeira clara de cerejeira e com as portas revestidas
de papel-arroz branco, um mensageiro do vento no canto esquerdo do beiral do teto no
lado de fora e dentro, um tatame cáqui e um futon roxo escuro onde sobre ele estava uma
pequenina mesinha de centro toda em madeira clara com os utensílios da cerimônia do
chá sobre ela. Os quatro homens estavam trajando kimonos à rigor e sentados sobre o
futon: O senhor Shuichi usava um kimono branco com motivos florais negros de traços
finos e uma fita azul escura à cintura. Sasuke trajava um kimono preto completamente sem
estampas. Mamoru vestia um traje vermelho com motivos lineares dourados assim como a
fita dourada em sua cintura e Keitaro trajava um kimono azul escuro com detalhes brancos
e prateados e com uma fita vermelha amarrada à sua cintura.
_Keitaro você anda muito quieto. – resmunga Mamoru tomando um gole do chá verde de
sua xícara.
Com um sorriso provocador em seus lábios, Sasuke retruca:
_Ele sempre foi quieto...
_Não enche! – resmunga Keitaro muito bravo.
_Realmente você anda mais calado do que o normal está melhor? Teve alguma crise
respiratória essa semana? – pergunta o pai.
_Não. Eu estou bem. – fala Keitaro com um olhar muito triste tomando seu chá.
_Pois bem! A nossa querida secretária Jéssica nos convidou para passarmos em sua casa
no final da tarde, esse povo aqui toma um tal de chimarrão lá pelas seis horas e ela nos
convidou para visitarmos sua casa, será uma ótima oportunidade de nos familiarizarmos
com a cidade e com os costumes daqui, quero ver todos lá, sem exceções! – diz o pai
fitando Sasuke com um olhar cauteloso.
_Vou... Na casa... Da gatinha!!! – disse Mamoru em tom infantil e irritantemente feliz para
provocar seus irmãos.
_Cale essa boca! Tenha modos! Nem parece um médico! Fica falando essas coisas! Saiba
que aqui no Brasil isso é considerado crime de pedofilia... Seu doente!! – esbraveja Sasuke
largando a xícara sobre o futon roxo da sala.
...
As horas passam e chega o fim da tarde. Jéssica e sua mãe estavam sentadas em
banquinhos na frente dos portões de suas casas sobre a grama da entrada e debaixo da
sombra das duas árvores paineiras do quintal. Jéssica trajava um vestido rosa claro e
usava sandálias brancas, sua mãe vestia um vestido de verão florido branco e azul claro.
Elas estavam tomando chimarrão quando a caminhonete preta do Dr. Shuichi encosta na
frente, Mamoru coloca a cabeça para fora da janela e logo saúda a moça:
_Olá Jéssica! Chegamos!
Mamoru e o senhor Shuichi trajavam trajes esportivos: camisetas e bermudas vestindo
sandálias.
_Olá Dr. Mamoru! Dr. Shuichi! Que bom que vieram! – Responde Jéssica feliz levantandose e caminhando até a pick-up para recebê-los. – Venham! Esta é a minha mãe, Emília.
Venham! Vamos nos sentar!
_Saudações! Agradecemos o convite! – responde o Dr. Shuichi à mãe de Jéssica. – Então
é aqui que a senhorita vive! Lugar aconchegante!
_Hahaha! Nem tanto! Mas fazemos o que podemos! Onde estão seus outros dois filhos
doutor? – fala a moça apreensiva.
_Daqui à pouco eles chegam, Keitaro estava tentando convencer Sasuke a vir junto, ele é
meio arisco, hehehe! – responde o doutor.
O tempo vai passando e a conversa boa também. Jéssica se dá conta de que a erva
estava acabando e pede licença a todos para ir até a venda da esquina comprar mais.
_Mais esses moleques não vêm não? – resmunga o doutor Shuichi.
_Vem sim pai! Acabei de ligar para o celular do Keitaro e eles estão descendo a rua. –
responde Mamoru desligando o aparelho. E olhando a esquina onde vê Sasuke vindo de
bicicleta, ele estava de regata preta, bermuda e tênis pretos, meias brancas e uma
bandana preta nos cabelos com motivos de caveiras brancas. – Veja papai! Sasuke está
vindo.
Sasuke chega, desce da bicicleta, cumprimenta as duas mulheres. O doutor Shuichi então
indaga o filho que recém chega:
_Onde está Keitaro?
_Tá quase chegando à esquina, ele está vindo caminhando, não quis arriscar andar de
bicicleta e ter um ataque de asma. – responde Sasuke sentando-se em um dos
banquinhos.
Keitaro estava já dobrando a esquina, ele vestia uma camisa de botões brancos e toda
marrom bem clara, de mangas compridas levemente dobradas nos punhos. Usava também
um jeans azul claro e um sapato esportivo marrom claro e caramelo. Ele ultrapassa a
venda da esquina quando escuta o barulho de um carro acelerando muito e percebe que
seu pai, seus irmãos e a mãe de Jéssica levantam de sobressalto gritando e acenando
com as mãos:
_Cuidado!!! – gritavam eles.
_Jéssica! – grita a mãe da garota apavorada.
Keitaro vira-se e vê a moça com a sacolinha nas mãos e o carro que vinha
descontroladamente para cima dela. Instantaneamente ele pega impulso e corre atirandose sobre ela tirando-a da frente do carro:
_Moça! Cuidado! – grita Keitaro enquanto corre e atira-se sobre ela.
Keitaro pula e a agarra firmemente com um forte abraço jogando-os para a lateral oposta
saindo da linha de colisão do carro. Ele atira-se de forma a ter todo o impacto da queda em
suas costas e protegendo a garota.
Todos correm até eles, inclusive algumas pessoas que estavam na vendinha.
_Você está bem? – pergunta o rapaz com uma voz sôfrega e com uma imensa dificuldade
em respirar.
_Sim, estou. – responde a moça levantando o rosto e abrindo os olhos vendo a face do
valente rapaz que a ajudara.
Jéssica fica paralisada, ele era um dos irmãos trigêmeos filho do Dr. Shuichi, mas algo de
diferente havia naquele rapaz. O seu olhar era doce, mas ao mesmo tempo triste isso
despertou um sentimento angustiante na garota que a fez estremecer e ficar atônita. Tão
iguais, porém aquele olhar era tão diferente. O calor do abraço de Keitaro a havia
desconcertado, era constrangedor, mas ao mesmo tempo ela sentiu que aquele fora o
melhor e mais maravilhoso de todos os abraços que ela algum dia havia recebido e sentia
uma inexplicável vontade de não mais os deixar.
A garota toma forças diante da situação e se levanta, ela percebe que acabou ferindo
levemente a testa e que o rapaz estava com o rosto machucado e com dificuldades em
respirar e se mover:
_Moço, você está bem? – diz ela aflita fitando-o com os olhos ainda sentada ao chão.
Keitaro estava com o olhar vidrado nos olhos de Jéssica e não falava nada. Ele estava
completamente em silêncio e imóvel apenas olhando-a com muita dificuldade para respirar.
Então ele muito devagar retira um spray de medicamentos de um dos bolsos da calça. Um
barulho de vazamento no spray era audível, ele leva-o até a boca e dá uma borrifada a que
lhe alivia o desconforto. Ele então suspira e fala:
_Estou legal... Mas... Ai... Quando caí, acho que ouvi o barulho de ossos se quebrando.
O doutor Mamoru chega correndo primeiro e vai verificar o estado de Jéssica:
_Jéssica, você está bem?
_Estou legal, graças a ele, mas acho que ele quebrou alguma coisa.
Mamoru então olha o irmão deitado no asfalto e pergunta:
_Tudo certo? Consegue respirar?
_Já usei meu spray... Acho que quebrei algo na altura do ombro direito. – responde Keitaro
em meio a gemidos suprimidos.
Mamoru o examina e diz:
_Aparentemente você só deslocou o ombro com o impacto da queda, mas vamos leva-lo
para a clínica fazer um raio-x e verificar com maior certeza, Jéssica, venha junto, você tem
um corte na testa e vai precisar de cuidados, assim como devemos ter certeza de que não
houve nenhum traumatismo.
O doutor Shuichi aproxima-se com o carro, ele desse desesperado e vai até os jovens:
_Está tudo bem? Meu filho! Jéssica!
_Tudo certo pai, já examinei os dois, vamos leva-los pra clínica tirar um raio-x do braço do
Keitaro e examinar o corte da senhorita Jéssica. – respondeu Mamoru.
_Certo, vamos colocá-los no carro e ir pra clínica rápido. – diz o doutor abrindo a porta da
caminhonete enquanto Sasuke ajudava Jéssica a levantar-se e Mamoru auxiliava Keitaro.
***
Na clínica do doutor Shuichi foram feitos os exames e curativos:
_Pronto... Nem vai precisar dar pontos! Está tudo terminado Jéssica! Apenas descanse
bem que isso vai melhorar. – disse Mamoru terminando o curativo na testa de Jéssica.
A jovem olha ao lado na mesa de exames onde Keitaro estava sentado. Ele estava
realmente pálido com o susto que levara dos últimos acontecimentos, seu rosto estava um
pouco escoriado por conta da queda no asfalto, mas nada grave. A crise de asma havia
passado e ele estava apenas muito fraco e cansado. Com a mão esquerda no ombro
direito Keitaro abaixa a cabeça para disfarçar a careta devido tamanha dor que sentia.
Jéssica prestou atenção e se sentiu culpada pelo ocorrido.
_Seu ombro apenas saiu do lugar mesmo, temos que colocá-lo de volta. Filho... Isso vai
doer, muito mesmo! – diz com muito pesar o doutor Shuichi já agarrando o pulso do braço
direito de Keitaro e com a outra mão apoiando sobre o ombro direito do filho tomando
posição para reverter o deslocamento. – Faremos o seguinte, eu conto até três e puxo,
certo?
Keitaro olha para o pai e responde:
_E por acaso eu tenho alguma outra escolha?
O doutor começa a contagem:
_1... 2...
Keitaro sente alguém segurar sua mão esquerda firme. Ele se espanta e vira o rosto para
olhar, era Jéssica, com uma cara de muita piedade para com a situação. O rapaz fica
desconcertado e perde a concentração:
_ Três!! – diz o doutor Shuichi puxando de supetão o braço.
Um barulho de ossos se deslocando fora ouvido, Keitaro nem estava mais esperando pelo
puxão, ele estava concentrado e muito espantado com a atitude da moça. A dor da
relocação do ombro fora tamanha que ele soltou um berro voltando-se novamente pára seu
pai:
_AAIII!!! PAPAI!! NOSSA!! TÁ QUERENDO ME MATAR!!!??? – grita Keitaro muito irritado
com a dor.
As palavras de Keitaro arrancam risos de Jéssica. Ele então se volta com um ar zangado
para reclamar, mas ele logo desiste quando percebe que a moça ainda segurava a sua
mão.
_Desculpe pelo riso, mas foi de certa forma engraçado se não fosse algo tão trágico. Eu
lamento pelo ocorrido e mais uma vez o agradeço por me ajudar naquele momento, me
sinto culpada por você ter se machucado desse jeito e ter que passar por isso. O mínimo
que posso fazer é oferecer-lhe meu apoio num momento como esses. – diz Jéssica.
_Eu tenho uma idéia melhor! – fala Mamoru caminhando para o lado dos dois rindo e
falando. – Por que você não leva meu irmãozinho Keitaro tomar um sorvete nesse final de
semana? Claro ele é quem vai pagar como um bom cavalheiro!
_Eu aceito a proposta sim! – diz Jéssica voltando a sorrir com os gracejos de Mamoru.
_Hei! Mamoru! – intervém Keitaro.
_Ah irmãozinho! Não seja pão duro! São somente dois sorvetes! Sem contar que você
ainda não conhece muita coisa da cidade e a Jéssica certamente será uma excelente guia
turística! – Fala Mamoru desconcertando Keitaro.
_Parvo! Não estou negando sorvete a ninguém! Irrito-me com a sua capacidade de cuidar
da vida alheia com tanta impetulância! - revida Keitaro.
_Certamente que devo cuidar da vida alheia! Sou um médico! – diz cinicamente Mamoru.
_Oras! Não distorça as minhas palavras seu insuportável! – responde irritadíssimo Keitaro.
Jéssica continua rindo da briguinha dos irmãos. Keitaro percebe os risos e envergonhado
tenta recompor-se dizendo:
_Desculpe a língua afiada do Mamoru, ele tem um talento nato para me tirar do sério. Bom,
reformulando o convite, a senhorita gostaria de passear comigo no sábado, assim
poderíamos conversar mais e certamente me mostraria a cidade, ainda não tive ânimo
suficiente para sair de casa e fazer novos amigos.
_Tudo bem! Sábado às quinze horas então? – responde Jéssica estendendo a mão para
um aperto de mãos amigável.
_Sim, sábado às quinze horas. – Keitaro corresponde o aperto de mão da garota.
Depois de fecharem a clínica o doutor Shuichi leva Jéssica até sua casa ele conversa com
a mãe dela e lamenta o dia fatídico e combinam de uma próxima vez retribuir a visita.
Já eram cerca de dez horas da noite, todos estavam em casa. Sasuke ria e zombava de
Keitaro pelo grito dado na clínica:
_Hahaha! Seu pamonha! É um frouxo mesmo! Não me espantaria nada se os boatos da
revista Ochou for verdade, de que você talvez fosse um homossexual... HAuhauaha!! Só
faltou chorar feito uma garotinha! Hahaha!
_Cale essa matraca Sasuke e vá cuidar da sua vida! Eu sou muito mais hetero do que
você! Disso pode ter certeza! – responde batendo a porta de seu quarto muito bravo.
Sasuke ainda rindo e zombando fala à porta do quarto de Keitaro:
_Então me explica porque nunca te vi com uma namorada ou soube de nada a respeito!
HAhaha!
Keitaro furioso atira a almofada na porta e brada:
_Eu ainda não encontrei a pessoa certa, seu babaca! Eu ajo com o coração e não com o
impulso sexual como certas pessoas dessa casa, seu boçal!
Sasuke sai da porta ainda às gargalhadas. Keitaro deita-se na cama, ainda com a tipóia
para imobilizar o braço ferido, já de pijamas pronto para dormir. Ele estava cansado, o dia
havia sido muito penoso e doloroso também. Porém, por mais que ele quisesse não
conseguia dormir. Keitaro fechava os olhos e vislumbrava o olhar de Jéssica quando esta
ainda estava no asfalto e o encarou pela primeira vez. Aquele olhar meigo e
desconcertante que o deixou confuso e atônito. Um pequeno par de olhos verdeamendoados que num instante o fizera esquecer de tudo o que ocorria ao redor. Naquele
instante, Keitaro sentiu pela primeira vez em sua vida que o tempo havia parado
inexplicavelmente congelado de uma forma tão doce e maravilhosa que ele desejou que o
relógio nunca mais voltasse a andar.