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A neblina da cidade fronteiriça engolia as luzes dos postes como se o mundo inteiro tivesse esquecido de existir ali. Um silêncio denso, cortado apenas pelo ranger do vento e o latido esporádico de um cachorro velho. No fim da estrada de terra batida, entre armazéns abandonados e um bar que já não servia cerveja gelada havia anos, ela apareceu.
Selene Calderón cambaleava.
O casaco estava ensanguentado, a respiração falha. O cheiro de ferro, suor e cio a envolvia como uma maldição antiga. A lua não estava cheia, mas também não era nova. Era como ela: partida ao meio.
Elías Morrow observava da janela do andar de cima. Aquela figura arrastando as botas, arfando como um animal ferido, não era comum. Nada naquela mulher era.
Ele podia sentir o instinto gritando sob a pele. O lobo dentro dele rosnava. Era uma sensação que ele não sentia desde a queda de seu clã. Desde a noite em que tudo o que ele amava foi queimado por ordens de um conselho que dizia proteger os "puros".
Ela bateu na porta. Uma vez. Duas. E caiu.
O som do corpo desabando ecoou como um tiro surdo. Elías hesitou. Por três anos, ele havia jurado não abrir aquela porta pra ninguém. Mas havia algo naquela presença que rompia a promessa como uma garra atravessando carne.
Quando ele desceu, a encontrou desacordada, mas viva. Os olhos semicerrados, febris, sussurrando algo em uma língua ancestral. "Eles vão me encontrar... preciso... esconder..."
Ele a levou para dentro.
A pele dela ardia. O sangue escorria de um corte profundo no abdome, mas não era fatal. Já estava cicatrizando - lentamente. O cio dificultava a cura. E o cheiro... o cheiro estava enlouquecendo o lobo dentro dele.
Ela acordou horas depois, com um grunhido fraco, mas os olhos alertas como os de um animal encurralado.
- Onde estou? - a voz dela era rouca, ferida, mas ainda assim orgulhosa.
- Lugar nenhum. - Elías respondeu. - E se quiser continuar viva, vai continuar assim.
Ela tentou se levantar, mas gemeu. Ele colocou uma mão em seu ombro, firme.
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