Desgraças atrás de desgraças tornam um casal inimigos e, ao mesmo tempo, aliados. O ponto crítico chegará quando um terá que matar o outro. Qual gatilho será apertado primeiro? Josué virou o dono do morro Gênesis com uma única motivação: matar um influente político que está pronto para se candidatar a governador. Surge uma pessoa que pode ser a esperança de Josué. Seu nome é Nadja e tudo o que ela precisa para entregar o político nas mãos do bandido é uma garantia de que ganhará muito dinheiro, então um contrato de casamento é assinado.
Josué
Eu a amo, a amo como nunca amei antes, mas meu sentimento de vingança é maior.
- Josué? - Nadja anda entre as bananeiras no meio do parque. Ela está linda usando esse vestido amarelo, parece uma princesa ou uma banana. - Vou te colocar dentro daquela mansão. Eu disse que eu conseguia tudo que eu queria. - Ela empina o nariz e se senta ao meu lado na grama. - Como sempre, tive alguns problemas, mas consegui resolver.
Sinto uma pontada forte no coração.
É, o dia está chegando.
- Acho que depois disso, vou mudar de carreira. Serei atriz.
- É. Você vai ser uma ótima atriz. Mente mais que o capeta. - Dou um riso fraco, coço a nuca e suspiro.
- Eu digo que agora cê tem a chance de finalmente acabar com o governador e você fica assim? É pelo que você me prometeu?
- Não. - Abaixo a cabeça. - Tantos anos esperando por isso e... E-eu não sei o que dizer.
- Você tá com medo? - pergunta, incrédula. - Josué, olha para mim agora! - Ela levanta o meu rosto e segura minha cabeça com as duas mãos. - Se não tiver certeza do que quer, fala. Eu não vou te colocar frente a frente com aquele homem sem você estar preparado. Isso seria loucura!
- É óbvio que eu quero isso, Nadja! - Franzo o rosto e tiro as mãos dela de mim. Viro o rosto para o lado e digo: - Vou o matar nem que isso seja a última coisa que eu faça na vida.
É isso mesmo. Não tem volta. Ele morre ainda esse mês. Só preciso que a Nadja cumpra a sua parte e o resto eu vou resolver. É...
- "A última coisa" - sussurra.
- Não pensou que eu posso acabar morto também?
- Isso só vai acontecer se você falhar.
- Se alguma coisa acontecer comigo... - Olho para ela e passo a mão pelo seu rosto, gravando cada detalhe. - Se eu morrer, você promete que vai seguir em frente? Esqueça de tudo que a gente construiu e encontre uma nova pessoa. Você me promete que vai fazer isso?
Seus olhos lacrimejam e ela me olha com nojo. Pelo menos eu sei que ela realmente quer que eu viva e que o que ela sente por mim não é uma ilusão da minha mente.
Nadja tenta se levantar, mas a abraço e encosto a sua cabeça no meu peito. Beijo o topo da sua cabeça e sussurro:
- Eu vou ficar bem.
- Eu não vou te perdoar se você falhar. - Ela segura forte a minha camisa e começa a chorar. - Você não vai morrer, ouviu?
- Ok. Eu não vou. Aquele infeliz vai morrer e vamos voltar para casa, tá bom? Fica tranquila. - Acaricio a sua cabeça...
No porão escuro da mansão Soares, eu descobri o real sentimento de desespero, medo e dor. Fui obrigado a presenciar uma cena que nunca vou esquecer e descobri que não sou tão forte quanto pareço.
Ele estava na porra da minha mira e eu não atirei. Eu sou um desgraçado, um frouxo, um verme insignificante e por isso ela sofreu. Eu a levei para o inferno e não há como explicar como falhei.
Agora nós dois estamos aqui, nesse porão escuro, empoeirado, no chão frio, esperando pela chegada da morte. Estou sentado no chão e Nadja nos meus braços, com as roupas rasgadas e coberta de sangue.
Minhas lágrimas insistem em cair e eu não consigo me controlar, não consigo ser forte.
- Por favor, me perdoa - peço com a voz trêmula. As minhas lágrimas caem no rosto dela e eu as limpo com a mão. - Nadja, fala comigo! - Coloco a sua cabeça contra o meu corpo e encosto meu queixo na sua cabeça. - Por favor. - Minha voz quase não sai mais.
Já chorei tanto e implorei tanto que já não tenho mais forças para continuar. Minha garganta está seca e minha cabeça lateja muito.
Faz mais ou menos meia hora que ele foi embora e Nadja não deu uma palavra desde então. Não chorou mais, não demonstrou mais medo, nem mesmo se mexeu. Age como se estivesse morta e acho que realmente está, mas o que morreu não foi o seu corpo, sua alma que foi ceifada.
- Eu... - sussurra. Tiro seus cabelos do rosto e encaro seus olhos vazios. - Você só tinha uma missão. Por sua culpa... - Aperta os olhos e segura o choro. - Quero que me mate antes que ele volte. Eu não tenho forças para isso, então faça você. Sabe que me deve isso.
Balanço a cabeça para os lados.
- Não! Eu não posso.
- Gostou de me ver sofrer, não é? Verme imundo, eu nunca deveria ter confiado em você. - Ela começa a chorar. - Eu te odeio! - sussurra.
Eu não consegui nem tirar a vida do Soares. Como eu vou tirar a vida dela? Como eu tiro a vida da mulher que esteve ao meu lado esse tempo todo?
- A gente precisa viver. Se morrer agora tudo que conseguimos vai ser em vão.
- Você só precisava ter apertado a merda do gatilho. - Ela chora mais e começa a tossir. - Você não presta para nada! Nem consegue ser um bandido de verdade.
- Eu vou tirar a gente daqui. Prometo. - A dou um abraço forte e fecho os olhos. - Eu prometo.
Ela tenta me bater, mas não consegue, está muito fraca. Isso me arrasa. Aquela mulher forte que entrou em conflito com bandidos, salvou crianças de uma vida criminosa e fez políticos comerem na sua mão... Eu a destruí.
- Ele vai voltar e, antes de me matar, vai me usar de novo. Você é um vagabundo de merda que não serve nem para tirar o sofrimento de alguém que te ajudou tanto. Se não consegue matar pelo bem de alguém, nunca vai conseguir vingar a sua mãe. Espero que você sofra no inferno amargurado e sabendo que sua mãe o despreza.
- Eu não vou te dar ouvidos. Você não sabe o que fala. Tá com raiva, eu entendo. Eu vou tirar a gente daqui.
- Se iluda enquanto pode, porque em breve vamos morrer. - Ela tosse mais e franze o rosto. - Maldito seja o meu padrasto, que fez te conhecer.
A morte é certa quando você só se senta e a espera. Não dizem que a esperança é a última que morre? Ela ainda não morreu. Eu vou tirar a Nadja daqui e vou matar o Soares. Se eu não conseguir matar o desgraçado, eu me mato.
Deito ela no chão, pego o celular no bolso da minha calça e ligo a lanterna. Tem uma mesa com gavetas aqui. Abro todas e acho um grampo de cabelo e um clipe de papel.
- O que vai fazer? - pergunta. Ela está se esforçando para manter os olhos abertos.
- Vou conseguir destrancar a porta com isso.
- Tem seguranças lá fora.
- Eu dou meu jeito.
- Isso é suicídio. - Seus olhos se fecham.
- Melhor morrer tentando do que não fazer nada.
Procuro por mais alguma coisa no local que possa me ajudar, como algo para me proteger e acho um martelo num armário velho.
Respiro fundo e me ajoelho ao lado da Nadja.
- Eu já volto. - Passo a mão pelo seu rosto e a dou um beijo na testa. - Forço um sorriso como forma de me consolar e me levanto.
- Josué... - sussurra. - Vai embora sozinho, mas mata o governador, por favor.
- Morro aqui com você ou vamos embora. Não vou discutir isso.
- Então se formos embora me promete uma coisa?
- O que quiser.
Ela diz algo, mas não entendo nada. Se não ir para um médico, acho que vai morrer.
Eu me ajoelho de novo, aproximo minha orelha da sua boca e pergunto:
- O que foi?
- Na hipótese de sairmos daqui, você vai me deixar matá-lo? Se não deixar, eu juro... Será meu inimigo e vou enterrar o seu corpo junto ao dele.
- Você sabe o quanto eu quero isso. - Estreito os olhos. Meu peito arde como se estivesse em chamas e meus sentimentos se misturam como uma comida no estômago me dando ânsia.
- Então me mate agora, Josué. Se não me matar, eu mato o Soares. O que vai ser?
⚠️NOTA DA AUTORA: Vou postar spoilers dos próximos capítulos quando a história chegar a 100 comentários. Esses spoilers serão postados lá no Inst@gram @sabrinamartinhoa
Outros livros de Sabrina Martinho A.
Ver Mais