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Logan, Dylan e Tyler, os três irmãos Creed são audaciosos, rebeldes, lindos... e estão em busca do amor!
Desde ganhar prêmios como caubói até negociar patrocínios com agentes de Hollywood, Tyler Creed, ex-estrela dos circuitos de rodeio, pode dar conta de qualquer coisa... Exceto partilhar um pedaço de terra com seus irmãos cabeças-duras. Mesmo assim, ele vai parar em Stillwater Springs, e, apesar de trocar raras palavras com Dylan e Logan, ajuda na restauração do rancho e dos laços de família. Lily Kenyon conhece muito bem brigas entre irmãos e segredos do passado. Ela também resolveu retornar a sua cidade e se estabelecer para criar sozinha sua filha. Porém, ela não esperava reencontrar Tyler Creed, um amor de infância. Agora, o caubói durão que deixou o lar em busca da fama e da fortuna talvez esteja prestes a descobrir que sua sorte sempre esteve sob o céu de Montana...
CAPÍTULO UM
Tyler Creed reprimiu um sorriso, quando o velhote no estacionamento da Wal-Mart fitou embasbacado o chaveiro extravagante na sua mão calejada. Piscou algumas vezes, como alguém tentando enxergar através de uma ilusão, depois, puxou ansiosamente a aba do boné de beisebol desbotado. De acordo com o bordado amarelo claro no chapéu, seu nome era Walt, e ele era o melhor pai do mundo.
Walt olhou para a sua caminhonete Chevrolet de dez anos de idade, com as laterais manchadas de terra seca, os pára-lamas inteiramente recobertos, e, em seguida, desviou o olhar para a reluzente Escalade branca de Tyler.
— Pensei que estivesse de brincadeira, moço — disse. — Quer mesmo trocar aquele Cadillac pela minha caminhonete, elas por elas? A lata velha já está com quase cem mil quilômetros rodados, e, de vez em quando, parte dela despenca. Semana passada foi o abafador do cano de descarga...
Tyler assentiu, cansado da conversa fiada de Walt, mas sem querer demonstrar isso.
— A idéia é essa — retrucou, baixinho.
O caipira velho aproximou-se do Cadillac e encostou no seu capô com algo semelhante a reverência.
— Esta coisa foi roubada? — Walt perguntou, compreensivelmente desconfiado.
Afinal de contas, Tyler pensou, não era comum para um homem se deparar com um negócio desses todos os dias, ainda mais em Crap Creek, Montana, ou o que quer que fosse o nome daquele ponto da estrada.
Tyler riu.
— Não, senhor — disse. — Sou o dono, honesta e legalmente. Os documentos estão no porta-luvas. Caso concorde, eu os assino, passando o veículo para o senhor agora mesmo, e sigo o meu caminho.
— Espere só até Myrtle chegar com as compras e ver isto — o velhote disse, enganchando os polegares nas presilhas do macacão sujo de graxa, sacudindo a cabeça e finalmente deixando a alegria transparecer em um sorriso desdentado.
Walt precisava cuidar dos dentes. Tyler aguardou.
— Ainda não entendo como um homem em seu juízo perfeito possa querer fazer uma troca dessas — Walt insistiu. — Talvez você não esteja batendo bem da bola. — Ele se interrompeu, estreitando os olhos ao fitar Tyler. — Embora, pareça estar bem.
Involuntariamente, Tyler olhou para o relógio, um modelo caro com um caubói de rodeio de vinte e quatro quilates montando um cavalo selvagem incrustado na face de platina. Diamantes reluziam nas posições do doze, três, seis e nove, e a coisa toda era tão incompatível com quem ele realmente era quanto o caríssimo utilitário que estava praticamente dando de graça, mas ele jamais consideraria separar-se do relógio. A falecida esposa, Shawna, vendera o seu reboque para o cavalo e uma sela encrustada de pedras preciosas que ela ganhara em uma competição de corrida para comprá-lo para ele, no dia em que Tyler venceu seu primeiro campeonato.
— Não sei se quero fazer negócios com um homem com tanta pressa — Walt disse, astutamente, estreitando um pouco os olhos desconfiados, — Você está fugindo de alguma coisa, e pode muito bem ser da lei. Posso lhe dizer que não preciso de problemas desse tipo. Eu e Myrtle temos uma boa vida. Nada muito luxuoso. Trabalhei na serraria por cerca de trinta anos. Mas o trailer está pago e nós sempre conseguimos juntar dez dólares para cada um dos netos nos seus aniversários...
Tyler conteve um suspiro.
— Esse é um relógio e tanto — Walt comentou, sem demonstrar muita pressa em concluir o negócio. O olhar astuto examinou o jeans e a camisa de Tyler, recém-comprados a preço de liquidação, demorou-se nas botas caras, feitas a mão em uma loja especializada no Texas. Ergueu-se novamente para o seu chapéu de vaqueiro preto, enterrado até quase cobrir os olhos. — Ganhou-o ao vencer um rodeio, ou coisa parecida?
— Ou coisa parecida — Tyler confirmou.
Seus próprios irmãos, Logan e Dylan, não sabiam a respeito de seu casamento com Shawna, ou sobre o acidente que a matara. Não estava disposto a se abrir com um desconhecido que acabara de conhecer no estacionamento de um Wal-Mart.
— Você parece um domador de cavalos — Walt decidiu, após outro exame demorado. — Também me parece conhecido.
E você parece um condutor de empilhadeira, Tyler respondeu, em silêncio. Ele enfiou os polegares na cintura do jeans novo e ainda duro. — Fechamos ou não o negócio? — perguntou, calmamente.
— Deixe-me ver os documentos — Walt disse, ainda regulando as apostas, — E algum documento de identidade, se não se importa.
Sabendo que não faria diferença caso, de fato, se importasse, Tyler pegou o documento pedido de dentro do utilitário, detendo-se para acariciar o cachorro feio que encontrara quase morto de fome em outro estacionamento, em outra cidade, na longa estrada para casa.
— O cachorro faz parte da troca? — Walt perguntou, ficando ainda mais cauteloso.
— Não — Tyler respondeu. — Ele fica comigo. Walt deu a impressão de ter ficado desapontado.
— É uma pena. Desde que minha cadeia de caça, Minford, morreu de velhice, no inverno passado, venho querendo arrumar outro cachorro. São boa companhia, e com Myrtle trabalhando todos os dias como garçonete para financiar o vicio dela no bingo, passo um bocado de tempo sozinho.
— O que não falta são cães precisando de um lar — Tyler mencionou. — Os abrigos estão cheios deles.
— Acho que tem razão — Walt concordou. Ele examinou o documento de propriedade que Tyler lhe estendeu como se fosse uma intimação, ou coisa parecida. — Parece estar tudo em ordem — disse. — Vamos ver a identidade.
Tyler tirou a carteira do bolso da calça e estendeu a habilitação de motorista.
Os olhos reumosos de Walt se arregalaram um pouco, e ele deixou escapar um assovio baixo e agudo, era sina! de surpresa.
— Tyler Creed — disse. — Eu achei que já havia escutado esse nome antes, ao vê-lo no documento de propriedade do Cadillac. Quatro vez campeão mundial como montador de cavalos selvagens. Já o vi várias vezes na ESPN. Também em alguns comerciais para a TV, É preciso coragem para ficar diante de uma câmera apenas de cuecas e com um sorriso amarelo na cara como você fez, mas tenho de admitir que se saiu bem. Minha filha, Margie, tem um calendário cheio de fotos suas. Está dois anos atrasado, mas ela ainda se recusa a tirá-lo da parede. O marido dela fica possesso.
Por dentro, Tyler suspirou. Por fora, ficou calmo.
— Eu e Myrtle adoraríamos recebê-lo para jantar — Walt prosseguiu.
— Não tenho tempo ― Tyler respondeu, torcendo para que estivesse parecendo pesaroso.
Walt voltou a examiná-lo de alto a baixo, sacudindo novamente a cabeça, e pegou a própria papelada de dentro do calhambeque que era a sua caminhonete. Assinou o seu nome na linha pontilhada.
— Deixe-me apenas pegar a caixa de ferramentas na traseira — disse.
— Vou pegar minhas próprias coisas enquanto faz isso — Tyler retrucou, aliviado.
A troca foi feita. Tyler estava com a mochila, o cão e a caixa do violão na caminhonete, antes mesmo que Walt ajeitasse a sua caixa de ferramenta de metal vermelha na traseira da Escalade.
— Tem certeza de que não quer vir jantar? — Walt perguntou, quando uma mulher emergiu do Wal-Mart e veio na direção deles, empurrando um carrinho de comparas e com uma expressão intrigada no rosto.
— Quem dera eu pudesse — Tyler mentiu, subindo na caminhonete. Se dirigisse para valer, ele e Kit Carson, o cão, estariam em Stillwater Springs até a hora do pôr do sol. Passariam a noite na cabana do lago, na encolha, e, quando a manhã chegasse, encontraria o irmão, Logan e lhe daria um soco na cara. De novo.
Talvez, também nocauteasse Dylan, só para não perder a viagem. Contudo, na verdade, a ida para casa era para acertar algumas coisas, para dar um jeito nelas em sua cabeça.
— Até mais ver — disse para Walt.
E, antes que o velhote pudesse responder, Tyler arrancou, queimando borracha.
Oito quilômetros após terem deixado Crap Creek, o abafador do cano de descarga se soltou, e passou a ser arrastado sobre o asfalto com um barulhão ensurdecedor, espalhando centelhas azuis e alaranjadas para tudo quanto era lado.
— Droga — Tyler disse.
Kit Carson deixou escapar um ganido de solidariedade.
Bem, ele quisera mesmo voltar para descobrir quem teria sido sem o rodeio e Shawna. Para as pessoas normais, esta era a vida do campo.
E não era como se Walt não o houvesse alertado, pensou.
Com um sorriso, Tyler encostou na beira da estrada, desligou a caminhonete e, visando avaliar o estrago, enfiou-se debaixo da caminhonete com a barriga virada para cima. Justamente como nos terríveis velhos dias, pensou, quando ele e o pai, Jake, costumavam brincar de mecânico de fundo de quintal no pátio do rancho, tentando manter funcionando algum calhambeque caindo aos pedaços até chegar o dia do pagamento.
Fossem quais fossem os outros talentos de Walt, consertar abafadores não era um deles. Ele prendera parte dele no lugar com fita adesiva, que agora estava dependurada em tiras fumegantes e o abafador em si parecia ter sido bombardeado por chumbo grosso.
Tyler suspirou, saiu novamente de baixo da caminhonete e ficou de pé, espanando a poeira do jeans e tentando, em vão, enxergar as costas da camisa. Kit estava sentado no assento do motorista, ofegando, seu nariz embaçando o vidro da janela.
Afastando o cão de modo a poder pegar o telefone celular de dentro do porta-copos coberto de poeira no console da caminhonete, Tyler ligou para 411 e pediu para ser conectado à empresa de reboques mais próxima.
Enquanto ela e a enfermeira se esforçavam para colocar o pai doente no seu Taurus alugado diante do Missoula General Hospital, Lily Kenyon não estava se arrependendo de ter ficado em Montana para cuidar dele. Na verdade, há muito que já se arrependera. Começara a se arrepender meia hora após ela e a filha de seis anos de idade, Tess, chegarem correndo na recepção, uma semana antes, recém-chegadas do aeroporto.
Lily lembrava-se do pai como sendo um homem afável, embora um tanto quanto distraído, tranqüilo e engraçado. Até chegar a adolescência, passara os verões em Stillwater Springs, grudada nos calcanhares dele como um pedaço de chiclete mascado, enquanto ele atendia os pacientes de quatro pernas na sua clínica veterinária, seguindo-o de celeiro a celeiro enquanto ele fazia as suas visitas, cuidando de vacas, cavalos, bodes e animais de estimação doentes. Ele fora gentil, referindo-se a ela como sua assistente e chamando-a de "Doc Ryder", o que a deixara toda orgulhosa, pois era como as pessoas na pequena comunidade de Montana o chamavam.
Naqueles dias de menininha, Lily quisera ser exatamente como o pai.
Contudo, agora, estava tendo dificuldade em equilibrar o homem nas suas recordações com o descrito pela mãe amarga e zangada após o divórcio. Aquele que jamais vinha visitá-la, que não enviava cartões de Natal e nem de aniversário e que sequer ligava para saber como ela estava.
Quanto mais enviar uma passagem de avião para que ela pudesse visitá-lo.
Agora, após sete longos dias aturando o seu jeito extravagante, entendia um pouco melhor a atitude da mãe, embora o modo como Lucy Ryder Cook fosse incapaz de falar no ex-marido sem, logo em seguida, franzir os lábios ainda a incomodasse. Hal Ryder, ou Doc, parecia gostar de Tess, mas cada vez que olhava para Lily, esta era capaz de enxergar uma dor, perplexa e zangada, nos seus olhos.
Assim que o pai e a filha estavam devidamente presos pelos cintos de segurança, Hal na frente e Tess na cadeirinha que a lei exigia para qualquer um abaixo de determinada idade e peso, Lily sentou-se atrás do volante e tentou se recompor. O dia estava quente, mesmo para julho. O hospital estivera abençoadamente fresco, mas as aberturas para ventilação no painel do carro alugado ainda estavam soprando ar quente.
O suor umedeceu as costas da blusa sem mangas de Lily. Sem sequer sair com o carro, ela já estava grudando no banco.
Isso não era bom.
— Podemos comer alguns hambúrgueres? — Tess perguntou, do banco de trás.
— Não — respondeu Lily, que dava muito valor à comida saudável.
— Podemos — desafiou o pai ranheta, no mesmo instante.
— Qual dos dois? — Tess indagou, pacientemente. — Podemos ou não?
A pobre menina era extremamente pragmática, estóica, até. Desde o "acidente" de Burke, um ano atrás, tivera muita prática em conformar-se com as coisas. Lily não tivera a coragem de contar para a menininha o que todo mundo sabia, que Burke Kenyon, o marido de quem Lily estivera separada e pai de Tess, chocara seu pequeno avião particular com uma ponte de propósito, em um acesso de melancolia rancorosa.
— Não — Lily disse, com firmeza, após fitar sugestivamente o pai por um instante. — Você está se recuperando de um enfarto — ela o lembrou. — Não pode comer frituras.
— Existe algo chamado qualidade de vida, sabe — Hal Ryder resmungou. Estava magro e havia profundas manchas acinzentadas sob os seus olhos, ressaltadas por bolsas de pele. — E, se acha que vou comer tofu e brotos de verduras até eu morrer, pode ir mudando de ideia.
Lily passou a marcha e os pneus chiaram um pouquinho sobre o asfalto amaciado pelo sol, quando arrancou com o carro, afastando-se da entrada do hospital.
— Escute — respondeu, com secura, chegando ao limite de sua paciência devido ao estresse e à falta de sono. — Se quer entupir suas artérias com gordura, e envenenar o seu corpo com conservantes, e sabe lá Deus o que mais, o problema é seu. Só que Tess e eu planejamos ter vidas longas e saudáveis.
— Vidas longas e entediantes — Hal queixou-se.
Lily parara de pensar nele como "pai" anos antes, quando se dera conta pela primeira vez, de que ele não iria mais trazê-la para Montana para nenhum outro verão de cidade pequena, descalço e regado a picolé. Ele jamais aprovara o seu romance de adolescente com Tyler Creed, e ela sempre desconfiara ser isto parte do motivo do pai tê-la cortado de sua vida.
— Terei o maior prazer em contratar uma enfermeira — Lily informou, empurrando Tyler para o fundo da mente, e mordendo o lábio ao navegar pelo complicado trânsito do final da manhã. — Caso prefira, Tess e eu podemos voltar para Chicago.
— Não seja malvada, mamãe — Tess aconselhou, sabiamente. — Não se esqueça de que o coração do vovô o atacou.
A imagem do órgão em meio a um acesso de raiva preencheu a mente de Lily. Senão pela seriedade do assunto, teria rido.
— É — Hal concordou. — Não seja malvada. Assim, você me lembra Lucy, e eu gosto de pensar nela o mínimo possível.
Visto que Lily não estava se dando muito melhor com a mãe do que estava com Hal, ela poderia ter passado sem o último comentário. Descolando as costas do encosto do assento, começou a mexer no ar-condicionado, mantendo um dos olhos na estrada. O short de algodão havia se enfiado entre as nádegas, de modo que as coxas também haviam grudado uma na outra e doeria para separá-las.
Outra coisa para recear.
— Puxa, obrigada — murmurou.
— Vovó é uma chata — Tess comentou, seu tom de voz alegre e afetuosamente tolerante.
— Silêncio — ordenou Lily, embora, no fundo, concordasse com a filha. — Isso não é bonito de se dizer.
— Mas ela é — Tess insistiu.
— Amém — Hal acrescentou.
— Chega — Lily murmurou. — Os dois. Estou tentando dirigir. Manter-nos com vida.
— Neste caso, vá um pouco mais devagar — Hal resmungou. — Não estamos em Chicago.
— Nem me lembre.
A intenção de Lily não fora ser sarcástica, mas foi o que aconteceu.
— Sua casa é grande, vovô? — Tess perguntou, tentando corajosamente desviar a conversa para um assunto mais agradável. — Posso ficar no quarto antigo de minha mãe?
Lily lembrou-se da enorme casa em estilo vitoriano que outrora fora o seu lar, com todos os seus adoráveis cantos e reentrâncias, sua biblioteca bagunçada repleta de livros, seus assentos nas janelas, as recâmaras e as lareiras de tijolo. Lembrar fez com que a sensação de perda viesse à tona, e ela sentiu um aperto no coração.
— Pode — Hal disse, com uma gentileza que Lily quase invejou. Ela lhe sentiu o olhar buscar o dela, de esguelha e sério.
— Por acaso há algum homem aguardando-a em Chicago, Lily? É por isso que quer retornar?
Lily retesou-se, procurando a rampa de acesso à rodovia, perguntando-se se não haveria algo mais por trás da pergunta. Afinal de contas, a mãe de Lily abandonara o seu pai por outro homem, e ele jamais voltara a se casar. Talvez não confiasse nas mulheres, inclusive na filha. Talvez estivesse esperando que ela fosse largar tudo e voltar correndo para Chicago, para os braços de algum sujeito que conhecera no enterro de Burke.
Ela suspirou e passou a mão pelo cabelo louro, cortado à altura do queixo, apenas para enganchar os dedos na presilha de plástico que usara naquela manhã para prendê-lo às pressas no topo da cabeça, antes de deixar o hotel para seguir para o hospital. Não estava sendo justa. O pai sofrera uma complicação coronária séria, e os médicos e enfermeiros em Missoula General a haviam alertado que depressão era comum em pacientes que subitamente se viam dependentes de outras pessoas para cuidar deles.
Pelo menos desde o divórcio, Hal Ryder vinha fazendo o que bem queria. Agora, precisava dela, quase uma desconhecida, para lhe preparar as refeições, entender as prescrições dos médicos, que eram complicadas, e
cuidar para que ele não tentasse aparar o seu gramado, nem voltar a se atirar no trabalho, antes que estivesse pronto.
— Lily? — ele insistiu.
— Não — ela respondeu, após repassar seus pensamentos em busca da pergunta original. — Não há nenhum homem, Hal.
— Mamãe é uma viúva negra — Tess explicou, solicitamente. Hal riu.
— Eu não iria tão longe, meu docinho — disse para a neta.
Por um motivo que não sabia explicar, os olhos de Lily se encheram de lágrimas súbitas e escaldantes, e ela piscou para enxugá-las. Lágrimas eram perigosas em uma rodovia movimentada, e, além do mais, jamais melhoravam as coisas.
— Sou uma viúva — Lily calmamente corrigiu a filha. — Viúva negra é uma aranha.
— Ah — retrucou Tess, digerindo a lição de ciências.
Ela começou a bater com o calcanhar calçado na parte dianteira do próprio assento, algo que costumava fazer quando começava a achar que o passeio de carro estava demorando demais.
— Pare — Lily ordenou.
Alguns instantes de silêncio se passaram. Em seguida, Tess prosseguiu:
— Meu papai morreu quando eu tinha quatro anos — anunciou.
— Eu sei, querida — Hal disse, com a voz carinhosa e um pouco áspera.
Lily sentiu a garganta arder. Dera entrada no divórcio após uma ligação chorosa da mais recente namorada de Burke, que, aparentemente, ele dispensara. Será que ele ainda estaria vivo se ela tivesse aguardado, concordado com mais terapia de casal, em vez de ligado para um advogado assim que desligou o telefone com a amante? Será que sua filha ainda teria o pai?
Tess adorara Burke.
— O avião dele acertou uma ponte — Tess informou.
— Tess — Lily disse, gentilmente —, será que podemos falar sobre isso mais tarde, por favor?
— Você sempre diz isso. — Tess suspirou. Ela nascera precoce, mas desde a morte de Burke, tornara-se madura demais para a idade, uma adulta em um corpo de uma aluna de primeira série. — Só que mais tarde jamais chega.
— Você pode falar com o vovô — Hal disse, lançando outro olhar de esguelha para Lily. — Eu escutarei.
Uma fúria impotente apossou-se de Lily Suas mãos, ainda úmidas de suor, apesar de o ar-condicionado enfim ter começado a funcionar, apertaram-se ao redor do volante, Eu escuto, teve vontade de protestar. Ao contrário de certas pessoas, cujos nomes eu poderia dizer, eu amo minha filha.
Para a sua surpresa, o pai estendeu a mão e lhe acariciou o braço.
— Talvez deva encostar por alguns minutos — disse. — Para se recompor.
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