/0/17924/coverorgin.jpg?v=83a4082b885b679488aea95cb0fc3b00&imageMogr2/format/webp)
Prólogo
“Ela dançava, e eu a devorava com os olhos — como um animal faminto à espera do toque final antes do ataque.
Seu quadril se movia com a precisão de quem sabia exatamente o que causava.
Zafira era a serpente... e eu, o homem tolo que não queria escapar do veneno.
Porque ela era ambos — o veneno e o antídoto.
Minha perdição inteira concentrada nas curvas que me hipnotizavam.”
Ela me olhava como quem desafia. Sabia do poder que exercia. Sabia o quanto me torturava com aquele olhar felino, meio insolente, meio entregue.
E eu? Eu estava à beira do limite.
Levantei-me sem pensar, apenas sentindo. Ela continuou a se mover, provocando até o último fio da minha sanidade.
Puxei-a pela cintura. O contato do seu corpo contra o meu fez o mundo desaparecer.
E então a beijei.
Com fome. Com fúria. Com tudo o que eu era e tudo o que ela despertava.
— Maktub — ela sussurrou entre o toque dos nossos lábios.
Estava escrito.
E eu aprofundei o beijo como quem sela um pacto silencioso, arrancando dela um suspiro que não deixava dúvidas —
Naquele instante, Zafira era minha.
Mesmo que fosse apenas por um instante.
— Marcello Caravaggio
∞
Capítulo 1
"A hora mais escura do dia é a que vem antes do sol nascer." — Provérbio Árabe
Marrakech – Marrocos
Zafira Ziane
O sol já se deitava atrás das dunas e meu corpo implorava por descanso. Soltei a pashmina dos cabelos no exato momento em que adentrei o pátio do Riad Hikaya. O tempo escorria e eu ainda precisava concluir as entregas para os outros clientes da vinícola de papai.
Acelerei o passo pelos jardins do hotel, ignorando o perfume das flores e a beleza das lanternas que se acendiam aos poucos. O bar estava adiante, e meu foco era único: vender aquela safra de vinho.
A música soava alta, reverberando nos azulejos coloridos das paredes, e Jamal não estava onde deveria. Cruzei pelas mesas vazias, segui em direção ao corredor estreito que descia até a cantina.
Aquela hora costumava ser de pouco movimento, mas o vazio que encontrei era incomum. Um silêncio tenso se misturava ao som abafado da música, como se o próprio ambiente pressentisse o que me esperava.
Desci os degraus com cautela, o eco dos meus passos misturando-se ao som grave do baixo que vinha do sistema de som. Chamei por Jamal — foi inútil. O volume alto abafava qualquer tentativa de ser ouvida.
Quando alcancei os últimos degraus e empurrei a porta entreaberta da cantina, um calafrio cortou minha espinha.
O sangue em minhas veias pareceu congelar.
Ali, diante de mim, um policial local estava preso a uma cadeira, coberto de sangue, o rosto irreconhecível de tão deformado. Em pé, de costas para mim, um homem alto, de músculos definidos e pele reluzente pelo suor, desferia mais um soco brutal.
Estava sem camisa. Os pulsos manchados de vermelho denunciavam que não era a primeira vez que os usava daquela forma.
O oficial gemeu.
Minha primeira reação foi o pavor. O impulso de correr era quase incontrolável, mas qualquer som, qualquer movimento precipitado, poderia selar meu destino.
Eu precisava fugir. Precisava escapar daquele lugar. Mas algo me manteve imóvel, presa àquele chão como se as sandálias tivessem se enraizado.
Os olhos do homem espancado, ainda que inchados, encontraram os meus por uma fração de segundo. E naquele breve instante, ele me denunciou.
O homem de costas se virou com precisão felina, o olhar atravessando o ambiente até pousar em mim.
Com um simples gesto de cabeça, surgiram dois homens ainda maiores que ele — braços como troncos, ombros largos, expressões impassíveis. Cercaram-me antes que eu pudesse reagir.
Fui arrastada para dentro da sala. Não gritei, mas me debatia como pude. Os olhos do homem sem camisa me mantinham hipnotizada. Nenhuma emoção se estampava em seu rosto. Apenas uma quietude perigosa.
— Possiamo dare fin alla ragazza, capo.
Podemos eliminá-la agora, chefe.
Eles eram italianos. Eu conhecia bem o idioma — um dos muitos que aprendi com meu pai. Mas fingi não entender. Precisava ouvir mais. Precisava saber se teria chance de sair dali viva.
— Io non voglio questo, non adesso.
Eu não quero isso. Ainda não.
Ele se aproximou devagar, com a leveza silenciosa de um predador. Os olhos cravados nos meus, os passos firmes, o torso coberto de vestígios carmesins.
— Ma asmuk? — perguntou, em árabe.
“Qual é o seu nome?”
— Mi chiamo Zafira! — respondi em italiano, firme.
Um sorriso surgiu. Perigoso. Devastador.
— Fala muito bem o italiano, garota. Vejo que é bem instruída... mas não muito esperta ao enfiar o nariz onde não deve.
Sua voz era um veneno envolto em seda. Eu tremia por dentro, embora tentasse a todo custo manter a compostura.
— Eu... eu não me interesso pelo que está fazendo aqui. Só estou trabalhando...
— Não acredito muito nisso, piccola.
Ele começou a girar em torno de mim. O cheiro metálico do sangue se misturava a uma fragrância masculina amadeirada, profunda e perturbadoramente agradável.
Seus olhos percorriam cada centímetro do meu corpo com precisão cirúrgica. E então, vi.
Nos dedos, ele usava um soco inglês — ensanguentado.
/0/6344/coverorgin.jpg?v=210d8998dbb67b9f146040c7d10cf421&imageMogr2/format/webp)
/0/51/coverorgin.jpg?v=dddecbc337974fb7fff55802ce11f89b&imageMogr2/format/webp)
/0/65/coverorgin.jpg?v=5ac7cd690fcf78f4da3934e0663ecb0c&imageMogr2/format/webp)
/0/1544/coverorgin.jpg?v=374c31d9b87ad0707333e98bce9bca1b&imageMogr2/format/webp)
/0/1615/coverorgin.jpg?v=6dfc773a0c935537a3db1580365ab5d8&imageMogr2/format/webp)
/0/6579/coverorgin.jpg?v=cbf13705d62099e640e3fbc440f7f5fd&imageMogr2/format/webp)
/0/2034/coverorgin.jpg?v=8fc8a0af2be1ec7e1a21438fc114619c&imageMogr2/format/webp)
/0/1209/coverorgin.jpg?v=d4cb057a263ca7d844636f4a368ae33c&imageMogr2/format/webp)
/0/293/coverorgin.jpg?v=1347c9e8e74c0278ea0d9e16570157da&imageMogr2/format/webp)
/0/14511/coverorgin.jpg?v=922b1379970b16b94cb9baf11c151210&imageMogr2/format/webp)