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A véspera de Ano Novo na casa da minha mãe, Dona Clara, sempre foi um palco para o cheiro de peru assado e uma tensão cortante.
Eu, Ana, com meus quarenta e poucos anos, já conhecia o roteiro: a árvore de Natal piscando uma alegria falsa e eu lá, por pura obrigação filial.
Mas este ano foi diferente. Depois da ceia, minha mãe, rainha no trono, bateu o garfo na taça e anunciou: a hora de organizar a herança havia chegado.
Meus irmãos, Pedro e João, receberam apartamentos e casas. Minhas cunhadas, Maria e Sofia, ganharam joias preciosas. Meu sobrinho, dinheiro para começar a vida.
E eu, a filha que cuidou do pai doente sozinha, que gastou o que não tinha, que negligenciou a própria vida por eles?
Para mim, um sorriso gelado e a "honra" de cuidar da minha mãe na velhice. Eu, a enfermeira perpétua. A escrava particular.
A raiva borbulhou, queimando anos de silêncio. Um tapa estalou no meu rosto. "Ingrata!" ela gritou.
"Acabou." Deixou minha boca uma declaração, não um grito. Doeu, mas era a verdade.
"Saia da minha casa!", ela esganiçou. Meus irmãos me arrastaram e me jogaram na noite fria.
Cai na calçada, humilhada, mas pela primeira vez, livre. Voltei para casa em cacos, mas com uma nova chama.
Ricardo e Lucas, minha verdadeira família, me acolheram. Pela primeira vez eles sentiram a raiva em meu favor.
"Aquele desgraçada! Ela te bateu?", Ricardo rosnou. "Aqueles seus irmãos covardes deixaram?" Lucas perguntou.
Voltamos lá. Ricardo deu um soco em Pedro. Lucas empurrou João. O caos de antes era agora a justiça crua.
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