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Prisioneira do CEO

Prisioneira do CEO

Laura Mahrins

5.0
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63
Capítulo

Isabella Weels carregava consigo o peso da dor da perda desde muito jovem. Essa experiência a fez assumir uma responsabilidade enorme: manter sua família unida apesar das inúmeras dificuldades que enfrentavam. Mesmo assim, ela nunca deixou de alimentar seus sonhos, mantendo um coração cheio de esperança e pureza. No entanto, seu caminho cruza com o de um homem de olhar frio e coração cruel, despertando em Isabella sentimentos assombrosos. Timothy Ritkson é um homem solitário, escondido atrás de muralhas, imerso em um mundo de poder e riqueza. Seu coração foi arrancado e substituído por uma pedra de gelo, não abrigando nenhum sentimento bom, apenas rancor. Nenhum mulher no mundo seria capaz de ultrapassar as barreiras que ele construiu ao seu redor. Até que Isabella, com seus olhos faiscantes, cruza seu caminho. Ela precisa pagar uma dívida deixada por seu pai, e ele toma para si tudo o que deseja, sem a palavra perdão fazer parte de seu vocabulário.

Capítulo 1 Um

7 anos atrás

Timothy Ritkson

Sinto meu coração batendo forte, batidas tão fortes que consigo ouvi-las.

Não ouso medir meus passos, meus pés têm vontade própria, e sobem as escadas com agilidade. A minha mente se recusa a absorver as palavras ditas por Carl, e repito para mim mesmo que tudo não passa de um mal-entendido.

A cada degrau que subo tenho a sensação de que essa maldita escada não tem fim. Chego ao topo e apoio meu corpo nos joelhos enquanto puxo ar pela boca.

Faço uma nota mental sobre aumentar o ritmo de cardio durante meus treinos.

Percebo que estou a alguns passos do nosso quarto e sinto um arrepio subir pela espinha eriçando os pelos da minha nuca.

Eu não corri por nada, eu não vou ser um covarde. E não tem por que de eu estar me sentindo assim.

Sorrio, afirmando para mim mesmo mais uma vez que tudo não passa de um mal-entendido.

Respiro fundo, ergo o corpo e caminho em direção ao quarto.

Seguro a maçaneta, sentindo a onda de covardia querer tomar lugar, não me movo. Sinto a minha mão suada em contato com o metal frio.

- E só um mal-entendido - repito, forçando um sorriso enquanto giro a maçaneta e entro de uma vez.

Está vazio, Karen não vem ao meu encontro empolgada ou estressada com os preparativos da cerimônia, como tinha acontecido nos dias antes de eu sair de viagem. A esperança de que tudo tenha sido um engano começa a se esvair.

Busco acreditar que ela tenha saído com alguma amiga, ou esteja em algum outro cômodo da casa, no jardim ou na estufa. Mesmo sabendo que eram lugares que ela nunca fez questão de ir.

Dou alguns passos, enquanto meus olhos buscam vestígios da sua presença. A porta do closet está aberta e vejo que não está vazio.

Tenho a sensação de ter levado um soco no estomago ao olhar a mesa de cabeceira.

O anel que a pedi em casamento está ali, suas palavras dizendo que jamais o tiraria ecoam pela minha mente. O pedaço de papel dobrado ao lado dele faz meu sangue gelar.

Seguro a joia, abrindo o pedaço de papel tendo o vislumbre das palavras que mataria o que restava de bom dentro de mim.

Eu estava enganada Ed, eu não posso fazer isso. Me desculpe.Vicky.

O anel em minha mão e jogado com força em um canto do quarto.

- DESGRACADA! - grito a pleno pulmões, como se quisesse expulsar de dentro de mim a dor misturada a raiva.

Cerro os punhos esmagando o pedaço de papel.

Não conseguia e não queria entender, estávamos bem, éramos um casal modelo para a sociedade Londrina. Nos casaríamos em dois dias, ela tinha escolhido tudo, sem se poupar nenhum gasto. Não tivemos uma discussão se quer.

Ela nunca deu sinais, ela sempre foi perfeita.

Minhas pernas estão trêmulas, sinto um gosto amargo invadir a minha boca.

Era doloroso demais, aceitar que alguém como eu tinha sido enganado.

Eu tinha prometido que nunca seria como meu pai, que jamais deixaria o amor fazer com que eu perdesse a cabeça. As palavras de Karen , todas as vezes que ela jurou me amar, mesmo eu já tendo desistido do amor, ela me fez amá-la, e esse amor estava prestes a ser a minha ruína.

Agarro os porta-retratos com suas fotos sorrindo e sinto raiva, eu tinha entregado o meu coração para essa maldita.

Sinto cada partícula de amor que sinto por Karen se transformar em ódio.

Eu não permitiria que as coisas acabassem com um simples bilhete. Destruiria Karen, ela teve o melhor de mim e escolheu brincar, escolheu ir embora. Ela vai pagar, ela vai sofrer por fugido faltando dois dias para o nosso casamento. E ela nunca mais vai brincar com ninguém, ela iria sofrer.

Respiro fundo, ensaiando um sorriso falso.

Nunca mais, nunca mais eu iria abrir p meu coração. Nunca mais sentiria, nunca mais amaria. Todos teriam o pior de mim, sem exceção.

Eu não seria mais um fraco que acredita na grande mentira que é o amor.

Capítulo Um

Isabella Weels

Minhas pernas parecem pesar duas toneladas, a cada passo que dou preciso me esforçar para não cair no chão, já que minha coluna também não quer ajudar.

Passo a mão direita pela lombar sentindo uma pontada de dor na região.

Meus olhos encaram os meus pés, calçados pelas sandálias amarelas gastas e encardidas. Pelo menos o chão está limpo.

Dou um sorriso orgulhoso, segurando firme o esfregão. Antes passá-lo uma última vez pelo chão.

Não que limpar o lugar, vá melhorar o aspecto, mas deixa ele menos ruim. Afinal uma lanchonete que fica em um dos bairros mais perigosos de Londres não é um lugar dos mais glamurosos, não que eu esteja reclamando. Foi o único trabalho que consegui depois de uma árdua procura.

Trabalho feito uma condenada, sirvo as mesas, ajudo na cozinha e ainda limpo todo o local no início e no fim do expediente, ao menos o salário que não é lá grande coisa tem me ajudado a pagar as contas e colocar comida na mesa.

Coloco o esfregão no balde e sigo para o pequeno banheiro destinado aos funcionários. Abro a torneira, lavo as mãos e me sinto tentada em enfiar a cabeça debaixo d'água. Mas me contento em molhar o rosto.

Ergo minha cabeça e quase salto assustada ao ver meu reflexo no espelho. Os fios de cabelos escuros estão desgrenhados estão grudados na testa pelo suor, falta de cores na bochecha e nos lábios deixam em evidência a minha palidez. O uniforme salmão claro não me valoriza nenhum pouco, e o avental encardido manchado de catchup deixa tudo ainda pior.

Busco papel toalha para secar as mãos, mas como de praxe não tem nenhuma.

Seco as mãos no avental.

Desfaço o rabo de cavalo já frouxo, penteio os fios com os dedos e volto a prendê-lo com o elástico, não vai melhorar muito a minha aparência, mas vai fazer eu me sentir melhor.

Meu estômago ronca, e me lembro que não tive tempo para comer, do tanto que o movimento foi intenso. Mesmo o lugar não sendo dos mais apresentáveis, ele tem uma clientela fiel, por causa de uma fábrica de tinta próxima.

Preciso comer alguma coisa antes de ir para casa, não posso correr o risco de passar mal com Tomas no ônibus. Não quero nem lembrar da última vez que isso aconteceu, seus olhinhos assustados acabaram comigo.

Suspiro, passo as mãos pelo avental mais uma vez, ergo o pulso olhando a horas no meu relógio, me assusto ao constatar que já passam das sete da noite.

Me apresso sair e sigo em direção a cozinha.

Tinha certeza de que Tomas estava entediado. Me sentia mal por ter que deixá-lo na dispensa da lanchonete enquanto trabalho, mas não tenho com deixá-lo, já que não posso contar nenhum pouco com as minhas irmãs. Pelo menos o casal dono do local permite que ele fique, desde que não faça nada para atrapalhar o meu trabalho ou de qualquer outro funcionário.

E se tratando de Tomas algo que é difícil de acontecer, ele não é do tipo bagunceiro. Ele foi diagnosticado com Síndrome de Asperger quando tinha quatro anos, asperger é um estado do espectro autista, transtorno esse que afeta a capacidade de se socializar e de se comunicar com eficiência. Tomas não gosta de brincadeiras que exige muitos movimentos e esforço físico, e também não é de muitas palavras, pelo menos com quem não tem intimidade e confiança.

Me sinto melhor com ele por perto, talvez eu seja superprotetora, mas Tomas é tudo que mais amo nesse mundo. Não é que eu não ame meu pai e minhas irmãs, eu os amo muito. Mas o fato de eu ter cuidado do meu irmãozinho desde que nasceu fez com tivéssemos um laço especial.

Entro na cozinha desfazendo o laço do avental.

Meu coração se aperta ao ver Tomas sentado de um jeito que não parece nenhum pouco confortável em cima de um saco de batatas, entretido com algo que passa na tela do meu celular. A cozinha minúscula mal tinha espaço para o fogões e freezer velhos, e a dispensa menos ainda.

Yana está empilhando pratos limpos, e se vira ao notar a minha presença, e abre um sorriso. A mulher de meia idade e o marido tem sido anjos na minha vida, sei que não é qualquer lugar que iria permitir Tomas .

- Que bom que terminou tudo menina, já está ficando tarde - fala enquanto guarda os pratos no armário.

Tomas tenta se levantar e me apresso em ajudá-lo para evitar que ele se desequilibra.

- Espere aí! Vem cá! - faço uma careta sentindo a minha coluna ao apoiá-lo na minha cintura.

- O que foi? - questiona me olhando.

- Não foi nada. Você se divertiu? - passo os dedos pelos cabelos encaracolados.

Ele franze o cenho e aperta os lábios.

- Suas costas estão doendo. Me coloque no chão, tenho sete anos, não precisa me segurar no colo - afirma, e me apresso em colocá-lo no chão.

Ouço a gargalhada de Yana.

As vezes Tomas age como um miniadulto, e nunca deixo de me surpreender com a sua inteligência.

- Está bem, nada de colo para você rapazinho.

- Esse garoto é uma figura. Tem certeza que tem sete anos mesmo Tomas ? - Yana pergunta em meio ao riso.

Tomas olha para ela fazendo uma careta engraçada.

- De acordo com meu tamanho, peso, capacidades motoras e cognitivas. Eu sou uma criança de sete anos - diz com o indicador no queixo.

Aparentemente Yana não estava esperando por uma resposta tão detalhada.

Rio da sua expressão embasbacada.

- Já vamos para casa Bella? - Tomas da um puxão na barra da minha camiseta me fazendo olhar para ele.

Me inclino para respondê-lo.

- Sim querido, podemos ir para casa - ele dá um sorrisinho.

Com certeza, ele deve estar exausto de ficar quase o dia todo ali.

- Você precisa comer alguma coisa menina. Está até pálida - Yana me estende um prato com hambúrguer e algumas batatas fritas - Está tão magrinha!

Dou duas mordidas no hambúrguer e confiro as horas.

- Estou pronto! - bate com os pezinhos no chão.

- Você é rápido. Pegou tudo?

Assenti com a cabeça.

- Meu celular? - ele volta a assentir - E o seu T-rex?

Ele faz uma careta e tira a mochila das costas.

- Não é um T-rex, esse é o Dilofossauro - tira o dinossauro de plástico de dentro da mochila me mostrando - Eles são diferentes, o T-rex não tem essa protuberância no crânio - me explica passando os dedos na cabeça do dinossauro de brinquedo.

Desde quando uma criança fala protuberância e crânio com tanta exatidão.

- Está bem, não vou errar da próxima vez - dou uma piscadinha para ele - Agora guarde e vamos, já está tarde.

Entrego o prato para Yana.

- Você nem comeu, vai acabar passando mal menina - me repreende.

- Como quando chegar em casa. Tenho que fazer o jantar para o meu pai. Ele conseguiu um emprego novo - digo empolgada.

Meu pai estava a mais de duas semanas no novo emprego como segurança, algo que me deixava animada. Ele não costuma durar muito nos trabalhos.

Depois da morte da minha mãe ele mudou completamente, perdeu o rumo, mergulhou no mundo da bebida e dos jogos de azar.

Meus pais eram a minha referência de amor verdadeiro, eles se amavam de uma maneira tão bonita, se completavam. Eles tiveram uma história de amor linda, digna de um filme.

Minha mãe abriu mão de tudo, de todo o dinheiro da família, pelo meu pai. Meus avós, se é que posso chamá-los assim, não aceitaram o relacionamento dos dois por meu pai não ter posses e deserdaram a minha mãe.

Ela e meu pai saíram do interior de Massachusetts e vieram tentar a vida na Inglaterra. Meu conseguiu entrar para a polícia, e minha mãe conseguiu se tornar professora de literatura. Eles tiveram uma vida repleta de amor, quatro filhos e muitas alegrias.

O nosso mundo desabou, quando minha mãe foi diagnosticada com glioblastoma um câncer cerebral que já estava em estado avançado, não tinha mais o que ser feito. A vimos definhar dia após dia, até o momento de sua partida, isso foi demais para o meu pai. Ela partiu deixando seus quatro filhos, Tomas era praticamente um bebê.

Ela deixou um vazio gigante dentro de nós.

Era como se ele tivesse desistido de viver, como se uma parte dele tivesse morrido com ela. Ele foi expulso da corporação policial por má conduta, e a partir daí tudo ficou ainda pior.

Foi nesse momento que eu soube que precisava deixar o meu lado adolescente sonhadora dentro de uma gaveta e cuidar da minha família. Eu precisava nos manter unidos, era o que a minha mãe iria querer.

- Bella? - Tomas me chama e percebo que fiquei envolta nos meus pensamentos por tempo demais.

- Que bom que ele conseguiu um emprego - Yana da um sorriso acolhedor.

Ela sabia dos problemas do meu pai, já que tive que me atrasar algumas vezes para cuidar de algo causado por ele.

- Ele parece estar gostando desse. Espero que ele fique - ajudo Tomas a colocar a mochila.

- E muito pesado para você sozinha menina.

- Já me acostumei - sorrio amarelo.

Mesmo já estando acostumada, não deixa se ser exaustivo. Mas não vou reclamar, olhar para frente sem lamentar faz tudo melhorar.

- Suas irmãs podiam ajudar você com o garoto, ou sei lá, fazer o jantar para você descansar - joga um pano de prato nos ombros e cruza os braços.

Emma e Emilie, são gêmeas idênticas, tem dezessete anos, acho que elas são iguais em tudo, até na personalidade. Elas não são do tipo que ajudam. Elas são individuais demais para se preocupar com o meu cansaço ou com o bem estar de Tomas .

Com a partida da minha mãe, meu pai cedeu demais as suas vontades e elas se acostumaram a ter tudo o que quisessem sem qualquer esforço. E eu também sou culpada, porque sempre dou um jeito de fazer as suas vontades.

Me sinto na obrigação de dar o meu melhor, por ser a irmã mais velha. Mas no fundo tenho uma sensação estranha, de que elas me odeiam.

- Não estou tão cansada assim - minto - Vamos? - seguro a mão de Tomas e ele assente.

- Não se esqueça que amanhã é seu dia de folga - diz, apontando para o calendário manchado dependurado na parede.

Não costumo pegar folgas, preciso mais do dinheiro do dia trabalhado do que do descanso. Mesmo sentindo que meu corpo pode entrar em um colapso exaustivo a qualquer momento.

- E não, você não vai vir Bella. Olhe só para você, precisa descansar - diz com a expressão endurecida.

Acho que meus argumentos não a convenceriam.

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