/0/16947/coverorgin.jpg?v=7b5bf7759a79aaa95206b38caed24aed&imageMogr2/format/webp)
Por três anos, pensei que era feliz no meu casamento com Gabriel, um lutador de MMA sem grana. Eu tinha dois empregos para pagar as contas, cuidava dos seus ferimentos e acreditava que o amor dele era a única coisa que o mantinha de pé. Um acidente de carro tinha apagado minha memória, e ele era todo o meu mundo.
Então, enquanto esfregava o chão da nossa minúscula cozinha, a TV local exibiu uma manchete: "O gigante da tecnologia Gabriel Bastos, CEO da Bastos Corp, anunciou hoje seu noivado com a vice-presidente Helena Dantas." O homem na tela, em frente a um arranha-céu, abraçando uma mulher deslumbrante, era o meu marido.
Ele usava um terno sob medida, um contraste gritante com o lutador machucado que eu conhecia. O pequeno pássaro de madeira que eu tinha esculpido com tanto esforço para o nosso aniversário repousava em seu peito enquanto ele a beijava de forma profunda, possessiva. Meu estômago se revirou, minha cabeça latejou, e o bife que eu cozinhava para ele começou a soltar fumaça, enchendo nosso apartamento apertado com um cheiro amargo e queimado.
Saí tropeçando, chamei um táxi para a Bastos Corp, desesperada por respostas. Lá, eu o vi rindo com Helena, alheio à minha presença. Ele recusou minha ligação e mandou uma mensagem: "Tô numa reunião, amor. Não posso falar. Chego tarde hoje. Não me espera. Te amo."
As palavras se borraram em meio às minhas lágrimas. Um soluço escapou, alto e cru. Uma pontada de dor atravessou minha cabeça e, então, as memórias voltaram com tudo: o acidente de carro não foi um acidente, Helena Dantas era a motorista, e Gabriel, o protegido do meu pai, havia orquestrado toda aquela mentira, aquele teste cruel da minha lealdade.
Ele tinha tirado tudo de mim — minha identidade, minha fortuna, minha família — e me jogado na pobreza, só para ver se eu ainda o amaria incondicionalmente. Ele era um monstro, e eu era sua prisioneira. Mas uma determinação fria e dura se instalou em meu peito: eu ia queimar o mundo dele até as cinzas, começando por forjar minha própria morte.
Capítulo 1
Por três anos, eu pensei que éramos felizes.
Morávamos em uma kitnet apertada no pior bairro de São Paulo. A tinta descascava das paredes e os canos faziam barulho toda noite.
Eu trabalhava em dois empregos, como garçonete de dia e faxineira de noite, só para conseguirmos pagar o aluguel.
Meu marido, Gabriel Bastos, era um lutador de MMA em dificuldades. Pelo menos foi o que ele me disse. Ele chegava em casa quase todas as noites machucado e exausto, e eu cuidava de seus ferimentos com cuidado, meu coração doendo por ele.
Ele era o marido mais dedicado que eu poderia imaginar. Dizia que meu sorriso era a única coisa que o mantinha de pé.
Eu tinha amnésia. Um acidente de carro alguns anos atrás apagou minha memória. Gabriel me encontrou, cuidou de mim e me disse que éramos casados. Eu não tinha motivos para duvidar dele. Ele era todo o meu mundo.
Naquela noite, eu estava de joelhos, esfregando o chão da nossa cozinha minúscula. Eu tinha economizado por semanas para comprar um bife de picanha para o jantar de Gabriel. Ele tinha uma luta importante em breve, ele disse.
A pequena TV de segunda mão no canto estava ligada, com o jornal local falando ao fundo.
"O gigante da tecnologia Gabriel Bastos, CEO da Bastos Corp, anunciou hoje seu noivado com a vice-presidente Helena Dantas", disse a âncora com um sorriso brilhante.
Eu olhei para cima, irritada com a interrupção.
Então, eu congelei.
O rosto na tela era o do meu marido.
Ele estava em frente a um arranha-céu na Faria Lima, usando um terno sob medida que provavelmente custava mais que o nosso apartamento. Seu braço estava em volta de uma mulher deslumbrante em um vestido de negócios elegante. Ambos sorriam para as câmeras.
"Não", sussurrei. Não podia ser.
Era um engano. Alguém que apenas se parecia com ele.
Mas a câmera deu um zoom. A linha afiada de sua mandíbula, a pequena cicatriz acima da sobrancelha esquerda de uma queda na infância sobre a qual ele me contou, o jeito intenso como seus olhos se enrugavam quando ele sorria.
Era ele.
Meu Gabriel.
Ele se inclinou e beijou a mulher, Helena Dantas. Não foi um beijo rápido e educado. Foi profundo. Possessivo.
Meu estômago se revirou. Minha cabeça começou a martelar.
Então eu vi.
Em volta do pescoço dele, em uma fina corrente de prata, havia um pequeno pássaro de madeira esculpido.
Minha respiração ficou presa na garganta.
Eu tinha esculpido aquilo para ele. Gastei o valor de um mês de gorjetas em um pedaço especial de madeira e o esculpi meticulosamente. Dei a ele no nosso aniversário no ano passado. Ele chorou e prometeu que nunca o tiraria.
E lá estava ele, repousando sobre um terno de milhares de reais, enquanto ele beijava outra mulher na televisão nacional.
Uma onda de tontura me atingiu. Agarrei a beirada do balcão para não cair.
O bife que eu estava cozinhando começou a soltar fumaça, enchendo o pequeno espaço com um cheiro amargo e queimado.
Tropecei em direção à porta, pegando meu casaco surrado. Eu tinha que falar com ele. Eu tinha que entender.
Corri para fora do prédio e chamei um táxi, minhas mãos tremendo tanto que mal consegui tirar o dinheiro do bolso.
"Bastos Corp", eu disse ao motorista, minha voz falhando.
Ele me olhou pelo retrovisor, seus olhos demorando em minhas roupas baratas. "Tem certeza, moça?"
"Só dirige."
O prédio era um monumento reluzente de vidro e aço, um mundo distante do meu bairro decadente. Seguranças estavam na entrada, seus rostos impassíveis.
"Preciso ver o Gabriel Bastos", eu disse ao segurança na recepção.
Ele me olhou de cima a baixo, um sorrisinho de deboche brincando em seus lábios. "A senhora tem hora marcada?"
"Não, mas eu sou... eu o conheço."
"O Sr. Bastos é um homem muito ocupado. Receio que ele não tenha tempo para...", ele parou, claramente querendo dizer "gente como eu".
De repente, uma voz cortou o ar. "Gabriel, querido, a imprensa está esperando."
Era ela. Helena Dantas. Ela era ainda mais bonita pessoalmente. Ela caminhou em direção aos elevadores, de braços dados com Gabriel.
Meu Gabriel.
Ele estava rindo, a cabeça inclinada para trás. Ele não me viu.
/0/16590/coverorgin.jpg?v=d584e7f0c3050b4c7505f3ed3b8cb8e0&imageMogr2/format/webp)
/0/16557/coverorgin.jpg?v=20250813203133&imageMogr2/format/webp)
/0/2350/coverorgin.jpg?v=172173d9d04b4ccaf4b97aefb87e8b40&imageMogr2/format/webp)
/0/9225/coverorgin.jpg?v=9847bb83546f54d26b5dabf4cabf534b&imageMogr2/format/webp)
/0/5740/coverorgin.jpg?v=919b61b61f0d7b44b16e4df732ac3392&imageMogr2/format/webp)
/0/1248/coverorgin.jpg?v=ac136514c5b684c3bdaad69242651814&imageMogr2/format/webp)
/0/16737/coverorgin.jpg?v=686b35859641f8d03936877f8d2eba7b&imageMogr2/format/webp)
/0/4371/coverorgin.jpg?v=ab86dad4d2a9554fcdd7c7b1a4043259&imageMogr2/format/webp)
/0/9138/coverorgin.jpg?v=95b26e5158ed1c2979ca0b13ac7dbbaf&imageMogr2/format/webp)
/0/3450/coverorgin.jpg?v=47812d18642f68e8342b8830e55082c4&imageMogr2/format/webp)
/0/1293/coverorgin.jpg?v=20250123163816&imageMogr2/format/webp)
/0/15616/coverorgin.jpg?v=20251105172934&imageMogr2/format/webp)
/0/1354/coverorgin.jpg?v=88214d6b45570198e54c4a8206c1938e&imageMogr2/format/webp)
/0/6815/coverorgin.jpg?v=20250120182210&imageMogr2/format/webp)
/0/2039/coverorgin.jpg?v=fe92ed6bce031386a5665dffce402973&imageMogr2/format/webp)
/0/16681/coverorgin.jpg?v=20251106072558&imageMogr2/format/webp)
/0/17987/coverorgin.jpg?v=20251209143656&imageMogr2/format/webp)
/0/15491/coverorgin.jpg?v=7ba166be27827fa5ca715f25fc979e6e&imageMogr2/format/webp)
/0/8822/coverorgin.jpg?v=20250116162158&imageMogr2/format/webp)