O Conde E Eu
5.0
Comentário(s)
185
Leituras
49
Capítulo

Em uma Inglaterra vitoriana regida por convenções e segredos, Eleanor Ashford é uma jovem escritora ousada que foge às regras da sociedade. Quando seu caminho cruza com o enigmático e poderoso Conde de Ravenshire, um homem assombrado pelo passado e pelas expectativas do título que carrega, os destinos de ambos colidem em um contrato que deveria ser apenas formal, mas logo se transforma em um campo de batalha entre orgulho, paixão e segredos perigosos. Entre bailes luxuosos, cartas secretas, escândalos e encontros proibidos, Eleanor se vê dividida entre o dever e o desejo, enquanto o conde luta contra a única coisa que jamais pôde controlar: seu próprio coração. Uma trama intensa de amor, vingança, erotismo e redenção - onde até mesmo os contratos podem queimar com o calor do toque certo.

Capítulo 1 O Retorno a Ravenshire

A chuva parecia ter escolhido exatamente aquele dia para cair com uma fúria melancólica, como se o céu lamentasse o retorno do Conde de Ravenshire tanto quanto os criados que aguardavam, enfileirados sob a marquise da propriedade. As gárgulas de pedra vertiam lágrimas do telhado, e os vitrais vibravam com o trovão distante.

O coche preto deslizou pelos portões de ferro fundido, rangendo como se também protestassem contra a chegada. Dentro dele, o homem que há anos abandonara seu título olhava pela vidraça em silêncio, os olhos cinzentos fixos na silhueta do que um dia fora seu lar - e que agora mais parecia uma sepultura de lembranças.

Edward Alexander Blackwell, o nono Conde de Ravenshire, retornava após uma ausência de sete anos. O escândalo que o fizera partir fora abafado pelos boatos e pela distância, mas as cicatrizes permaneciam abertas em sua alma - e, ao que tudo indicava, também na mansão que parecia ter parado no tempo desde sua partida.

Assim que o coche parou, o lacaio abriu a porta. Edward desceu com um passo firme, mas seus olhos percorreram o saguão com a hesitação de quem retorna não por desejo, mas por obrigação. O cheiro de madeira envelhecida e rosas secas o atingiu com força. Nada havia mudado, exceto ele.

- Milorde - disse o mordomo, inclinando-se com a precisão de décadas de serviço. - Seja bem-vindo de volta a Ravenshire.

Edward apenas assentiu. Estava cansado, molhado e, acima de tudo, incomodado com a ideia de estar de volta àquele lugar. O testamento de seu pai havia sido claro: ele deveria retornar, assumir suas responsabilidades, ou a linhagem dos Blackwell se extinguiria por negligência.

E havia Eleanor.

Mas dela ele não se permitia lembrar. Ainda não.

Subiu as escadas pesadas, ignorando os criados que o seguiam com o olhar. A biblioteca o esperava como um velho amigo calado. Empurrou as portas com ambas as mãos, e o cheiro de pergaminhos e couro invadiu seus sentidos. A lareira estava acesa, como se alguém soubesse que ele iria direto para lá.

E, de fato, alguém sabia.

- Milorde. - A voz suave cortou o silêncio com uma elegância que apenas mulheres extremamente bem treinadas - ou perigosamente inteligentes - sabiam usar.

Ele se virou, o coração traidor acelerando por um instante.

Eleanor Ashford estava encostada em uma estante, trajando um vestido azul escuro, de mangas longas, com detalhes em renda preta. Seu cabelo castanho, preso em um coque frouxo, deixava fios rebeldes caírem sobre o rosto. Ela não sorriu. Não o cumprimentou. Apenas o olhou como se sete anos não tivessem passado.

- Lady Eleanor - disse ele, formal, erguendo levemente o queixo.

- Ainda é "Lady" mesmo depois de tudo? - ela replicou, sem alterar o tom.

Edward a observou em silêncio por longos segundos. Em sua ausência, Eleanor crescera, deixara de ser a jovem impulsiva que escrevia cartas ácidas e agora era uma mulher... perigosa. Não no sentido literal, mas no emocional. Sua presença o desarmava.

- Soube que publicaste um livro - ele comentou, andando até a lareira. - Um romance, não é?

- Com um conde canalha e uma jovem ingênua, sim. Inspirado em fatos reais, imagino que dirás. - Ela cruzou os braços. - Mas creio que vieste por outro motivo, milorde.

Ele serviu-se de um brandy e virou metade do líquido de uma vez.

- Meu pai está morto, Eleanor. Deixou ordens. Terras, dívidas, propriedades, contratos...

- ...e um acordo não cumprido.

Edward virou-se para ela. Seus olhos brilharam com algo entre raiva e confusão.

- Ainda te agarras àquilo?

- Era um contrato, Edward. Eu cumpri a minha parte. Você fugiu da sua.

A lembrança lhe caiu como gelo nas costas. Aos dezenove anos, ele havia sido prometido a ela por um acordo entre famílias, selado por interesses políticos e terras. Ele, orgulhoso e imaturo, recusara-se a aceitar o casamento. Fugira. Viajara pela Europa, tornara-se um homem frio, vivido, endurecido. Mas o contrato permanecera válido - e agora, com o conde morto, a cláusula era clara: ele teria de casar-se com Eleanor ou perderia Ravenshire para os Ashford.

Ela caminhou em sua direção, os saltos ecoando como um metrônomo que marcava o fim de sua liberdade.

- Não te quero por amor, Edward. Isso morreu com as cartas que nunca me respondeste. Quero o título. O que me é devido.

Ele a encarou, sério.

- E o que farás com ele?

Ela sorriu, fria.

- Ser condessa me cai bem. E pretendo transformar Ravenshire em algo útil. Talvez um centro literário. Ou um refúgio para mulheres abandonadas.

Ele quase riu. Quase.

- E eu, Eleanor? Onde fico nesse plano?

Ela aproximou-se tanto que ele pôde sentir o perfume de jasmim que ela sempre usara. Seus olhos castanhos eram abismos e espelhos ao mesmo tempo.

- Ficarás como sempre estiveste: à margem da minha história.

Sem mais palavras, ela se virou e saiu, deixando-o sozinho com sua bebida e o peso do passado. Mas Edward sabia - com a certeza cortante de um homem que já cometera todos os erros - que aquilo não terminaria ali.

Eleanor podia fingir indiferença, mas seus olhos... ah, seus olhos ainda o desejavam.

E ele pretendia explorar cada centímetro da fraqueza que ela negava possuir.

Mas não agora.

Agora, ele apenas precisava sobreviver à noite.

Continuar lendo

Outros livros de Ana Queiroz

Ver Mais

Você deve gostar

Ele a salvou, eu perdi nosso filho

Ele a salvou, eu perdi nosso filho

Gavin
5.0

Por três anos, mantive um registro secreto dos pecados do meu marido. Um sistema de pontos para decidir exatamente quando eu deixaria Bernardo Santos, o implacável Subchefe do Comando de São Paulo. Pensei que a gota d'água seria ele esquecer nosso jantar de aniversário para consolar sua "amiga de infância", Ariane. Eu estava errada. O verdadeiro ponto de ruptura veio quando o teto do restaurante desabou. Naquela fração de segundo, Bernardo não olhou para mim. Ele mergulhou para a direita, protegendo Ariane com o corpo, e me deixou para ser esmagada sob um lustre de cristal de meia tonelada. Acordei em um quarto de hospital estéril com uma perna estilhaçada e um útero vazio. O médico, trêmulo e pálido, me disse que meu feto de oito semanas não havia sobrevivido ao trauma e à perda de sangue. "Tentamos conseguir as reservas de O-negativo", ele gaguejou, recusando-se a me encarar. "Mas o Dr. Santos ordenou que as guardássemos. Ele disse que a Senhorita Whitfield poderia entrar em choque por causa dos ferimentos." "Que ferimentos?", sussurrei. "Um corte no dedo", admitiu o médico. "E ansiedade." Ele deixou nosso filho nascer morto para guardar as reservas de sangue para o corte de papel da amante dele. Bernardo finalmente entrou no meu quarto horas depois, cheirando ao perfume de Ariane, esperando que eu fosse a esposa obediente e silenciosa que entendia seu "dever". Em vez disso, peguei minha caneta e escrevi a última anotação no meu caderno de couro preto. *Menos cinco pontos. Ele matou nosso filho.* *Pontuação Total: Zero.* Eu não gritei. Eu não chorei. Apenas assinei os papéis do divórcio, chamei minha equipe de extração e desapareci na chuva antes que ele pudesse se virar.

Capítulo
Ler agora
Baixar livro
O Conde E Eu
1

Capítulo 1 O Retorno a Ravenshire

26/05/2025

2

Capítulo 2 A Dama das Sombras

26/05/2025

3

Capítulo 3 O Primeiro Convite

26/05/2025

4

Capítulo 4 O Retorno de um Inimigo

26/05/2025

5

Capítulo 5 A Noite em Que Queimamos

26/05/2025

6

Capítulo 6 O Jardim das Sombras

26/05/2025

7

Capítulo 7 O Preço do Sangue

26/05/2025

8

Capítulo 8 Noites em Chamas

26/05/2025

9

Capítulo 9 A Valsa dos Inimigos

26/05/2025

10

Capítulo 10 A Rosa Envenenada

26/05/2025

11

Capítulo 11 A Corte dos Espelhos

26/05/2025

12

Capítulo 12 O Castelo que Sussurra

26/05/2025

13

Capítulo 13 O Herdeiro e o Selo

26/05/2025

14

Capítulo 14 A Noiva da Rosa Negra

26/05/2025

15

Capítulo 15 O Primeiro Sopro

26/05/2025

16

Capítulo 16 O Nome e a Lenda

26/05/2025

17

Capítulo 17 O Banquete dos Sussurros

26/05/2025

18

Capítulo 18 A Ordem do Véu

26/05/2025

19

Capítulo 19 O Véu de Paris

26/05/2025

20

Capítulo 20 Os Sinos de Praga

26/05/2025

21

Capítulo 21 A Criança nas Ruínas

26/05/2025

22

Capítulo 22 O Nome Esquecido

26/05/2025

23

Capítulo 23 A Mãe do Primeiro

26/05/2025

24

Capítulo 24 O Primeiro Herdeiro

26/05/2025

25

Capítulo 25 O Segundo Nome

26/05/2025

26

Capítulo 26 O Espelho do Anjo

26/05/2025

27

Capítulo 27 O Corpo que Anda

26/05/2025

28

Capítulo 28 A Cadeira de Prata

26/05/2025

29

Capítulo 29 O Espelho Partido

26/05/2025

30

Capítulo 30 A Filha do Espelho

26/05/2025

31

Capítulo 31 Ecos de Prata

26/05/2025

32

Capítulo 32 O Trono e o Reflexo

26/05/2025

33

Capítulo 33 O Espelho que Sonha

26/05/2025

34

Capítulo 34 A Lâmina e o Nome

26/05/2025

35

Capítulo 35 A Herança do Vazio

26/05/2025

36

Capítulo 36 O Coração e a Lâmina

26/05/2025

37

Capítulo 37 A Voz do Sangue

26/05/2025

38

Capítulo 38 O Nome que Sangra

26/05/2025

39

Capítulo 39 O Conselho das Sombras

26/05/2025

40

Capítulo 40 O Jogo da Coroa

26/05/2025