A Vingança da Minha Alma

A Vingança da Minha Alma

Romislaine Corrêa

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Capítulo

Amara Bastos acreditava viver o amor perfeito. Rica, admirada e apaixonada, ela se casou com Adriano Monteverde - o homem que o mundo via como exemplo de sucesso, caráter e elegância. Mas, na noite do casamento, o conto de fadas virou tragédia. Ao procurar o marido, Amara o encontrou no terraço do hotel, nos braços da melhor amiga. Entre mentiras, risos e promessas distorcidas, foi traída e assassinada. O destino, porém, não terminou ali. Amara desperta dois anos antes, exatamente no jantar de noivado que antecedeu sua ruína. A mesma amiga falsa. O mesmo noivo perfeito. A mesma inocência que, desta vez, não existirá. Determinada a se vingar, Amara finge ser a mulher doce e ingênua de antes - mas, por trás do sorriso, planeja cada golpe. Nos bastidores, destrói reputações, manipula negócios e sabota os dois que um dia a mataram. Só não contava reencontrar Ezequiel Alves, o filho do motorista - o homem que, em sua vida passada, vingou sua morte e se matou por amor. Agora, entre o ódio e o desejo, Amara descobre que a verdadeira vingança não é fazer o outro cair... É se erguer mais forte do que nunca. E, desta vez, ela não vai morrer por amor. Vai viver por ele.

Capítulo 1 O Casamento FELIZ

- Morre, desgraçada.A voz dele não tremeu.

Nem uma vírgula.

- Você é um lixo... Nem pra morrer serve.

As palavras vieram como lâminas antes mesmo da lâmina real entrar.

Naquele instante, o céu de São Paulo estava tão irônico que parecia insulto: claro, limpo, cheio de estrelas - como se o universo risse da minha tragédia particular.

A chuva fina começou no exato segundo em que a dor rasgou meu abdômen.

Não foi o corte que senti primeiro.

Foi o ar escapar dos meus pulmões, foi o meu vestido - meu vestido de noiva - se abrindo na costura como se também quisesse fugir de mim.

A dor veio depois.

Tardia.

Cruel.

Quente, profunda, rasteira.

Eu caí de joelhos no chão áspero do terraço.

O som dos meus joelhos batendo no concreto ecoou dentro da minha cabeça como um sino fúnebre.

A chuva caía mais forte.

O véu colava na minha pele.

Meu sangue espalhava-se pelo tecido branco como tinta derramada num quadro caro.

Eu, Amara Bastos, 25 anos, recém-casada havia poucas horas...

estava morrendo sozinha, sem testemunhas, no topo do hotel onde toda a elite de São Paulo me aplaudiu algumas horas atrás.

Minha mão tremeu.

Procurei uma borda, qualquer coisa para me segurar.

Nada segurava.

Eu ergui o olhar.

E vi ele.

Adriano Monteverde.

Meu marido.

O homem que sorriu no altar com aquela expressão tão perfeita que até o padre suspirou.

Agora?

Ele estava ali na minha frente, segurando a faca como se tivesse acabado de cortar um pedaço de carne dura.

- Adria... - engasguei, sentindo o gosto metálico subir. - ...no... por quê?

Ele deu um passo, inclinou o rosto como quem observa um animal ferido na estrada.

- Já que você vai morrer mesmo... - disse ele, entediado, quase com pressa. - Te digo logo o que nunca consegui dizer olhando no teu rosto metido de princesa.

A chuva batia no rosto dele.

Mas era só água.

Nenhuma lágrima.

- Eu nunca te suportei, Amara.

A frase entrou em mim mais fundo que a faca.

- Sim. - Ele passou a mão pelo cabelo, irritado. - Você era insuportável. Cheia de frescura. "Ai Adriano, hoje não", "Ai Adriano, isso não combina comigo", "Ai Adriano, vamos esperar o casamento". - ele imitou a minha voz com uma crueldade tão natural que parecia ensaiada. - Sabe o que eu senti nesses cinco anos, Amara?

Eu tentei respirar.

A dor queimava.

As lágrimas misturavam-se com a chuva.

- Nojo.

Minha garganta fechou.

O ar virou pedra.

Atrás dele ouvi passos lentos.

Delicados.

Familiares.

Clara.

O perfume dela veio antes.

Doce.

Enjoativo.

Traiçoeiro.

Ela surgiu ao lado dele.

O batom borrado.

O cabelo bagunçado.

O vestido amarelo amassado na altura do quadril.

Ela terminou de limpar a boca com a ponta dos dedos - como quem tira uma migalha, nada mais - e sorriu para mim.

O sorriso mais cruel que já vi na minha vida.

- Ah, Amara... - ela disse, como quem fala com uma criança tola. - Você sempre foi tão fácil.

Meus olhos se encheram de lágrimas.

Não por fraqueza.

Mas pela brutalidade da verdade descendo inteira sobre mim.

- Cla... ra... por quê?

Ela riu.

Riu mesmo.

Riu cheia, alta, sem esconder.

- Por quê? - repetiu, aproximando-se um passo. - Porque você era conveniente. Porque você me dava tudo. Porque você acredita em tudo. Porque você nunca percebeu nada. E porque... - ela tocou no braço de Adriano, o toque íntimo, íntimo - ...ele sempre foi meu.

Meu mundo girou.

A chuva virou tempestade.

O vento uivou.

Minha visão tremeu.

E mesmo assim...

Eu enxerguei.

A forma como ela olhava pra ele.

A forma como ele não recuava.

A forma como os dois - meu marido e minha melhor amiga - me observavam morrer como se fosse uma cena inconveniente a ser resolvida logo.

Clara se aproximou mais um passo.

A lâmina que ela segurava - a mesma que Adriano deixara cair - brilhou sob o relâmpago.

- Sabe o que eu sempre odiei em você, Amara?

Eu não respondi.

Não tinha forças.

- Tudo.

- Clara... - Adriano resmungou. - Para com o discurso. Faz logo.

Ele sequer olhava mais pra mim.

Ele estava mexendo no próprio relógio.

Impaciente.

Como se minha morte estivesse atrasando a vida dele.

A vida que eu ajudei a construir.

Meu sangue escorria mais rápido agora.

Minhas mãos estavam pesadas.

Minhas pernas formigavam.

Meu corpo... desistia.

Um trovão iluminou o céu.

O vento ergueu meu véu.

E ali, na beira da morte, percebi a única coisa que ainda fazia sentido:

Eu fui enganada uma vida inteira.

Clara ergueu a faca.

Meu coração falhou.

Meu corpo tremeu.

E foi ali - exatamente ali - com a lâmina subindo no ar...

...que eu finalmente entendi a pergunta que queimava no fundo da mente:

Como eu cheguei aqui?

Como alguém chega ao próprio casamento

para morrer no terraço?

A resposta não estava no fim.

Estava no começo.

A lâmina estava levantada.

A chuva batia no metal como se contasse os segundos que eu ainda tinha.

E, por um instante, enquanto Clara sorria com aquele prazer cruel, eu fechei os olhos.

Não para morrer.

Mas porque eu precisava entender.

Precisa lembrar.

Como tudo começou?

Por que estou aqui?

O que ignoramos para chegar ao próprio fim?

A dor latejou, quente, queimando por dentro. A vida saía de mim gota a gota, mas a memória voltava inteira.

E com ela... eu.

Não fazia nem 24 horas que eu estava no mesmo prédio, no mesmo hotel, mas de vestido branco intacto, sorriso no rosto e fé no coração.

Parecia outra vida.

Outra pessoa.

Outra Amara.

Eu ainda conseguia ver a mim mesma entrando na igreja...

o véu longo, o perfume das flores, o brilho nos olhos de quem acredita que o amor é sincero por natureza.

Eu ainda conseguia ouvir o padre:

"...na alegria e na tristeza..."

E lembrar como eu mal prestei atenção, porque tudo o que existia era o olhar dele.

O mesmo olhar que agora me observava como se eu fosse... descartável.

Adriano deu um passo à frente. Clara manteve a faca no alto.

- Você acha que tem tempo pra relembrar a vida inteira agora? - ele resmungou, irritado. - Faz isso no inferno, vai.

A voz dele cortou a lembrança como um chicote.

- Adria... - tentei de novo, a voz trêmula, embargada. - Você... me amava.

Ele riu.

Não um riso alto. Mas um riso curto, afiado, cheio de desprezo.

- Amava? - Ele se agachou perto de mim. - Amara, por Deus... você realmente acreditou que eu te amava?

A chuva escorria pelo rosto dele. Mas não apagava a crueldade.

- Eu precisava do seu pai.

Do dinheiro dele.

Da influência.

Da empresa.

Ele aproximou ainda mais o rosto, tão perto que eu pude sentir o hálito quente dele misturado com o cheiro de vinho:

- E você... você era só o pedágio.

Meu coração... afundou.

Clara rolou os olhos.

- Meu Deus, Adriano, você fala demais. - Ela ergueu a faca mais um pouco. - Deixa eu terminar logo com isso.

- Calma - ele disse, levantando a mão - deixa ela entender antes de morrer.

Clara sorriu de canto.

- Sempre tão gentil.

Eu tentei me afastar.

Tentei arrastar o corpo, mas meus braços tremiam, e as pernas não obedeciam mais.

A chuva engrossou.

O vento chicoteou meu cabelo, empurrando o véu para trás, como se o próprio céu me abandonasse.

A lâmina começou a descer.

Mas antes que ela tocasse minha pele de novo...

...outra lembrança explodiu dentro de mim.

A festa.

A música.

O corte do bolo.

O brinde.

- À minha esposa - Adriano disse, horas antes... com a mesa inteira aplaudindo.

Eu ainda sentia o sabor do bolo no meu paladar.

O doce misturado com o fruto do meu erro.

Lembrei de Clara me abraçando no salão, fazendo promessas, brindando à nossa "amizade eterna".

Lembrei do meu pai com lágrimas nos olhos.

Lembrei de mim mesma olhando para Adriano achando que tinha encontrado meu futuro.

Meu peito apertou.

Não pela dor física.

Mas porque eu percebi:

Eu não estava morrendo por uma tragédia.

Eu estava morrendo pela minha própria cegueira.

Tudo esteve ali.

Os sinais.

Os olhares.

Os sumiços.

As intimidades que eu achava inocentes.

Eu quis ver amor.

E eles...

viram vantagem.

A faca encostou na minha pele.

A ponta fria abriu a primeira gota de sangue no ombro.

Eu arfei.

Clara sorriu satisfeita.

- Isso. Chora. - disse ela, com a voz suave. - Sempre quis ver você assim: pequena.

Ela pressionou mais um pouco.

E eu entendi:

A história do meu fim não começava com um tiro ou uma facada.

Começava com uma mentira abraçada como se fosse verdade.

Começava com um sorriso no altar.

Começava no exato instante em que eu confundi posse com amor.

A lâmina subiu, pronta para o golpe final.

Clara segurou firme.

Adriano deu um passo para trás para não sujar o terno caro.

E então... antes que Clara pudesse completar o golpe, a porta atrás de nós se abriu.

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