Meu marido e treinador não atendia minhas ligações há cinco dias. Eu estava em casa. Doente. Cuidando de uma lesão que acabou com a minha carreira. Foi quando o encontrei no perfil de outra mulher. O braço dele sobre os ombros dela. Um sorriso no rosto que eu não via há anos. A vez seguinte que o vi foi no hospital. Ela estava com ele, grávida de um filho seu. Quando meu tornozelo bichado cedeu e eu desabei, ele me ignorou no chão para protegê-la. Meus laudos médicos se espalharam pelo piso, e ela, com um sorrisinho cínico, pisou neles de propósito. Ele não me defendeu. Apenas me chamou de patética por fazer um escândalo. "Você se machucou, Alina", ele debochou, a voz fria como gelo. "Você desmoronou. Você é um desastre." Mas aquele laudo que ela pisou continha meu diagnóstico terminal. Eu tinha meses, talvez um ano de vida. Sem nada a perder, pedi o divórcio e comprei uma passagem só de ida para ver o mundo. Minha vida estava acabando, mas, pela primeira vez, eu ia viver por mim mesma.
Meu marido e treinador não atendia minhas ligações há cinco dias. Eu estava em casa. Doente. Cuidando de uma lesão que acabou com a minha carreira. Foi quando o encontrei no perfil de outra mulher. O braço dele sobre os ombros dela. Um sorriso no rosto que eu não via há anos.
A vez seguinte que o vi foi no hospital. Ela estava com ele, grávida de um filho seu.
Quando meu tornozelo bichado cedeu e eu desabei, ele me ignorou no chão para protegê-la. Meus laudos médicos se espalharam pelo piso, e ela, com um sorrisinho cínico, pisou neles de propósito.
Ele não me defendeu. Apenas me chamou de patética por fazer um escândalo.
"Você se machucou, Alina", ele debochou, a voz fria como gelo. "Você desmoronou. Você é um desastre."
Mas aquele laudo que ela pisou continha meu diagnóstico terminal. Eu tinha meses, talvez um ano de vida.
Sem nada a perder, pedi o divórcio e comprei uma passagem só de ida para ver o mundo. Minha vida estava acabando, mas, pela primeira vez, eu ia viver por mim mesma.
Capítulo 1
O silêncio de Heitor era uma traição muito mais profunda do que qualquer palavra que ele pudesse ter dito. Meu celular pesava na minha mão, um retângulo frio na minha palma febril. Cinco dias. Cinco dias desde a última vez que ele atendeu uma ligação minha, desde que se deu ao trabalho de mandar uma mensagem. Não cinco dias desde que me viu, isso fazia ainda mais tempo. Meu treinador. Meu marido.
Meu corpo doía terrivelmente. Uma pontada surda e constante na minha cabeça pulsava a cada batida do meu coração. Minha garganta parecia lixa. Calafrios percorriam minha espinha, me fazendo puxar o cobertor fino com mais força sobre os ombros, mas não adiantava muito para afastar o frio. Tudo que eu queria era ouvir a voz dele, que ele me dissesse que tudo ficaria bem.
Rolei nosso histórico de conversas de novo. Minha última mensagem, enviada ontem de manhã, dizia: "Heitor, você está bem? Não estou me sentindo bem. Meu tornozelo está doendo muito e estou com febre. Me liga quando puder." Nenhuma resposta. Antes disso, outra: "Ainda sem notícias. Por favor, só me avisa que você está seguro." Silêncio. E então, três dias atrás: "Preciso de você, Heitor. Onde você está?" Nada.
Ele nunca tinha sido assim. Nenhuma vez em nossos cinco anos de casamento, nem mesmo sob a pressão intensa da temporada de competições. Ele estava sempre lá, planejando meticulosamente meu treinamento, analisando cada salto, cada pirueta. Agora, era apenas um vazio onde sua presença deveria estar. O silêncio não era apenas ensurdecedor; era aterrorizante. Parecia que algo tinha sido arrancado, deixando um buraco aberto e sangrando no meu peito.
Meu celular vibrou, zumbindo contra a ponta dos meus dedos. Meu coração deu um salto. Heitor? Peguei o aparelho, meus dedos trêmulos. Minha respiração ficou presa na garganta.
Não era o Heitor.
Era uma solicitação de amizade numa rede social. De alguém que eu não conhecia. Larissa Holman. O nome não me dizia nada. Hesitei, meu polegar pairando sobre a tela. Por que uma estranha me adicionaria? Minha mente, nublada pela febre e pela ansiedade, imediatamente saltou para um lugar sombrio. Algo estava errado.
Cliquei na foto de perfil dela. Uma mulher jovem, talvez no início dos vinte anos, com uma cascata de cabelos loiros e olhos que tinham um toque de desafio. Ela era deslumbrante. Meu olhar desceu para suas postagens recentes. Lá, inconfundivelmente, estava Heitor. Rindo. O braço dele casualmente jogado sobre os ombros dela. Numa foto com a legenda: "Melhor treinador de todos!"
Meu sangue gelou. A febre que me queimava de repente desapareceu, substituída por um pavor gélido que permeou cada célula do meu corpo. Minha respiração falhou. Isso não podia ser real. Meus dedos, tremendo, deram zoom na foto. O sorriso de Heitor era largo e genuíno, um sorriso que não era direcionado a mim há semanas. Seus olhos, geralmente afiados e focados, estavam suaves, cheios de admiração. Larissa olhava para ele, um sorriso travesso no rosto.
Aquilo me atingiu como um soco. As ligações perdidas, a atitude distante, o descaso repentino. Tudo se encaixou com um baque doentio. Essa não era apenas uma estranha. Essa era *a* estranha. A que tinha roubado a atenção do meu marido, seu tempo, seu afeto.
Uma fúria cega e avassaladora me consumiu. Meus dedos voaram pelo teclado, digitando uma mensagem furiosa para Larissa. "Quem é você? O que você está fazendo com o meu marido? Onde ele está?" Enviei sem pensar, um apelo desesperado misturado com uma ameaça. E depois outra. "Me responde! O que está acontecendo?"
As mensagens ficaram lá, não lidas. Meu peito se apertou, uma faixa sufocante de desespero. Nenhuma resposta. Assim como Heitor. O padrão era assustadoramente consistente.
Passei o resto da noite encarando o teto, as imagens de Heitor e Larissa gravadas nas minhas pálpebras. Dormir era um luxo impossível. Toda vez que eu fechava os olhos, via o sorriso dele, o olhar desafiador dela. A dor no meu tornozelo, um lembrete constante da lesão que encerrou minha carreira, não era nada comparada à agonia no meu coração.
Pouco antes do amanhecer, o esgotamento finalmente me venceu. Mergulhei num sono agitado, mas nem isso ofereceu escapatória. Sonhei com Heitor, rindo com Larissa, segurando a mão dela. Quando tentei alcançá-lo, ele se virou, o rosto frio e sem emoção. "Você está acabada, Alina", ele disse, sua voz ecoando no espaço vasto e vazio do meu sonho. "Preciso de alguém que possa voar."
Acordei com um sobressalto, meu corpo encharcado de suor, um soluço rasgando minha garganta. Minha cabeça latejava, uma dor surda atrás dos olhos. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, quentes e ardidas. Estendi a mão instintivamente, procurando uma mão para segurar, uma presença reconfortante. Mas o espaço ao meu lado estava vazio, frio. Meu marido não estava lá. Ele não estava lá há dias. E agora estava claro, ele não voltaria.
Meu celular vibrou de novo, alto desta vez, me tirando do aperto sufocante do meu pesadelo. Larissa Holman. Outra mensagem. Minha respiração falhou. Abri, uma curiosidade mórbida superando o medo. Mais fotos. Dezenas delas.
Heitor e Larissa num café aconchegante, dividindo uma sobremesa. Heitor, ensinando a ela um movimento complexo de patinação artística, suas mãos guiando suavemente a cintura dela. Heitor, rindo quando ela tropeçou, e então a puxando para perto, sua expressão terna. E então, a que me quebrou por completo. Heitor, na nossa cozinha, preparando uma refeição. Uma refeição que parecia aquele risoto especial que ele só fazia para mim, no nosso aniversário, ou depois de uma grande vitória. Ele estava sorrindo, um sorriso suave e doméstico que eu tanto amava. Larissa estava encostada no balcão, observando-o, um sorriso satisfeito no rosto.
Ele havia me prometido, anos atrás, que ninguém mais provaria aquele risoto. Que era o nosso prato, um símbolo da nossa casa, do nosso amor. As imagens foram um soco cruel e visceral no estômago. Cada foto era uma nova ferida, torcendo a faca mais fundo no meu coração já estilhaçado. Não era apenas uma traição física; era uma profanação de cada memória, cada promessa que já havíamos feito.
Minhas mãos tremiam tanto que quase deixei o celular cair. Lágrimas quentes e raivosas embaçaram minha visão. Eu digitei, meus dedos voando pela tela, um grito primitivo de fúria e desespero. "Como você pôde? Depois de tudo que construímos, de tudo que prometemos um ao outro! Você nos destruiu! Você sabia o que aquele prato significava para mim!"
Então, acrescentei, minha voz falhando, embora ela não pudesse ouvir. "Quem é você para entrar na minha vida e destruí-la assim? Você não tem vergonha? Nenhum respeito por um casamento?" As palavras desapareceram no vazio digital, engolidas pelo silêncio de suas mensagens não lidas. Era como se eu estivesse gritando dentro de um poço vazio, com o eco da minha própria dor como única resposta.
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