Meu marido, Donato, era um traidor em série, mas eu estava sempre um passo à frente, pegando-o no flagra. Então, fui diagnosticada com leucemia mieloide aguda. A única pessoa no mundo que poderia me salvar com um transplante de medula óssea era sua amante mais recente, Yasmin. Para piorar tudo, Donato cortou todos os meus recursos, incluindo o dinheiro para o tratamento crítico da minha mãe. Ele me forçou a pedir desculpas publicamente a Yasmin, me humilhando em uma transmissão ao vivo enquanto minha mãe morria porque o dinheiro atrasou. "Você vai fazer uma declaração pública", ele zombou. "Reconheça seu assédio a Yasmin. Peça desculpas por seu comportamento errático do passado. E você fará isso diante das câmeras." Desesperada e destruída, forjei minha própria morte pulando no Rio Pinheiros naquela mesma transmissão ao vivo. Eu precisava que ele acreditasse que eu tinha partido. Agora, secretamente salva e escondida por um amigo, devo lutar pela minha vida enquanto navego na realidade distorcida de que minha sobrevivência depende da mesma mulher que ajudou a me destruir, e do homem que orquestrou tudo.
Meu marido, Donato, era um traidor em série, mas eu estava sempre um passo à frente, pegando-o no flagra. Então, fui diagnosticada com leucemia mieloide aguda.
A única pessoa no mundo que poderia me salvar com um transplante de medula óssea era sua amante mais recente, Yasmin.
Para piorar tudo, Donato cortou todos os meus recursos, incluindo o dinheiro para o tratamento crítico da minha mãe. Ele me forçou a pedir desculpas publicamente a Yasmin, me humilhando em uma transmissão ao vivo enquanto minha mãe morria porque o dinheiro atrasou.
"Você vai fazer uma declaração pública", ele zombou. "Reconheça seu assédio a Yasmin. Peça desculpas por seu comportamento errático do passado. E você fará isso diante das câmeras."
Desesperada e destruída, forjei minha própria morte pulando no Rio Pinheiros naquela mesma transmissão ao vivo.
Eu precisava que ele acreditasse que eu tinha partido.
Agora, secretamente salva e escondida por um amigo, devo lutar pela minha vida enquanto navego na realidade distorcida de que minha sobrevivência depende da mesma mulher que ajudou a me destruir, e do homem que orquestrou tudo.
Capítulo 1
Meu marido, Donato Alencar, sempre encontrava novas mulheres, mas eu, Ava Ricci, descobria seus casos mais rápido do que ele conseguia tê-los. Essa era a piada cruel da elite de São Paulo, a verdade sussurrada que me seguia por cada corredor dourado e conversa abafada. Eles me chamavam de a rainha dos confrontos públicos, um espetáculo de fogo sempre pronto para defender sua gaiola dourada.
Eu era o exemplo perfeito da esposa-troféu que lutava por seu homem, não importava quantas vezes ele se desviasse. Os tabloides me amavam. Minha imagem, meticulosamente construída e ferozmente protegida, era a de uma mulher que não ficaria de braços cruzados. Eu era uma lutadora, uma guerreira em saltos de grife, batalhando por um amor que, olhando para trás, provavelmente nunca foi meu para começo de conversa.
Mas por trás dos sussurros e dos flashes das câmeras, eles me chamavam de outra coisa. "Patética", alguns zombavam. "Desesperada", outros sentiam pena. Eles não entendiam. Não conseguiam ver o medo que me movia, o desespero silencioso de me agarrar a uma vida que estava escorrendo pelos meus dedos, fio a fio.
Então veio o dia em que o mundo parou de girar. Os paparazzi, um bando faminto, me encurralaram na saída da minha boutique favorita na Oscar Freire. Suas câmeras disparavam, suas perguntas eram uma enxurrada de acusações. Eles tinham provas irrefutáveis desta vez – fotos, vídeos, uma linha do tempo da mais recente traição de Donato. Yasmin Buckley, uma jovem estagiária em sua empresa, seu rosto estampado em todas as capas de revista.
Em vez da erupção vulcânica de sempre, da cena dramática que eles tanto desejavam, eu apenas fiquei ali. Calma. Tão calma, na verdade, que parecia que meu sangue tinha virado gelo. O silêncio que se seguiu à minha falta de reação foi mais alto do que qualquer grito que eu pudesse ter dado. Até os paparazzi, geralmente tão implacáveis, pareceram hesitar, suas lentes brevemente abaixadas.
Donato, que estava assistindo à transmissão ao vivo de seu escritório, me ligou imediatamente. Sua voz estava carregada de uma mistura de confusão e triunfo.
"Ava? O que foi aquilo? Sem fogos de artifício? Sem lágrimas?"
Ele parecia quase desapontado, como se eu tivesse arruinado seu drama cuidadosamente orquestrado. Ele esperava a fúria, o teatro. Era disso que ele se alimentava.
"Estou cansada, Donato", eu disse, minha voz monótona, quase irreconhecível até para mim mesma. Não era apenas exaustão física. Era um cansaço que se infiltrava nos meus ossos, no âmago do meu ser. "Estou tão cansada de lutar."
Um sorriso de escárnio, imaginei, se espalhou por seu rosto bonito.
"Ah, então a grande Ava Ricci finalmente se rende", ele ponderou, com um toque cruel em seu tom. "Demorou o suficiente."
Ele interpretou minha complacência como rendição, como um sinal de que eu estava finalmente quebrada, maleável. Ele viu isso como uma vitória.
"Sim, Donato", confirmei, minha voz desprovida de emoção. "Eu me rendo."
As palavras tinham gosto de cinzas. Minha rendição não era para ele, ou para Yasmin. Era para algo muito maior, muito mais aterrorizante.
Ele riu, um som que arranhou meus ouvidos.
"Bom. Porque há algo que você precisa entender." Ele fez uma pausa, deixando o silêncio pesar. "Yasmin é mais do que apenas uma estagiária."
Fechei os olhos, uma onda de tontura me atingindo. Mais do que apenas uma estagiária. A frase ecoava as palavras do médico, torcendo-as em uma paródia grotesca de esperança. Eu sabia exatamente o que ele queria dizer, mas não da maneira que ele pensava. A ironia era uma pílula amarga que eu tinha que engolir.
"Ela é... especial", Donato continuou, sua voz pingando possessividade. "E ela não vai a lugar nenhum."
Ele pensou que estava desferindo um golpe esmagador, girando a faca. Ele não tinha ideia de que estava girando-a em minha própria ferida autoinfligida.
Apertei o laudo amassado em minha mão, o papel fazendo um barulho suave. A verdade nua e crua impressa em preto e branco me encarava: Leucemia Mieloide Aguda. E o adendo arrepiante: Apenas um doador de medula óssea compatível identificado: Yasmin Buckley.
Donato, alheio ao grito silencioso preso em minha garganta, continuou a divagar.
"Você está estranhamente quieta, Ava. Está realmente sem palavras pela primeira vez?"
Ele tentou me provocar, provocar uma reação. Ele sempre queria a briga. Ele prosperava com isso.
Uma risada amarga escapou dos meus lábios.
"Sem palavras não é o termo, Donato. Aterrorizada, talvez. Ou apenas... resignada."
Tracei as bordas afiadas do laudo com o polegar, um pequeno corte aparecendo na minha pele. A dor física era uma distração bem-vinda da agonia emocional.
Lembrei-me da antiga Ava, aquela que teria derrubado cada fachada perfeitamente cuidada, cada mentira cuidadosamente construída. A Ava que uma vez virou uma mesa em um baile de caridade quando pegou Donato flertando. A Ava que envergonhou publicamente uma socialite por ousar enviar-lhe uma mensagem sugestiva. Eu havia lutado com unhas e dentes, arranhando por cada migalha de dignidade, cada fiapo de sua atenção. Eu tinha sido uma força, uma tempestade em copo d'água, mas uma tempestade mesmo assim.
Mas aquela Ava se foi. A luta a havia esgotado, deixando para trás apenas uma casca vazia. Eu estava cansada do ciclo, cansada da humilhação pública, cansada de fingir que suas traições significavam que eu era de alguma forma menos. Agora, com este novo e aterrorizante diagnóstico, as batalhas superficiais pareciam totalmente sem sentido. Minha vida estava literalmente em jogo, e a única pessoa que poderia me salvar era a mesma mulher que meu marido estava desfilando por aí.
Donato, ainda alheio, pigarreou.
"Preciso que você entenda uma coisa, Ava. De agora em diante, as coisas são diferentes." Sua voz ficou mais fria, mais dura. "Estou cortando seu acesso às contas conjuntas. Todos os seus cartões estão congelados."
Eu não reagi, meu olhar fixo nas flores murchas no vaso sobre a mesa de centro. Ele estava fazendo isso enquanto eu segurava uma sentença de morte na mão. A crueldade era quase poética.
"Você me ouviu, Ava?", ele estalou, sua paciência se esgotando. "Eu disse, você não tem dinheiro."
"Eu ouvi você, Donato", respondi, minha voz ainda estranhamente calma. Minha mente já estava a mil, calculando. As contas médicas da minha mãe. Sua condição crítica. Este era o golpe final.
Naquele momento, a campainha tocou. A voz de Donato suavizou instantaneamente, uma mudança enjoativa.
"Deve ser a Yaz. Eu disse a ela para vir."
Um pavor frio se enrolou em meu estômago. Então, ela estava vindo aqui. Para nossa casa. Era um novo nível de desrespeito, uma nova forma de guerra psicológica. Minhas mãos tremeram levemente, mas eu as forcei a ficarem paradas.
Donato abriu a porta, e lá estava ela. Yasmin Buckley. Mais jovem, mais bonita, com um ar de inocência calculada. Ela usava um terninho de alfaiataria, um contraste gritante com meu próprio vestido de noite cansado. Ele geralmente mantinha seus casos discretos, longe do nosso espaço compartilhado. Isso era diferente. Isso era uma declaração.
"Donato, querido", Yasmin arrulhou, seus olhos se voltando para mim com um brilho triunfante. Seu sorriso era uma curva predatória. Ela me via como um obstáculo. Ela não sabia que segurava minha vida em suas mãos.
"Yaz, meu bem, entre", disse Donato, puxando-a para perto, uma exibição teatral de afeto. "Ava estava apenas... entendendo algumas novas regras." Ele enfatizou a palavra 'regras', um tiro de aviso.
Yasmin, encorajada pela presença de Donato, deu um passo à frente. Seu olhar era direto, quase desafiador.
"Sra. Alencar", disse ela, sua voz pingando doçura artificial. "Entendo que você tem espalhado alguns rumores bastante antiprofissionais sobre mim no escritório."
Minha cabeça se ergueu bruscamente. Rumores antiprofissionais? Ela estava distorcendo a narrativa, me fazendo parecer a agressora, a esposa ciumenta que não conseguia lidar com o sucesso do marido. Meu sangue começou a ferver, um fogo familiar se acendendo em minhas veias, mas foi rapidamente extinto por uma onda de náusea.
"Eu não fiz tal coisa", consegui dizer, minha voz fraca. A luta tinha sumido. A energia simplesmente havia desaparecido.
Yasmin zombou, um som delicado e desdenhoso.
"Ah, por favor. Todo mundo sabe. Você tem tentado sabotar minha carreira, tudo porque não consegue lidar com a concorrência." Ela gesticulou vagamente para Donato, implicando que ele era o prêmio.
Donato, aproveitando o espetáculo, colocou a mão na parte inferior das costas de Yasmin.
"Yasmin trabalhou incrivelmente duro, Ava. E, francamente, seus surtos têm sido... perturbadores."
O insulto, a dispensa casual, pareceu um golpe físico. Perturbadores? Minha vida inteira tinha sido virada de cabeça para baixo, e ele chamava minha dor de perturbadora.
Eu tossi, um som seco e áspero que vibrou pelo meu peito. Minha visão embaçou por um momento. Esta era minha nova realidade. Meu corpo estava me traindo, e eu não conseguia nem esconder.
Os olhos de Yasmin se estreitaram, notando meu desconforto. Um lampejo de algo, talvez preocupação, cruzou seu rosto por uma fração de segundo, antes de endurecer em uma máscara de indiferença. Ela recuou ligeiramente, como se minha doença fosse contagiosa.
"Você está bem, Sra. Alencar? Você parece... pálida."
Donato, no entanto, viu apenas fraqueza.
"Ela está apenas sendo dramática, Yaz. Sempre foi." Ele descartou meus sintomas físicos como mais um de meus teatros. Ele se recusou a ver o que estava bem na frente dele.
"Donato", eu disse, minha voz mal um sussurro. "Preciso falar com você. Sobre minha mãe. E as contas." As palavras eram um apelo desesperado, mas se perderam no rugido de seu ego.
"Ava, eu te disse", ele me cortou, sua voz impaciente. "Seu acesso está cortado. Se você quer dinheiro para sua mãe, terá que ganhá-lo." Ele fez uma pausa, um sorriso cruel se espalhando por seu rosto. "Ou talvez, você possa se desculpar. Publicamente. Para Yasmin. Por todo o problema que você causou."
Meu queixo caiu. Pedir desculpas publicamente? Para ela? A mulher que estava dormindo com meu marido, a mulher que era minha única chance de sobrevivência? A humilhação era sufocante.
"Eu... eu não posso", engasguei, lágrimas brotando em meus olhos, não por mim, mas por minha mãe doente.
"Ah, mas você pode, Ava", disse Donato, sua voz fria e inabalável. "Ou o tratamento médico de sua mãe cessa. Com efeito imediato." Ele sabia que minha mãe era minha única fraqueza, meu calcanhar de Aquiles. Ele a estava usando contra mim.
O mundo girou. Minha mãe. Sua vida frágil por um fio. Meu orgulho, minha dignidade, contra a sobrevivência dela. Não havia escolha.
"Tudo bem", sussurrei, a única palavra rasgando minha garganta. "Eu farei isso. Eu vou me desculpar."
Os olhos de Donato se arregalaram ligeiramente, um lampejo de surpresa, rapidamente substituído por triunfo. Ele não esperava que eu cedesse tão facilmente. Ele pensou que eu tinha um poço ilimitado de luta. Ele estava errado.
"Bom", disse ele, virando-se para Yasmin, que agora sorria radiante. "Viu, Yaz? Ela finalmente está aprendendo seu lugar."
Ele começou a se afastar, o braço em volta da cintura de Yasmin, puxando-a para mais perto. Meu olhar permaneceu em suas figuras se afastando, a imagem perfeita da traição. O laudo, esquecido, escorregou da minha mão e flutuou até o chão.
A conta da minha mãe, um lembrete gritante da minha nova realidade, chegou pelo correio naquela mesma tarde. Era astronômica. Os números dançavam diante dos meus olhos. Eu não podia pagar. Donato havia garantido isso.
Peguei o telefone. Minha médica, Dra. Helena Ramos, atendeu.
"Ava? Precisamos discutir seu plano de tratamento. Os exames são preocupantes."
"Cancele", eu disse, minha voz oca. "Tudo. Eu não posso pagar."
"O quê? Ava, isso não é uma escolha!", ela exclamou, sua voz cheia de alarme. "Isso é agressivo. Sem tratamento..."
"Eu sei", eu a cortei. "Mas não tenho opções." Eu não podia contar a ela sobre Yasmin. Ainda não.
Desliguei, o telefone pesado na minha mão. Meu corpo doía, uma dor profunda e persistente. Donato tinha acabado de sair com Yasmin, sua nova conquista, sua arma contra mim. Ele me despojou de minhas finanças, minha dignidade e, agora, minha esperança.
Mas uma nova determinação, fria e afiada, começou a se formar nos pedaços estilhaçados do meu coração. Peguei meu celular, meus dedos voando pela tela. Abri uma nova janela do navegador. "Advogado de divórcio. São Paulo." As palavras apareceram na tela, um farol na escuridão. Minha luta por uma vida que valesse a pena viver tinha acabado de começar.
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