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Capítulo

Um projeto ultra secreto da Segunda Guerra Mundial é esquecido quando a guerra acaba, mas não foi esquecido por todos. Grupos de rebeldes tentam terminar o projeto e tentar não colocar um fim na guerra. Cabe o doutor Baumann e sua equipe impedir que o projeto Saburo caia em mãos erradas.

Capítulo 1 Primeira Parte

Naquela tarde de outono tudo parecia estar do mesmo jeito, o bairro continuava deserto. Já faziam alguns dias que não se escutava um bombardeio, nem sequer um estrondo ao longe ou barulho de metralhadoras ou tanques passando pelos arredores. Estava sendo uma semana até certo ponto proveitosa para o doutor Baumann e sua equipe, mesmo que as esperanças já tenho quase todas ido embora.

Eles sabiam que não seria um projeto fácil de terminar, que os desafios seriam enormes e as chances de falhar eram muito grandes, sem contar que tudo era quase uma utopia. Estar no subterrâneo de um prédio abandonado, nos confins de um lugar que eles mal sabem onde fica, e estar longe de tudo e de todos. Sempre foi algo impensável. A única coisa que às vezes era bom para o doutor Baumann era poder dar um passeio no início da noite.

Isso era uma coisa que só acontecia uma vez por semana, subir aquelas escadas enferrujadas, caminhar por uma sala cheia de destroços e por fim sair daquele prédio abandonado era mesmo uma coisa formidável. Estar quase que preso no subterrâneo de um prédio em prol de algo que nem você mesmo acredita é uma coisa às vezes insuportável. Conviver literalmente vinte e quatro horas por dia com pessoas que são estranhas a você, sem sequer ver a luz do sol, pode ser muito desgastante.

Mas pelo menos aqueles poucos vinte ou trinta minutos eram maravilhosos, para Baumann poder respirar um pouco de ar puro fazia o cérebro funcionar melhor, tudo parecia funcionar melhor. E isso tinha que ser feito na hora certa, sair do prédio sorrateiramente e esperar no lugar combinado e torcer para que ninguém percebesse que existia vida naquele bairro. Depois que alguns minutos um jipe chegava, eram sempre as mesmas duas pessoas, o doutor Baumann nunca soube muita coisa sobre eles. Depois de uma freada brusca e olhares nada amigáveis, jogavam no chão uma caixa de comida, até que era uma comida muito boa, e era mais que suficiente para o doutor e sua equipe.

Ou seja, todas as terças feiras entre sete e sete e meia da noite, ele deveria esperar o jipe nos fundos do prédio, dois soldados iriam levar comida e as vezes traziam um envelope com novas ordens. Pelas contas do doutor já era agosto ou setembro de 1945, e eles sabiam disso porque em uma dessas saídas para receber a comida ele viu um rádio quebrado entre as latas de lixo, e na presença dos soldados não deu importância. Calmamente esperou que eles fossem embora, e tarde da noite subiu novamente as escadas e pegou o rádio. Não foi difícil fazê-lo funcionar, todos ali eram doutores em mecânica, eletrônica ou física, consertar um rádio velho não era uma tarefa das mais difíceis, na verdade era uma brincadeira de criança. Não levou nem vinte minutos. Mas nem sempre ele funcionava, não tinha sinal de rádio naquele lugar, todos foram embora. As vezes nos domingos a noite, por uma ou duas horas ele funcionava, mas era um programa de música, escutar notícias era muito difícil, passavam semanas sem se saber de nada.

Aqueles soldados falaram uma ou duas palavras em todos esses meses, e foi mesmo uma ou duas, nem sequer davam bom noite, jogavam a caixa no chão e saiam em disparada. Mas eles estavam certos, não se sabia se alguém estava nos vigiando, e ser metralhado de surpresa era algo bem normal quando se está na Segunda Guerra Mundial. E era por isso que eles não falavam muito e queriam logo ir embora.

A cidade habitada mais próxima ficava há mais de oitenta quilômetros de distância, realmente o doutor Baumann e sua equipe estavam mesmo no meio do nada. O exército aliado havia passado ali uns dois anos antes e dizimado aquela pequena cidade, os poucos que sobraram foram embora, o restante foi assassinado a sangue frio. Em poucas semanas a cidade tinha virado uma cidade-fantasma, o doutor sequer sabe direito onde ele está, na época ele foi colocado em um caminhão e depois de andar por dias, foi deixado ali naquele prédio.

Um pouco antes chegou a sua equipe, mais três especialistas, três outros doutores, que também não sabem direito onde estão, pelas poucas placas que podem ver na rua, devem estar na fronteira da Alemanha com a França. Muitas placas estão escritas nos idiomas desses dois países, e é por isso que eles supõem que estão na fronteira. Eles já fizeram uma lista das cidades que lembravam que estavam na divisa, mas como não sabem de que lado estão, tudo ficou mais difícil.

E realmente nenhum deles quis sair e procurar onde estavam, o medo de ser encontrado era maior, e isso porque muitas vezes eles escutavam tanques passando na rua e exércitos marchando. Se fossem pegos por algum exército aliado seriam com certeza mortos.

Uma vez eles conseguiram sintonizar uma estação de rádio, e conseguiram por quase quinze minutos ouvir as notícias, foi surreal, eles vibraram e se abraçavam quando escutaram a voz saindo pelo autofalante. Mas não durou muito, logo saiu do ar. O que puderam escutar era que a guerra ainda continuava da mesma forma, sangrenta e impiedosa. Mas isso foi a mais de um ano.

E se contentar com um programa de música aos domingos a noite não era o que eles queriam, tá certo que relaxava um pouco, mas eles queriam saber as notícias sobre a guerra. Duas vezes eles se aventuraram fora do subsolo do prédio, uma foi quando escutaram o chão trepidando por causa de um exército que marchava pela rua. E naquele dia depois de mais de duas horas de espera, o doutor Baumann teve coragem de subir e olhar a rua. Ele achou duas páginas de jornal e uma caixa de biscoitos, e foi só.

No jornal, notícias sobre as batalhas e ofensivas realizadas pelos exércitos, e isso os deixou na época bem empolgados, pois parecia que estavam ganhando a guerra. Pelo menos era o que dizia a notícia naquela única página. Na outra vez acharam uma revista com mulheres seminuas, isso era uma coisa que os soldados sempre tinham com eles, mas a revista estava em francês, e não tinha nenhuma notícia.

Depois que alguns meses eles entenderão que onde estavam não era bem uma cidade, ou pelo menos não era do jeito que conheciam, eles estavam em uma cidade muito pequena, quase que uma vila. E isso era mesmo a coisa certa em se fazer com eles quando se tratava da pesquisa que estavam fazendo.

E então tudo estava explicado, não passar quase ninguém e não ter sinal de rádio. Quem os colocou ali foi muito astuto, porque sabia que Baumann e os outros estariam totalmente isolados e sem chance de fugirem. Estavam em uma prisão sem grades. Algumas coisas para eles não eram ruins, tinha sempre água quente e a comida era mesmo muito boa, e chegava todas as semanas sem nunca faltar.

Eles não sabiam ao certo como ainda podia ter água quente naquele prédio, o que sempre acharam é que o fornecimento de gás vinha de alguma cidade grande, de uma forma bem misteriosa. Mas o que achavam que era o sensato a se acreditar é que estavam no meio de uma tubulação que levava o gás para outra cidade tão grande quanta a cidade de onde o gás saiu. Ou se não for nenhuma dessas coisas, mais um ponto para a pessoa que os colocou ali, pois sabia que tudo estava garantido para que eles tivessem tudo que precisassem.

Além disso nunca faltou eletricidade, nem um dia sequer. As camas eram boas e confortáveis, e tinham tudo que precisavam. A cada duas semanas os soldados traziam roupas e toalhas limpas e levavam a roupa suja para lavar. Talvez fosse por isso que sempre estavam de meu humor. Essa era uma piada que fazia o doutor e sua equipe rirem muito nas horas vagas. E aqueles soldados pareciam ser bem obedientes, pois nem os cigarros que eram solicitados vinham errado. Sempre que o doutor Baumann pedia, ele e sua equipe recebiam exatamente a quantidade certa, sem mais nem menos.

As instalações também eram muito boas, na época tudo foi arrumado previamente, e bem arrumado. Antes mesmo deles chegarem. Os móveis eram novos e tudo era da melhor qualidade, os equipamentos para a pesquisa eram os mais modernos. E aos poucos o doutor Baumann e sua equipe ficaram de certa forma amigos, apesar de que não tinham outra opção, já eram quatro anos convivendo juntos. Do nascer ao pôr-do-sol tinham apenas a companhia uns dos outros. O doutor Vogt era o mais jovem, e o mais calado, mas era divertido quando não estavam trabalhando, ele sempre contava as piadas mais engraçadas. Os outros dois, Falkenberg e Altman eram mais abertos e falavam com mais frequência, mas todos eram exímios cientistas.

Falkenberg na verdade era o mais brilhante dos quatro, e também o mais velho, já tinha mais de cinquenta anos. Com exceção de Vogt que tinha um pouco mais de trinta, Baumann e Altman tinham cerca de quarenta. Estavam todos enfurnados naquele subsolo, e lhes foi dito que se não cooperassem suas famílias seriam mortas, suas mulheres e seus filhos teriam suas cabeças cortadas se eles não fizessem o que Baumann mandasse.

Mas nunca foi preciso que Baumann fosse ríspido e autoritário, nenhuma vez, pois todos sabiam que estavam no mesmo barco. Eles sabiam que só sairiam dali juntos e para isso precisavam colaborar uns com os outros da melhor forma possível. Altman não acreditava muito no propósito daquela guerra, achava aquilo tudo uma tremenda estupidez, mas não entrava muito no assunto. Os outros de certa forma acreditavam e queriam acabar com aquilo o mais rápido possível, se bem que quando se está preso no meio do nada, qualquer coisa que os fizessem sair dali era compreensível.

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