Login to Lera
icon 0
icon Loja
rightIcon
icon Histórico
rightIcon
icon Sair
rightIcon
icon Baixar App
rightIcon
O CEO Rancoroso e a Secretária Proibida - Déjà Vu

O CEO Rancoroso e a Secretária Proibida - Déjà Vu

Laís Olly

5.0
Comentário(s)
6.3K
Leituras
25
Capítulo

“O primeiro amor pode ser uma chama que se apaga, mas quando é real sempre vai soltar faíscas.” Quando conseguiu uma bolsa de estudos para fazer o ensino médio num dos colégios mais conceituados da cidade, André sabia que dividir o mesmo lugar com pessoas de condições financeiras superiores a sua poderia ser bem difícil. Mas o que ele não contava era que ficaria perdidamente apaixonado por uma das alunas. André mergulhou de cabeça naquela paixão, se entregou sem reservas, estava disposto a lutar contra tudo e todos que se metesse entre eles. Estava disposto a enfrentar o mundo por ela. Quando se deu conta de que esse sentimento não era recíproco, já era tarde demais. Ele nunca foi sua prioridade. Para André, Milena nunca o amou como ele a amava, estava apenas se divertindo, brincando com seus sentimentos mais verdadeiros e sinceros. Só isso explicaria o fato de ela tê-lo deixado naquela situação. André prometeu para si mesmo que nunca iria perdoá-la e que jamais abriria seu coração para qualquer outra que tentasse. 14 anos se passaram e hoje André é fundador e CEO de uma das mais prestigiadas confeitarias do Brasil. O que antes foi um grande problema se tornou a solução. Dinheiro, luxo, poder e influência ele tinha com fartura, assim como várias mulheres aos seus pés, na sua cama, mas claro, sempre muito longe do seu coração. Ele só não esperava que logo agora que as coisas haviam se ajustado, um fantasma do passado voltaria como um Déjà-Vu para assombrá-lo. Mas, se ela ainda quisesse algo, seria debaixo dele, na sua cama de preferência. Atendendo a todos os seus caprichos e desejos mais sensuais e perversos.

Capítulo 1 1

Antes

Milena

— Olá, papai! — cumprimentei Otávio sorrindo, numa tentativa de dar um ar mais agradável à mesa. Falhei miseravelmente, como sempre. — Milagre o senhor vir almoçar em casa com a gente! — Minha última frase foi o suficiente para papai apertar os lábios e bufar, sua expressão não negava a raiva, a revolta, mas nada era mais assustador do que o olhar que ele disparou na minha direção antes de dizer:

— Milagre? Você tem mesmo a coragem de chamar isso de milagre? É uma tragédia! — exclamou alto enquanto Cassilda servia os pratos.

— Eu sinto muito, papai... Eu só queria que isso passasse... É horrível lidar com esse clima pesado...

— Milena — mamãe me interrompeu. — Seu pai foi afastado do cargo que ele lutou a vida inteira para conseguir, além disso, ele também pode ser preso a qualquer momento. Você tem noção do caos que estamos vivendo?

— Eu tenho, mamãe. Mas eu também tenho fé que a verdade vai aparecer. Cedo ou tarde ela sempre aparece!

— Por que você não fecha a boca, garota? Não existe verdade! Não existe nada! — Papai esbravejou alto, seus gritos ecoaram por toda sala. Otávio logo ficou de pé e deu de ombros depois de acrescentar: — Perdi o apetite.

— Você, hein garota? Como pode ser tão ingênua, nem parece ser nossa filha? — Marina revirou os olhos, balançando a cabeça em negação.

— Mas mãe, vocês estão agindo de uma maneira que parece que papai realmente é culpado, que ele é como um desses corruptos que esconde dinheiro na cueca! — Naquele segundo o mundo congelou e, naquela brecha, os olhos dela disseram tudo o que eu me negava a entender.

— Com licença. Eu também perdi o apetite. — Ela também deu as costas e se retirou.

A ausência da minha mãe ali deixou um vácuo que foi muito além de uma cadeira. Meu coração parecia ter se rachado ao meio. Otávio Augusto Junqueira sempre foi minha inspiração, minha maior referência. Eu sonhava em ser uma advogada premiada e quem sabe um dia me tornar uma juíza tão respeitada como ele foi até há alguns meses. Logo meu pai que sempre falou tanto de valores éticos e morais se tornando um corrupto? Envolvido num dos maiores escândalos políticos do Rio de Janeiro... Não era possível. Parecia um pesadelo. A sensação de estar perdida e de talvez não estar andando na trilha certa me afligia. Era horrível ser vista como a filha de um juiz corrupto, pior que isso era ter que aguentar os fanáticos me atacando nas redes sociais por causa de uma bolsa, uma pulseira... Eles diziam que eu estava andando no luxo com o dinheiro pago pelos impostos da sociedade.

Infelizmente eles estavam certos.

Eu precisava aceitar. Eu tinha que engolir tudo a seco porque o meu pai estava errado e não era mais um exemplo a ser seguido, eu tinha que lidar com isso.

— Milena, não chora minha filha... — Cassilda passava do outro lado da sala quando viu as lágrimas despencarem dos meus olhos. — Isso vai passar, tenho certeza de que logo irão provar a inocência do seu pai...

— Meu pai não é inocente, Cassilda — disse secando as maçãs do rosto enquanto me punha de pé. Coincidentemente também perdi o apetite. — Eu vou para o colégio, você poderia chamar o José para mim, por favor.

— Infelizmente o José não trabalha mais aqui.

— Impossível! Papai jamais iria demiti-lo.

— Na verdade, foi ele que pediu demissão... Nós estamos há quase três meses recebendo o salário em fatias, nesse mês então até hoje não recebi um tostão. José não conseguiu segurar a barra, mas não se preocupe Mile, você e sua família podem contar sempre comigo.

— Por Deus, Cassilda! Você não pode continuar assim, ninguém trabalha sem receber!

— Mas todos passam por momentos de dificuldade. Eu compreendo a situação de vocês. Sempre me trataram tão bem, seria injusto abandoná-los logo nesse momento. — Respirei fundo tentando aceitar aquela situação, foi quando meus olhos se encontraram com os de mamãe que caminhava a passos marcados na minha direção.

Mamãe sempre foi uma mulher linda, exuberava elegância e muito bom gosto, a idade nunca afetou sua aparência. Ela tirou a carteira da bolsa cara que carregava no braço direito e me deu uma nota de cem dizendo:

— Como você já deve estar sabendo, tivemos que demitir o José, o jeito agora é andar de táxi. Toma, isso deve dar para você ir e voltar do colégio. — Minhas bochechas coraram de vergonha. Como mamãe tinha a audácia de me dar dinheiro na frente da funcionária que ela havia atrasado os salários? A falta de senso era além do inacreditável. Eu, sem ter muito o que fazer aceitei a nota e a entreguei no mesmo instante para Cassilda que era quem realmente deveria ter recebido aquele dinheiro.

Não esperei mamãe começar a falar para deixar a sala e, subir para o meu quarto onde terminei de me arrumar para ir para o colégio. Peguei minha mochila e saí correndo dali.

Na portaria pedir instruções ao porteiro de como pegar um ônibus para chegar ao meu destino.

Não devia ser tão difícil, o colégio era a 15 minutos da minha casa.

O ônibus que o porteiro havia indicado não demorou para passar. Entrei, paguei o motorista e quando passei pela catraca tive a infeliz surpresa de não encontrar nenhum lugar disponível e, tudo bem, afinal de contas, milhões de brasileiros que não tinham um pai corrupto passavam por isso todos os dias.

Minha parada estava próxima quando um menino alto, robusto, com a pele num tom chocolate entrou no ônibus deixando seu cheiro exalar por ele. Ele estava usando um Malbec, eu sabia porque mamãe sempre me disse que a gente tinha que reconhecer o “pedigree” dos homens através do cheiro. Esse era um dos cheiros que eu deveria evitar. Era um cheiro barato, de um homem que segundo ela não tinha condições de me dar a vida que eu “merecia”, o que curiosamente me intrigou, principalmente depois que ele abriu um sorriso perfeito, sem nenhuma pretensão.

Não consegui tirar os olhos dele, por mais que ele não tivesse notado minha presença em meio aquele monte de passageiros aglomerados um no outro.

O menino do sorriso perfeito carregava alguma coisa no braço e, assim que ele passou pela catraca chamou a atenção de todos e começou a fazer um lindo discurso:

— Boa tarde, família! Trabalhador, estudante, ou só aquele que veio para dar um rolé mesmo! Hoje eu tô aqui com uma parada muito especial e olha, nem foi porque minha mãe que fez — ele abriu um sorriso de canto —, mas, esses brownies são coisa de outro planeta. A Dona Cleide caprichou mesmo, assim como tudo que ela faz. Pra quem não sabe família, eu vivo sozinho com a minha mãe e essa aqui é forma da gente conquistar o pão de cada dia. Ela faz os doces e eu trago para adocicar o dia de vocês, aliviar um pouco o estresse da rotina do trabalho, daquele marido bagunceiro que vocês tem em casa ou daquela mulher que reclama até quando você vai bater uma bola com os amigos. É isso aqui! Não vai resolver sua vida, é claro, mas vai adoçar seu dia! Adocica meu amor, adocica! — ele começou a cantarolar o trecho de uma música muito conhecida ganhando sorrisos e gargalhadas de quem estava à volta.

Juro que fiquei impressionada, nunca vi tanta simpatia e espontaneidade vindo de uma pessoa. Ainda mais ele que tinha a vida tão simples, que aparentemente se sustentava vendendo aqueles brownies que carregava consigo. Ele exalava energia boa, tinha um sorriso fácil e pessoas de sorrisos fáceis conquistava a todos da mesma maneira. E foi assim que os brownies acabaram num estalar de dedos, aliás, havia restado um e aquele com certeza seria meu.

Queria saber se o doce era tão bom quanto a propaganda.

— Hei! — Dei um grito que abafou todo ônibus, mas que foi o suficiente para que pela primeira vez nossos olhares se encontrassem e, quando isso aconteceu, senti meu peito congelar, meu coração acelerou e meu sangue parecia estar literalmente correndo em minhas veias. Ele se aproximou desviando dos outros passageiros e quando chegou mais perto estremeci com seu cheiro, sua presença, seu sorriso despretensioso e o jeito de olhar misterioso.

— Boa tarde, princesa! Está aqui o brownie que vai deixar seu dia mais alegre e doce!

No momento em que ele me entregou o doce, nossas mãos esbarraram uma na outra, o que foi o suficiente para que os calafrios começassem a correr por todo o meu corpo.

— Obrigada! — Pela primeira vez senti vergonha de ficar diante de alguém, a presença dele me deixava sem ar, sem chão. Rapidamente desviei meus olhos do seu e perguntei: — Quanto é?

— Quatro e cinquenta. — Estava tremendo quando entreguei uma nota de 5 reais para ele e também quando me dei conta de que já estava muito à frente de onde deveria ter decido. Ainda bem que justamente naquele momento o ônibus havia parado e obviamente eu aproveitei aquela brecha para sair correndo dali antes que morresse de falta de fôlego ou acabasse sofrendo um AVC por excesso de batimentos cardíacos.

Caramba, que droga era essa que eu estava sentindo?

[...]

André

— Filho, agora você vai estudar num colégio particular, não tem nada que ficar se importando em vender brownies por aí, pode deixar que eu me viro.

— Ah, não inventa dona Cleide, a senhora pode até ser uma doceira pica das galáxias, mas nem de longe é uma vendedora como eu. Pode deixar que essa parte eu cuido. — Pisquei para mamãe já com a mochila nas costas e a bolsa com os brownies em meu braço.

— André, eu não quero que isso te prejudique. Você precisa estudar muito se quiser realizar seus sonhos...

— Realizar meus sonhos não inclui deixar a senhora para trás, dona Cleide. E olha, o que mais tem por aí é neguim que trabalha e estuda, a senhora está enganada se pensa que isso é coisa de outro mundo. — Acariciei o rosto cansado de mamãe e apertei o lenço frouxo em sua cabeça. Dei-lhe um beijo na testa e disse: — Um dia tudo isso vai mudar, a senhora vai ter vida de rainha. Vamos sair desse barraco e morar num desses apartamentos luxuosos com vista para o mar lá na barra.

Dona Cleide apenas sorriu, dava para ver no fundo de seus olhos que ela não desacreditava em nenhuma de minhas palavras, pelo contrário, mamãe sempre foi quem me colocou para frente, a única pessoa que estava ali comigo torcendo para que eu realizasse cada um dos meus sonhos.

Hoje era o início de um deles, consegui uma bolsa de estudos para fazer o ensino médio em um dos colégios mais conceituados do Rio. Estudei muito para isso, meu peito faltava explodir de felicidade, era uma conquista. Mamãe estava orgulhosa, meus vizinhos da comunidade me olhavam admirados, eu sempre fui diferente de muito dos seus filhos que apesar da mesma idade que a minha, infelizmente acabaram se perdendo no mundo do crime, alguns partiram precocemente e ficaram como grande exemplo do que eu nunca gostaria de ser na vida.

Desci a escadaria estreita, passei por becos e vielas até chegar no meu ponto. A meta para hoje era zerar todos os brownies antes de chegar no colégio. Desde que mamãe começou a trabalhar por conta própria fiz questão de ajudá-la em cada passo, é claro, eu estava longe de fazer bolos e doces como ela, mas felizmente conseguia vender como ninguém. Acho que isso foi um dom que Deus me deu. Eu e mamãe éramos uma dupla infalível. Um dia iríamos colher o fruto de todo nosso trabalho duro.

Depois de muito oferecer os brownies de um ônibus para o outro minha bolsa já estava quase vazia, eu tinha quase certeza de que na próxima parada iria conseguir vender tudo. Entrei no veículo fazendo o que sempre fazia nos outros, muita propaganda, sorrisos, elogios e frases de motivação para levantar o ânimo dos passageiros, afinal de contas a maioria ali era trabalhador como eu. Me surpreendi quando ouvi um grito de uma garota lá de trás, havia tantas pessoas na frente que levei um tempo para levar o último brownie que restara a ela, mas quando cheguei me surpreendi. Foi como entrar em órbita numa constelação incandescente onde ela era a estrela principal, irradiando beleza e doçura por trás daquele par de olhos azuis intensos e ao mesmo tempo tímido. A brisa que vinha da janela fazia seus fios castanhos e brilhantes flutuarem ao redor do rosto delicado, traçado delicadamente em cada detalhe. Não precisava pensar muito para saber que aquela era a garota mais linda que já havia visto na vida. Eu entrava em dezenas de ônibus todos os dias e nunca havia me deparado com uma criatura tão linda, ela parecia um anjo perdido ali.

Ela levou o último brownie sem sequer esperar pelo troco, mas, antes disso ela roubou alguma coisa que havia dentro de mim, porque depois daquilo meu coração não conseguiu voltar a bater no mesmo ritmo. Seus olhos, seu sorriso tímido e sua doçura inundaram meus pensamentos como um tsunami. Fiquei baqueado, com as mãos frias. Era difícil lidar com isso, mas parecia até que eu já a conhecia de algum lugar, ou talvez de outra vida.

[...]

Desci do ônibus e parei numa lanchonete onde uma amiga da minha mãe trabalhava, lá pedi para que ela guardasse a bolsa que vendia doces e aproveitei para dar uma moral no visual, afinal de contas era o meu primeiro dia naquele colégio que apesar de muito bem falado era completamente diferente dos que estava acostumado a frequentar.

Foi impossível não sentir um frio na barriga quando coloquei meus pés em frente ao colégio imenso. A decoração dele era tão bonita que me deixava assustado, nada de pichações, bicicletas largadas, homens que não estudavam no portão. Era como se eu estivesse prestes a entrar numa realidade paralela. Inclusive foi essa a sensação que tive quando coloquei os pés na minha sala. Eu era o único negro ali, na hora me lembrei do seriado Todo mundo odeia o Chris e ri internamente, porque sabia que isso com certeza teria consequências. Na minha turma muitos me fitavam com curiosidade enquanto outros com indiferença, mas até aí tudo bem.

Aquilo era tudo novo para mim, até a maneira com que os professores se apresentavam era diferente. Os notebooks da Apple na mesa de cada um me chamavam de pobre em mais de dez línguas. Ignorei tudo isso e foquei no conteúdo que os professores que passaram por ali apresentaram. Quando me dei conta, a aula já havia acabado. A tarde passou como um sopro, acredito que seja por causa da minha ansiedade.

Passava pelos corredores, curioso, ainda encantado com os armários, a organização. Coisa que nunca presenciei na minha antiga escola. Outra novidade ali era que a galera era muito bonita, os uniformes idênticos não eram o suficiente para que todos parecessem iguais. Principalmente eu, o único ponto negro. Me destacava contra minha própria vontade, de todos os lados roubava olhares e cochichos. Estava distraído, tentando me adaptar com as diferenças o mais rápido que podia quando alguém puxou a minha mochila fazendo meu corpo cair bruscamente para trás. Apesar do impulso, firmei minhas pernas conseguindo me equilibrar a tempo de evitar uma queda vergonhosa em frente para a turminha de playboyzinhos da minha idade aparentemente, em nenhum momento eles disfarçaram o sorriso sarcástico, muito menos a satisfação de me ver ali como se fosse um palhaço para debocharem e caírem na gargalhada. O problema é que eu nunca tive vocação para bobo da corte e rapidamente a fúria começou a varrer meu corpo que queimava em revolta e um grande desejo de dar o troco.

— Quem foi o filho da puta que me puxou? — perguntei com o olhar duro, estreitado, fuzilando a direção deles.

— Qual é a tua palhaço? Quem você pensa que é pra falar assim com a gente, seu neguinho de merda? — Um cara branco com os cabelos e olhos claros deu dois passos à minha frente, cheio de coragem. Meu pulso tremia, contendo a vontade insana de acertar um soco no meio daquele nariz arrebitado.

— Repete o que você disse — pedi pausadamente, com meus olhos devorando-o de cima para baixo, sem mover um único dedo. Percebi que ele e os amiguinhos ficaram visivelmente intimidados, mas não recuaram.

— O que você quer que eu repita?

— Não se faça de bobo — disse entredentes quando mais alunos se aproximaram formando uma rodinha ao nosso redor. Estava concentrado no otário à minha frente, mas foi impossível não perceber e me abalar com a presença daquela menina do ônibus que surgiu entre aquelas pessoas como uma miragem. Seu olhar agora estava mais escuro, e pareciam me chamar para algum lugar, por alguns segundos me perdi neles e esqueci do mundo e do caos à minha volta, mas voltei em mim assim que um dos babacas que acompanhavam o carinha à minha frente repetiu o que ele disse lá de trás.

— Neguinho de merda! Era isso que você queria ouvir? Então eu disse! Não era nem para você estar aqui! — Não esperei mais nenhum segundo para avançar naquele idiota que rapidamente foi cercado por outros amigos. Eu estava sozinho, em total desvantagem, mas nem por um segundo tive medo, pelo contrário, a raiva daqueles caras me enchiam de coragem e de uma vontade imensa de colocar um por um em seu devido lugar.

Estava muito perto de fazer isso, mas fui impedido por outros dois garotos que acompanhavam a discussão do outro lado. De repente, para minha surpresa a menina dos olhos encantadores se aproximou dizendo:

— Você é bolsista, não é? Não faça isso. Ano passado provocaram um aluno bolsista e ele perdeu a bolsa. Ignore, eles não passam de um bando de idiotas!

— Ouça a Milena, ela tem razão. Não sou bolsista, mas faço o possível pra ficar sempre longe desses caras, eles são um saco, se acham os manda chuva do colégio. — Um garoto branco usando óculos de grau e cabelos comportados também estava focado em me deixar mais calmo e evitar que eu fizesse uma besteira.

Respirei fundo, dando ouvido para eles e ignorando aquela turminha de idiotas que não pararam com as provocações. O garoto moreno de óculos tocou meu ombro me guiando para algum lugar, a menina também nos acompanhou para o corredor ao lado que estava menos movimentado. Me escorei num dos armários sentindo a raiva borbulhar dentro do meu corpo.

— Desculpa, foi tudo tão louco que esqueci de me apresentar. Prazer, me chamo Eduardo, sou da mesma turma que você, mas aposto que nem percebeu.

— Realmente não notei, estava nervoso por ser meu primeiro dia aqui no colégio. Mas o prazer é todo meu Eduardo.

— Pode me chamar de Dudu se quiser.

— Ok, Dudu. Meu nome é André, não tenho apelido.

Ele sorriu.

— Bom, ninguém perguntou, mas já me apresentando eu sou a Milena e inclusive vi você mais cedo no ônibus. O brownie estava uma delícia, nunca provei nada parecido. — Ela abriu um sorriso lindo. Antes de erguer a mão para me cumprimentar, jogou o franjão para trás, o suficiente para que meu coração errasse algumas batidas.

— Eu reconheci você — disse perdido na boca pequena, rosada, assim como as maçãs perfeitamente desenhadas do rostinho de boneca que ela possuía. — Você é linda... — As palavras saíram involuntariamente, fazendo as bochechas de Milena corarem e os olhos do Dudu arregalarem. Quando me dei conta do que fiz mudei de assunto rapidamente. — É... Acho que estou te devendo 50 centavos.

Milena me interrompeu:

— Imagina, não precisa.

— Milena — Dudu interrompeu —, meu pai já está lá fora, se você quiser uma carona vai ter que ser agora.

— Ótimo — afirmou como se estivesse despertando de um sonho.

— E você André, onde mora?

— Na penha.

— Uau! Bem longe.

— Relaxa, eu vou de ônibus, até porque tenho algumas coisas para fazer.

— Tudo bem, amanhã a gente se vê.

— Tchau, André! — Milena acenou enquanto se adiantava junto com Dudu.

— Tchau. — Acenei para eles também, mas meu foco era somente em Milena, linda, doce e justa. Fazia tempo que uma mina não mexia tanto comigo, o pior era saber que eu mal a conhecia e que ela pertencia a um mundo que era o total oposto do meu.

Seria melhor eu desencanar logo disso.

Continuar lendo

Você deve gostar

Outros livros de Laís Olly

Ver Mais
Capítulo
Ler agora
Baixar livro