Milena Antunes é a filha única da família Antunes, que carrega grande peso na alta sociedade de Washington nos Estados Unidos, a empresa da família é responsável pelas revistas mais bem vendidas e lucráveis da década. Mas por um deslize na vida de festeira da herdeira da família, seus pais à prometem em casamento com um renomado dono de uma vinícola em uma cidade pequena de Connecticut, fazendo seus sonhos se desmancharem ao pensar em uma cidade pacata, cheia de lama e animais.
O relógio dedurava que já passavam das 02:00 da manhã. Se sentindo tonta e perdida, Milena cambaleou para fora da cama, na qual havia um estranho roncando ao seu lado e completamente nu. Não se lembrava de dormir com ele. Ela saiu na ponta do pé, deixando aquele quarto e aquele homem na qual do nome não se lembrava. Pelo menos estava vestida, pensou.
Quando daquela casa, pediu um táxi para lhe deixar em casa e, durante todo o caminho ficou pensando nas desculpas que daria para seus pais. Eles nunca gostaram que ela saísse muito, e quando completou seus 25 anos, surtaram pois não tinham mais como segurá-la. Milena hoje tem 27, prestes à completar 28 anos. Sua mãe, Amanda e seu pai, Richard, já tentaram lhe enfiar um anel 300 vezes, mas sem sucesso algum. Tudo o que menos queria era se prender a alguém, estava bem sozinha.
Após pagar o táxi, desceu segurando seus saltos, usava um vestido dourado bem colado ao corpo e seu cabelo estava uma perfeita bagunça castanho escuro. As chaves da casa, que de pequena não tinha nada, quase caíram de suas mãos trêmulas, estava escuro na rua e sem nenhum movimento sequer. Abriu a porta e a fechou, subindo as escadas na ponta do pé. Ao entrar em seu quarto, respirou aliviada e pegou duas mudas de seu pijama, uma blusa bizarra de um desenho animado que via quando criança mas que por algum motivo parou de ser exibido, uma calça também larga xadrez da cor vermelha, e suas amadas pantufas de joaninhas, é claro. Tomou um banho quente e relaxante, lavou os cabelos e os penteou enquanto a água escorria por seu corpo. Se enrolou na toalha e saiu. Mas quando saiu, se deparou com sua mãe sentada em sua cama com a feição séria, mas tinha um misto de tristeza ali.
- Ai, que susto, mãe! - Pôs as mãos ao peito.
- Eu iria perguntar se isso são horas para você estar chegando em casa, mas então me lembrei que você faz isso sempre. - Suspirou.
- Eu sei, desculpa. Eu não te acordei não, né? - Milena fez uma careta e a mãe negou com a cabeça.
- Eu estava te esperando.
- Mãe! Eu já falei para a senhora não ficar me esperando, é cansativo e você precisa descansar. - Indagou a filha, seguindo até a cama.
Pegou suas roupas e começou a vestir, mas a fala de sua mãe a fez paralisar por breves segundos.
- Eu sei, mas hoje foi necessário. O assunto é sério, querida.
- O que aconteceu? - Ela retirou os fios longos da parte interna da blusa, os colocando para fora.
A mãe deu um longo suspiro e Milena se sentou ao seu lado, apreensiva pelo mistério de Amanda.
- Seu pai deu o veredito, Lena. Ele está cansado dessa vida que você leva, decidiu que vai prometer sua mão para o filho de um sócio da empresa.
Ela queria rir, e talvez chorar um pouco, conseguiu do casamento algumas vezes, mas não sabia se poderia desta vez. Seu pai não é o tipo de homem que dá o pé atrás em uma decisão e ele não desistiria até concretizá-la.
Engolindo em seco, Lena se levantou devagar. Encarou a mãe e negou em câmera lenta com a cabeça, torcia para que Amanda estivesse brincando, ou apenas lhe dando mais algum sermão, preferia que fosse.
- Desculpe, Lena. Não consegui impedi-lo dessa vez. Ele não dá o braço a torcer e você sabe disso. Eu te avisei inúmeras vezes para você parar de ir em festas e voltar tarde da noite, mas você não me deu ouvidos.
- Tá bom, mas eu posso saber que homem é? Tipo, imagino que seja novo, não?
- Apenas alguns anos mais velho.
- Tipo quanto? Porque eu aposto que deve ter uns 60 anos.
- Não exagere, ele tem 38.
- Ótimo, um 40tão! - Respondeu irônica.
- Milena Antunes, seu pai está muito bravo. Ele quer te casar o mais rápido possível.
- Eu nem me surpreendo mais. Porém isso não quer dizer que eu concorde. Isso é um absurdo! Eu tenho o direito de me casar quando eu quiser e com quem eu quiser! - Bufou irritada.
- Eu sei e eu concordo com você, querida. Mas já fomos pacientes demais com você, Lena. Isso você tem que concordar. Está com 27 anos, logo logo assumirá a empresa...já deixamos você voar por tempo demais.
- Então agora querem me colocar em uma gaiola, é isso? - Sua voz estava baixa.
Milena já aceitou que esse será seu fim, na verdade, sempre soube. No mundo dos negócios e das famílias elitistas, não há espaço para decisões próprias, seus pais foram até que generosos demais por deixarem ela livre até a faixa dos 20, quase 30 anos fazendo o que bem quiser. Agora ela teria que amadurecer e ser aquela pessoa na qual ansiaram por tanto tempo, liderando a empresa, em roupas finas e ternos de grife, Milena Antunes teria que crescer e ser uma empreendedora e esposa. Era o seu destino, afinal.
- Tudo bem. Marque um encontro com o homem, primeiro quero conhecê-lo antes de trocarmos as alianças. Não quero festa nem cerimônia, não tenho ninguém para compartilhar esse momento e ele não é nada especial para mim. - Murmurou com a voz embargada.
- Está falando sério? Podemos marcar o casamento?
Ela podia ver o olhar de sua mãe, brilhava e reluzia. Talvez ela esteja fazendo a coisa certa.
- Sim. Agora, eu estou um pouco cansada...eu acho melhor ir dormir. - Disse em baixo tom.
- Certo, querida. Seu pai vai ficar muito feliz. Fez a coisa certa, Lena.
Ela se levantou e saiu do quarto, então Milena pode desabar sozinha. Chorou até sentir seus olhos arderem, queimarem em lágrimas que lhe pareciam fogo. Se agarrou ao seu cobertor felpudo e fechou os olhos para dormir.
De fato, a festa acabou.
Capítulo 1 A festa acabou
14/11/2022