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Capítulo

Manuela havia terminado um relacionamento de quase dez anos, pior forma possível. Não era novidade que dependia emocionalmente dele e talvez fosse por causa disso, que estava tão desesperada ao ponto de mendigar o amor dele. No entanto, durante uma festa em sua casa, manda um recado para o mesmo encontrá-la em seu quarto, não esperando que o homem que encontraria minutos depois em meio ao escuro, fosse o filho de seu padrasto, só descobrindo isso após o momento íntimo, causando um grande constrangimento. Um mês depois, este "erro" faz com que um teste de gravidez desse positivo.

Capítulo 1 1

Já sofreu por amor?

Acredito que a resposta seja: quem nunca, né?

Pois é, já perdi as contas de quantas vezes já sofri por amor.

Não sei bem quando comecei a sofrer por causa de outra pessoa, talvez na 4° série, quando me apaixonei por um asiático que nunca havia falado diretamente comigo e quando falava era tão gentil que, já foi o suficiente para ficar apaixonada.

Eu sei muito bem o quê irá dizer, que isso costumava acontecer nessa idade. Estava descobrindo o mundo, sentimentos que até então, nunca havia sentido e não sabia nem o que estava acontecendo.

É, você tem razão. Mas meu nível de paixão chegou ao ponto de um dia, após ele ter esquecido a toalhinha que usava para assoar o nariz, na sala de aula, e simplesmente eu pegar, acreditando que era o objeto mais precioso do mundo e guardar até o dia seguinte, aonde fiz questão de entregar pessoalmente e ouvir um simples obrigado.

Pelas próximas semanas, continuei apaixonada e achando ele o menino mais bonito do mundo. Até que... o esperado aconteceu e talvez seja por causa disso que eu odeio, com todas as minhas forças, festa junina e quadrilha.

Toda minha sala foi escalada para dançar e obviamente eu queria dançar com ele, mas o quê aconteceu? Minha professora, decidiu escolher a menina mais bonita da sala, sim, isso mesmo. Mas deve estar se perguntando aonde está o problema nisso, o problema é que ela era completamente o contrário de mim. Loira, cabelo comprido até o meio das costas e branca das bochechas rosadas.

O padrão da sociedade.

Por outro lado, eu era negra, meu cabelo não era padrão e ainda por cima, era um pouco mais cheinha e não chamava atenção de ninguém.

Mas também quem se apaixonaria por uma criança de dez anos?! Eu era uma criança! Mas enfim, não é sobre isso que quero falar agora, mas ao fato de que naquela época, não reconheci o racismo estampado bem na minha frente.

Eles dois ficavam lindos juntos, isto era óbvio. E eu, acabei dançando com um menino que no dia até faltou e precisei dançar com outro, no final da fila, enquanto os dois foram na frente, como os noivos que se casariam.

Essa foi minha primeira decepção amorosa e acredite, lembro de cada detalhe até hoje.

As que vieram, não deixaram de ser traumáticas. Pelo menos para mim. Eu sempre não era o padrão que estavam procurando ou meu nervosismo colocava tudo a perder.

O primeiro menino que se interessou por mim, ainda no fundamental, não era esses colírios, mas era o padrão que a sociedade procurava. Branco, olhos verdes e alto.

Tive um breve “relacionamento”, relacionamento este constituído em apenas pegar na mão e dar selinhos, parecia estarmos fazendo tudo de um relacionamento e eu me senti bem, notada, só que acabou tão de repente, que nem lembro do término, apenas sofri.

Mas não acabou por aí.

No ensino médio mesmo, fazia amizade com meninos com mais facilidade do que as meninas e tinha uma amizade em comum, que fiz assim que entrei na escola. Éramos inseparáveis, sempre depois da escola, íamos para casa um do outro e isso incluía os finais de semana.

Ele era filho único e simplesmente se apegou à mim e, me vi agradecida por isso. Entretanto, o que começou com uma simples amizade, começou a florescer algo a mais dentro de mim, um sentimento que crescia aos poucos, até que me vi apaixonada por ele e louca para compartilhar este sentimento.

Demorou mais do que eu pensei, mas quando tive coragem para dizer, ele meio que “tirou de tempo” e continuou a vida como se nada tivesse acontecido.

Mas aí você vem de novo e diz: Tá e o quê tem de tão trágico nisso?

Pouco tempo depois ele começou a namorar com uma menina. E acho que não preciso dizer, que ela era completamente diferente de mim. Isto me entristeceu e ao mesmo tempo me revoltou, ao ponto de querer separá-los. Se não fosse pouco, neste meio tempo, percebi uma certa “aproximação” com a minha melhor amiga, que era o desejo de consumo de todos os meninos da sala, que simplesmente babavam por ela.

Isto me deixou com mais raiva ainda e prometi a mim mesma que iria separá-los. E tentei de todas as formas possíveis, até perceber que eles estavam se distanciando, só que ele não estava se distanciando apenas dela, de alguma forma, ele também se irritou comigo, por estar fazendo aquele papel e também se afastou de mim.

Ficamos sem nos falar um bom tempo, algo que nunca tinha acontecido durante nosso tempo de amizade e foi horrível vê-lo sorrindo com outras pessoas, vivendo como se eu não fizesse falta.

Ele nunca namorou comigo, mas voltou a falar comigo depois de eu ir até ele, mas nunca entendeu bem meus motivos para querê-lo longe da minha amiga e bancar a psicopata.

Minhas decepções amorosas não terminam por aí, veio uma pior do que a outra, um baque mais dolorido que o outro, enquanto eu tentava me levantar e me fortalecer.

Aos poucos percebia que o quê era realmente um relacionamento, no que era baseado na cabeça dos homens e me perguntei quando chegaria minha vez, já que eu saberia lidar com meu namorado facilmente.

Pelo menos era o quê achava mas, não foi o quê aconteceu.

Ele chegou em minha vida quando eu não esperava, quando achei que ficaria velha sem namorar, sem ninguém me querer. Não me interessei de início por ele e não percebi qualquer segundas intenções, até que simplesmente um pedido de namoro surgiu e não pensei duas vezes na resposta, sem ao menos conhecê-lo direito ou saber se era para mim. ( Essa última parte não fazia sentido para mim, então não fiz muita questão).

O começo foi flores. Típica frase de início de namoro.

Ele me tratava muito bem e me sentia a mulher mais feliz do mundo, ao lado do melhor homem do mundo. Isto continuou até pouco mais de um mês de namoro, quando a pressão para perder a virgindade com ele ficou persistente, ele queria que fosse o primeiro, queria que eu compartilhasse este momento com ele e achando que era mais do que certo, já que namorávamos.

Aconteceu, e foi...estranho. Não foi prazeroso como via em livros, filmes e séries, foi desconfortável. A segunda vez também e a terceira vez nem se fale, depois de muita pesquisa, descobri que algumas meninas não perdem o hímen de imediato, ele vai se rompendo aos poucos e isto gera desconforto e dor. Foi o meu caso.

O sexo entre nós começou a ficar bom e comecei a achar que as coisas estavam bem novamente entre nós e, que nossa relação estava completa. Só que tudo indicava que não estava.

Rogério começou a ficar estranho comigo, sabe? Ele já não me tratava como antes, com todo aquele carinho, atenção...ele mal falava comigo, era sempre eu que ia atrás dele, que ligava, mandava mensagem ou ia procurá-lo na casa dele e sempre era recebida com um oi seco.

Foi em meio a este comportamento, que comecei a prestar atenção, dar atenção aos sinais que ele mesmo estava dando e foi em meio à isso, que descobri a primeira traição.

Acho que nunca sofri tanto na minha vida, como sofri naquele dia, me sentia enganada, manipulada e passada para trás e mesmo ele dizendo que ela não significava nada e que, havia caído na tentação, pois era homem, e seu instinto falava mais alto, eu me vi deixando para lá e mantendo o relacionamento. Não era justo terminar um relacionamento de dois anos e meio, por causa de uma traição idiota, um deslize que poderia acontecer até mesmo comigo, éramos humanos e não era dona dele, então...

Por mais um tempo, tudo parecia bem, parecia que tudo estava voltando ao normal. Ficou assim por uns seis meses mais ou menos, ou até menos, até que os sinais voltaram e descobri outra traição.

Dessa vez, me culpei, por não estar cuidando o tanto que eu queria de mim e dele. Minha vida estava uma correria e eu tentava equilibrar tudo e é claro, que Rogério estava sofrendo com a minha ausência a única forma de suprir isso, era com outra pessoa.

Concordamos que ficaríamos bem e que só era mais uma crise, que tiraríamos de letra e tiramos.

As traições continuaram, eu continuei me culpando e continuamos a superá-las, juntos. Já não conseguia viver sem Rogério e toda vez que tínhamos uma briga, sempre por minha causa, por quê não entendia que ele precisava de espaço, nem que tinha que sair com os amigos, ir em festas ou continuar a vida dele sem me ter sempre ao lado dele.

Não conseguia compreender isso. Não conseguia seguir essas regras que ele impunha em nosso relacionamento e que se aplicavam apenas à ele. Não me importava em não ir nos bailes, mas só queria ter ele mais presente.

Mesmo desse jeito, era feliz e não tinha do que reclamar. O quê Rogério fazia na minha ausência, não me importava, e mesmo que ficassem falando de mim toda vez que me viam, era comigo que ele estava e eu sabia que ele só estava passando por mais uma fase e que logo, tudo ficaria bem.

Com o passar do tempo, Rogério começou a mudar ainda mais. Seu comportamento se tornou agressivo, mais do que já era, ele já não fazia questão nenhuma em falar comigo e nem passávamos algum tempo juntos. Os boatos que tinha pela favela, era que ele não perdia um baile e que pegava geral, não se importava se eram comprometidas ou não, as vezes não precisava fazer esforço nenhum, já que elas faziam questão de se esfregar com ele.

Por causa disso, tivemos uma briga feia, após eu pegá-lo num beijo triplo e exigir explicações no meio do baile funk. Claro, ele odiou meu comportamento, mas quem não odiaria, não é? E acabou que ali mesmo ele pediu separação e eu não quis aceitar, não era justo, e me vi sofrendo por duas semanas inteiras até ir atrás dele, praticamente rastejando, pedindo para voltar e após ver meu sofrimento e compreender meu lado, ele voltou comigo, mas com algumas condições.

Nosso relacionamento entrou numa montanha russa, as vezes estávamos bem, as vezes do nada, nos separávamos. Tínhamos brigas feias com até agressões físicas e verbais, quando achávamos que não voltaríamos mais, eu não conseguia viver sem ele e ia atrás dele.

Não tinha como ele não fazer parte da minha vida. Havíamos sido feitos um para o outro, ele me completava e eu sentia que completava ele também, só que ele não estava num fase boa, talvez estava tendo problemas em alguma área da vida dele e não queria compartilhar comigo para não me preocupar.

Fazia tudo para compreendê-lo e sentia que estava fazendo um ótimo trabalho e, era por causa disso, que não iria desistir facilmente dele, iria continuar tentando, até nós dois não querermos mais e eu sabia que ele sempre iria me querer.

Deve ser por causa disso, que estou neste momento completamente desidratada de tanto chorar. Por querer tentar mais uma vez, por não querer, aceitar, que o quê tínhamos tinha que terminar.

Eu amava ele com todas as minhas forças, cada parte de mim, da minha alma, amava ele e o quê ele fazia em relação à isso? Duvidava. Achava que eu tinha outro, sendo que eu não tinha ninguém e começava uma discussão sem fundamento.

O motivo do término dessa vez, foi igual aos outros. Mas dessa vez, ele não se arrependeu por mais uma recaída e quis ficar com ela, no meio da festa e na frente de todos e, me tratou como um cachorro, talvez pior, e a única coisa que pude fazer, foi ir embora, após ele gritar para todo mundo ouvir, que não me queria mais e que era para parar de correr atrás dele.

Era a bebida falando, sabia disso. Também tinha esperança que quando ele ficasse sóbrio novamente, iria perceber o erro que havia cometido mas, na maioria das vezes, era eu que continuava a fingir que nada tinha acontecido.

Entretanto, ao tentar fazer isso na manhã seguinte, ele continuou mantendo as palavras ditas da noite passada, como se alguém tivesse feito a cabeça dele. E eu não duvidava disso.

Agora estou aqui, deitada na minha cama, no quarto todo escuro, há mais tempo que um ser humano conseguia ficar, fazendo greve de fome, me matando aos poucos, esperando que de alguma forma isso fizesse ele voltar atrás.

Não tinha ideia do que era preciso fazer para isso acontecer, já não o conhecia tão bem, era como se estivesse andando num campo minado e um passo em falso...bum! Colocaria tudo a perder. Pedir conselhos, também estava fora de cogitação, as pessoas que eu conhecia, iria dizer a mesma coisa de sempre: esquece esse cara, ele não te merece. Claro que ele merecia! Tínhamos uma história juntos! Quase dez anos de relacionamento, não eram dez dias, dez semanas ou...horas. Eram anos!

E eu não queria jogar tanto tempo fora, só por quê simplesmente estávamos tendo algumas desavenças, não estávamos mais nos conectando como antes. Todo casal brigava, se desentendia e isso era normal, e não era motivo para separação, não para mim e mesmo que ele me traísse com toda favela, não me importava, pois ainda tinha esperança que ele voltaria a ser o Rogério de antes e ainda iria dizer para todo mundo que superamos finalmente essa fase ruim.

Mas enquanto isso não acontecia, só conseguia sentir que me aprofundava numa tristeza sem fim, na qual não sabia como lidar. Nessas idas e vindas entre separações e reconciliações, já havia pensando inúmeras vezes em me matar, Rogério fazia isso comigo, apenas com a ideia de nunca mais fazer parte da minha vida, simplesmente me deixava para trás, enquanto ele continuava a viver a vida dele, em busca de um relacionamento melhor do que o nosso.

Ele era um homem atraente, é claro que iria logo estar em outro relacionamento e eu? Quem iria me querer? Quem iria me amar da mesma forma que ele me amava? Não conseguia pensar em uma única só pessoa, pois a maioria que se interessava, não chegava aos pés dele e eu não fazia questão de prestar atenção.

E eu não queria outra pessoa além dele.

Duas vezes já havia tentado tirar minha própria vida de formas que indolores, mas nenhuma das vezes foi eficaz e quando me dava conta de que ainda estava viva, sofria duplamente.

Mesmo estando à beira do desespero, ninguém se importava com isso. Nem a minha mãe, nem meu padrasto, muito menos as pessoas que diziam ser minhas amigas. Era como se esperasse, assim como eu, Rogério voltar para mim e tudo voltar a ficar novamente bem.

Pareciam não notar que dessa vez estava demorando demais e que se não fizesse nada o mais rápido possível, ele desapareceria de uma vez por todas da minha vida e me culparia para sempre.

Batidas fortes e altas na porta, me fazem parar de chorar e erguer um pouco a cabeça, imaginando por um instante que fosse Rogério, espero que a porta se abra, mas não abre.

- Tá chorando de novo?

- Cuida da sua vida, Pedro! - grito, deixando bem claro minha irritação comum com o filho do meu padrasto, que minha mãe queria que eu aceitasse a qualquer custo que devíamos nos tratar como irmãos.

Pedro Henrique na verdade, era uma pedra no meu sapato, isso sim.

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