Noiva por contrato - Bella mia(série: Destinos entrelaçados)
A proposta ousada do CEO
Minha querida, por favor, volte para mim
Um casamento arranjado
O retorno chocante da Madisyn
O caminho para seu coração
Um vínculo inquebrável de amor
O Romance com Meu Ex-marido
A Segunda Chance com Meu Amor Bilionário
Minha assistente, minha esposa misteriosa
Num fim de tarde ensolarado, saí para caminhar entre o pouco verde que restava naquela selva de pedra em que me encontrava aprisionada, sem nutrir expectativa de que algum dia poderia estar livre daquela cidade assim como ela era inteiramente livre de mim. Ali eu era apenas mais uma que nada tinha a acrescentar a um lugar com a arquitetura tão alicerçada, com conceitos formados e projetos correntes, movidos por seres que a sociedade intitulou como importantes.
Era verão, mas as chuvas que intercalaram com os dias de sol conservaram o verde intenso do parque na praça central. As pessoas caminhavam numa velocidade alarmante. Moviam-se como se nada mais acontecesse em sua volta. Desatentas, não notaram o senhor, sentado ao lado das hortênsias, lendo um jornal impresso em papéis frágeis (o que é raramente presenciado nesta era tecnológica).
Desconsideraram a casa inacabada do joão-de-barro, que provavelmente fora tragado pelos avanços das modernas construções.
Fazendo anotações mentais de tais minudencias, sentei-me para respirar um ar “puro” comprimido numa bolha circunvalada por poluição. A leveza absorvida era tão intensa que despertava em mim a vontade de chorar (não sei se havia acordado emotiva ou se simplesmente estar ali me lembrava de como era me sentir viva).
Levantei-me e caminhei para perto do lago, onde as árvores ganhavam dessemelhantes tamanhos e cores. Demorei-me admirando o contraste do azul-celeste e os verdes enérgicos dos grandes cedros. O meu cérebro conseguiu registrar com facilidade aquela inebriante paisagem. Recordei-me duma época em que eu acordava ao raiar do sol, antes das gotas sensíveis da neblina se desfazerem, para contemplar o meu lar, a minha paz e a vida feliz que tive a sorte de desfrutar um dia.
Alguns minutos, imersa em minhas próprias memórias, me distraíram das coisas que circulavam a minha volta e que se renovavam a cada instante. Antes de me retirar e retornar para minha insatisfatória realidade, percebi que uma multidão se formava perto do pacato lago central. Senti-me tentada a expectar o que se passava naquele recanto que ousava fingir ser meu, contudo, desisti rapidamente da absurda ideia. Diferente das pessoas que são atraídas pelos intensos movimentos ou por grandes agrupamentos de pessoas, ando desesperadamente na direção oposta. Pus-me, então, a caminhar de volta para as pistas barulhentas, em direção aos semáforos que ditavam o meu parar e o meu caminhar, rumo aos prédios que me impediam de absorver o azul ativo do céu.
Aquietei-me durante alguns minutos, esforçando-me para desprender o meu psicológico afetado por mais um dia ruidoso. As pessoas nas grandes cidades não sentem falta do silêncio porque nunca conviveram com ele, no entanto, eu lamentava não ter um lugar que rememorasse integralmente o meu sossego.
— Cloe?
Escutei alguém gritar o meu nome enquanto subia as pequenas escadas de uma charmosa vila (uma provável réplica de alguma cidade da Itália). Particularmente, já que havia se tornado imprescindível viver em uma cidade movimentada, preferiria ter uma casinha ali, todavia, não há como habitar um lugar tipicamente belo sem ter que pagar pelos seus altos custos.
— Oi. — Acenei, constrangida, sob alguns olhares curiosos na larga estrada de pedra.
— Jamais pensei que a encontraria tão rápido — o rapaz de cabelos escuros e olhos castanhos, disse.
— Desculpa, mas acredito que está havendo algum engano — sem conseguir encontrar alguma ligação passada com aquele rapaz, retruquei.
— Foi você quem estudou Artes plásticas na universidade de Putuma? — ele me perguntou olhando diretamente para o tablet.
— Sim — respondi desconfiada.
— Precisamos de você. — Ele respirou aliviado. — Quem precisa e por quê? — indaguei preocupada.
— Oh! Desculpe-me, sou Luigi Albuquerque, supervisor do Museu Becovitchi.
(Algumas coisas precisam ser explicadas, após essa última citação; e serão. Porém, não causarei uma interferência desnecessária neste diálogo decorrente).
— O que deseja senhor, Luigi? — Um pequeno sorriso, que refletia o meu nervosismo, surgiu no meu rosto pálido.
— Precisamos de alguém que conheça verdadeiramente grandes obras de artes para fazer um exímio trabalho de restauração. — Usando um lindo e impecável lenço de seda, ele enxugou as gotas minúsculas de suor que escorriam pelo rosto.
— Por que eu?
— Seu antigo professor a indicou como uma das melhores, inclusive ele acrescentou que nunca viu alguém com um olho tão singular para executar tal tarefa .
— Se sou tão boa quanto ele diz é porque o próprio me ensinou. Então, por que não o chamam?
— Ele está morto — o homem respondeu sem vestígios algum de empatia na voz.
— Oh! — foi tudo que consegui dizer.
Há exatos sete anos, vinha tentando encontrar um emprego que me possibilitasse fazer o que gostava. Não desejei voltar para a pequena cidade na qual cresci, e sempre que a perspectiva de regressar ao lugar que construí uma parte feliz da minha história permeava os meus pensamentos, dolorosamente a suprimia. Entretanto, estar numa cidade que você há anos odeia e ainda ter que conviver com pessoas desagradáveis e trabalhos desgastantes, te faz desejar absurdamente fugir. Se fosse apenas eu, talvez tivesse fugido, mas não pude tomar decisões intempestivas e precipitadas, pois havia outra vida dependendo inteiramente da minha. Portanto, por mais que detestasse trabalhar em um restaurante lotado por pessoas esnobes, preferia, a ter que trabalhar para os desígnios da “realeza” moderna.
— Sinto muito senhor, mas tenho um emprego que me deixa bastante ocupada durante todos os dias. — Retomei meus passos.
— Sim! Estamos cientes, mas creio que quando a senhora ouvir o que temos a lhe ofertar não declinará. — Ele se apressou em subir os degraus da pequena escada.
— Não tenho interesse em oferta alguma, senhor. — O encarei com frieza.
— A senhora está dizendo que se recusa a trabalhar para a família Becovitchi? — O rapaz, de estatura mediana, ergueu as sobrancelhas, assombrado.
— Exato. — Tentei não sorrir.
— Então, se é assim, sugiro que a senhora reavalie os seus conceitos, pois isto não é um serviço que pode ser recusado.
Duas coisas me deixaram irritada durante aquela absurda conversa: ele me chamar de senhora, sendo que eu era visivelmente mais nova que ele, e usar expressões como precisamos e estamos, visto que apenas ele estava parado a minha frente me impedindo de concluir o meu curso.
— Que mandem decepar a minha cabeça em praça pública, então — esbravejei (embora tivesse plena consciência que séculos haviam se passado em que o governo aboliu tal ato deplorável de punição).
— Sugiro que a senhora reflita bem em tudo que está em jogo aqui. Amanhã aguardo ter notícias suas. Esse é o meu número, ligue-me o mais rápido possível. — Ele me entregou um cartão com um enorme B em destaque (a marca da família mais estimada da cidade de Putuma) e foi embora levando consigo o seu tom ameaçador.
Continuei minha andança a caminho de casa tentando digerir o que aquelas últimas palavras deviam significar para mim. Refleti sobre todas as grandes percas que o egocentrismo de um dos maiores investidores do estado e os seus associados já haviam me causado. Ainda assim, perdi-me nos meus próprios questionamentos: eles podem me ferir ainda mais?
— Mamãe — escutei o verdadeiro som da alegria ecoando da pequena casinha, no fim de um corredor apertado.
— Minha menina, minha doce e pequenina menina. — Abaixei-me e trouxe em meus braços aquela linda criaturinha de cabelos avermelhados. — Diga-me que foi boazinha e não deu trabalho a Maria — sorri para a minha simpática vizinha que durante o dia cuidava da Belinda por uma quantia razoável.
— Ela é uma boa menina, não me dá nenhum trabalho — a boa senhora falou, antes de se despedir, depositando um beijo nas bochechas rosadas de Belinda.
O meu tesouro mais estimado me encarou com os olhinhos cansados e disse:
— Mamãe senti tanta saudade sua hoje.
Aquilo me corroeu por dentro como ácido sobre o alumínio. Não que ela já não houvesse expressado tal sentimento outras vezes. No entanto, sempre vai haver dias em que a nossa melancolia independa das palavras ou das ações dos outros. Eu havia acordado assim, triste e pensativa e tudo a minha volta parecia ainda mais longe, mais sofrido, mais doído. Depositei naquele dia uma porção exagerada de sentimentos atrelados a tudo e a todos que passaram em meu caminho. Ter a minha menina aconchegada em meu colo só acentuou todo aquele mar de emoções sacolejando dentro de mim.
Para piorar, antes que pudesse narrar um conto feliz para Belinda, o meu celular tocou, despertando-me dos pensamentos que estavam sendo confabulados para se converterem em estórias infantis.
— Só queria lembrá-la senhora, caso ainda não tenha se dado conta, que embora não possa ter sua cabeça decepada como espetáculo teatral, sua amada e ingênua filha pode ser eventualmente convidada a frequentar um internato e suas visitas se limitarem a duas por ano — ele desligou sem me dar a oportunidade de indagar como havia conseguido o meu número.
Estática, olhando a foto na tela do meu celular, percebi que estava enganada, havia algo que poderia ser arrancado de mim, causando uma dor ainda mais esmagadora que a primeira. Jamais permitiria que tal coisa monstruosa acontecesse, afinal, a minha pequena menina se tornou o clarear dos meus dias escuros e a força oculta que me impele a batalhar todos os dias em um mundo dominado pela falta de altruísmo. Cogitei refugiar-me em outro lugar, distante e isolado. Isso poderia nos proteger momentaneamente, mas tinha plena certeza que a recusa em prestar os meus serviços para uma família tão poderosa e influente colocaria em perigo o meu bem mais valioso. Com os pensamentos a me atormentar, deitei à noite com a convicção de que os meus princípios seriam violados e as minhas promessas esmigalhadas.
Aceitar qualquer serviço diretamente ligado ao maior executivo de uma enorme capital, fazia o meu caráter estilhaçar, entretanto, não havia como alterar absolutamente nada. Aceitei e senti o peso da traição recaindo sobre meus ombros, ferindo-me o coração.
— Senhora Cloe, fico feliz que tenha vindo me encontrar tão cedo — cinicamente o homem, cujo o nome me recuso a pronunciar, sentou-se ao meu lado numa cafeteria pequena, próxima a charmosa vila.
— O que exatamente devo fazer e quando devo começar? — perguntei ignorando todos os bons modos que um dia fui ensinada a exercer.
— A senhora começará semana que vem. Até lá, os seus pertences serão levados para a casa dos Becovitchis e você permanecerá ali até ter concluído o seu trabalho.
— Posso muito bem realizar o meu trabalho durante o dia e retornar para casa à noite, como faço no meu atual emprego — raciocinei.
— Infelizmente, o seu trabalho atual não estar relacionado aos pertences da família mais conceituada do nosso estado, portanto, é imprescindível que a senhora permaneça sobre constante vigilância até terminá-lo. — Ele tomou um pouco de café e observou atentamente os meus olhos.
— Quanto a Belinda? — Senti o meu coração acelerar.
— Poderá levá-la consigo, desde que garanta que ela não sairá dos seus aposentos.
— Certamente o senhor não tem filhos, pior ainda, desconhece as crianças — falei com ironia.
— Um carro virá amanhã buscá-las, por favor, leve apenas o essencial. Todas as suas necessidades serão devidamente supridas enquanto permanecer desenvolvendo o seu trabalho. — Ele se levantou e partiu.
Tudo o que havia desejado, no dia anterior aquela conversa, foi não ficar presa a um lugar que nunca poderia fazer parte de mim. Antes não houvesse desejado, pois, naquele momento, pressenti que seria aprisionada no epicentro dum ambiente que nunca almejei pertencer.
O sono não me acompanhou à noite, as inquietações apoderaram-se do meu peito o tornando mais dela do que meu. A grande fenda que se rompeu em minha rotina chata e barulhenta não me arremessou em um mundo cercado por encantos. O meu maior temor era que aquele buraco de profundezas alarmantes, no qual fui lançada, não me permitisse que encontrar um seguro caminho de volta.
Respirei profundamente e contemplei, aninhada em meus braços, a minha pedra preciosa. Era por Belinda que eu arreceava tanto o futuro. Era por ela que escolhia me entregar a um sistema corrompido por suas próprias leis, pois sem ela, eu não existiria, sem ela a tristeza teria me tragado a ponto de não haver razões reais para lutar. Possivelmente teria optado por fechar os olhos sem a intrusão dos sonhos criando expectativas ruídas em mim ou sem os pesadelos concluindo a demolição das ruínas que um dia foram grandes estruturas.
Infelizmente, independente dos destroços internos, o tempo não para e suas horas nupérrimas não acalentam a alma.
Foi sentindo esse dissabor interno que o dia seguinte aquela ordem arbitrária despencou totalmente sobre mim trazendo as tristes dubiezes da vida, e junto com elas surgiram algumas batidas suaves na porta.
Assustei-me imaginando ser a possível criatura que viria ao meu encontro a fim de me levar “cativa”. Todavia, ao abrir a porta fui subitamente surpreendida com a atitude do desconhecido que estava em pé a minha espera. Ele se atirou para dentro da pequena sala e segurou firmemente a minha boca para que eu não gritasse.
— Não lhe farei mal algum, peço apenas que me escute — ele sussurrou.
Assenti lentamente, pois tendo em vista o tamanho dele e vendo claramente os seus fortes braços, nada poderia fazer se ele tencionasse me prejudicar.
— Chamo-me Vicente Mason e, sim, sou filho de Eduard Mason. — Ele retirou lentamente a mão da minha boca.
Aquela pequena frase foi suficiente para que eu desejasse escutá-lo sem precisar emitir gritos que ecoariam velozmente na comprimida viela.
— O que faz aqui? — indaguei aturdida.
— Preciso compartilhar algo com você antes que comece o seu serviço. — Ele fixou sua atenção em Belinda que ainda dormia profundamente na nossa pequena cama.
— Como sabe que iniciarei um novo serviço? — Tentei não me apavorar.
— Não há tempo para longas explicações agora, apenas necessito que confie em mim. Sei que conheceu meu pai o suficiente para testificar que ele era um bom homem, espero que, por enquanto, isso baste para acreditar que também sou — ele clamou com os olhos tão intensamente quanto fez com as palavras.
— Certamente o seu pai era um bom homem e lamento que tenha morrido. O que houve? — Lembrei-me que não fui informada a causa da morte.
— Por isso que estou aqui, desejo que você possa me ajudar a descobrir.
Assimilar aquelas palavras não foi algo fácil, ainda mais, tendo tantas perguntas borbulhando em minha mente, por exemplo: como ele sabia quem eu era e onde morava? Como ele descobriu que fui contratada para trabalhar para os Becovitchis? Por que nunca soube que Eduard tinha um filho?
— Sei que você tem muitas perguntas, mas sinto que não poderei responder todas agora, logo chegarão aqui e eu não posso ser visto ao seu lado. Escrevi uma carta contendo algumas explicações, nela está escrito tudo o que precisa saber inicialmente. Os celulares na casa são monitorados, então, não haverá como nos comunicarmos desta forma. — Ele me entregou o envelope.
— Se não conseguir encontrar uma forma de lhe contatar? — perguntei, me envolvendo em uma trama que nem sabia dos pormenores.
— Não se preocupe quanto a isso, encontrarei uma maneira de entrar em contato com você. Agora ouça-me: não confie em ninguém.
Sua voz era tão grave e sua presença tão grandiosa que me vi tentando entender o que um homem tão imponente fazia em minha casa, suplicando a minha ajuda. Porém, antes que novos pensamentos ganhassem forma, o barulho de pesados passos nos assustou. Quando novas batidas surgiram em minha porta, sinalizei para que ele se escondesse no estreito banheiro. Apressei-me em atender sem demonstrar o quão confusa estava com tantas informações aquebrantadas de explicações sensatas.
— Bom dia! — Sorri sem compreender porque estava a rir para um estranho.
— Senhora, fui incumbido de ajudá-la com os seus pertences e levá-la até a sua hospedagem. — O senhor, de aspecto ciclópico, apontou para o início da rua, onde precisou estacionar o carro.
— Tudo bem! — respondi ansiosa. — Tenho poucas coisas, mas agradeceria se o senhor pudesse levar a mala e retornasse para ajudar carregar a minha filha que ainda está dormindo. — Apontei para Belinda.
A rápida caminhada que o grandalhão fez até o carro não foi suficiente para eu recolher outros informes. Ainda assim, tentei avaliar um pouco mais aquele estranho que se apresentou a mim com um desmedido desespero e que solicitou minha ajuda como se isso fosse a única coisa que pudesse salvá-lo.
Ele estava desesperado para que eu concordasse em ajudar, isso ficou evidente no seu tom de voz, entretanto, as suas feições eram tranquilas e calmas como se por dentro ele fosse um poço de paz que transbordava com simplicidade. Estranhamente ele segurou uma das minhas mãos antes que eu partisse e disse: