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Capítulo

As irmãs Júlia e Janet Jackson finalmente conseguem fugir de seu cativeiro, onde foram mantidas por três anos e estão sob os cuidados do investigador Bertiolli Matarazzo. O que elas não esperavam é que seu sequestrador e dono de uma máfia ainda as persegue por saberem muito sobre seus negócios, o colocando em risco. Para conseguir sua liberdade, as irmãs terão que colocar muito em risco. Uma história cheia de segredos, mistério, ação e romance.

Capítulo 1 A fuga.

As duas garotas corriam furtivas desesperadamente pelas ruas daquele desconhecido lugar, a fim de uma salvação, sem saber seu paradeiro, desde que foram trazidas. Estavam sendo perseguidas e corriam apressadamente a fim de despistar o homem que vinha logo atrás, ao seu encalço. Depois de anos de tentativas, haviam acabado de fugir do grande cativeiro em que foram mantidas para ser escravizadas e não estavam dispostas a se deixarem ser pegas novamente.

Sua respiração estava ofegante, os pulmões pareciam que a qualquer momento saltariam pela boca, queimavam incessantemente dentro de seu peito, enquanto esticava ao máximo suas pernas para fugir do homem logo atrás. Júlia sabia que se continuasse no mesmo ritmo, o grandalhão as alcançaria, pois nem de longe, seu porte poderia ser superado por duas garotas com o porte muito abaixo, se comparadas ao segurança. Tinha que fazer algo para que o segurança de Enzo não conseguisse colocar suas mãos nas duas novamente, tentaria ao menos salvar a irmã mais nova daquele pesadelo, pelo menos uma teria que escapar. Com a ideia repentina que sobrevoou sua mente, apressou ainda mais o passo, tomando um pouco de distância de Janet, sentia que a qualquer momento seus membros poderiam não mais obedecer aos comandos do cérebro, a exaustão quase a vencia, mas desistir não era uma opção. Nunca imaginaram que um dia iriam conseguir fugir daquele lugar horrendo onde sempre viviam trancadas sem poder ver a luz do sol, apesar de já terem tentado outras vezes, mas sempre ao fracasso. Agora era diferente.

Eles usavam o corpo da irmã mais velha para serviços sexuais obrigatórios, enquanto a mantinha sob o efeito de drogas fortes todas as noites. Elas ficaram mantidas em uma boate clandestina, onde apenas os piores criminosos e mafiosos tinham conhecimento do tráfico humano que acontecia ali e podiam ter acesso ao corpo das meninas enquanto os clientes comuns se divertiam com as dançarinas do salão.

Se sentia desesperadamente no encargo de despistar sua irmã mais nova da atenção do perseguidor e deixar a atenção voltada apenas para ela, aproveitou então a distração de Janet, vendo uma rua adicional à direita e virou agilmente, enquanto a outra prosseguiu em uma rua totalmente deserta e vazia, sozinha. Diminuiu os passos após a curva, esperando ver o tal segurança, olhando para trás com seus olhos que quase saltavam das órbitas. Os pulmões ardiam como se tivesse engolido água e a mesma descesse pelos caminhos errados. Seu plano deu certo, ele veio em sua direção, esquecendo de sua irmã. O careca também diminuiu seus passos, soltando um sorriso vitorioso e sarcástico.

— Não pode escapar, lindinha.— Ele riu.— O chefe disse que você é prioridade e não posso o desapontar.— Respirou fundo.— Não é nada pessoal, mas é você ou eu.

No mesmo instante, Júlia tentou voltar a correr, mas o homem estava perto o suficiente para a impedir de tal ato, dando tempo apenas para dar-lhe suas costas. A agarrou por trás caindo em cima da garota magricela, que sentiu a dor de ter um peso excessivo colidindo contra o seu no chão. Sem pensar muito, ela logo se debatia e tentava o acertar para sair do aperto de seus asquerosos braços. Sempre que um deles a tocava, sentia descontrolado repúdio. Mãos masculinas para Júlia se tornou a coisa mais asquerosa de todas, ela repugnava tudo o que vinha deles, até mesmo suas vozes se tornaram desprezíveis. Ter sua vida e inocência roubadas por mãos como estas causou grande estragos na mente e coração da garota.

Felizmente sua irmã não passou pelo mesmo, pois sua Janet foi mantida virgem, eles a queriam vender em um leilão clandestino de virgens que conseguiram sequestrar, este tal leilão estava perto de acontecer e por este motivo a fuga foi tão bem planejada. Júlia também era virgem quando fora sequestrada, mas Enzo dizia ter se encantado por sua beleza e a forçou a ter sua primeira vez entregue nas mãos do parasita mafioso. Júlia continuou gritando e se debatendo, querendo dificultar o trabalho do homem para a levar de volta ao cativeiro. Era quase impossível fazer com que o homem não a levasse com muita facilidade, devido a grande força que se sobrepunha a ela. Conseguiu a virar para si, dando-lhe seu olhar mais sério e perverso, quase não lhe dando chances de resistência.

Júlia olhou em todas as direções, procurando algo que a pudesse fazer se proteger enquanto tentava lutar contra a imensa força que já conseguia êxito, vendo ao seu lado, quase como uma esperança em sua mente, uma pedra grande e suficientemente pesada para algo que não teria volta. Ela iria o matar para salvar a própria pele e tinha apenas uma fração de segundos para isso, até que fosse arrebatada do chão e levada sem pestanejos. Em um ato rápido e quase impensado, pegou o objeto em sua mão, redirecionando a mira certeira na cabeça do homem que estava próxima ao pescoço da garota, apenas um pouco mais alta. Com o impacto da pedra contra sua testa, o homem a soltou, gemendo alto pela dor que sentia onde fora atingido, levando uma das mãos ali. Antes que pudesse ter qualquer reação, Júlia se ajeitou, de modo que ficasse perto o suficiente e, ainda com o objeto na mão, o golpeou mais uma vez, ainda mais forte do que antes. Todas as vezes que ele a agrediu a mando de Enzo e a dopou para que seu chefe a usasse da pior maneira, tudo isso passou em sua cabeça, ela sentiu seu estômago enrolar-se como cobra dentro de si mesma dando-lhe ainda mais coragem para findar a vida de alguém. Cuspiu na face do homem jogado ao chão, ainda desnorteado pelos golpes, mas não desacordado, sentindo repulsa total e aversão, se lembrando das palavras que ele havia dito pouco antes de se atracarem naquela rua.

— Sinto muito por isso, não é nada pessoal, mas é você ou eu!

Com todas as lembranças em sua mente a garota levantou mais uma vez o objeto, redirecionando desta vez na fonte ao lado do olho esquerdo do homem, golpeando com todas as forças que lhe restaram, por repetidas vezes. Mesmo vendo o rosto deformado e sem vida, não conseguiu parar, era mais forte do que ela, descontava todos os anos de tortura naquele que estava em baixo de seu corpo. Seu corpo esguio não foi desculpa para vencer o tal grandalhão. Com todas as suas forças desferia os golpes, sem senntir pena, nem piedade, ao contrário, ela sentia-se extasiada por tais atos.

Um delinquente a menos no mundo, pensou.

Cada pedrada era por tudo o que sofreu nos anos de cárcere privado, suas roupas e a rua ao redor dos dois estavam completamente banhados de sangue, mas Julia se sentia anestesiada para desesperar-se com o sangue de alguém que agora estava em suas mãos, depositou vários golpes desferidos apenas na cabeça do homem e então, quando ela sentiu sua mão finalmente doer por tantos golpes, parou encarando o corpo já sem vida. Não estava preocupada sequer com os machucados que isso lhe causou nas mãos. Sorriu. Era prazeroso o ver sem vida e saber que não faria mais mal a ninguém. Porém, também sabia que a partir daquele momento iria ter que viver sua vida fugindo da máfia, pois aquele que havia acabado de matar não era o único, haviam muito mais como ele e Enzo não a deixaria em paz nunca mais, aquele italiano imundo a queria de qualquer maneira. Antes de deixar o corpo, ela enfiou as mãos no bolso do cadáver, encontrando sua carteira, abrindo-a e furtando o pouco dinheiro que o idiota carregava.

Se levantou jogando a pedra ao lado do corpo inerte e ensanguentado e saiu caminhando na direção por onde sua irmã seguiu caminho, agora tinha que a encontrar. Aquilo para a máfia era apenas um aviso, ela faria muito mais com quem tentasse chegar perto dela ou de sua irmã, principalmente para o chefe de tudo aquilo, a inocência acabou, os medos foram deixados junto ao cadáver, agora Júlia era capaz de tudo para salvar o que mais amava, sua única família, Janet. Momentaneamente ficou na tarefa de encontrar sua irmã, que seguiu caminho reto pela rua.

...

Janet a abraçou, não se importando com o vestido extremamente curto da irmã e parte de seu corpo estarem cheios de sangue, ela apenas queria se sentir segura como sempre sentia quando a mais velha a abraçava. Júlia garantiria que Janet não passaria pelo que ela passou dentro daquele cruel cativeiro, não deixaria sua irmã ser tocada por mãos que não fossem aprovadas por ela mesma, não merecia a violação de seu corpo e alma. Janet fechou os olhos sentido os braços daquela que sempre amou rodear-lhe o corpo e sorriu. Depois que se separaram, Janet percebeu imediatamente, mas não fora atrás da irma, pois sabia que fazia parte de um plano repentino da mais velha e apenas encarregou-se de se proteger, então se escondeu em um beco qualquer e a esperou, tendo a confiança que sua irmã iria voltar para a encontrar. Júlia nunca desapontou Janet quando o assunto era proteção.

— Está tudo bem, Janet. Ele não vai mais nos fazer mal.

Janet olhou para sua irmã sorrindo enquanto Júlia olhava para todos os lados dentro daquela lanchonete, temendo estar sendo perseguida, Enzo era muito poderoso e Júlia sabia disso. Mal se importava com olhar dos pouquíssimos clientes que estavam sentados ao redor, provavelmente se perguntando o que duas garotas sujas e suadas, enquanto uma delas ensanguentada, estavam fazendo ali, ela mal percebeu quando um dos atendentes ligou para a polícia discretamente.

As duas andaram quilômetros durante a madrugada, se afastando do lugar de onde fugiram, encontrando por acaso a tal lanchonete de beira de estrada pela manhã, usufruindo do pouco dinheiro do cadáver para matarem sua fome com dois hambúrgueres e um refrigerante.

Julia nunca deixou que nada acontecesse a sua irmã mais nova, todo o sofrimento fora ela quem sofreu sozinha sendo usada por Enzo e aproveitando-se da suposta paixão que ele tinha para proteger a mais nova, incitando-o a não deixar tocarem em Janet. Ela implorava para que ele não deixasse sua irmã passar pelo que passava e assim ela "pagava" pelas duas, quando Enzo concordou a sua vida piorou ainda mais, mas era necessário, pois além ser usada várias vezes ao dia, ela também era drogada e agredida pelo mafioso. Seus capangas também ousavam bater em Júlia, mas Enzo havia deixado claro que Júlia só poderia ser usada por ele. Prometeu a sua mãe que cuidaria de sua irmã quando a responsável da família não estivesse mais presente, elas era felizes as três, até o sequestro acontecer. Suspirou afastando aqueles pensamentos de sua mente e se concentrou em olhar para os lados e ver se havia alguém as vigiando. Se sentia vigiada, mas não conseguia achar ninguém suspeito, eram apenas os clientes espantados pela quantidade de sangue em seu corpo. Júlia sequer tocou no sanduíche por tamanha preocupação, seus olhos passavam por todo o local, até que escutou Janet dizer:

— Júlia.— sussurrou, inclinando o corpo para a irmã a sua frente.— Você escutou o que acabei de dizer?

A mais velha percebeu que havia estado tempo demais perdida em seus pensamentos. Colocou-se mais em alerta, atentando-se ao olhar preocupado de sua irmã que, ora a encarava, ora desviava o olhar para o fundo da lanchonete. Os pelos de todo o seu corpo se arrepiaram por perceber o perigo.

— Fale, Janet.

— No fundo da lanchonete, em uma das últimas mesas. Tem um homem que não para de me encarar...— De repente os olhos da menina arregalaram-se.— Ele... Ele se levantou e está vindo.

— Vamos sair daqui, agora!

Janet e Júlia se levantaram rapidamente, recebendo ainda mais olhares dos demais, tinham a intenção de correr para longe do estranho que as encarava, mas era tarde de mais. Júlia podia sentir as costas queimarem sob o olhar do homem misterioso, mas não iria olhar em sua direção para não deixar mais suspeitas, elas se encaminharam para a saída. Um homem alto, de terno preto as bloqueou de passar pela porta, aparecendo quase que subitamente em sua frente com a expressão séria e os braços cruzados, o homem mais parecia um investigador, ainda assim lhes causava medo.

Júlia sentiu suas pernas tremerem, não queria voltar ao lugar imundo onde era mantida em cárcere. Agarrou a faca ao seu lado, adquirida em um momento de distração do atendente que lhe trouxe seus pedidos. Assim como matou o homem que a perseguiu, mataria também este se tentasse algo contra elas. Júlia então se arriscou a olhar na direção daquele que as observava desde o momento que as viu entrar na lanchonete, era uma coincidência e tanto, pensou o homem.

Ao encará-lo, Júlia não deixou de perceber sua bela feição, mas o sexo oposto a causava horror em toda a sua extensão, por esse motivo passou a desprezá-lo no mesmo instante. Bertiolli Matarazzo, era, nada mais, nada menos que um investigador particular que, coincidentemente fora contratado para investigar sobre o desaparecimento das irmãs Jackson e ainda estava cuidando do caso das duas que foram sequestradas em outro país e vistas pela última vez logo após o sequestro, há três anos na Itália. Quando as viu entrando por aquela porta, não pôde acreditar, seu caso havia caído diretamente em suas mãos tão facilmente e não esperou para imediatamente ligar para seus homens e pedir reforços, pois sabia que haveria relutância para tirar as duas dali e as manter sob sua proteção.

Para a felicidade dele e infelicidade de Júlia, Bertiolli tinha reflexos e antes que ela tentasse o atacar, percebeu a mão da garota na cintura e imaginou que algo nada bom poderia vir dali, segurando seu braço no mesmo instante. Ela se desesperou e tentou se soltar, mas ele era muito forte. Sentindo a repulsa por seu toque, Júlia pensou estar em perigo e faria de tudo para que sua irmã fosse a primeira a estar a salvo. Mirou um soco no rosto do investigador, mas ele tinha bons instintos e segurou seu punho na altura de seu rosto, pensando que a mulher em sua frente era bem habilidosa e poderia dar trabalho para ser convencida de que o lugar mais seguro no momento era estar ao seu lado.

— Janet! Foge!

Júlia bradou para a irmã assim que seus golpes foram impedidos. Se quisessem levar alguém, que fosse apenas ela e que sua irmã finalmente ficasse livre e à salvo das garras de Enzo que a puniria com Janet pela fuga, Júlia sabia que sim.

— Não faça isso, Janet Jackson.

Em um ato rápido, Bertiolli conseguiu a virar e imobilizar por trás, impedindo seus movimentos, ela fazia de tudo para se soltar, mas parecia impossível com a força que ele possuía. Janet se via sem saída, havia um homem parado na porta bloqueando sua passagem, enquanto o outro segurava sua irmã.

— Eu não vou sem você, Júlia.

A garota olhava o esforço da irmã e tentou a ajudar dando alguns passos em sua direção, mas logo foi segurada pelo homem que anteriormente estava na porta, que não precisou de muito esforço para segurar a delicada Janet. Todos na lanchonete olhavam aquela cena espantados, Bertiolli sabia que logo a polícia estaria no local e precisava retirar as duas em segurança antes que os policiais tomassem posse das duas, ele iria mostrar seu distintivo antes que alguém desconfiasse. A garota sob sua posse se mantinha inquieta, na tentativa de se livrar do toque de Bertiolli, impedindo seus planos de não levantar suspeitas.

— Júlia, eu preciso que se acalme.

Neste momento seu coração falhou uma batida, ela estava espantada, pois o homem sabia o nome de ambas as garotas. Nada tirava de sua mente que era enviado de Enzo e isso fez sua espinha se arrepiar grandiosamente. Com muito esforço, se desvencilhou bruscamente de seus braços e se virou para o homem, parecia certo do que estava fazendo.

— Como sabe quem somos? Quem o enviou?

Com a está deixa, tirou seu distintivo para fora, mostrando não só para Júlia, mas para todos que ali se encontravam, rodeando-o aos olhos de todos. Ele era um investigador, era como um policial. Ela por um momento se sentiu aliviada, mas imaginou que aquilo poderia ser uma mentira para levá-las de volta ao lugar onde eram mantidas em cativeiro, afinal, existiam maneiras de falsificar documentos, então por que não falsificar um distintivo?

— Bertiolli Matarazzo, sou investigador.— Encarou-a.— Eu venho investigando seu caso desde que foram sequestradas, não sou um inimigo.

— Não confio em você.

Então ela se virou para sair, mas o homem que acompanhava Bertiolli segurou seu braço, a fazendo lançar-lhe um olhar mortal. Bertiolli apenas acenou com a cabeça para que o homem soltasse as duas, pois queria sair logo daquele alvoroço que se tornou o estabelecimento de beira de estrada, talvez fosse por isso que a polícia ainda não havia chegado. Janet foi logo depois de sua irmã a seguindo, se sentiam confusas, não poderiam confiar em ninguém, Júlia sabia que Enzo tinha homens até dentro da polícia, ele mesmo alegava que se um dia tentasse fugir, até mesmo a lei estaria ao lado do mafioso. Como acreditar em qualquer um que dizia ser policial quando passaram por situações como aquelas?

Júlia saiu da lanchonete buscando por ar e por uma maneira de tentar fugir de Bertiolli. Cruzou os braços ao sentir o frio da manhã em algum lugar na Itália, ela sequer sabia a cidade onde se encontrava, a única coisa que sabia era o país que se encontrava. Respirou fundo olhando de um lado para outro, pessoas falavam em italiano enquanto saiam da lanchonete e entravam em seus carros e outras chegavam. A lanchonete se localizava exatamente em uma estrada bem afastada, mas ainda podia ver ao longe algumas construções, indicando civilização há alguns quilômetros de distância.

— Senhoritas Jackson, vocês vão ter que vir comigo querendo ou não.

Sentiu ódio ao ouvir a voz rouca e masculina ecoar em seus ouvidos falando na língua nativa das irmãs. Ele também saiu da lanchonete. Júlia respirou fundo sentindo seu sangue ferver.

— O que quer comigo?— Indagou se virando para ele.— Como posso saber que não trabalha para Enzo Rafaello?

— Quero apenas proteger vocês!— Cruzou os braços usando o mesmo tom.— Precisam confiar em mim, minha intenção é apenas ajudar.

— Não precisamos da sua ajuda, policial!

— Sabe que precisam. Já lidei com gente como Enzo e acredite, vocês podem estar sendo observadas nesse momento. Ele pode estar mirando uma arma em sua cabeça, prestes a disparar. Não é seguro que fiquem sozinhas em um país dominado por esse mafioso.

Bufou, realmente precisava da ajuda do investigador, ele era o único que falava sua língua nativa e provavelmente conhecia muito bem a cidade. Ainda sem encará-lo, Júlia travava uma luta entre confiar no desconhecido ou arriscar e morrer em menos de dois dias, pois Enzo jamais a deixaria viva e solta por aí, ela sabia demais sobre seus negócios, o mafioso poderia apostar em queima de arquivo ao invés de simplesmente a trazer de volta. Bertiolli a encarou vitorioso, pois sabia que não haveriam argumentos contra os fatos que lhe impôs, era sua única chance de sobrevivência, ela teria que confiar nele, ou morreria.

— Não vou as forçar a vir comigo, mas se não vierem, vão estar novamente nas mãos daquele criminosos ainda hoje.

Seguiu até seu carro que estava bem próximo a eles abrindo a porta de trás e olhando para as duas, sugerindo silenciosamente que entrassem no carro e confiassem em suas palavras, era o único jeito. Júlia, de braços cruzados, finalmente olhou para o homem que agora a fitava pacificamente com desdém, como se estivesse ganhado a Guerra Mundial. Sua vida estava nas mãos do investigador, ela sabia que não chegaria muito longe sozinha e ainda tinha a sua irmã, a quem zelava tanto.

Apenas essa batalha, investigador... Apenas esta batalha.

Caminhou receosa em sua direção, afinal havia sofrido muito nas mãos dos homens, apesar de não estar totalmente consciente, pois se estivesse, ninguém a conseguiria domar assim como nunca conseguiram em sua plena consciência. Júlia sempre era dopada a força e quando se recobrava já haviam feito dela o que queriam, na verdade o chefe havia feito o que queria, afinal, ele era o único que a tocava por considera-la a queridinha, no entanto, mesmo sob os efeitos de muitas drogas, ela ainda se lembrava de cada detalhe que o asqueroso chefe da máfia cometia com ela.

O ato do investigador não fez com que a mulher o excluísse da lista de todos os homens que odiava, pelo contrário, o odiava ainda mais por ter demorado tanto a encontrar as duas, ela teve que lutar sozinha para conseguir sua liberdade e se estava momentaneamente concordando em ir com ele, era porque não queria a perder novamente. Janet a seguiu, segurando no braço da irmã assim que se aproximaram do carro. Júlia encarou-a, percebendo seu medo, o olhar da menina entregava tamanho receio. Ela sorriu para a mais nova, acariciando seu fino rosto e a incentivou com o olhar.

Entrou no carro e em seguida sua irmã, Bertiolli fechou a porta e deu a volta entrando no carro e seu amigo e ajudante se sentou no banco do carona, ligou o veículo, dando partida para fora dali. Sabia que estavam correndo muito perigo, elas estavam sendo procuradas por todos os cantos, a esta hora Enzo Rafaello estava furioso por ter perdido a garota por quem teve algo próximo a um sentimento verdadeiro e sua irmã, a peça mais cara e a mais esperada de seu leilão de virgens.

Bertiolli inicialmente pensou em deixar as duas na delegacia sendo cuidadas pelos policiais, porém sabia que não era a melhor escolha, esse tipo de criminosos tem pessoas infiltradas até no ramo policial. Suspirou pensando no que poderia fazer, não havia "nadado um rio inteiro para morrer na praia".

...

— Estão com fome?

— Muita!— Respondeu Janet.

Ambas mal puderam tocar em seu sanduíche quando o ajudante de Bertiolli anunciou sua chegada para dar reforço em sua ação. Estavam sentadas no sofá gasto na cor âmbar do pequeno muquifo que estavam instaladas. Ele as levou temporariamente para um lugar onde não fosse sua casa, era um pequeno local de um cômodo só alugado por um de seus homens que cedeu para que as duas fossem recebidas. O lugar cheirava a cerveja e azeitonas, as paredes eram velhas e descascadas e mal haviam móveis dispersados pela casinha.

Ligou a televisão, para que elas pudessem não pensar nas coisas que sofreram até e se distrair um pouco, mas foi impossível quando ligou a televisão e estava direto no noticiário. A repórter anunciava algo que chamou a atenção de todos:

"... Parece que um dos homens mais procurados de nosso país foi morto nesta madrugada a pedradas, seu nome era Pascoal Hernovick, um traficante de drogas e armas muito poderoso. A polícia encontrou seu corpo em um beco ao lado da pedra que foi o instrumento que tirou sua vida. No momento, houve uma investigação no local e descobriu-se pelas câmeras instaladas mas ruas que o assassino do criminoso nada mais é que Júlia Jackson (foto ao lado da repórter), a menina que desapareceu junto com sua irmã em Nova Iorque há três anos atrás com suspeita de ter sido trazida para a Itália para ser traficada por traficantes de humanos. Concluiu-se então que ela o assassinou para poder fugir de seu cativeiro, e agora estão sendo procuradas pela polícia por toda a região, inicialmente na intenção de colher informações a respeito do responsável do sequestro e posteriormente elas vão ser reportadas e Júlia Jackson responderá legalmente em seu país pelo assassinato de Pascoal. Quem tiver informações, será muito bem recompensado, pois ambas são consideradas a 'Chave Mestra' para a descoberta de uma máfia especializada em Tráfico Humano..."

— Parece que não sou mais apenas eu a saber de sua fuga.— Debochou Bertiolli.— Deveria ter escondido as provas de seu crime, querida.

— Vá para o inferno!— Disse Júlia olhando em seus olhos.— Eu estou morta. Eles tem homens infiltrados na polícia, não posso ser achada ou me tornarei um arquivo morto.

— Não se preocupe.— Caminhou até a cozinha que era separada da sala por finas pilastras de gesso.— Enquanto eu estiver com vocês, estarão seguras.

— Ah, é mesmo?— Debochou.— Por acaso sabe com quem está lidando, ou pensa que Enzo é um traficante de meia tigela?

— Ninguém é invencível, senhorita Jackson!— Rebateu, pensando estar lidando com a mulher mais difícil que já conhecera.— Sei quem é Enzo e lhes asseguro mais uma vez sobre estarem seguras comigo.— Suspirou.— Não sou o homem mais inexperiente e também tenho meus homens, acha que estaria vivo se não recorresse a uma forma de me proteger?

Eles se olharam através da pilastra, mas logo ela desviou seu olhar, encarando o homem a sua frente. Não confiava no amigo do investigador, ele tinha um jeito de ser corrupto assim como vários outros policiais que já viu na máfia ao longo de três anos, seu olhar denunciava isso. O homem logo percebeu estar sendo observado e lançou-lhe um olhar intimidador, mas não causou efeito sobre Júlia que continuou a encará-lo. Ele bufou se levantando e caminhou até a saída, batendo a porta com força. Logo Bertiolli chegou com uma bandeja em mãos e a colocou na mesinha de centro. Eram três pratos com comidas e três copos com Coca-Cola. Cada um pegou seu prato e começou a comer em silêncio. Finalmente estava resolvendo o caso pelo qual tanto batalhou para ter ao menos uma pista e por obra do destino as principais personagens desta história caíram bem em suas mãos. Sorriu consigo mesmo, decidido a deixar esse caso apenas quando as duas estivessem em plena segurança, mas ele sabia que talvez elas nunca mais ficariam totalmente seguras.

— Estaria disposta a me contar tudo pelo que você passou, Júlia?

— E por que eu contaria, investigador?

— Me chame de Bertiolli. Bom, porque só assim eu conseguiria te ajudar a sair deste inferno.

— Meu inferno nunca terá fim, mas eu te contarei como tudo começou.— Ela se inclinou sobre seus joelhos.— Mas antes, quero saber quem te contratou para me procurar.

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