O Fogo e o Recomeço

O Fogo e o Recomeço

Gavin

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Capítulo

O fogo consumia tudo ao meu redor, a fumaça preta rasgava meus pulmões e a dor na minha perna quebrada era uma tortura constante. Mas nada doía mais do que as palavras de Pedro, meu marido há quarenta anos, que estava ali, de pé, prestes a me abandonar para morrer nas chamas. "Sofia, a Ana está me esperando", ele disse, impaciente. "Nós vamos viajar o mundo, como sempre sonhamos. Ela é a minha alma gêmea." Minha vida de dedicação e sacrifício se esvaía em um inferno, e ele simplesmente se virou e se foi, sem olhar para trás, me deixando para morrer. Ele sempre me disse que eu era um peso, um estorvo, e naquele momento, eu entendi toda a extensão do seu desprezo. Por que eu havia desistido de tudo – meus estudos, meus sonhos, minha juventude – por um homem que me via como nada? Aquela vida inteira de humilhação e servidão parecia uma piada cruel, uma morte horrível. Se eu tivesse uma segunda chance, eu nunca mais cometeria o mesmo erro. De repente, senti um solavanco, o cheiro de terra molhada e a dor familiar de um dia de trabalho no campo. Abri os olhos, atordoada, para o céu azul e o sol ardente de 1976. Minhas mãos, antes enrugadas, agora eram jovens e fortes, segurando uma enxada. Eu havia renascido, voltado no tempo, antes de conhecer Pedro, antes de jogar minha vida fora. As lágrimas que rolaram pelo meu rosto não eram de tristeza, mas de uma gratidão avassaladora por esta segunda chance. Desta vez, Sofia viveria apenas para Sofia.

Introdução

O fogo consumia tudo ao meu redor, a fumaça preta rasgava meus pulmões e a dor na minha perna quebrada era uma tortura constante.

Mas nada doía mais do que as palavras de Pedro, meu marido há quarenta anos, que estava ali, de pé, prestes a me abandonar para morrer nas chamas.

"Sofia, a Ana está me esperando", ele disse, impaciente. "Nós vamos viajar o mundo, como sempre sonhamos. Ela é a minha alma gêmea."

Minha vida de dedicação e sacrifício se esvaía em um inferno, e ele simplesmente se virou e se foi, sem olhar para trás, me deixando para morrer.

Ele sempre me disse que eu era um peso, um estorvo, e naquele momento, eu entendi toda a extensão do seu desprezo.

Por que eu havia desistido de tudo – meus estudos, meus sonhos, minha juventude – por um homem que me via como nada?

Aquela vida inteira de humilhação e servidão parecia uma piada cruel, uma morte horrível.

Se eu tivesse uma segunda chance, eu nunca mais cometeria o mesmo erro.

De repente, senti um solavanco, o cheiro de terra molhada e a dor familiar de um dia de trabalho no campo. Abri os olhos, atordoada, para o céu azul e o sol ardente de 1976. Minhas mãos, antes enrugadas, agora eram jovens e fortes, segurando uma enxada.

Eu havia renascido, voltado no tempo, antes de conhecer Pedro, antes de jogar minha vida fora. As lágrimas que rolaram pelo meu rosto não eram de tristeza, mas de uma gratidão avassaladora por esta segunda chance. Desta vez, Sofia viveria apenas para Sofia.

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No dia do terceiro aniversário do meu filho, Lucas, o meu marido, Pedro, simplesmente não voltou para casa. Preparei o seu bolo favorito e enchi a sala com balões azuis, enquanto Lucas esperava, adormecendo no sofá com o seu pequeno carro de corrida. Liguei para o Pedro dezenas de vezes, mas só encontrei o silêncio do telemóvel desligado. O meu coração afundava a cada tentativa falhada, até que a campainha tocou, já perto da meia-noite. Corri para a porta, com a esperança a reacender-se, mas não era ele. Eram dois polícias, com expressões sérias, que trouxeram a notícia: Pedro sofrera um acidente de carro, estado crítico. O mundo parou, as palavras ecoavam na minha cabeça: "crítico", "acidente". Mas a próxima frase atingiu-me como um raio: "Havia outra pessoa no carro... uma mulher. Infelizmente, ela não sobreviveu." O nome dela? Clara Bastos. A ex-namorada de Pedro, aquela que ele jurou ter ficado no passado. Antes que eu pudesse processar a traição, a minha sogra, Dona Alice, subiu as escadas, o seu medo transformado em raiva pura. "A culpa é tua! Tu nunca o fizeste feliz! A Clara era o verdadeiro amor da vida dele! Se ele morrer, a culpa é tua!" As palavras dela, o facto de que toda a minha vida tinha sido uma farsa, atingiram-me mais do que qualquer golpe físico. O nosso casamento, o nosso filho... Seríamos apenas um obstáculo? Uma mentira? Senti o meu telemóvel vibrar no bolso: uma notificação de transferência bancária. Pedro tinha transferido quase todo o nosso dinheiro da conta conjunta para a sua conta pessoal, horas antes do acidente. Ele não me estava apenas a deixar; estava a deixar-me sem nada. Num piscar de olhos, a minha vida desmoronou-se. Mas eu não me ajoelharia. Enquanto a minha sogra me amaldiçoava, senti uma raiva fria a crescer. Não olhei para trás. A batalha pela minha vida e pela do meu filho tinha acabado de começar.

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