Oito anos atrás, meu marido, Heitor, me incriminou por um acidente de carro que me custou minhas pernas, meus pais e meu filho que ainda não havia nascido. Ele fez tudo isso para proteger outra mulher, sua amiga e protegida política, Isabela. Ele me jogou na prisão por três anos, usando a vida frágil da minha mãe como moeda de troca para me manter em silêncio e obediente. Eu era sua marionete, uma bailarina quebrada cuja única fuga era a dor fantasma de uma dança que eu não podia mais executar. Depois que fui solta, destruída e sozinha, ele se ajoelhou diante de mim no palco do meu retorno, confessando tudo para uma plateia ao vivo. Ele admitiu que forjou as fotos explícitas que arruinaram meu nome e que foi Isabela quem me atropelou com o carro dela. Ele disse que fez tudo por amor, um amor doentio e possessivo que destruiu tudo o que tocou. Mas sua confissão teve um preço. Ele já havia matado Isabela. E enquanto era sentenciado à morte, ele fez um último pedido: me ver.
Oito anos atrás, meu marido, Heitor, me incriminou por um acidente de carro que me custou minhas pernas, meus pais e meu filho que ainda não havia nascido. Ele fez tudo isso para proteger outra mulher, sua amiga e protegida política, Isabela.
Ele me jogou na prisão por três anos, usando a vida frágil da minha mãe como moeda de troca para me manter em silêncio e obediente. Eu era sua marionete, uma bailarina quebrada cuja única fuga era a dor fantasma de uma dança que eu não podia mais executar.
Depois que fui solta, destruída e sozinha, ele se ajoelhou diante de mim no palco do meu retorno, confessando tudo para uma plateia ao vivo. Ele admitiu que forjou as fotos explícitas que arruinaram meu nome e que foi Isabela quem me atropelou com o carro dela.
Ele disse que fez tudo por amor, um amor doentio e possessivo que destruiu tudo o que tocou.
Mas sua confissão teve um preço. Ele já havia matado Isabela.
E enquanto era sentenciado à morte, ele fez um último pedido: me ver.
Capítulo 1
Ponto de Vista: Elenora Queiroz
A nova vida dele já estava carimbada e selada, a tinta mal havia secado quando vi Heitor Montenegro do lado de fora do cartório de registro civil. Oito anos. Oito anos desde que ele tinha passado com uma bola de demolição pela minha vida, não deixando nada além de poeira e ecos.
Ele tinha acabado de sair, com uma mulher radiante e sorridente em seu braço. Ela sorria, com os cantos dos olhos enrugados. O tipo de felicidade pura que eu um dia conheci.
Então ele me viu. Seu sorriso evaporou, substituído por um fantasma do homem que eu costumava conhecer. Seus olhos, antes tão quentes, tornaram-se frios como um lago no inverno.
Sua nova esposa, uma loira delicada, agarrou-se ao seu braço. Ela notou a súbita imobilidade dele. Seguiu seu olhar até mim, seu sorriso vacilando, perguntas se formando em seus inocentes olhos azuis.
Heitor afastou o braço dela, um movimento sutil, mas eu vi. Ele deu meio passo à frente, sua linguagem corporal uma mistura confusa de proteção e arrependimento. Tentou esconder a certidão de casamento recém-assinada em sua mão esquerda, o papel branco amassando levemente com sua força. Tarde demais. Eu já tinha visto.
Seu olhar caiu. Pousou, como sempre, em minhas pernas. Ou melhor, no espaço vazio onde minhas pernas costumavam estar, agora preenchido pelo metal liso e frio das minhas próteses. Meus sapatos polidos, um número maior para meus novos pés, pareciam uma piada cruel.
Ele engoliu em seco.
"Elenora", disse ele, sua voz um sussurro rouco. "Eu... eu não esperava te ver aqui."
Suas palavras foram um choque. Enviaram um arrepio gelado pela minha espinha. A dor fantasma em minhas panturrilhas se intensificou, um protesto familiar.
Ele deu outro passo, mais perto agora. Seus olhos, cheios de algo que poderia ser culpa, voltaram para o meu rosto.
"Sinto muito, Elenora", ele murmurou, sua voz carregada com o tipo de remorso ensaiado que se ouve em filmes ruins. "Por tudo."
Desculpas? A palavra pairou no ar, pesada e sem sentido. Como uma pena tentando parar uma bala.
Ele se moveu para ficar bem na minha frente, bloqueando meu caminho. Sua esposa, agora parecendo completamente perplexa, deu um passo hesitante para trás, nos dando espaço. Uma atitude sensata.
"Eu sei que não é suficiente", ele continuou, sua voz ganhando uma força falsa. "Mas eu quero ajudar. Financeiramente. O que você precisar. É o mínimo que posso fazer."
Apoio financeiro. Depois que ele roubou minha carreira, minha família, minha liberdade. A ironia tinha gosto de cinzas na minha boca.
"Ajudar?", repeti, minha voz surpreendentemente firme. "Heitor, você me destruiu. Você tirou tudo. Minha dança, meus pais, meu nome. Você me incriminou pelo acidente de carro que roubou minhas pernas. Você me colocou em uma cela de prisão enquanto andava livre."
As memórias me atingiram em cheio: o guincho dos pneus, o cheiro de borracha queimada, a dor cegante, depois as barras de aço frias de uma cela. Meu mundo, antes um palco vibrante, havia se tornado uma jaula apertada e desolada. E ele a tinha construído.
Ele se encolheu, o maxilar tenso.
"Eu sei. Eu sei que errei. Mas eu mudei, Elenora. Quero consertar as coisas."
Encarei seu olhar, um fogo silencioso queimando em meus próprios olhos.
"Não há nada para consertar, Heitor. Nós acabamos."
Tentei passar por ele, mas ele estendeu um braço, me bloqueando novamente.
"Por favor, Elenora. Deixe-me ajudar. Eu te devo isso. Eu te devo tudo."
Ele me devia tudo? As palavras eram uma zombaria. Ele já tinha tirado tudo, e agora estava oferecendo migalhas.
"Eu não preciso da sua ajuda, Heitor", eu disse, minha voz endurecendo. "Eu tenho tudo que preciso."
Enfiei a mão na minha bolsa, meus dedos roçando a superfície lisa e fria do cartão plastificado. Não era meu, claro. Pertencia a Kaila, minha melhor amiga, e seu marido. Um adereço. Um escudo.
Eu o puxei, uma certidão de casamento branca e nítida, e a ergui, garantindo que ele pudesse ver os nomes impressos claramente nela.
"Eu tenho uma nova vida, Heitor. Uma vida boa."
Seus olhos se arregalaram, saltando da certidão para o meu rosto, e de volta. A confusão lutava com a descrença.
"O que é isso?", ele gaguejou, a voz fraca.
"Chama-se certidão de casamento", expliquei, um sorriso açucarado brincando em meus lábios. "Eu me casei. Com um médico. Ele cuida muito bem de mim."
A mentira pareceu doce na minha língua, um bálsamo para as velhas feridas. Observei a cor sumir de seu rosto, uma satisfação perversa florescendo em meu peito. Esta era uma pequena vitória, uma minúscula reconquista.
Sua mão tremeu levemente enquanto ele apontava para a certidão.
"Um... um médico? Quem? Quando?"
Ele estendeu a mão, seus dedos roçando a borda do cartão, tentando arrancá-lo. Eu recuei instantaneamente, guardando meu escudo emprestado.
"Isso não te diz respeito, Heitor", eu disse, minha voz firme. Encarei seus olhos, deixando meu olhar demorar no dele. "Minha vida não é mais da sua conta. Você fez essa escolha há oito anos."
Passei por ele, minhas próteses clicando suavemente contra o piso de mármore. Eu precisava escapar, respirar. Sua presença era uma mortalha sufocante.
"Elenora, espere!", ele chamou atrás de mim, a voz desesperada.
Eu o ignorei, apressando o passo. Cada passo era um desafio, uma declaração da minha independência.
Ele se lançou para frente, agarrando meu braço. Seu toque era frio, possessivo.
"Elenora, sua perna! Você está mancando. Deixe-me te ajudar."
Sua preocupação, real ou fingida, era uma piada cruel e distorcida. Foi ele quem me fez mancar.
"Eu já te disse", falei, puxando meu braço com um puxão forte. "Eu tenho alguém que cuida de mim agora. Um marido. Um médico. Ele cuida de mim."
Eu me virei, minha voz clara e cortante.
"Nós nos divorciamos, Heitor. Você tem uma nova esposa. Você não tem mais nada a ver com a minha vida."
Olhei para além dele, para a mulher loira que estava parada, congelada, nos observando com olhos grandes e cheios de lágrimas.
"Vá em frente", eu o incentivei. "Volte para sua nova noiva. Ela está esperando."
Virei as costas para ele, para eles, e fui embora. Meu coração estava batendo forte, um tambor selvagem contra minhas costelas. Eu tinha dito cada palavra, vendido cada mentira.
Ao virar a esquina, ouvi ele chamar meu nome uma última vez, um grito lúgubre que me seguiu pelo corredor vazio. Mas não olhei para trás. Não podia.
Justo quando pensei que estava livre, um objeto pequeno e duro atingiu minhas costas, quicando no meu suéter antes de cair no chão. Eu não parei, mas o som ecoou em meus ouvidos.
"Elenora! Elenora, você está bem?" A voz de Kaila, quente e familiar, cortou o zumbido na minha cabeça. Ela correu em minha direção, sua bolsa de jornalista balançando em seu quadril. Seus olhos examinaram meu rosto, depois desceram para minha perna. "O que aconteceu? Você está sangrando!"
Olhei para baixo. Uma fina linha vermelha manchava o branco impecável da minha prótese, um pequeno corte no metal, novo demais para ser da minha rotina matinal. Eu nem tinha sentido.
"Não é nada", eu disse, minha voz rouca. "Apenas um arranhão."
Mas a pulsação no meu peito contava uma história diferente.
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