Meu Coração, Sua Peça de Reposição

Meu Coração, Sua Peça de Reposição

Gavin

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Capítulo

Meu guarda-costas, Grant, recebeu em cheio a força de um carro em alta velocidade que era para mim. Naquele momento, eu percebi que o amava. Ele era meu protetor, e eu achava que sua devoção feroz era só minha. Mas no hospital, ouvi a verdade. Ele não tinha me salvado; tinha salvado meu rim. Eu não era a mulher que ele amava. Eu era apenas a "melhor opção" para o transplante de sua irmã doente. Cada gesto terno, cada olhar vigilante, era uma mentira para manter sua doadora de órgãos segura e obediente. O homem que eu adorava me via como nada mais que um conjunto de peças de reposição. O amor que eu pensei que compartilhávamos era uma armadilha cuidadosamente construída, e eu fui a tola que caiu direto nela. A garota que acreditava em contos de fadas morreu naquele corredor de hospital estéril. Peguei meu celular, minha mão firme. "Pai", eu disse, minha voz fria como gelo. "Estou pronta para considerar a aliança com a família Queiroz."

Capítulo 1

Meu guarda-costas, Grant, recebeu em cheio a força de um carro em alta velocidade que era para mim. Naquele momento, eu percebi que o amava. Ele era meu protetor, e eu achava que sua devoção feroz era só minha.

Mas no hospital, ouvi a verdade. Ele não tinha me salvado; tinha salvado meu rim.

Eu não era a mulher que ele amava. Eu era apenas a "melhor opção" para o transplante de sua irmã doente.

Cada gesto terno, cada olhar vigilante, era uma mentira para manter sua doadora de órgãos segura e obediente. O homem que eu adorava me via como nada mais que um conjunto de peças de reposição.

O amor que eu pensei que compartilhávamos era uma armadilha cuidadosamente construída, e eu fui a tola que caiu direto nela.

A garota que acreditava em contos de fadas morreu naquele corredor de hospital estéril. Peguei meu celular, minha mão firme.

"Pai", eu disse, minha voz fria como gelo. "Estou pronta para considerar a aliança com a família Queiroz."

Capítulo 1

Ponto de Vista de Kianna Medeiros:

O mundo girou. O metal gritou, um som que me rasgou por dentro. E então, lá estava Grant. Ele foi um escudo humano, se jogando entre mim e o carro que vinha em nossa direção, recebendo todo o impacto que era para mim. Minha cabeça bateu em algo duro. A escuridão ameaçou me engolir por inteiro.

Mas antes que isso acontecesse, eu vi seu rosto. Contorcido de dor, mas seus olhos, aqueles olhos intensos e vigilantes, estavam em mim. Sempre em mim. Uma proteção feroz que eu sempre adorei em segredo. Naquele momento de caos, uma profunda revelação floresceu em meu peito, quente e avassaladora. Eu o amava.

Ele me salvou. Ele realmente me salvou.

Enquanto eu flutuava entre a consciência e a inconsciência, esperando as sirenes chegarem, uma visão do futuro piscou. Um futuro com ele. Segura. Amada. Uma vida onde sua devoção inabalável era minha, e só minha. Era um sonho lindo e ingênuo.

Acordei com o cheiro estéril de antisséptico. O quarto do hospital era claro, claro demais, e minha cabeça latejava com uma dor surda e persistente. Meu corpo estava fraco, cada músculo protestando, mas meu primeiro pensamento foi ele. Grant.

"Grant", eu grasnei, minha voz um sussurro seco.

Uma enfermeira, uma mulher de rosto gentil, correu até mim. "Você acordou, Srta. Medeiros. Vá com calma. Você sofreu um grande choque."

"Grant", repeti, tentando me levantar. "Ele está bem? Preciso vê-lo."

"O Sr. Borges está estável, mas sofreu ferimentos mais graves. Ele está no fim do corredor", explicou ela, me empurrando gentilmente de volta. "Você realmente deveria descansar."

Eu a ignorei. Meu coração martelava com uma urgência desesperada. "Qual quarto?"

Ela suspirou, vendo a teimosia em meus olhos. "Quarto 307. Mas, por favor, tenha cuidado."

Passei as pernas para fora da cama, gemendo quando a dor atravessou minhas costelas. Vestida com uma camisola de hospital frágil, saí mancando, agarrando-me ao corrimão metálico e frio do corredor. Cada passo era uma batalha, mas eu tinha que vê-lo. Eu tinha que lhe dizer.

Quarto 307. A porta estava entreaberta. Parei, o fôlego preso na garganta. Pela fresta, eu a vi. Dariana. A irmã adotiva de Grant. Ela estava sentada na beira da cama dele, segurando sua mão, a cabeça baixa. Ela parecia tão frágil, tão delicada. Como sempre.

E então eu vi. Não era um truque de luz, nem uma alucinação do meu ferimento na cabeça. Era real. Um fio dourado e cintilante, quase imperceptível, conectava Grant e Dariana. Pulsava, um cordão vibrante e vivo, irradiando uma intensidade perturbadora. Não era apenas uma conexão; era um laço, profundo e possessivo, puxando-os um para o outro.

Pisquei. Esfreguei os olhos. Eu estava realmente vendo aquilo? Minha cabeça ainda estava confusa. Talvez fosse apenas minha imaginação.

Grant se mexeu. Seus olhos se abriram, um gemido baixo escapando de seus lábios.

Dariana ofegou, o alívio inundando seu rosto. Ela se inclinou, sua voz um sussurro suave e trêmulo. "Grant, você acordou. Oh, graças a Deus."

Meu coração, que estava se enchendo de um amor recém-descoberto, de repente ficou gelado. Um arrepio de inquietação percorreu minha espinha.

"Por que você fez isso?" Sua voz, geralmente tão doce, agora tinha um tom afiado. "Você poderia ter morrido! Você sabe que não podemos correr esse risco."

Grant ergueu a mão fracamente, acariciando o cabelo dela, um gesto tão terno que revirou meu estômago. "Eu tinha que fazer", ele sussurrou, a voz tensa. "Você sabe por quê."

Um frio, mais gelado que qualquer vento de inverno, me atravessou. Não era a dor dos meus ferimentos. Era algo muito pior. Dariana apertou a mão dele, seus olhos arregalados com o que parecia ser medo. "Mas... se algo acontecesse com você... como conseguiríamos?"

"Conseguir o quê?" As palavras eram um grito silencioso dentro da minha cabeça. Meu estômago se contraiu, a bile subindo. Meu sangue corria como água gelada pelas minhas veias. Dariana. A doce, tímida e cronicamente doente Dariana. A mídia a adorava, retratando-a como uma pequena soldada corajosa lutando contra uma doença rara. Mas seu tom, seus olhos... havia algo predatório neles.

A voz de Grant era baixa, quase inaudível. "Ela é valiosa. Não podemos nos dar ao luxo de perder nossa melhor opção para o seu rim."

Doadora de rim. As palavras me atingiram como um golpe físico, um impacto súbito e brutal, mais chocante que o acidente de carro. Eu não era corajosa. Eu não era amada. Eu era apenas uma doadora de rim. O mundo inclinou, o corredor impecável do hospital balançando. Minhas pernas pareciam gelatina, e eu me agarrei ao batente da porta, os nós dos dedos brancos. O ar parecia rarefeito, cortante, impossível de respirar.

Recuei, tropeçando, os sons de sua conversa abafada ecoando em meus ouvidos. Eu corri. Pelo corredor, ignorando as enfermeiras perplexas, até encontrar uma sala de espera deserta. Desabei em uma cadeira de plástico duro, as mãos sobre a boca, tentando abafar o grito cru e gutural que ameaçava me rasgar.

"Doadora de rim. Eu era apenas uma doadora de rim." As palavras se repetiam, um cântico cruel e zombeteiro em minha cabeça.

Mais tarde, eu estava de volta ao meu quarto, deitada rigidamente na cama, encarando o teto. A porta rangeu e Grant entrou. Ele parecia pálido, um curativo aparecendo sob a camisa, mas sua postura ainda era forte, inabalável. Ele se sentou ao lado da minha cama, pegando minha mão. Seu toque, antes um conforto, agora parecia uma marca de ferro em brasa.

"Você está segura agora, Kianna", disse ele, a voz suave e tranquilizadora. "Eu sempre vou te proteger."

Eu olhei para ele, olhei de verdade. E lá estava de novo. O fio dourado e cintilante. Não conectava apenas ele e eu. Ramificava-se, grosso e vibrante, de Grant direto para Dariana, que agora estava timidamente na porta. Apertava-se em torno dela, um aperto possessivo, mesmo com Grant sentado ao meu lado. Não era amor por mim. Era obsessão por Dariana. Uma conexão de posse, não de afeto. Estava claro agora. O fio era sua lealdade, sua lealdade cega e inabalável a ela. Era seu propósito.

Dariana entrou no quarto, sua voz um sussurro fraco. "Oh, Kianna, que bom que você está bem. Grant se importa tanto com você. Eu queria ter alguém assim." Seus olhos, no entanto, continham um brilho de triunfo, um sorriso sutil, quase imperceptível.

Grant lançou-lhe um olhar de advertência. "Dariana, não perturbe a Kianna. Ela precisa descansar."

Senti a bile subir na garganta. A doçura de sua preocupação era veneno, cobrindo minha língua. Ela era uma víbora. Uma víbora de rosto doce. A garota ingênua em mim, aquela que acreditava em contos de fadas e amor altruísta, estava morta. Esmagada sob o peso dessa verdade brutal.

Puxei minha mão da de Grant. "Preciso ficar sozinha", eu disse, minha voz plana, sem emoção.

Grant olhou para mim, um lampejo de algo, talvez preocupação, em seus olhos. "Tem certeza? Eu posso ficar."

Dariana rapidamente se adiantou, a mão no braço de Grant. "Ela está cansada, Grant. Deixe-a descansar. Venha comigo, você também precisa descansar." Ela o puxou gentilmente.

Ele hesitou, seu olhar demorando em mim por mais um momento antes de assentir. "Estarei aqui fora. É só chamar." Ele me deu um sorriso forçado, uma máscara praticada.

Assim que eles saíram, deslizei para fora da cama e tranquei a porta. Então caí contra ela, minhas pernas cedendo. Lágrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto, quentes e ardentes. Não por ele. Não pelo amor que eu pensei ter. Mas pela garota que eu costumava ser. Aquela que construiu uma fantasia sobre uma base tão podre.

Minha mente voltou ao dia em que meu pai o contratou. Grant Borges. Recém-saído das forças especiais, estoico, disciplinado. Eu era apenas uma adolescente rebelde na época, irritada com a vigilância constante. Mas havia algo nele. Ele parecia diferente dos outros. Ele não era apenas um guarda-costas; era uma sombra silenciosa, sempre presente.

Ele se tornou meu protetor, meu confidente. Eu o escolhi entre muitos. Ele era quieto, eficiente, sempre observando. Eu pensei que era devoção. Lembrei-me de um pequeno acidente anos atrás, um motorista imprudente. Grant me empurrou para fora do caminho, recebendo o golpe no ombro. Ele minimizou o ferimento, preocupado apenas com meu joelho arranhado. "Você está bem, Kianna?", ele perguntou, a voz rouca de preocupação. Eu achei heroico.

Seus pequenos gestos. Lembrar do meu pedido de café. Ajustar meu assento do jeito certo. Sempre lá, sempre observando, sempre protegendo. Eu pensei que era amor. Meu pai me avisou sobre me envolver com funcionários, mas eu defendi Grant, ferozmente. "Ele é diferente, pai. Ele se importa."

"O que posso fazer por você, Grant?", eu perguntei inúmeras vezes, querendo retribuir uma fração do que eu pensava que ele me dava.

Um dia, ele finalmente pediu. "Minha irmã, Dariana. Ela está doente. Precisa de um lugar para ficar, algum apoio." Meu coração se encheu. Fiquei emocionada. Finalmente, uma maneira de mostrar a ele que eu me importava, de provar meu amor.

Dariana chegou, uma garota frágil, pálida e delicada, com olhos grandes e inocentes. Senti uma imensa compaixão, querendo ajudá-la, por causa de Grant.

Todos aqueles anos. Todas as pequenas mentiras. Foi uma farsa cuidadosamente construída, lenta e meticulosamente tecida em torno do meu coração inocente. Uma teia de aranha, e eu, a mosca tola, voei direto para ela.

Enxuguei minhas lágrimas com as costas da mão, uma determinação fria e dura se instalando em mim. Chega. Isso acaba agora. A revelação era uma verdade dolorosa, mas também libertadora. Eu sobreviveria a isso. Eu não seria o instrumento de ninguém.

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