A imprudência do meu marido, Ricardo, numa pista de esqui em Bariloche me deixou com dores crônicas e a incapacidade de ter filhos. Ele fingiu ser meu cuidador devotado, mas sua fachada perfeita ruiu quando uma gata de rua, abandonada pela nossa nova vizinha, ronronou em sua perna com uma familiaridade assustadora. Esse sussurro de traição me levou ao apartamento dela, onde encontrei sua amante grávida, Beatriz. Ela sorriu com desdém, me chamando de "a esposa eternamente doente" de Ricardo e exibiu a barriga com o bebê que eu nunca poderia lhe dar. Quando pedi o divórcio, nossas famílias se voltaram contra mim, me chamando de histérica e gananciosa. Ricardo caiu de joelhos, implorando por perdão, mas seu "amor" parecia uma jaula construída sobre minha dor e suas mentiras. A verdade, no entanto, era muito mais monstruosa. Beatriz apareceu mais tarde na minha porta, aterrorizada, revelando que Ricardo a forçou a perder o bebê - uma "prova de amor" doentia para me reconquistar. Enquanto ele esmurrava minha porta, confessando seu crime e gritando que eu era dele, percebi que não tinha me casado apenas com um traidor. Eu tinha me casado com um monstro.
A imprudência do meu marido, Ricardo, numa pista de esqui em Bariloche me deixou com dores crônicas e a incapacidade de ter filhos. Ele fingiu ser meu cuidador devotado, mas sua fachada perfeita ruiu quando uma gata de rua, abandonada pela nossa nova vizinha, ronronou em sua perna com uma familiaridade assustadora.
Esse sussurro de traição me levou ao apartamento dela, onde encontrei sua amante grávida, Beatriz. Ela sorriu com desdém, me chamando de "a esposa eternamente doente" de Ricardo e exibiu a barriga com o bebê que eu nunca poderia lhe dar.
Quando pedi o divórcio, nossas famílias se voltaram contra mim, me chamando de histérica e gananciosa. Ricardo caiu de joelhos, implorando por perdão, mas seu "amor" parecia uma jaula construída sobre minha dor e suas mentiras.
A verdade, no entanto, era muito mais monstruosa.
Beatriz apareceu mais tarde na minha porta, aterrorizada, revelando que Ricardo a forçou a perder o bebê - uma "prova de amor" doentia para me reconquistar.
Enquanto ele esmurrava minha porta, confessando seu crime e gritando que eu era dele, percebi que não tinha me casado apenas com um traidor. Eu tinha me casado com um monstro.
Capítulo 1
Helena Santiago POV:
A fachada perfeita do meu marido ruiu no momento em que uma gata de rua, abandonada pela mulher do apartamento ao lado, não parava de ronronar em sua perna, um sussurro secreto de traição que só eu parecia ouvir.
Começou de forma sutil, como a maioria das rachaduras numa fundação.
Eu observava Ricardo pela janela da cozinha, seu perfil nítido contra o sol poente. Ele estava agachado perto das roseiras, não para cuidar delas, mas para atrair uma gata tricolor, magra e assustada, de debaixo da varanda. A gata era uma adição recente à nossa rua, uma refugiada do apartamento ao lado. A dona, uma nova inquilina que Ricardo mencionara brevemente, havia se mudado há algumas semanas e, de repente, sem dizer uma palavra, desapareceu.
A gata era arisca, evitava todo mundo, até mesmo a mim. Mas com Ricardo, era diferente.
Ela esfregou a cabeça ossuda em sua mão estendida, depois se enroscou em seus tornozelos. Era uma cena de confiança, de familiaridade. Um pavor gelado, agudo e repentino, tomou conta do meu peito, fazendo minha dor crônica latejar.
"Ricardo", chamei, minha voz sem emoção.
Ele se endireitou. A gata ainda estava agarrada à sua perna, o rabo balançando suavemente. Ele parecia surpreso, quase culpado.
"Helena, você acordou." Seu sorriso era algo ensaiado, charmoso, mas não chegava aos olhos.
"O que você está fazendo?", perguntei, saindo para a varanda, apertando meu cardigã de tricô fino contra o frio do fim de tarde. Minhas pernas doíam, um lembrete constante do acidente que havia mudado minha vida.
"Só alimentando a gata de rua", disse ele, apontando para uma pequena tigela de ração perto dos degraus. "Coitadinha, parece perdida."
A gata, como se entendesse a deixa, soltou um miado suave e esfregou o rosto no jeans de Ricardo novamente. Não estava apenas perdida. Estava apegada.
Naquela noite, a gata dormiu na nossa varanda, enrolada no capacho da porta da frente. Ricardo insistiu. Eu a observei da janela do meu quarto, um nó estranho se formando no meu estômago. O apego incomum da gata a ele, a maneira como Ricardo acariciava sua cabeça, quase protetoramente, acionou algo primitivo dentro de mim. Era familiar demais, íntimo demais.
Os dias se transformaram em uma semana. A gata, que eu relutantemente chamei de "Sussurro" porque parecia um segredo, tornou-se mais ousada. Ela cumprimentava Ricardo na porta, pulava em seu colo quando ele se sentava no pátio. Me ignorava, na maior parte do tempo, um fato que me irritava e me perturbava. Meu marido, o homem que se dizia dedicado a todas as minhas necessidades após o meu acidente, parecia ter encontrado uma nova companhia. Uma companhia que, ao contrário de mim, podia acompanhá-lo em sua vida de busca por emoção.
A suspeita cresceu, uma semente minúscula e venenosa. Ricardo ficava menos em casa, alegando aumento de trabalho em sua startup de tecnologia. Seu celular estava sempre virado para baixo, sempre no silencioso. Ele se assustava quando eu entrava em um cômodo. Coisas pequenas, individualmente descartáveis, mas que juntas, pintavam um quadro que eu não queria ver.
Uma noite, depois que Ricardo saiu para mais uma "reunião tarde da noite", me peguei encarando Sussurro, que estava enrolada na poltrona favorita de Ricardo.
"Você sabe de alguma coisa, não sabe?", sussurrei para a gata. Ela piscou lentamente para mim, depois soltou um ronronar suave e cúmplice.
Peguei minhas chaves. O apartamento da vizinha. Aquele para o qual Beatriz Neves supostamente havia se mudado e depois abandonado. Eu tinha que ver. Minhas pernas queimavam a cada passo pelo corredor, mas a adrenalina era um analgésico mais forte.
A porta do apartamento 1B estava entreaberta. Uma luz fraca saía de lá, junto com o cheiro distinto de um purificador de ar barato tentando mascarar outra coisa. Empurrei-a lentamente.
O apartamento não estava vazio. Estava habitado, embora com poucos móveis. Uma tigela de cereal pela metade estava sobre uma pequena mesa. Um lenço colorido estava jogado sobre uma cadeira. E ali, na mesa de centro, havia um porta-retrato.
Era Ricardo. Rindo, com o braço em volta de uma mulher jovem e bonita com um sorriso excessivamente brilhante. Beatriz Neves. E em seu dedo, um anel. Não o meu anel, mas um diamante que brilhava sob a luz fraca.
Minha respiração ficou presa na garganta. Minha visão embaçou. Estendi a mão, meus dedos trêmulos, para tocar a foto. Não era mais apenas uma dor física; era uma ferida profunda, que esmagava a alma.
Então ouvi um movimento vindo do quarto. Meu coração martelava contra minhas costelas. Fiquei paralisada, como um cervo pego pelos faróis.
A porta do quarto se abriu e Beatriz Neves saiu. Seu cabelo estava bagunçado, seus olhos sonolentos. E sua barriga... estava inegavelmente arredondada. Inchada.
Ela me viu, e seus olhos se estreitaram, sua expressão mudando de confusão sonolenta para um cálculo frio.
"Posso ajudar?", ela perguntou, sua voz açucarada, doce demais.
"Você não foi embora", afirmei, as palavras com gosto de cinzas na minha boca.
Ela deu um sorrisinho de lado. "Parece que não. E você é... Helena, não é? A esposa eternamente doente do Ricardo." As últimas palavras foram carregadas de veneno.
"Você abandonou a gata", acusei, minha voz tremendo agora, não de medo, mas de uma raiva que começava a ferver.
Ela deu de ombros, um gesto descuidado. "Ele estava ficando muito grudento. E, francamente, um gato não é exatamente ideal com um bebê a caminho, não é?" Ela deu um tapinha em sua barriga saliente, um sorriso triunfante e doentio se espalhando por seu rosto.
O mundo girou. Bebê. Ricardo. Grávida.
Eu cambaleei para trás, minha mão voando para a boca para abafar um grito. A dor na minha perna não era nada comparada a isso. Essa traição. Essa mentira. Minha infertilidade, minha fonte constante de culpa e da "compreensão" infinita de Ricardo, zombava de mim a partir de sua barriga inchada.
"Sua vadia", sibilei, a palavra rasgando minha garganta.
O sorriso de Beatriz se alargou. "Palavras fortes para alguém que não conseguiu nem manter o marido interessado, muito menos dar-lhe um filho."
A vergonha, a raiva, a pura agonia de tudo aquilo ameaçavam me consumir. Mas uma fagulha da minha antiga eu, a arquiteta que construía estruturas que resistiam aos elementos, se acendeu. Eu não iria desmoronar. Não aqui. Não na frente dela.
Virei-me e saí, meus passos ecoando assustadoramente altos no corredor silencioso. Minha visão ainda estava embaçada, mas minha determinação era cristalina.
Cheguei em casa no momento em que o carro de Ricardo entrava na garagem. Ele entrou, assobiando uma melodia alegre, com a pasta na mão. O cheiro de um perfume floral, que não era o meu, grudava em seu terno caro.
Ele olhou para cima, me viu parada na sala de estar, com as mãos entrelaçadas, uma pilha de papéis na mesa de centro. Seu sorriso vacilou.
"Helena? O que há de errado? Você parece pálida." Ele deu um passo em minha direção, seu olhar percorrendo meu rosto.
"Não", eu disse, minha voz perigosamente calma. "Não se atreva a fingir."
Ele parou, um lampejo de irritação cruzando suas feições. "Fingir o quê? Acabei de voltar de uma reunião brutal."
Apontei para os papéis na mesa. "Estes são os papéis do divórcio, Ricardo."
Seus olhos se arregalaram, depois se estreitaram. Ele riu, um som curto e desdenhoso. "O que é isso, Helena? Está tendo uma das suas crises de novo? Nós conversamos sobre isso. Você precisa controlar melhor seu estresse."
"Eu a vi, Ricardo", eu disse, minha voz se elevando, perdendo sua calma cuidadosa. "Eu vi a Beatriz. E a barriga de grávida dela."
A cor sumiu de seu rosto. Sua pasta caiu no chão com um baque. O assobio alegre morreu. Ele parecia totalmente, completamente pego de surpresa. Um animal encurralado.
"Helena, me escute", ele começou, sua voz de repente desesperada. "Não é o que você pensa. Ela é... ela é perturbada. Ela é obcecada por mim. Ela está mentindo."
"Mentindo? Sobre o apartamento ao lado? Sobre a foto? Sobre o anel? Sobre estar grávida?" Senti uma risada histérica borbulhar no meu peito. "Você me chamou de 'eternamente doente', Ricardo. Enquanto estava construindo uma família com ela."
Ele avançou para os papéis, seu rosto contorcido em uma máscara de fúria. "Você não pode fazer isso, Helena! Somos casados! Eu te dei tudo! Depois do acidente, quem ficou ao seu lado? Quem pagou por tudo? Quem garantiu que você ficasse confortável?"
"Você ficou ao meu lado porque você causou isso!", gritei, as palavras rasgando de mim, cruas e sem filtro. "Você me pressionou para descer aquela pista preta, mesmo depois de eu dizer que não estava pronta! Você queria a emoção, e eu paguei o preço!"
Ele congelou, sua mão pairando sobre os papéis do divórcio. A verdade, feia e inegável, pairava no ar entre nós.
"Isso é loucura!", ele rugiu, varrendo um vaso de flores frescas da mesa. Ele se estilhaçou contra a parede, cacos de cerâmica e água se espalhando pelo chão de madeira polida. Ele olhou para mim, seus olhos ardendo com uma mistura de raiva e terror. "Você não está pensando direito. Você está chateada. Você está confusa."
"Estou mais lúcida do que nunca", contrapus, minha voz trêmula, mas firme. "Assine, Ricardo. Ou eu vou tomar cada coisa que você possui."
Ele me encarou, a mandíbula cerrada, seu rosto bonito contorcido. Ele sabia que eu estava falando sério. Ele sabia que eu não era mais a mulher frágil e quieta que ele manipulou por anos.
A comoção trouxe nossas famílias. Os pais de Ricardo, os impecavelmente vestidos Ferraz, entraram pela porta da frente, seus rostos uma mistura de confusão e desaprovação. Meus próprios pais, mais hesitantes, vieram atrás, suas expressões preocupadas.
"O que, em nome de Deus, está acontecendo aqui?", exigiu a mãe de Ricardo, Eleonora, seus olhos percorrendo o vaso quebrado e os papéis do divórcio.
"Helena está sendo histérica", disse Ricardo, sua voz recuperando um pouco de seu charme habitual, embora tensa. Ele me lançou um olhar venenoso. "Ela está chateada com algo trivial."
"Trivial?", zombei. "Seu filho tem uma amante grávida morando ao lado, e você chama isso de trivial, Eleonora?"
Eleonora ofegou, a mão voando para o peito. Minha mãe soltou um gemido baixo e aterrorizado. Meu pai parecia querer desaparecer.
"Ricardo, isso é verdade?", perguntou o pai dele, Roberto, sua voz baixa e perigosa.
Ricardo se contorceu, evitando seus olhares. "É um mal-entendido. Uma mulher louca tentando causar problemas."
"Essa mulher louca está esperando seu filho, Ricardo!", cuspi, o veneno satisfatório na minha língua. "E ela não é perturbada; ela é simplesmente ambiciosa."
A sala mergulhou no caos. Eleonora começou a repreender Ricardo, enquanto Roberto tentava acalmá-la. Meus próprios pais, mortificados, tentaram me puxar para o lado.
"Helena, querida, você precisa se acalmar", implorou minha mãe, sua mão agarrando meu braço. "Pense no escândalo. Na sua reputação."
"Minha reputação?" Puxei meu braço. "E a reputação dele? O homem que traiu sua esposa infértil, a esposa que ele aleijou numa pista de esqui?"
Ricardo, vendo seu mundo cuidadosamente construído desmoronar, virou-se para mim, seus olhos de repente brilhando com lágrimas. "Helena, por favor. Não faça isso. Eu te amo. Foi um erro. Um momento de fraqueza. Eu juro, vou terminar com ela. Apenas... não se divorcie de mim." Ele caiu de joelhos, agarrando minha mão. "Por favor, querida. Eu não posso viver sem você. Eu preciso de você. Você é minha rocha."
Suas palavras, antes tão potentes, agora soavam vazias, um apelo desesperado de um homem se afogando. Ele olhou para mim, seu rosto suplicante, mas tudo que eu via era o rosto presunçoso de Beatriz Neves, seu tapinha triunfante na barriga.
"Eu também preciso de você, Helena", acrescentou minha mãe, sua voz suave, mas insistente. "Você sabe como é difícil para uma mulher sozinha, especialmente com sua condição. Ricardo te sustenta tão bem."
"Ele é um bom homem, Helena", meu pai interveio, seus olhos arregalados de medo. "Ele sempre cuidou de você. Não jogue tudo fora por um... erro."
"Um erro?" Puxei minha mão do aperto de Ricardo. "Minha vida inteira com ele foi um erro. Isso não é sobre eu estar 'chateada' ou 'confusa'. É sobre eu ter chegado ao meu limite." Minha voz era um fio de aço, fino, mas inquebrável. "Eu quero o divórcio. E não serei influenciada por lágrimas de crocodilo ou promessas vazias."
O rosto de Ricardo endureceu. Sua expressão suplicante desapareceu, substituída por um ressentimento fervente. "Você vai se arrepender disso, Helena. Você não será nada sem mim."
"Prefiro ser nada a viver mais um momento na sua mentira", eu disse, virando as costas para ele. Peguei os papéis do divórcio, um símbolo da minha liberdade. "Nos vemos no tribunal."
Caminhei em direção à porta, minhas pernas doendo, mas minha determinação queimando forte. Atrás de mim, ouvi os sussurros frenéticos de nossos pais, os sons sufocados de frustração de Ricardo e o lamento distante de uma sirene. Ao sair, um borrão de pelo tricolor passou correndo pelos meus pés, Sussurro, a gata de rua, desaparecendo na noite.
Na manhã seguinte, o mundo parecia mais leve, apesar do peso esmagador do que havia acontecido. Eu precisava de um café. Minha cafeteria de sempre estava movimentada. Sentei-me em uma pequena mesa ao ar livre, observando a cidade acordar, tentando absorver a nova realidade.
Então, eu a vi. Beatriz Neves. Ela descia a rua, parecendo um pouco amassada, mas ainda carregando aquele ar de confiança presunçosa. E ela segurava Sussurro, a gata tricolor, pelo cangote.
Meu estômago se contraiu. A gata, minha mensageira involuntária da verdade, estava de volta com sua dona original.
Beatriz parou perto de uma caçamba de lixo, seu rosto contorcido em nojo. "Criatura inútil", ela murmurou, e com uma chocante falta de hesitação, ela jogou a gata dentro da caçamba. O animal soltou um miado de dor quando a tampa bateu.
Meu sangue gelou. A insensibilidade, a crueldade. Era além do que eu poderia ter imaginado. Levantei-me, minha cadeira raspando ruidosamente no pavimento.
"O que você está fazendo?", exigi, minha voz afiada.
Beatriz se virou, assustada, seus olhos se arregalando quando me viu. Um lampejo de medo, depois desafio. "É minha gata. Posso fazer o que eu quiser com ela."
"Você a abandonou uma vez", contrapus, marchando em direção à caçamba. "Agora está jogando fora de novo?"
"Ela continua voltando!", ela gritou, sua voz aguda e estridente. "É um incômodo! E é nojento."
Abri a tampa. Sussurro estava encolhida em um canto, tremendo, se afastando de mim. Estendi a mão, gentilmente.
"Vem cá, pequena."
A gata bufou, então, para meu choque, ela avançou, suas pequenas garras arranhando meu pulso. Uma fina linha de sangue surgiu.
Puxei minha mão para trás, atordoada. Até a gata, ao que parecia, havia escolhido seu lado.
Beatriz riu, um som áspero e triunfante. "Viu? Nem ela te quer. Algumas coisas simplesmente devem ser jogadas fora, Helena. Como brinquedos velhos e quebrados." Ela olhou de forma pontual para o meu pulso ferido, depois para minhas pernas ainda doloridas. "Você simplesmente não consegue satisfazer um homem como Ricardo. Ele precisa de alguém vibrante, cheia de vida, alguém que possa lhe dar tudo." Ela deu um tapinha na barriga novamente, um gesto nauseantemente familiar. "Como eu."
Meu olhar endureceu. "Você acha que está conseguindo tudo, Beatriz? Você é apenas mais uma vira-lata que ele eventualmente jogará fora quando se cansar de brincar." Encarei seu olhar, sem vacilar. "Ele pode ter te achado brilhante e nova por um tempo, mas o tédio de Ricardo é uma condição crônica. É só uma questão de tempo até ele se cansar de suas tentativas patéticas de se agarrar a ele, assim como você se cansou daquela gata."
Seu rosto passou de presunçoso para furioso. Ela levantou a mão, como se fosse me bater.
"Que diabos está acontecendo aqui?"
A voz de Ricardo cortou a tensão. Ele estava a poucos metros de distância, seus olhos em chamas, aparentemente tendo chegado às pressas. Ele observou a cena: Beatriz, enfurecida; eu, sangrando levemente no pulso; a caçamba aberta.
Sem hesitar, seus olhos pousaram em mim, cheios de acusação. "Helena! O que você fez com ela agora? Não consegue deixá-la em paz por cinco minutos?" Ele correu para o lado de Beatriz, colocando um braço protetor ao redor dela.
"Ricardo, ela me atacou!", Beatriz chorou, enterrando o rosto em seu peito, sua voz abafada, mas perfeitamente audível. "Ela estava gritando comigo, tentando machucar o bebê!"
Ricardo abraçou Beatriz com mais força, seu olhar em mim frio, cheio de algo semelhante a ódio. "Você está realmente perdendo o juízo, Helena. Está atacando uma mulher grávida inocente agora? Essa loucura tem que parar."
Eu o encarei, uma risada amarga e sem humor borbulhando. Seu "amor" por mim, ou o que eu pensava ser amor, não havia apenas morrido. Havia se transformado em algo grotesco e distorcido, protegendo sua nova obsessão. Meu estômago revirou. Este não era o homem com quem me casei. Este era um estranho, um monstro.
"Você realmente fez sua escolha, Ricardo", eu disse, minha voz mal um sussurro, mas que soou como um trovão no silêncio repentino. "E sabe de uma coisa? Estou aliviada."
Virei as costas para eles, a dor latejante no meu pulso um pequeno preço pela clareza que eu agora possuía.
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