Ele é Primavera

Dizem que cada pessoa encontra o amor de forma diferente, mas quando ele chega não há como negar e nem como fugir dele. A história de amor que eu vou contar não é muito diferente da de muitos por aí, mas ainda assim, é única.

New Orleans, onde todos os dias parecem ser sábado e todos os sábados parecem ser um motivo especial para festejar. Banhada pelo Rio Mississipi e embalada pelo mais festivo e animado lugar do mundo, o Quarteirão Francês, é justamente nesse cenário, onde o verão é mais quente e a primavera é mais florida, que tudo acontece.

Agosto de 1990, estavam começando as aulas do ensino médio no New Orleans High School e Benjamin estava lá no meio do corredor do colégio com seus dois fiéis amigos: James e Dave, como todo primeiro dia de aula tudo ali naquele lugar era caos. Alguns adolescentes conversavam tão alto, pareciam não se importar com os demais, já outros tão baixo que pareciam estar compartilhando um segredo de estado. Benjamin olhava ao redor e podia ver e sentir o caos e a euforia daquele lugar, afinal ali era o colégio.

Em uma dessas olhadas em volta, ele viu algo que chamou sua atenção. Perto do mural de avisos havia um menino encostado na parede que parecia estar alheio a tudo, ele mantinha um sorriso no rosto e com certeza estava em um mundo só dele, um mundo que diferia de toda aquela bagunça. Quando bateu o olho nele, Benjamin, não conseguiu mais parar de observá-lo então o sorriso dele se abriu mais ainda e ele passou a caminhar na direção de Benjamin e de seus amigos, quanto mais ele se aproximava, mais nervoso Benjamin ficava, James e Dave também passaram a olhar o desconhecido que vinha na direção deles, em um piscar de olhos o garoto passou pelos três e foi de encontro a um rapaz negro na entrada do corredor e o abraçou. Os dois então sorriram, sem se importarem com mais nada, permaneceram abraçados por alguns segundos, sob os olhares de todos. O sinal toca e os dois meninos que estavam abraçados passam por Benjamin e os amigos dele e o garoto de belo sorriso para perto de Benjamin e diz:

- A propósito, eu sou Gabriel Shaw.

Benjamin nada disse apenas ficou estático e viu aquele menino, que possuía o sorriso mais lindo que ele já havia visto, seguir seu caminho.

- Benjamin! Ben... - Chamava James, mas parecia que Benjamin estava em outro mundo, até que depois de um cutucão ele voltou a si.

- O que vocês querem? - Perguntou, ainda, meio avoado.

- Você viu aqueles dois se abraçando daquele jeito, será que eles são um par? - Perguntou James.

- Eu não sei, mas realmente são estranhos. - Disse Benjamin

- Muito estranhos - Completou Dave - mas agora vamos para aula.

Os garotos seguiram para a sala de aula, o professor já estava no local, mas como ainda era o primeiro dia de aula ele deixou que os meninos entrassem sem maiores problemas.

- Como eu estava dizendo, vocês vão escolher um colega de classe e depois irão conhecer um pouco mais sobre ele e vai vir apresentá-lo aqui na frente. Vocês têm 10 minutos para isso a partir de... Agora - Concluiu o professor.

A classe virou uma tremenda zona. Com alunos andando e conversando uns com os outros, Ben, então olhou para o lado e viu aqueles dois meninos que antes estavam no corredor, eles não conversavam entre si e nem com mais ninguém. 'Será que eles não vão fazer a atividade?' pensou. Quando o tempo dado pelo professor se acabou, as apresentações começaram, algumas engraçadas outras tímidas. Benjamin foi a frente da turma com James que o apresentou e depois foi apresentado por ele. Os últimos foram os dois meninos do corredor. O menino negro e olhos de caramelos começou:

- Bom dia colegas. Bem, esse garoto aqui ao meu lado é Gabriel Shaw ou simplesmente Shaw, como ele gosta de ser chamado. Shaw é a pessoa mais incrível que eu tive o prazer de conhecer, ele odeia brigas, mas se alguém faz algo para prejudicar seus amigos ele é capaz de começar uma guerra. O quarto dele é todo organizado, menos a cama, pois essa, está sempre bagunçada. Ele não gosta de comida quente, ele ama ler e escrever, porém eu me arrisco a dizer que a maior paixão dele é dançar. - O garoto olha para Shaw por alguns segundos, sorri e continua - o sorriso dele é a coisa mais doce que eu já vi e as vezes dá vontade de emoldurar e pendurar na parede. Shaw está sempre disposto a ajudar, seja quem for. Quando vocês tiverem um tempinho conheçam ele, eu tenho certeza que não irão se arrepender.

Todos, inclusive o professor, ficaram olhando para eles sem entender muito. Então aquele menino de pele morena, cabelos castanho-escuros e olhos esverdeados, cujo o nome todos agora já sabiam, começou a apresentar o garoto que estava ao seu lado:

- Olá pessoal, este garoto que está aqui ao meu lado, se chama Ian Vorch, ele é um ser humano fantástico e também um dos amores da minha vida. Ao contrário de mim, Ian é muito desorganizado você não consegue andar pelo quarto dele sem tropeçar em uma camisa ou um tênis jogado pelo chão, mas em compensação a cama dele está sempre bem arrumada. Ian ama basquete e ele é bom nisso, ouso dizer que ele é um dos melhores que eu já vi, também é meio esquentadinho, mas eu faço o que posso para acalmá-lo. - Shaw olha para Ian, coça a cabeça e sorrir o sorriso mais sincero e lindo que a maioria das pessoas ali naquela sala já viram. - Ian não gosta muito de dançar, mas mesmo assim ele dança por saber que eu gosto e ser amigo dele é um dos maiores e melhores presentes que Deus me deu.

E mais uma vez todos na sala ficam olhando os dois. Depois de alguns, segundos James pergunta:

- Por acaso vocês dois são um par?

- Sim - respondeu Shaw- Somos um par de amigos há muito tempo.

- Eita! Menos mal, achei que eram um par de pervertidos sexuais.

Quando Ian já se preparava para responder, o professor interrompeu pedindo para os dois se sentarem e logo depois o sinal tocou. O restante do dia de aula passou sem muitos acontecimentos. Quando Benjamin chegou em casa e deitou em sua cama começou a pensar no sorriso de Gabriel e de fato aquele menino tinha um sorriso terno, simples, lindo e que dava a sensação de que se ele sorrisse em meio a uma guerra ela se cessaria imediatamente. Ben não entendia ao certo o porquê de não conseguir tirar aquele menino da cabeça, mas de uma coisa tinha certeza. Teria que conhecê-lo melhor.