Amelia Wilson sempre teve certeza que queria seguir carreira no ramo do direito quando soube que seu pai foi assassinado na cadeia, após ser preso injustamente por um crime que não cometeu, sem direito de defesa ou chance para provar a inocência. Morando em um cubículo de apartamento com a amiga rica que pela primeira vez estava sendo rebelde e havia deixado o conforto da mansão de seus pais, Amelia está determinada a terminar a faculdade e não enlouquecer para conseguir um trabalho no ramo, obter experiência o suficiente para atuar por conta própria e se estabilizar na carreira. Como se a vida estivesse lhe dando uma chance, a amiga consegue uma e entrevista para ela no escritório da família e a vaga de secretária garantida. Amelia só não sabia que a família Albretch, polemicamente conhecida por defender grandes criminosos, também era parte de uma organização, e agora estava presa a Chase Albretch por um contrato que deixaria sua vida de cabeça para baixo.
O suave som da música que tocava pelo ambiente calmo dava a Amelia um conforto e a fazia esquecer, pelo menos por alguns segundos, do nervosismo que sentia. Sua perna balançava incessantemente, mas seus movimentos estavam limitados por conta da saia apertada, a única em boas condições que possuía em seu guarda roupa e esperava que o sacrifício de usá-la valesse a pena. A sala de espera daquele lugar era com certeza dez vezes maior que o pequeno apartamento que compartilhava com sua amiga, e o cheiro de limpeza que aquele lugar exalava era reconfortante e ela poderia morar ali para sempre.
Pensando por outro lado, Amelia teve um lar apenas até os 15 anos de idade, então ficou em casas de abrigo por três anos até que entrou para a faculdade e foi morar com Caroline. A amiga, ao contrário dela, tinha o sinônimo de vida perfeita: bonita, rica, família influente e sócia de toda a rede de empresas de advocacia, a maior do país. Quando o sobrenome da família Albretch, vinha carregado de fama, popularidade e xingamentos. Muitos diziam por aí que a empresa só havia sido criada e os integrantes da família se formaram nas áreas de direito para livrarem criminosos das grades. Esses boatos nunca foram confirmados, mas eles fizeram fama defendendo criminosos.
- Srta. Wilson - a secretária chamou. - O Sr. Albretch está lhe esperando.
- Muito obrigada. - Amelia sorriu para ela, então segurou sua bolsa e se levantou.
Ela empurrou a porta entreaberta com leveza e mordeu o lábio inferior ao adentrar a enorme sala.
- Amelia Wilson - o homem que estava olhando a vista da enorme janela falou -, sente-se, por favor.
- Sou eu - ela disse, se sentando na poltrona macia em frente a mesa.
Ele se virou e pousou os olhos nela, a observando alguns segundos, então também se sentou e folheou os papéis sobre a mesa.
- Então, pelo o que eu sei, você é amiga da minha sobrinha.
- Sim, eu e Caroline moramos juntas, na verdade.
- Está no último semestre de direito - ele continuou. - Por que quer um emprego aqui?
- Bom, eu sempre quis ser advogada e ajudar as pessoas - ela começou. - Eu admiro muito todos vocês e a Caroline sempre me falou muito do quanto ela tem orgulho da família, então eu acho que seria uma boa experiência aprender com os melhores.
- E por que você acha que vai ser contratada? - Ele ergueu as sobrancelhas ao questionar, desafiando ela. - Quer dizer, tem dezenas de candidatos que vieram aqui hoje e sentaram aonde você está sentada. A maioria já se formou e atua em alguma área do direito, por que você acha que merece se contratada no lugar deles? Só porque é amiga da minha sobrinha?
- Não. - O ar dos pulmões de Amelia sumiu e ela sentiu o nervosismo voltar. - Eu sei que todos merecem esse lugar muito mais que eu, mas eu vim até aqui procurar um emprego, qualquer emprego e estou disposta a aprender tudo o que for preciso.
- Não posso lhe dar o cargo de advogada estagiária, você ainda nem terminou a faculdade - ele concluiu. - Seria injusto com os outros candidatos.
- Eu entendo, eu só achei que...
- No entanto - ele interrompeu ela -, posso lhe oferecer uma vaga de secretária.
Havia várias salas de vários advogados, promotores e diplomatas, ela aceitaria ser secretária de qualquer um e aprenderia muito com eles.
- Eu aceito - ela respondeu sem pensar duas vezes. - Vou trabalhar para quem?
- Para mim, a última secretaria se demitiu.
Amelia olhou para ele e se questionou porque a outra havia se demitido.
- Eu sou exigente - ele respondeu a dúvida dela como se tivesse lido seus pensamentos. - Eu quero o melhor, o perfeito. É por isso que eu sou advogado mais requisitado daqui. Você acha que consegue acompanhar?
Amelia não tinha certeza, o olhar dele assustava, mas ela precisava do trabalho.
- Consigo - ela confirmou com confiança.
- Eu espero que não desista tão fácil como as outras.
Ele definitivamente era intimidadante.
- Quando pode começar?
- Agora mesmo.
- Ótimo. - Ele tirou uma pilha de papéis de uma pasta e colocou na frente dela. - Comece assinando tudo isso. Eu sei que como futura advogada você quer ler antes de assinar, mas não precisa. São muitos papéis e vai levar muito do seu tempo, são apenas cláusulas de confidencialidade e o contrato de um ano.
Amelia colocou as mãos sobre os papéis e pensou por alguns segundos, passando os olhos pelas palavras minúsculas.
- Não é como se fosse uma assinatura com seu consentimento para que seja submissa a mim - ele falou. - Pode confiar, eu pago bem pelos serviços.
- Eu não pensei isso. - Ela passou as mãos pelo rosto, nervosa. - Eu só fiquei curiosa a respeito de tantos papéis.
- Você saberá de tudo na hora certa, só preciso de sua assinatura.
- Tudo bem, eu vou assinar.
Amelia se aproximou da mesa e mordeu o lábio inferior ao segurar a caneta preta com detalhes doutorados, e parou por um momento ao encostar a ponta da caneta no papel. Ela ergueu os olhos e viu o olhar do Sr. Albretch sobre ela, como se a desafiasse para que assinasse.
Então Amelia fez a primeira letra de seu nome, assinando o papel sem pensar muito a respeito, nervosa com aquele olhar.
Era óbvio que ela tinha achado aquilo muito estranho, mas Chase Albretch tinha respeito e era tio de sua melhor amiga, não havia com o que se preocupar.
Depois de longos minutos suando frio para que terminasse aqueles papéis rapidamente, ela finalmente chegou a última página e as pontas de seus dedos doíam de tanto apertar a caneta com força.
- Eu terminei - ela anunciou com alívio, soltando a caneta com um suspiro.
O Sr. Albretch passou os olhos rapidamente por todas as folhas e as guardou novamente em uma pasta preta, cruzando as mãos sobre a mesa.
- Por que está tão nervosa? - Ele questionou.
- Eu não estou nervosa, eu só...
- Eu não estou do lado dos caras maus... depende do seu ponto de vista.
- O quê?
- Eu só quero dizer que a percepção de mal e bom varia. O que é bom para mim, pode ser mal para você.
- Tem razão. As pessoas tem pontos de vista diferentes.
- Você acha isso ruim?
- Não. - Ela deu de ombros. - Todos merecem respeito.
- Acho que vamos nos dar bem.
- Eu espero que sim, preciso muito desse emprego.
- Basta fazer seu trabalho corretamente. - Ele se levantou, colocando o terno que estava sobre a mesa. - Eu vou te passar um modelo de roupas que eu exijo aqui. Sua saia está curta demais e meus clientes podem se distrair.
Amelia ergueu as sobrancelhas e se levantou em seguida.
- Seria melhor se seus clientes e demais homens fizessem o mínimo e se contessem - ela respondeu.
Chase se virou para encará-la com o cenho franzido.
- Me desculpe, eu acabo falando demais...
- Você está certa - ele concordou. - Infelizmente existem homens assim por todos os cantos.
O tão temido Chase Albretch na verdade não era tão ruim como contavam, mas Amelia mal o conhecia e seria precipitado dizer aquilo, visto que suas antigas empregadas não tiveram boas experiências.
- Está na hora de um almoço com alguns executivos - ele explicou, esperando que ela o seguisse pela saída. - Sua primeira tarefa como secretária é me acompanhar e anotar tudo o que eles dizem, cada número e data.
Amelia concordou e se apressou para alcançá-lo, segurando a bolsa para não deixá-la cair.
Depois de saírem do enorme prédio, eles entraram no carro particular da família Albretch e Amelia colocou a bolsa sobre as pernas na tentativa de esconder a pele amostra.
Ela nem conseguia acreditar que estava em sua primeira tarefa no trabalho que havia acabado de arrumar. Tudo aconteceu tão rápido e ela nem teve tempo para pensar direito.
Depois de minutos, o carro estacionou em frente a um restaurante privado, e o sr. Albretch foi o primeiro a sair, sendo seguido por Amelia que observava tudo com cuidado. Ela nunca esteve em um restaurante chique, nem mesmo sabia como se portar.
- Chase Albretch - ele disse para a atendente com uma das mãos no bolso da calça do terno -, espaço reservado, eu sei onde fica.
A atendente concordou com um sorriso e ele seguiu para o fundo do restaurante, adentrando em uma pequena sala.
O que aquela possuía de pequena, também possuía de móveis caros e decoração impecável. Amélia não entendia porque o sr. Albretch estava em um espaço fechado com apenas uma mesa quando poderia estar na área movimentada do restaurante.
- Meu sócio chegará daqui a pouco - ele avisou, se acomodando na cadeira. - Faça silêncio e em hipótese alguma nos interrompa, só preciso que anote os números e dados que ele passar.
Amelia concordou e tirou de sua bolsa a agenda e a caneta que sempre carregava consigo.
O homem engravatado chegou minutos depois, então cumprimentou Amelia e sentou em frente ao sr. Albretch, colocando sobre a mesa uma maleta preta.
- Assistente nova? - Ele questionou, apontando com a cabeça para Amelia.
- Começou hoje. Não se preocupe, ela assinou o contrato e é de confiança.
Amelia não entendia o que ele dizia e nem porque ele achava que ela era de confiança, ele nem a conhecia, mas permaneceu quieta.
- Não tenho muito tempo - o homem falou, abrindo a maleta -, tem mais um cliente daqui a pouco.
Quando ele abriu por completo a maleta, Amelia arregalou os olhos ao ver o conteúdo dela e estava boquiaberta ao ver o sr. Albretch sorrir ao colocar os olhos nas três armas sobre o travesseiro de espuma.
- São taurus G3, como pediu - o homem confirmou.
O sr. Albretch segurou uma das armas com um sorriso, passando os dedos pelo detalhe da pistola.
- Isso me custará quanto? - Ele questionou.
- 1200 dólares.
Ele tirou da carteira, recheada de dinheiro, o valor que o outro passou.
- Está anotando tudo? - Ele estalou os dedos em frente a Amelia, que estava perplexa.
- Sim. - Ela balançou a cabeça e segurou a caneta com firmeza.
- Espero que mantenha sua descrição - o sr. Albretch disse a ele com um meio sorriso. - Temos negócios promissórios no futuro.
- Espero a mesma descrição. - O homem guardou o dinheiro no bolso, se levantando. - Tenha um bom dia.
O homem já havia ido embora e Amelia ainda estava com os olhos no bloco de anotações, com receio de olhar para o sr. Albretch. O silêncio estava constrangedor.
- Amelia - ele chamou, limpando a garganta -, você está assustada?
- Não... quer dizer, sim - ela admitiu. - O senhor é um dos maiores advogados daqui, isso é legal de acordo com a lei?
- É crime, eu conheço bem as leis - ele fez uma pausa -, mas certos boatos sobre a família Albretch são verdadeiros. Nós defendemos criminosos, contrabandeamos armas...
- Uma organização criminosa?
Amelia era diferente das outras porque ela conhecia as leis e seria difícil enganá-la.
- Nossa, isso parece pior do que é. - Ele soltou uma risada.
Era realmente pior de todas as formas e Amelia só queria sair dali, ela não havia achado graça.
- O fato é que assinou um contrato de três meses - ele explicou em tom sério. - Portanto, não pode simplesmente se demitir. Você também não pode comentar sobre nada do que aconteceu hoje com ninguém, jamais! Acho que deu para entender que não somos um simples escritório de advocacia e eu tenho meus contatos para descobrir cada passo seu.
Amelia não sabia como responder, aquilo era tão insano que ela pensava estar sonhando, como ela queria estar sonhando.
- Não precisa ter medo - ele a confortou. - É só cumprir o seu trabalho e tudo dará certo.
- A Caroline sabe sobre isso?
- As crianças da família não têm conhecimento. Vai chegar a vez deles assumirem os negócios.
Chase Albretch tinha 37 anos, enquanto Caroline possuía 22 e não era tão criança assim.
- Posso contar com você, Amelia? - Ele perguntou.
- É claro - ela confirmou. - Não contarei nada a ninguém e cumprirei o meu trabalho.
- É a melhor decisão. - Ele sorriu. - Vamos, vou deixá-la em casa.
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