Eva e Ricardo tentam encontrar uma forma de viver um grande amor. Ambos possuem o coração dilacerado pelas duras lições de vida. Eles não fazem ideia de como se relacionar um com o outro. Acompanhem a história desse casal, em que a verdade sobre suas realidades e sentimentos são expostos sem restrições, entre eles não há tentativas de iludir com falsas expectativas sobre um futuro perfeito. De Eva para Ricardo: Poderíamos ser um casal modelo, como os dos livros de romances, Onde nosso amor surpreenderia pelo tamanho e força, independente de nossas limitações ou circunstâncias. Na verdade eu não entendo bem sobre histórias de amor, Nunca vivi uma... Mas queria muito viver...com você. Queria que fizesse parte de minha vida. Mas nem ao menos sei se teremos uma história de amor. Na verdade, nenhum dos livros que li iria servir de referência para nós dois! Dois corações destruídos, e não foi por outros amores... A única certeza que tenho é que... Te amaria De qualquer maneira.
Sorrio ao colocar a última caixa de doces no porta malas do carro, estou adiantada, a encomenda deve ser entregue as 12:00 e ainda faltam 2 horas. Passei a madrugada e boa parte da manhã finalizando essa encomenda, mas valeu a pena, vai render um dinheiro extra.
Entro no meu carro e olho no espelho do retrovisor, não estou tão mal, apesar das olheiras, meu semblante está bom, deve ser pela satisfação de ter conseguido acabar a tempo. Me sinto uma heroína. Empoderamento total!
Refaço meu rabo de cavalo e passo um pouco de batom para deixar meus lábios com uma cor bonita.
Mesmo cansada me sinto muito bem, estou com uma sensação deliciosa, quase palpável de que algo de bom vai acontecer hoje e até onde sei minha intuição funciona, o que me enche de entusiasmo.
Para acompanhar meu estado de espírito vesti meu jeans favorito que já está comigo há alguns anos e minha camiseta da sorte, não custa nada dar uma ajuda ao destino.
Ligo o rádio e ponho na minha estação preferida e a música que está tocando é Happy de Pharrel Williams, não é formidável! Isso é um bom sinal!
Dou a partida no carro e começo a cantar, ninguém vai me ouvir mesmo! Nunca saberão o talento vocal que há em mim...rio...uma gralha canta melhor do que eu. Por isso só me atrevo a cantar em locais fechados onde eu sou a única pessoa presente.
Meu humor está ótimo, eu amo quando estou assim. E pensar que essa semana começou conturbada, com contas atrasadas eu estava financeiramente no vermelho, mas por sorte e por indicação de minha amiga Nicole, a chefe dela que estava com a comemoração do aniversário do filho resolveu de última hora trocar os doces do buffet da casa de festas pelos meus, sei que Nicole deve ter levado algumas amostras para convencê-la, Nicole é muito boa nisso.
Sei disso porque sou alvo fácil de suas manipulações, ela sempre consegue tudo o que quer comigo, ainda bem que ela me ama e só me deseja o bem. Então sempre que a deixo me convencer no final dá tudo certo, sempre acabamos felizes ou dando gargalhadas.
Não trabalho somente com doces, aceito encomendas de doces e salgados para complementar meu salário de professora do ensino infantil, funciona como uma renda extra, a maior parte dos meus clientes são amigos e conhecidos de amigos, que fazem pedidos pequenos, mas este foi exceção, trata-se de uma encomenda grande que aceitei pela boa quantia em dinheiro e pelo pagamento que foi feito adiantado.
Por isso fiquei ontem e boa parte da madrugada trabalhando para entregar produtos de qualidade e frescos. Ninguém gosta de doces velhos.
Opto por pegar a rodovia para evitar o trânsito da cidade, a via está tranquila com poucos carros, o que me permite andar no máximo permitido.
O endereço da casa de festas é na orla da Lagoa da Pampulha, cartão postal aqui de Belo Horizonte, um lugar lindo e harmonioso, gosto de vir andar por aqui quando tenho tempo, o que faz muito tempo...rio da minha infantil conclusão.
Na orla há um espaço para caminhadas e uma ciclovia, quando eu tinha tempo, gostava de caminhar ou andar de bicicleta, chegava a pedalar o entorno da lagoa com facilidade, e olha que são em média 18 km, me sentia bem, livre e feliz.
Não que eu não seja feliz, eu sou, só não sou mais tão livre, e creio que não teria a mesma disposição.
Então vamos lá, concentração no trânsito para chegar logo no destino. Ainda bem que é sábado, assim posso chegar a tempo...
Que barulho foi esse?!
Pareceu um estouro! Procuro em volta e vejo quase que em câmera lenta, a minha direita se aproxima um carro rodopiando, meu instinto foi prático, segurei o volante e esperei o impacto.
Bateu!
Foi muito rápido, meu carro desalinhou e rodopiou na pista devido a velocidade que eu estava e com muita dificuldade consegui pará-lo.
Ainda bem que não capotou.
Novamente olho em volta e vejo que estou atravessada na via. Estou tremendo muito, minhas pernas não obedecem. O desespero cresce com o medo de ser atingida novamente.
Com as mãos trêmulas ligo novamente o carro, que funciona, sinto um alivio e consigo seguir para o acostamento da via.
Respiro fundo três vezes e saio do carro.
Olho em volta e vejo várias caixas espalhadas pela pista.
Ah não! Meus doces, minha encomenda!
Dou a volta em meu carro e vejo que o porta malas se abriu com o impacto da batida.
─ Não, não, não! ─ começo a gritar em desespero por me lembrar do pagamento adiantado que recebi e que terei que devolver.
Fecho os olhos e penso que só pode ser uma piada, que droga de intuição é essa?
Algo de bom vai acontecer hoje? Camiseta da sorte? Começo a gargalhar para mim mesma.
Mas espera!
Porque estou brava comigo?
Não fui eu que causei o acidente. Meu erro foi ter acreditado que hoje seria um dia especial.
Com fúria nos olhos decido procurar pelo autor ou autora da proeza automobilística e vejo que foi um homem e que ele já está vindo em minha direção.
Olho de novo para meus doces esmagados na pista para inflamar ainda mais minha raiva e espero a aproximação.
Bufo e preparo em minha mente os desaforos que vou dizer e como vou dizer.
Fecho os olhos e respiro apressadamente para demonstrar minha irritação, consigo sentir que ele está na minha frente, e então abro os olhos pronta para o embate.
Abro a boca, mas não consigo pronunciar uma palavra.
Tudo que planejei falar desaparece.
Não esperava por isso.