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Londres, abril de 1770
– Está com medo de que eu vá atacar a mulher, Eldridge? Admito a preferência
por viúvas em minha cama. Elas são muito mais solícitas e decididamente menos
complicadas do que virgens ou esposas de outros homens.
Olhos cinzentos e inteligentes se ergueram da pilha de papéis em cima da
escrivaninha de mogno.
– Atacar, Westfield? – a voz grave soava repleta de exasperação. – Aja com
seriedade, homem. Esta missão é muito importante para mim.
Marcus Ashford, o sétimo Conde de Westfield, desfez o sorriso malicioso que
escondia a sobriedade de seus pensamentos e soltou um pro-fundo suspiro:
– E você deve estar ciente de que isto é igualmente importante para mim. Nicholas,
o Lorde Eldridge, recostou-se em sua cadeira, pousou os cotovelos no apoio dos
braços e juntou os longos dedos finos formando uma concha com as mãos. Era um
homem alto e vigoroso, com um rosto marcado por muitas horas passadas no convés
de um navio. Tudo nele era prático, nada era supérfluo, desde o jeito de falar até a
estatura física. Ele exibia uma presença intimidante, com uma movimentada rua
londrina como cenário. O resultado era deliberada e altamente eficaz.
– Para ser franco, até este momento, não, eu não estava ciente. Eu queria explorar
suas habilidades com criptografia. Nunca imaginei que você poderia se voluntariar
para cuidar do caso.
Marcus devolveu o olhar penetrante mostrando sua firme determinação. Eldridge
era o chefe de um grupo de agentes de elite cujo único propósito era o de investigar
e caçar piratas e contrabandistas. Trabalhando sob a proteção da Marinha Real
Britânica, Eldridge era um homem extremamente poderoso. Se Eldridge recusasse
seu pedido para participar da missão, Marcus teria pouco a argumentar.
Mas não seria recusado. Não neste caso.
Com os músculos do maxilar apertados, ele disse:
– Não permitirei que você empregue outra pessoa. Se Lady Hawthorne está em
perigo, eu mesmo cuidarei da segurança dela.
Eldridge o cobriu com um olhar perceptivo:
– Qual a razão desse interesse tão impulsivo? Depois do que se passou entre
vocês, estou surpreso por você querer estar próximo dela. Não compreendo seus
motivos.
– Não possuo nenhum motivo oculto – ao menos, nenhum que estivesse disposto a
compartilhar. – Apesar de nosso passado, não quero que mal algum aconteça a ela.
– As ações dela o arrastaram para um escândalo que durou meses e que até hoje
ainda é discutido. Você sabe fingir muito bem, meu amigo, mas carrega cicatrizes. E,
talvez, algumas feridas abertas?
Permanecendo imóvel como uma estátua, Marcus manteve o rosto impassível e
teve dificuldades para conter o ressentimento que o corroía. Aquela dor era
profundamente pessoal e apenas dele. Não gostava quando tocavam nesse assunto.
– Você me considera incapaz de separar minha vida pessoal de minhas obrigações
profissionais?
Eldridge suspirou e balançou a cabeça:
– Muito bem. Não vou me intrometer.
– E nem me recusar neste trabalho?
– Você é o melhor homem que tenho. Foi apenas essa história que me fez hesitar,
mas, se você está confortável com a situação, então não tenho objeções. Porém,
aceitarei o pedido de substituição, se ela o quiser.
Assentindo, Marcus escondeu seu alívio. Elizabeth nunca solicitaria outro agente;
seu orgulho não iria permitir.
Eldridge começou a bater as pontas dos dedos:
– O diário que Lady Hawthorne recebeu estava endereçado a seu fa-lecido marido
e está escrito em código. Se o diário estiver envolvido em sua morte... – ele fez uma
pausa. – O Visconde Hawthorne investigava Christopher St. John quando conheceu
seu destino.
Marcus ficou estático ao ouvir o nome do famoso pirata. Não havia outro
criminoso que ele quisesse prender mais do que St. John, e essa hostilidade era algo
pessoal. Os ataques de St. John contra a Ashford Shippings foram seu ímpeto para
se juntar à agência.
– Se Lorde Hawthorne manteve um diário de suas atividades, e se St. John quiser
obter essas informações... mas que inferno! – suas entranhas se apertaram com a
ideia do pirata estar perto de Elizabeth.
– Exatamente – Eldridge concordou. – Na verdade, Lady Hawthorne já foi
informada sobre o diário desde que tomei conhecimento da situação, apenas uma
semana atrás. Para segurança dela, e para a nossa, o diário deve ser retirado de suas
mãos imediatamente, mas isso é impossível no momento. Ela foi instruída a entregá-
lo pessoalmente, por isso a necessidade de proteção.
– É claro.
Eldridge deslizou uma pasta pela escrivaninha.
– Aqui está a informação que juntei até o momento. Lady Hawthorne irá inteirá-lo
do resto durante o baile de Moreland.
Coletando os detalhes da missão, Marcus se levantou e deixou o recinto. Assim
que alcançou o corredor, ele permitiu que um sorriso de satisfação se curvasse em
seus lábios.
Marcus esteve a poucos dias de procurar Elizabeth. O fim do luto dela significava
que a espera interminável havia acabado. Embora a questão do diário fosse
perturbadora, a situação estava a seu favor, tornando impossível que ela o evitasse.
Depois da maneira escandalosa como ela o abandonou há quatro anos, Elizabeth não
ficaria nada satisfeita com a nova aparição de Marcus em sua vida. Mas também não
recorreria a Eldridge, disso ele tinha certeza.
Em breve, muito em breve, tudo o que ela um dia prometera e depois negara seria
finalmente dele.
Capítulo 1
Marcus avistou Elizabeth antes mesmo de pisar no salão do Moreland. Preso na
escadaria enquanto colegas e dignitários queriam cumprimentá-lo, ele se perdeu
completamente no breve instante em que a vislumbrou.
Ela estava ainda mais encantadora do que antes. Como isso era possível, Marcus
não sabia. Ela sempre fora exuberante. Talvez a distância tenha tornado seu coração
ainda mais afeiçoado.
Um pequeno sorriso irônico surgiu em seus lábios. Obviamente, Elizabeth não
compartilhava os mesmos sentimentos. Quando seus olhos se encontraram, ele
permitiu que seu prazer em vê-la se mostrasse em seu rosto. Em resposta, ela ergueu
o queixo e desviou o olhar.
Elizabeth o esnobou deliberadamente.
Foi um golpe direto, perfeitamente executado, mas incapaz de tirar sangue. Ela já
havia provocado a laceração mais grave anos atrás, deixando--o imune a novas
agressões. Marcus ignorou seu descaso com facilidade. Nada poderia alterar o
destino deles, por mais que ela desejasse o contrário.
Ele havia servido por anos como agente da Coroa, e nesse tempo levou uma vida
que rivalizaria com qualquer romance melodramático. Enfrentou inúmeros duelos de
espada, foi atingido por dois tiros e se esquivou de mais disparos de canhão do que
poderia contar. No processo, perdera três de seus próprios navios e afundara meia
dúzia de outros antes de ser forçado a permanecer na Inglaterra devido às obrigações
de seu título de nobreza. Ainda assim, a única coisa que lhe fazia sentir uma súbita
explosão de adrenalina era estar na presença de Elizabeth.
Avery James, seu parceiro, chegou ao seu lado quando ficou óbvio que Marcus
estava paralisado no lugar.
– Aquela é a Viscondessa Hawthorne, meu senhor – ele apontou com um leve
movimento do queixo. – Está de pé à direita, na beira da pista de dança, usando um
vestido púrpura de seda. Ela é...
– Sei quem ela é.
Avery o olhou, surpreso:
– Não sabia que vocês se conheciam.
Os lábios de Marcus, conhecidos por habilmente encantar as mulhe-res, curvaram-
se em óbvia antecipação:
– Lady Hawthorne e eu somos... velhos amigos.
– Entendo – Avery murmurou, franzindo a testa e indicando o contrário do que
dissera.
Marcus pousou a mão no ombro do amigo:
– Vá em frente, Avery, enquanto lido com estas pessoas, mas deixe que eu cuido
de Lady Hawthorne.
Avery hesitou por um momento, então, assentiu relutantemente e seguiu para o
salão, desviando da pequena multidão que cercava Marcus.
Acalmando sua irritação com os convidados importunos bloqueando seu caminho,
Marcus laconicamente se engajou nos cumprimentos e perguntas direcionadas a ele.
Esse tipo de tumulto era a razão pela qual não gostava desses eventos. As pessoas
que não tinham a iniciativa de procurá-lo em horário comercial sentiam-se livres
para abordá-lo num ambiente social mais relaxado. Mas ele nunca misturava
negócios com prazer. Ao menos, essa era sua regra até esta noite.
Elizabeth seria a exceção. Como sempre fora.
Girando seu monóculo, Marcus observou enquanto Avery atravessava com
facilidade a multidão e seu olhar logo recaiu novamente para a mulher que deveria
proteger. Tomou um gole diante de sua visão como se fosse um homem sedento.
Elizabeth nunca gostou de perucas e não usava uma nesta noite, como a maioria
das outras mulheres. O efeito das plumas brancas contrastando com seus cabelos
escuros era de tirar o fôlego, atraindo fatalmente todos os olhares em sua direção.
Quase negros, seus cabelos emolduravam olhos tão incrivelmente coloridos que até
lembravam o esplendor de ametistas.
Aqueles olhos encontraram os dele por apenas um momento, mas o choque de seu
magnetismo permanecia, a atração era inegável. Isso o impelia à frente, despertando-
o no mesmo nível primitivo de sempre, como a mariposa e a chama. Apesar do
perigo de se queimar, ele não podia resistir.
Ela tinha um jeito próprio de olhar para os homens com aqueles olhos incríveis.
Marcus quase acreditou que era o único homem no salão, que todos haviam
desaparecido e não havia nada entre onde ele estava preso na escadaria e onde ela
esperava do outro lado do salão.
Imaginou cruzar a distância entre eles, puxá-la em seus braços e levar sua boca à
dela. Sabia que seus lábios, tão eróticos no formato e na espessura, iriam se derreter
em seu beijo. Queria percorrer com a boca sua delicada garganta e lamber entre os
vales de seu peito. Queria mergulhar em seu corpo exuberante e saciar sua fome
infinita, uma fome que se tornara tão poderosa que quase o levara à loucura.
Um dia, ele quisera tudo – seus sorrisos, sua risada, o som de sua voz, a visão do
mundo por meio de seus olhos. Agora, sua necessidade era mais básica. Marcus não
se permitia mais do que isso. Queria sua vida de volta, a vida livre de sofrimento,
raiva e noites em claro. Foi Elizabeth quem roubou essa vida e também seria ela
quem a devolveria.
Seu queixo se apertou. Era chegada a hora de cruzar a distância entre eles.
Apenas um olhar foi suficiente para abalar seu autocontrole. O que
aconteceria quando a tivesse em seus braços?
Elizabeth, Viscondessa de Hawthorne, ficou parada por um longo momento em
estado de choque, sentindo um calor se espalhar por seu rosto.
Seu olhar cruzou com o homem na escadaria por apenas um instante, e, ainda
assim, durante esse breve momento, seu coração acelerou a um ritmo alarmante.
Sentiu-se paralisada com a beleza masculina de seu rosto que, por sua vez, mostrava
claramente o contentamento em vê-la mais uma vez. Surpreendida e assustada com
sua própria reação ao encontrá-lo após tantos anos, Elizabeth forçou-se a cortá-lo e a
desviar o olhar com um desprezo altivo.
Marcus, atual Conde de Westfield, ainda era magnífico. Ele continuava a ser o
homem mais bonito que já encontrara. Quando seus olhares se cruzaram, ela sentiu a
eletricidade passar entre eles como uma força tangível. Uma intensa atração sempre
existiu entre os dois, e Elizabeth ficou profundamente perturbada ao perceber que
ela não diminuíra nem um pouco.
Depois do que ele fizera, Marcus deveria desprezá-la.
Elizabeth sentiu um toque em seu ombro, trazendo-a de volta ao presente. Ela se
virou e encontrou George Stanton ao seu lado, observando--a com preocupação:
– Está se sentindo bem? Parece um pouco corada.
Ela ajeitou a renda na manga do vestido para disfarçar sua inquietude:
– Está calor aqui dentro – abrindo seu leque, ela se abanou rapidamente para
refrescar o rosto.
– Acho que uma bebida é uma boa ideia – George ofereceu e ela retribuiu sua
gentileza com um sorriso.
Assim que ele partiu, Elizabeth voltou sua atenção para o grupo de cavalheiros
que a cercava.
– O que estávamos discutindo mesmo? – ela perguntou a ninguém em particular.
A bem da verdade, ela não havia prestado atenção na conversa pela maior parte da
última hora.
Thomas Fowler respondeu:
– Estávamos discutindo o Conde de Westfield – ele fez um gesto em direção a
Marcus. – Estamos surpresos com sua presença. O Conde é conhecido por sua
aversão a eventos sociais.
– De fato – ela fingiu indiferença enquanto as palmas de suas mãos se emudeciam
dentro das luvas. – Eu esperava que a predileção do Conde se fizesse verdade nesta
noite, mas pelo visto não tive tanta sorte.
Thomas se ajeitou, com o semblante revelando seu desconforto:
– Minhas desculpas, Lady Hawthorne. Tinha me esquecido de sua antiga
associação com o Lorde Westfield.
Ela riu suavemente:
– Não é preciso se desculpar. Sinceramente, eu agradeço. Estou certa de que você
é a única pessoa em Londres que teve a sensibilidade de esquecer esse assunto. Não
dê atenção a ele, senhor Fowler. O Conde tinha pouca importância para mim na
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