Amor retalhado

***Blim, blim, blim***

- Desligar o alarme.

Primeiramente bom dia, gostaria de me apresentar a você, eu me chamo Amanda, tenho 28 anos, tenho 1,72 de altura, o corpo violão, cabelos loiros, olhos castanhos e sou uma ótima pessoa... BOM... A quem diga que não, mas será que as pessoas que realmente podem julgar-me ainda estão vivas? Vivo um relacionamento baseado em mentiras, apesar de existir amor eu sinto que não posso contar sobre os meus segredos ao meu noivo, o que é um pouco confuso. Os meus pais são pessoas problemáticas e temperamentais, apesar de tudo, sempre se esforçaram para me tornar alguém melhor, será que deu certo? Apesar de criar um personagem para as pessoas ao meu redor, as minhas personalidades distintas me impedem de socializar com todos, sou muito seleta e desconfiada. Tenho um enorme amor por facas... Ah, as facas... Tenho um restaurante no centro da cidade, o nome dele é Le Gaston, o meu noivo é o meu subchefe, é mais fácil administrar trabalho e relacionamento quando estão interligados, né? Apesar de tudo, tenho duas grandes amigas Rita e Sophia, elas me ajudam a organizar a vida louca que eu levo para administrar o restaurante, os compromissos com o meu noivo Pedro e claro, meu hobby secreto, talvez pensem que eu tenho um caso, mas acho melhor do que revelar a verdade para elas, será que ainda seriam minhas amigas? Bom, esse papo vai ficar para depois, agora tenho que me arrumar para mais um dia de trabalho, mas antes vou dar uma passadinha no meu cemitério particular, há algumas coisas para me desfazer! Hahaha...

***

***Ligação***

-Alô, Rita!? Você pode avisar ao Pedro que me atrasarei hoje? Avise a ele que o senhor Roman passará em breve para entregar as encomendas para a realização do jantar, as carnes para o almoço já estão na bancada e os vegetais na dispensa.

-Claro o aviso, mais alguma coisa amiga?

-Não, por hora é só, byeee...

-Tchau, até logo!

***

-Ah... Dirigir me acalma, principalmente com um som bem alto que me faça esquecer o mundo inteiro.

Finalmente chego á marina onde deixo o meu iate, sempre carrego as minhas vítimas em sacolas, levo até uma ilha inabitada perto da marina, os funcionários me ajudam no transporte, digo a eles que são sobras de alimentos do restaurante que levo para alimentar os animais da ilha, são bem pagos para não questionar e nem comentar as minhas idas até lá.

-Sílvio, será que você pode me ajudar a levar essas bolsas?

-Claro, senhora! Como está o Pedro? Diga que eu o mandei um abraço.

-Ah! muito trabalho, você sabe como é né? Ele vai bem, direi com certeza!

- Muito obrigada por me ajudar com as bolsas - falo enquanto descarregamos todas elas no iate. Tome aqui um agrado para levar a sua esposa para jantar.

- Disponha, não é necessário tanto!

- Fique, por favor! -Ele acena a cabeça com um sorriso de lado, acho que ficou feliz com os R$200,00 a mais que dei ao pequeno trabalho de hoje.

***

Vou a conduzir o iate até a ilha, admiro demais a beleza do mar, mil pensamentos me pairam no caminho, gostaria de dividir a sensação de matar alguém que feriu e matou tantas outras mulheres, mas quem iria me entender?

Quando chego, já abro as sacolas e despejo todos os restos triturados pela costa e por trilhas na ilha, os animais do mar e da mata consomem todas as provas dos meus crimes, assim não preciso prestar tantas contas sobre os meus atos. As roupas, sacolas e pertences, ateio fogo em um local isolado, cuidando sempre para não propagar para as árvores. Meu momento de paz, é quando vejo virar cinzas todas as histórias e todas as crueldades que essas pessoas causaram a outras.

- Por hoje é isso, mais um dia fazendo o bem para a sociedade.

***

Retorno ao meu carro e já estou perto do restaurante, chego e Sophia já está na porta fazendo a recepção dos clientes.

-Amanda, você estava novamente na ilha? Vai tomar um banho? Precisa que eu te leve algo para se vestir?

- Não é necessário amiga, vou tomar banho, mas o uniforme já está na bolsa!

- Ah! O triturador de carnes deu defeito novamente, o Pedro encontrou um pedaço de osso, deve ter parado lá por engano, mas o Messias virá a tarde concertar. -Falou Sophia com um ar de preocupação.

- Sem problemas, pague-o e coloque a nota na contabilidade para que seja creditado e justificado no fim do expediente. Quanto as encomendas, chegaram certinho?

- Sim, tudo conforme o solicitado, a nota já se encontra na sua sala para a conferência.

- Muito obrigada pelo trabalho prestado, você é demais!

-Disponha.

***

Tomo um banho longo e relaxante, me sinto pronta para mais um dia na cozinha mais movimentada da cidade, já são quase 11:00 horas da manhã e os pedidos começam a chegar. Rita e Pedro já adiantaram os primeiros pedidos, chego e já começo os preparos para as sobremesas, apesar de um menu bem diverso, muitas coisas possuem preparos antecipados então levo cerca de uma hora para as finalizações.

- Rita, o croissant de nozes está no forno, o sirva ainda quente em 30 minutos.

- Certo, chamarei um garçom e darei as orientações -Respondeu a Rita.

Rita era uma funcionária exemplar, além de organizar todos os pedidos e cuidar para que os clientes recebessem exatamente o que foi solicitado, ajudava na cozinha na preparação das saladas e dos pratos frios.

***

Finalmente o expediente chegou ao fim, á uma pequena discrepância nas notas, mas creio que seja algum erro de cálculo, no movimento intenso que tivemos hoje, é normal a confusão.

- Vamos amor? - Pedro me chamava já na porta.

-Vamos meu rei.

Mal vejo a hora de descarregar todos os meus sentimentos neste homem maravilhoso. Pedro tem cerca de 1,80 de altura, mantém seu corpo malhado e bem estruturado, tem uma cor bem bronzeada, cabelos cacheados e um sorriso que deixa qualquer mulher perdidamente apaixonada.

Já no carro, ele passa a mão por meus cabelos, me coloca em seu colo e acaricia os meus lábios com o seu polegar, me deixando completamente louca...

- Gostosa! -Sussurrou em meu ouvido.

Isso já foi o bastante para fazer-me derreter.

***Tóc, tóc***

Olho para o lado e tem alguém batendo na janela do carro.