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Bianca narrando:
Já faz uma semana que meu pai não aparece em casa, e eu dou graças a Deus por isso.
Sim, familia é muito mais do que laços de sangue, e uma pessoa tem o direito de odiar o próprio pai.
Sou nascida e criada no morro do Vidigal, apesar disso, não costumo ir muito em bailes e até mesmo a praça eu evito. Meu pai me passa muita vergonha, sempre bêbado ou drogado, gritando comigo no meio das pessoas, caído em algum lugar, ou me batendo pra caramba. É um inferno, mas faz parte. Desde que minha mãe morreu essa é a nossa realidade.
Como faz um tempo que ele não aparece por aqui, a minha melhor amiga, Carol. Acaba me convencendo de ir ao baile hoje. Só quero beber uma caipirinha, dançar e me divertir um pouco..
Coloco uma saia preta curtinha com brilho que desenha bem meu quadril, um cropped da mesma cor que tem um decote bonito e um salto alto. Faço uma maquiagem simples, e deixo o cabelo solto. A Carol está linda com um vestido curto e tênis branco.
A gente chega no baile lotado, já tarde da noite, porque a Carol trabalha em um salão e só fecha quando termina a última cliente. Apesar do pai dela ser envolvido no tráfico, e ter dinheiro pra bancar a família, ela prefere ter a própria grana. Eu até tento aprender algumas coisa de salão, mas sou péssima, não é a minha área. Mesmo assim faço bicos cuidando de algumas crianças pela comunidade, pra fazer meu próprio dinheiro.
A quadra está completamente lotada, o cheiro de maconha e essência está por todo lado, a gente passa por alguns homens com fuzil pro alto de cara fechada, mochila nas costas e rádio na cintura. Pra muitas pessoas isso pode ser incomum, sentem até medo. Mas nós que crescemos na comunidade, sabemos que eles são a lei aqui, e esse novo comando não prejudica morador nenhum. Apenas se fizer algo errado, aí o negócio fica feio.
A Carol puxa minha mão indo em direção ao bar, a gente pede duas caipirinhas e o cara nos entrega um copão quase derramando. A gente da uns dois goles seguidos, e vamos procurar um lugar bom pra dançar.
Ficamos rebolando até o chão, quicando e fazendo passinho. Encontramos vários conhecidos, e também algumas patricinhas com um pessoal diferente. Eles nos olham curiosos, como se fosse algo de outro mundo. Nem dou bola pra isso, porque sempre convivemos com turistas no Vidigal, e até fazemos amizades as vezes.
Já de madrugada, passamos pra vodka com energético, muitos caras em cima da gente, oferecendo bebida, droga e tudo que a gente quiser. Mas desde sempre aprendemos a ficar longe desse mundo problema, tudo parece flores no começo, e um tipo de vida que enche os olhos. Principalmente pelo ouro enrolado no pescoço e no pulso, o bolo de dinheiro no bolso, e o open bar de tudo que você imaginar. Muita gente de mente fraca, se envolve com homens do tráfico, em busca de uma vida melhor, mas no fim descobrem que é só ilusao.
O nosso baile funk é com certeza um dos mais animados do RJ, tem dancinha, gritos, bunda rebolando pra todo lado, e a galera sorrindo. Apesar de não vir muito, eu amo..
O Kaká se aproxima da gente já sarrando na Carol, eles ficam de vez em quando e eu até acho ele gente boa, mas desde que virou fogueteiro, venho pedindo pra Carol dar um tempo dele.
- E aí loirinha, chefe tá mandando vocês subir! Agora! - O Canela chega e fala segurando meu braço bem de leve, com um sútil aviso no olhar. Eu sabia que não devia ter vindo, que teria problemas.
A algumas semanas atrás eu trombei com a tropa do dono do Vidigal, quando estava subindo uma escadaria, eles estavam todos parados em cima das motos, conversando e sorrindo. Passei de cabeça baixa como sempre, evitando qualquer tipo de problema. Porque sabia que desde que o Diego terminou com a minha irmã, ele não suportava a minha família. Ameaçou mandar a gente embora várias vezes, e se não fosse a tia do Diego, que é um amor de pessoa, eu já teria vazado daqui a muito tempo.
Nesse dia eu tive aula de educação física, e estava voltando pra casa de legue, tênis e uma blusinha fina, tentando seguir meu caminho, quando os moleques começaram a mexer comigo. Claro que o Diego marrento do jeito que é não falou nada, mas o seu olhar de desprezo e raiva, mudou nesse dia. Eu não sei se ele estava entediado, e viu em mim uma forma de diversão, mas a partir daí ele começou a me encher. Antes eu era apenas a irmã mais nova da sua ex namorada, agora ele viu que eu cresci e seus olhares tem segundas e terceiras intenções. Isso me irrita em um nível absurdo, porque ele acha que pode ter qualquer mulher da comunidade, como se tivesse um rei na barriga.
- Agradece o convite, mas estamos bem aqui. - Falo tentando me livrar o braço dele.
- Tá ligada que o chefe não pede né? Bora aí! - Fala me puxando pelo braço e eu respiro fundo. A Carol e o Kaká me seguem sem falar nada.
Vamos passando pelos camarotes elevados de madeira, e eu vou me xingando mentalmente. Eu sabia que ele tentaria alguma coisa depois do aviso que ele mandou me dar na praça. " O chefe mandou tu ficar esperta, que logo tu cai pro abate." Que ódio mil vezes que ódio. Ele trata todas as mulheres como lixo, e ainda acha que eu estava na fila esperando a minha vez de ficar com ele.
No camarote tudo é muito mais explícito, e é como se tivéssemos chegado pra fazer parte de tudo que os mandachuva decidirem. Não gosto dos olhares e da sensação aqui de cima, principalmente por a Carol ter passado do ponto na bebida hoje. Ela disse que não comeu nada, e isso com certeza fez ela ficar mais louca.
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