Esquecimentos e acontecimentos

Oportunamente, contarei como nos conhecemos. O maior problema era as nossas famílias. Elas não se gostavam, tampouco se suportavam. O motivo? Ainda não sei, mas Catherine parecia saber.

- Por que você não me conta? - eu disse, coçando a parte de trás dos cabelos.

- Contar? Eu não sei do que você está falando, Josh querido. Apenas sua mente mentiria para você, eu não. - Catherine não sabia mentir. Ela realmente não sabia fazer isso. Sempre que mentia, ela franzia o cenho enquanto falava suas obscenidades (já que mentir é uma das quais considero) e enrolava o cabelo na ponta dos dedos.

- Sofremos com mais frequência na imaginação do que na realidade. Sabia?

- Querido, você sofre na imaginação? Se sim, você sofreria comigo. - algumas frases delas pareciam ser ditas "ao vento" pois não faziam muito sentido. Enfim, voltando ao ponto de partida.

Ela era uma Greymor, e eu, um simples Aristabini. A família dela era composta por famosos e bem-sucedidos empresários que se preocupavam com a opinião dos outros sobre si próprios, tal preocupação os fazia capazes de mentir sobre o que fizeram no "verão passado", algo que Catherine prometera nunca contar para ninguém, especialmente para mim. Acredito que fizera essa promessa pois, seja lá o que sua família tenha feito, é grotesco, e eu talvez me afastaria dela, por medo. Nós, os "Aristabinis", somos pessoas humildes, ou ao menos éramos. Meu pai disse que ganhou dinheiro na loteria e desde então vivemos no luxo. Ele não sabe administrar toda essa "grana", então minha mãe ficou responsável por cuidar disso. E por esta escolha, mal sei com o que eles gastam. Apenas sei que, de uma simplória casa na fazenda, viemos para a cidade grande. Minha família é composta pela minha mãe, Alice, e meu pai, Aristimunho. Não tenho irmãos, tendo em vista que, além de eu ter sido um "acidente", meus pais não querem ter mais filhos, dizendo que "um já foi trabalho suficiente". Dão gargalhadas, mas depois expressam preocupação quando falam isso.

Algo que acho que valha a pena ressaltar (pois eu particularmente não entendo o porquê) é que meus pais odeiam a Catherine. Dizem que eu deveria esquecer dela e seguir uma vida normal como todo adolescente de 18 anos. Provavelmente dizem isso por conta da diferença de idade por mais que não seja tão abrangente. Meus pais não costumam se preocupar com o que os outros pensam, e por isso não entendo porque se preocupariam com algo que não é plausível de tanta preocupação. Além do mais, Catherine é linda. Como poderia me esquecer dela tão facilmente? Ela era menor que eu, com olhos e cabelos castanhos. Tinha pequenas sardinhas em seu rosto, e um nariz fino e arrebitado. Eu me perdia na maré de cachos que ela tinha. Era um cabelo que passava da cintura e todo encaracolado. Já eu, também tinha o cabelo cacheado, era alto, moreno, de olhos castanhos. Nada que seja muito importante.

- Podemos apenas esquecer das brigas entre nossas famílias e seguirmos nossa vida? - estávamos na costa da praia, em Maincity. O vento batia em nossos rostos. Estávamos debruçados sobre uma frágil cerca de madeira que parecia que poderia cair a qualquer momento.

- Não. Apenas não. Você é louca se acha que podemos esquecer tudo isso. Meus pais mandam eu te esquecer, Catherine. Eu não posso simplesmente esquecer essa briga entre seus pais e os meus pois eu quero saber o que aconteceu. Estamos juntos há algum tempo e mesmo assim você continua me escondendo seus malditos segredos! - falei irritado, levantando a voz na última frase. Aguentei toda essa "trama" desde que nos conhecemos, e agora ela quer que simplesmente esqueçamos? - O que eles fizeram no verão passado?

- ... - Catherine se manteve em silêncio. Virou os olhos para mim que antes olhavam para o mar impetuoso, mas se manteve em silêncio. Me virei para ela, segurei em seus ombros com força e a virei de frente para mim.

- Que merda a sua família fez no verão passado? - ela me olhou assustada.

- Fizeram você ser o que você é hoje, querido. - ela gaguejou antes de iniciar a frase. Mais uma vez, ela diz as coisas "ao vento". Me fizeram ser o que eu sou hoje? Irritado, impulsivo?

- O que? Como assim? - Catherine começou a chorar. Ajoelhou-se na minha frente agarrando o meu calcanhar, e disse entre soluços:

- Eu juro á você que a culpa foi toda deles... mas por favor, não conte para eles o que eu vou te dizer agora, eles me matariam se soubessem que eu lhe contei o que fizeram! - a medida que ela ia falando, a mesma levantava o rosto e olhava diretamente para os meus olhos. - A culpa foi todas deles! Toda deles... Se eu pudesse ter evitado, eu o teria feito, e assim você seria... uma pessoa normal.