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Clara Vasconcelos:
Se alguém tivesse me dito que minha carreira de escritora me levaria à beira do despejo, eu teria acreditado. Não porque sou pessimista - longe disso. Mas porque, depois de seis anos tentando viver de palavras, aprendi que finais felizes são para a ficção. E olhe lá.
A carta da editora repousava sobre a mesa, com a elegância cruel de quem sabe que está destruindo sonhos. Mais uma rejeição. A terceira só naquele mês. Eles adoraram minha escrita, disseram. Mas o mercado está difícil. O catálogo já está cheio. Boa sorte no futuro.
Boa sorte. Engraçado. Eu precisava de dinheiro, não de sorte.
Suspirei, afastei a caneca de café frio e olhei para a tela do notebook. O cursor piscava como se zombasse de mim.
Meu celular vibrou com a notificação de cobrança do aluguel. Atrasado. De novo.
- É isso, Clara - murmurei para mim mesma. - Hora de aceitar que ser escritora no Brasil, em dezembro, é como tentar vender sorvete no Ártico.
Respirei fundo, tentando fazer meu cérebro funcionar e pensar na melhor solução possível para sair desse perrengue. Mas, antes que eu pudesse raciocinar, a "solução" bateu à porta. Ou não.
Minha melhor amiga, Júlia, apareceu com sua clássica entrada sem bater.
- Você viu isso? - perguntou, agitando o celular. - Eu juro que é coisa de filme.
- O quê? Outro reality de famosos na fazenda? - perguntei. Não precisamos de introduções; apenas falamos. Nossas conversas nunca têm começo nem fim.
- Não! Um anúncio. No grupo de freelancers. Ouve essa: "Procura-se namorada falsa para o Natal. Dez dias. Boa remuneração. Discrição exigida."
Pisquei, sem acreditar na bobagem que estava ouvindo.
- Isso é sério?
- Tão sério quanto minha dívida no cartão. Olha só.
Peguei o celular das mãos dela e li o post. Era curto. Direto. E completamente insano.
"Homem jovem, solteiro, empresário, precisa de acompanhante para festas natalinas em residência familiar. Contrato de dez dias. Acomodação, alimentação e pagamento inclusos. Requisitos: boa apresentação, criatividade e saber mentir com charme."
- Isso é uma armadilha - disse, devolvendo o celular.
- Ou é o seu 13º. E o meu, se você me der comissão por ter encontrado.
- Não vou me vender para um estranho, Júlia.
- Mas vai se endividar por um ideal que não te rende lucro nenhum?
Bastou uma batida forte do meu coração para entender o que ela queria dizer. Eu era uma escritora fracassada, quase passando fome, e me recusava a fazer um trabalho simples que envolvia... mentir.
Vinte minutos depois, eu já estava de volta ao meu notebook, digitando com dedos hesitantes a resposta ao e-mail de contato.
"Olá. Meu nome é Clara Vasconcelos. Tenho experiência com improvisação (sou escritora), sei mentir com charme (já fui garçonete) e estou disponível para o Natal. Quando podemos conversar?"
Enviei.
E desejei, pela primeira vez em semanas, que minha vida virasse uma comédia romântica ruim. Porque, sinceramente? As alternativas não eram nada engraçadas.
Tentei esquecer a todo custo o e-mail encaminhado, mas, conforme os dias se passaram, me peguei olhando mais e mais para o celular, aguardando alguma resposta - nem que fosse um e-mail de recusa. Ser rejeitada já era quase um conforto familiar.
Mas nada. Nem um "agradecemos seu interesse", nem um "sentimos muito". Apenas o silêncio absoluto, cortado ocasionalmente pelas notificações de promoções de livrarias que eu não podia pagar.
No terceiro dia, comecei a achar que tinha mandado o e-mail para o endereço errado. No quarto, desejei não ter mandado nada. No quinto, convenci a mim mesma de que era melhor assim. Se alguém realmente queria uma "namorada falsa", aquilo só podia acabar em tráfico de órgãos ou em documentário policial no Discovery ID.
Foi então que, no sexto dia, enquanto eu tentava esquentar um resto de arroz no micro-ondas (spoiler: queimou), meu celular vibrou. E não era propaganda. Era ele.
"Boa tarde, Clara. Agradecemos seu contato. Seu perfil nos interessou. Podemos marcar uma videoconferência amanhã, às 14h? Assunto: proposta de contratação."
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