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— Catrina e Will. Preciso falar com vocês. Venham até minha sala, por favor.
Eu jamais imaginei que chegaríamos a essa situação, sobretudo no aniversário de 100 anos da galeria. Fundada em 1920, por Giovanni Valentini, a galeria sempre foi muito próspera, mesmo quando Winy Valentini, sua neta, assumiu a direção da galeria após ele mostrar não ser mais um exímio gerente. Conforme os anos avançavam a galeria vendia cada vez menos. Quando Giovanni faleceu, alguns de nossos melhores clientes nos abandonaram, grande maioria eram seus amigos e por ele ainda permaneciam.
Eu entrei na galeria em 2015, nessa época Bailey, Alana e Carlos ainda trabalhavam aqui, Carlos como gerente, Alana e Bailey vendedoras. Poucos meses depois, Willian foi contratado para substituir Alana, que saiu depois de se casar. Nos tornamos melhores amigos em pouco tempo, não tinha como ser diferente. Willian é uma pessoa muito carismática e alegre, leva luz aonde quer que vá. Não demorou muito para que fôssemos vistos com maus olhos pelos mais antigos, mas isso nunca foi um problema, não até Dona Winy informar que faria um corte. Foi nesse momento que Bailey passou a ser mais competitiva e por muitas vezes grosseira, somente com os funcionários, claro!
Bailey foi demitida após discutir com Willian e ofendê-lo por sua sexualidade. Carlos, que já estudava outra oportunidade de emprego, aproveitou a deixa e saiu da galeria pouco menos de um mês depois. Apesar de seu jeito incomum de ser, Bailey era uma boa vendedora, tinha clientes fiéis. Alguns vieram e continuaram comprando, outros ao sentirem sua falta, simplesmente viravam a cara e iam embora. Com a saída de Carlos acabei pegando seu lugar na gerência. Levei um susto quando Dona Winy chamou William e eu para conversar, temia que a falência houvesse, enfim, chegado para nós.
— Está tudo bem? — pergunto assim que ela pediu para nos sentarmos.
— Sim, sim... Tenho uma proposta para fazer para vocês! Podem tirar essa cara de velório. Não é nada ruim.
— A senhora falou tão séria, pensei que fosse. Do que se trata, Dona Winy? — Willian pergunta enquanto se arruma na cadeira.
— Vocês sabem, muitos clientes que eram atendidos pela Bailey nos deixaram. Como grande maioria não é tão regular, ainda faltam alguns para aparecer. Entre eles está John Pentrana, o maior comprador entre os que ainda restam.
— O que a senhora sugere que façamos? — pergunto.
— Não o percam! Como incentivo, aquele que conseguir fazer John permanecer como cliente ganhará um bônus de 15%, além da comissão habitual.
Olho para Will sem entender nada. Pelo que vejo em seus olhos ele também não entende.
— 15% não é um valor muito alto? Considerando que já temos nossa comissão de venda?
— Meus filhos, eu faria muitas coisas para evitar a falência.
— Ela enlouqueceu! — Sussurra Will em meu ouvido
— Como ela disse: “Muitas coisas para evitar a falência”.
Com um aceno de mão ela nos dispensa. Não sabíamos quando ele apareceria, no entanto, sabíamos que quando aparecesse, não poderíamos perdê-lo.
***
Estava atendendo Dona Lucena, alguns dias depois da inesperada reunião com Winy, quando uma criança entrou correndo pela galeria, esbarrando em alguns vasos, antes de entrar na primeira porta aberta que encontrou.
Peço licença a Dona Lucena e vou atrás do pequeno fujão. Estou procurando por ele no depósito, onde ele entrou. Não posso negar que ele é uma criança esperta, pois se escondeu muito bem. Ouço alguém gritando, suponho que seja o pai dele, o nome que ele chama é Mason, então, não penso duas vezes antes de tentar.
— Mason?
Escondido atrás de algumas caixas, ele me permite ver seu rosto, enquanto me olha assustado.
— Meu nome é Catrina, pode me chamar de Cat se quiser, está tudo bem com você?
Ele apenas concorda
— O que você acha de sair daí pra gente conversar melhor?
— Você tem medo do escuro, Cat?
— Não. E você?
Ele faz um gesto negativo com a cabeça antes de me dizer: — Senta aqui comigo, por favor.
Eu sorrio e me aproximo dele. Mason é pequeno, se meu chute não for muito ruim, acredito que ele tenha uns quatro anos apenas.
— Meu pai está lá fora, não está?
— Está sim... Por que você fugiu dele?
— Eu não queria vir pra cá. Eu queria ir brincar, mas toda vez é a mesma coisa, a gente só faz coisa chata quando está com o papai.
Algo no tom de voz de Mason me fez vê-lo como uma criança muito madura para sua idade. Parei e olhei para ele, ninguém diria que um menino (pelo qual eu poderia jurar ter apenas quatro anos) de olhos verdes e cabelos castanhos claros, pequeno com ele é, carregaria a maturidade de um menino bem maior, a julgar pela maneira como ele entrou aqui.
— Nós precisamos sair daqui, não acha?
— Eu tô com medo.
— Eu sei. Eu também fiz muita coisa feia quando tinha seu tamanho. Mas seu papai te ama e sempre vai fazer o melhor pra você, mesmo ele achando a melhor opção te trazer para uma galeria de arte. Além do mais, você é um garoto muito inteligente, precisa enfrentar seus medos. Jamais deixe o medo vencer você.
O pequeno segura minha mão e sorri. Um sorriso pequeno, nem mostra seus dentes direito, apesar disso, é suficiente para derreter meu coração. Saímos do depósito encarando um ao outro. É possível ouvir seu pai muito mal humorado falando com Will, contudo isso não abala a confiança de Mason, que segura firme minha mão.
***
— Quanto custa os vasos?
— Eles custam...
— Não se preocupe, eu pago. Cadê Bailey? Ela não virá me atender?
— Ela não trabalha mais conosco, senhor.
— Como assim? Ela é a minha vendedora!
Mason me olha assustado e aperta minha mão
— Vai ficar tudo bem. — Digo para ele e sorrio, enquanto com a outra mão eu cruzo os dedos torcendo para que fique mesmo.
— São informações sigilosas, senhor. — Diz Will apavorado, contudo tentando ser educado. Ele me olha e fica evidente. Ele não sabe como agir diante da explosão do rapaz.
— Com licença, senhor, aqui está Mason — falo calma e educada, ou pelo menos acredito ter sido assim.
O homem vira abruptamente. Enquanto segura firme um bebê em seu colo, ele me olha de cima a baixo, me analisando. Eu faço o mesmo, afinal não estou acostumada a ter uma beleza dessas na minha frente todos os dias. Ao contrário dele, faço o uso da discrição.
— Oi, filho. Vem aqui. — ele abaixa e chama o garoto, o recebendo com um abraço. Após abraçar o menino, volta seu olhar para mim e diz:
— Quem é você? Você entrou no lugar da Bailey?
— Ela é a Cat, papai. Ela me ensinou que temos que enfrentar nossos medos e que o senhor é meu papai e sempre vai estar comigo. — eu sorrio para o menino, o pai dele ainda sério mantém seu olhar em mim.
— Meu nome é Catrina, senhor. E, não. Eu já trabalho na galeria há muito tempo. — Eu sorrio, não sei qual será a reação deste homem, parece que ele não gostou muito de mim. Ele me encara, sustenta seu olhar avaliador por um tempo, até finalmente sorrir e, só então paro para analisar a obra de arte ambulante em minha frente. Imagino que ele tenha seus 1,80m de altura, é claramente um praticante de atividade física, seus belos músculos não diriam o contrário disso. Seu sorriso perfeito combina excessivamente com os olhos castanhos.
— Então, obrigado, Cat. Eu sou John Pentrana. Desculpe minha reação, meu filho é tudo pra mim.
— Não tem pelo que agradecer ou desculpar. Se me der licença, não quero atrapalhar. — Antes de me virar sinto sua mão sobre meu braço, seus dedos gelados sobre minha pele me causam arrepios.
— Eu gostaria que você me atendesse. — ele diz assim que eu volto minha atenção a ele — Se não for incômodo ao — ele olha para Will e lê o nome em seu crachá e sorri aparentemente sem graça. — Willian.
Eu olho para ele e para Will, não sei o que dizer. Will está segurando o riso, se não fosse pelo nosso cliente estaria rindo a vontade da minha cara.
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