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Rafaella narrando
Eu sempre fui uma garota calada e observadora. Desde pequena aprendi a viver entocada nos compartimentos de casa, esquecida pelos meus pais. Eles não tinham muito tempo pra mim por causa do trabalho. Sempre foi o trabalho em primeiro lugar. Mas mesmo assim, eu os amo tanto que não consigo nem explicar. Tenho um irmão mais velho, Raffael. Mas ele já não vive mais conosco. Motivo? Meus pais enxotaram ele de nossas vidas, sem direito a despedida. A última vez que o vi e falei com ele, Raffael estava brincando de boneca comigo, algumas horas depois ele foi expulso. Nunca me faltou nada além de atenção e carinho. Tinha a Maria, minha governanta ou babá, tanto faz. Ela é meu porto seguro, ao contrário dos meus pais, está sempre aqui para me amparar quando eu cair.
Não diria que eu vivo, eu só sobrevivo dia após dia. Bom, não tem nada de importante na minha vida, quem vive de verdade tem alegria no coração. Eu sequer tenho isso. Espero que isso possa mudar um dia. Que eu construa laços afetivos, que eu tenha um bom emprego e uma família pra amar e ser amada na mesma intensidade.
Desperto dos meus pensamentos, e afasto a preguiça que se instala no meu corpo. Me alongo e levanto da cama, vou direto ao banheiro tomar aquele maravilhoso banho pela manhã para afastar toda a negatividade. Logo após, me visto rapidamente com o blusão da escola pra cobrir o cropped que decidi usar, e penteio meus cabelos. Me perfume inteira, e pego todos meus pertences necessários. Desço a escada e vou para a cozinha.
- Bom dia, Maria. - cumprimento Maria assim que a vejo.
- Bom dia, querida. - sorri.
- Meus pais já foram trabalhar? - começo a me servir o café da manhã. - Não os vi chegando ontem. - passo a nutella na torrada.
- Sim. Na verdade, seu pai viajou à trabalho e sua mãe o acompanhou.
- Nossa. Nem para se despedir. - lamento.
- A dona Suzana falou que iria ligar para você.
- Grande coisa. - bufo. - Maria, já vou indo para a escola.
- Sim. Boa aula, Rafinha. - mando beijo no ar.
Saio da cozinha e pego minha mochila que larguei em cima do sofá. Vou para a entrada de casa e espero o motorista encostar o carro.
- Bom dia, senhorita. - André me cumprimenta e abre a porta do carro para mim.
- Bom dia. - entro no carro.
Na escola, ando pelos gigantes corredores até chegar na minha sala, a qual a primeira aula seria Artes. Sento no fundo da sala, na frente do Daniel, meu melhor amigo.
- Oi, mi amor.
- Oi. - encosto a cabeça na parede.
- Boa notícia. - fala empolgado.
- Qual é a notícia? - pergunto sem interesse.
- Vai ter uma festa lá em casa. Meus pais convidaram os seus pais. - sorri mostrando os dentes. - Você vai né?
- Talvez. - dou de ombros. - Quando vai ser a festa?
- Hoje. - bate palmas.
- Em uma segunda-feira? - ergo a sobrancelha.
- Não vai ser uma festa daquelas. - faz uns sinais esquisitos. - É só uma social que os meus pais querem fazer para comemorar o contrato com uma empresa americana aí. - fala rápido. - Foi de última hora. Nem deu tempo de preparar muita coisa. - explica.
- Hum. Acho que vou. Meus pais viajaram hoje cedo, então eles não vão. - suspiro.
- Imagina só, várias meninas lá em casa. - fala olhando para o teto.
- Imagina só, vários meninos lá na sua casa. - falo fazendo a mesma pose que ele.
- Coitada de você. Quem disse que vou deixar você sair pegando os meninos? - dá um peteleco na minha testa.
- Credo. - sorrio. - Você pode pegar e eu não?
- Sou homem, é de natureza. Mulher tem que ficar em casa lavando à louça.
- E esse seu machismo aí? - rimos.
- Tô brincando.
- Ei, vocês dois! Prestem atenção na aula. - a professora ordena, visivelmente irritada.
- Desculpa. - olho pra lousa.
- Desculpa, professora desdentada. - sussurra.
- Menino! - rimos.
- Vou ter que falar outra vez? - olha para a gente.
- Não, professora. Pode dar sua aula.
A aula terminou rápido. Passei a aula inteira jogando bolinha de papel na lixeira, em um completo desafio para que a professora não me pegasse no flagra. Não tinha nada pra fazer. Desenhar e pintar não é a coisa mais divertida e interessante para mim.
Agora estou no intervalo com o meu belo amigo e ele tá me pedindo dinheiro emprestado, como sempre. Infelizmente ou felizmente, não tenho mais dinheiro.
- Mano, me devolve a coxinha. - falo irritada.
E o Daniel como sempre tendo atitudes infantis, que me irrita, ao mesmo tempo que também me diverte. Ter amizade te deixa um pouco perturbada.
- Esqueci minha carteira em casa. Divide vai. - implora.
- Claro que não. Morra de fome. - pego a coxinha de volta.
- Malvada. Deus vai te castigar. - fala emburrado.
- Será? - falo olhando para o céu. - Por que você não compra fiado? Depois você paga a tia.
- Eu pedi, mas ela não deixou.
- Faz uma dança sensual pra ela. - falo séria. - Ela vai te dar todas as coxinhas da cantina, pode dar até outras coisas... - insinuo.
- Idiota. - rimos. - Me dá a coxinha! - tenta pegar da minha mão.
- Socorro! - grito e saio correndo pelo refeitório.
Ao perceber que ele não veio atrás de mim, olho pra trás e vejo o Daniel com a mão no rosto de cabeça baixa. Acho que ele deve ter ficado com vergonha.
- Daniel, meu amigo! - grito indo em sua direção. - Como está seu estômago? Passou a dor de barriga? - todos gargalham.
- Eu ainda te mato. - puxa meu cabelo e sai andando de cabeça baixa.
Pra quê inimigo?
- Daniel, me espera. - agarro seu braço.
Os amigos nasceram para serem humilhados não é mesmo?
Depois que a última aula da professora de matemática acabou, fomos liberados para ir embora. Fico sentada no banco enfrente a escola esperando meu motorista chegar.
Percebo Allan e seus amigos se aproximando de mim e suspiro cansada, lá vem mais uma bomba para eu aguentar.
- E aí, suave? - senta ao meu lado.
- Tava tudo de boas antes de você chegar, mas felicidade de pobre dura pouco - falo cínica.
- Pobre você? Sério? Maior dondoca da escola. - dá risada.
- Sou pobre de felicidade, ok?!
- Tô ligado. Vai na social do Daniel? - pergunta mudando de assunto.
- Talvez. - digo com indiferença. - Que saco, onde o André se meteu? - sussurro irritada
- Como?
- Esquece. Vou indo nessa, meu motorista ainda não deu as caras - levanto e ele me segue.
- Vou com você até sua casa, assim a princesa não corre perigo. - assinto forçando um sorriso - Falou galera, até depois. - se despede de seus amigos.
Senhor, me ajuda. Esse menino não vai largar do meu pé. Maldita hora que o Daniel resolveu sair com aquela sem bunda da Vanessa!
- Mas, e aí, você tá de rolo com alguém? - quebra o silêncio.
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