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No Alvorecer do Coração

No Alvorecer do Coração

Gabriela.B

5.0
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16
Leituras
5
Capítulo

Aurora, uma jovem de beleza quase etérea, cresceu em meio à adversidade e à crueldade, perdendo sua mãe no momento de seu nascimento e sendo entregue à vida de Madame Helena, onde aprendeu não apenas a seduzir, mas também a dominar línguas estrangeiras e etiqueta refinada. Enquanto isso, Henrique, herdeiro de uma família de prestígio e riqueza, viveu uma vida de privilégios e educação refinada ao lado de seus irmãos, especialmente ligado à sua irmã Charlotte. O destino os separou após uma tentativa de fuga frustrada, deixando Aurora nas mãos de um homem estrangeiro, onde seu casamento foi marcado mais pela devoção do que pelo amor. Após anos, ela retorna à Nova York, onde reencontra um mundo transformado e é atraída para um evento aristocrático, apenas para descobrir que o anfitrião é o próprio Henrique. No instante em que seus olhares se cruzam, um véu de memórias e emoções passadas é erguido. Enquanto Aurora carrega as cicatrizes do seu passado, Henrique também enfrentou desafios e mudanças. O reencontro lança-os em um turbilhão de sentimentos não resolvidos e um passado que nunca foi esquecido.

Capítulo 1 O Retorno

O quarto suntuoso da mansão em Sydney estava repleto de malas cuidadosamente arrumadas, cada uma contendo um pedaço da vida de Aurora na Austrália. Ela se movia com determinação pelo aposento, organizando os últimos detalhes antes de sua partida iminente.

As paredes adornadas com obras de arte imponentes testemunhavam seus movimentos ágeis enquanto ela verificava cada item meticulosamente disposto sobre a cama de dossel. A luz dourada do sol australiano banhava o quarto, refletindo-se nas madeixas escuras de Aurora e destacando sua expressão serena, mas determinada.

Seus dedos ágeis ajustavam o fecho de uma das malas, enquanto sua mente se perdia nos meandros do passado e do futuro que se desenrolava diante dela. Era hora de retornar às raízes, de desvendar mistérios enterrados pela distância e pelo tempo.

Uma batida suave na porta interrompeu seus pensamentos. Leticia, sua fiel acompanhante e confidente, adentrou o quarto com um sorriso reconfortante nos lábios.

-Senhorita Aurora, está tudo pronto para a partida. O carro nos espera", anunciou Leticia.

Aurora assentiu, fechando a última mala com um suspiro contido de emoção e expectativa. Ela lançou um último olhar ao redor do quarto que foi seu refúgio por anos, um lugar que testemunhou suas conquistas e desafios na distante Austrália.

-Estou pronta, afirmou, a determinação em sua voz ecoando a certeza de que sua jornada estava apenas começando.

Os passos de Aurora e Leticia ecoaram pelo porto movimentado, onde o gigantesco navio aguardava majestosamente, pronto para cruzar os mares em direção ao destino tão aguardado.

Enquanto se aproximavam do imponente casco, Aurora sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Era como se cada célula de seu ser estivesse eletrizada pela iminência desse retorno, um misto vertiginoso de sentimentos que reverberava em seu âmago.

A fila se movia lentamente, cada passo aumentando a pulsação de Aurora. O momento de entregar o bilhete que selaria sua viagem de volta à cidade que um dia chamou de lar se aproximava rapidamente. Leticia, ao seu lado, emanava tranquilidade, mas seus olhos refletiam a cumplicidade da ansiedade compartilhada.

Finalmente, chegou a vez delas. Aurora entregou seu bilhete ao simpático atendente, seu coração pulsando descompassadamente enquanto aguardava o sinal verde que lhe permitiria adentrar o navio que a levaria de volta para Nova York.

Um instante de suspensão, como se o tempo hesitasse em avançar. E então, a permissão foi concedida.

O frio na barriga de Aurora aumentou à medida que elas subiam a rampa de acesso ao navio. Cada passo era um eco de expectativa, medo e anseio, uma trilha sonora pessoal para sua jornada iminente.

No convés, Aurora se viu envolta pela vastidão do mar, a brisa salgada tocando seu rosto enquanto o navio começava a se mover lentamente. Era o começo de uma jornada de reencontros, descobertas e talvez, quem sabe, o reacender de um amor que o tempo não foi capaz de apagar.

Guiada por um dos membros da tripulação, Aurora seguiu pelo convés, absorvendo cada detalhe do navio enquanto avançava. A atmosfera vibrante a envolvia, mesclando a agitação dos passageiros com a serenidade do mar que se estendia até onde os olhos podiam alcançar.

Após subir alguns degraus, ela finalmente alcançou o corredor que levava aos aposentos designados. O membro da tripulação indicou o caminho, e ela avançou determinada, Leticia seguindo-a de perto.

O quarto era um retiro acolhedor, decorado com elegância clássica. As cortinas brancas dançavam suavemente com a brisa marinha que entrava pela janela aberta, enchendo o ambiente com o aroma fresco do oceano.

Aurora avançou até o centro do aposento, absorvendo cada detalhe. O confortável leito estava adornado com delicados lençóis, e um pequeno arranjo de flores frescas repousava sobre a mesa ao lado da cama, dando um toque de vivacidade ao espaço sereno.

A sensação de estar ali, no quarto que seria seu refúgio durante a viagem de retorno, era quase surreal. Ela sentiu um misto de gratidão e excitação, um momento de pausa antes do recomeço de sua jornada.

-É lindo, murmurou, mais para si mesma do que para Leticia, mas a acompanhante sorriu em concordância.

Aurora se aproximou da janela, observando as águas ondulantes que refletiam a promessa de um novo começo. Um sorriso tímido curvou seus lábios, enquanto ela vislumbrava o horizonte desconhecido que se estendia diante dela.

Aurora e Leticia decidiram tomar um breve momento para refrescar-se antes de explorar mais o navio. Elas se dirigiram ao banheiro do quarto, onde a água quente do chuveiro trouxe uma sensação reconfortante após a jornada até o porto.

Enquanto as gotas de água caíam suavemente, a tensão da partida e a agitação da viagem pareciam se dissipar. Aurora sentiu o calor reconfortante da água lavar as preocupações, e seu corpo relaxou gradualmente.

Após o banho revigorante, elas vestiram roupas confortáveis e se permitiram alguns momentos de descanso, aproveitando os aposentos aconchegantes antes de explorar mais do navio.

Logo, o anúncio de um show noturno ressoou pelos corredores, convidando os passageiros a desfrutarem de entretenimento a bordo.

Aurora e Leticia trocaram olhares cúmplices, compartilhando a empolgação pela perspectiva de aproveitar um momento de diversão.

Elas se encaminharam para a área de entretenimento do navio, onde luzes cintilantes e o som animado da música preenchiam o ambiente. Encontraram um lugar estratégico para assistir ao espetáculo que começava, deixando-se envolver pela energia contagiante da performance.

Aurora observava maravilhada, seus olhos azuis brilhando com o encanto do espetáculo. Era como se cada nota de música e cada movimento dos artistas no palco a transportasse para um mundo de descontração e alegria, deixando por um momento de lado as preocupações que a acompanharam até ali.

Enquanto Aurora absorvia o espetáculo no palco, um movimento ao seu lado chamou sua atenção. Um belo rapaz, com um sotaque meio francês, estendia a mão em um convite silencioso para dançar.

Seus olhos castanhos brilhavam com uma mistura de charme e cortesia enquanto ele aguardava sua resposta. Uma centelha de curiosidade e um sorriso leve adornaram o rosto de Aurora, e ela aceitou o convite com um gesto gracioso.

Os passos levaram Aurora para o centro do salão de dança, onde os acordes cativantes da música preenchiam o ambiente. Ela se viu envolvida nos braços do jovem cavalheiro, deslizando suavemente pela pista de dança.

O rapaz conduzia com habilidade, guiando-a com leveza e elegância. O sotaque francês dava um toque de encanto à conversa que se desenrolava entre eles enquanto dançavam.

Entre passos delicados e trocas de olhares, uma espécie de cumplicidade se formava, uma brecha para um momento de descontração em meio à iminente jornada de Aurora.

Aurora se pegou sorrindo, envolvida pelo calor da dança e pela presença amistosa do jovem. Era como se aquele breve instante fosse uma pausa no turbilhão de emoções que a aguardavam, um momento de leveza e conexão com o presente.

****

Após um mês repleto de momentos marcantes a bordo, o navio finalmente começava a desacelerar, anunciando a chegada ao porto de Nova York. Aurora, envolvida em lembranças e novas experiências, sentiu um misto de emoções enquanto observava a cidade se aproximando gradualmente.

O sol nascia, pintando o horizonte com tons dourados enquanto os primeiros raios iluminavam os arranha-céus imponentes da metrópole. Era um espetáculo de boas-vindas à cidade que ela deixara para trás uma década atrás.

Aurora se dirigiu ao convés, onde se misturava à multidão de passageiros que aguardavam ansiosos para desembarcar. Ela sentia a vibração da cidade reverberar através do ar, uma sensação familiar que despertava memórias há muito tempo adormecidas.

O som dos motores diminuiu gradualmente, e o navio atracou com suavidade. A euforia do desembarque iminente preenchia o ambiente, e Aurora, carregando as lembranças da jornada que a transformara ao longo do caminho, sentia-se pronta para o próximo capítulo de sua vida.

Com passos firmes, ela se juntou à fila de desembarque, seu coração pulsando ao ritmo da cidade que a aguardava ansiosamente. Enquanto pisava em terra firme, Nova York se estendia diante dela, repleta de promessas e possibilidades.

Aurora desembarcou, seus olhos azuis percorrendo a paisagem familiar que agora se mostrava desconcertantemente diferente. A Nova York que ela recordava estava metamorfoseada, modernizada por construções imponentes e novas tecnologias que a fizeram se sentir como uma estranha em seu próprio lar.

Enquanto tentava encontrar um táxi ou um meio de transporte para levá-la, Leticia e sua bagagem até o destino desejado, uma sensação de impotência crescia. O fluxo de carros parecia interminável e poucos taxis estavam disponíveis naquele momento.

Foi nesse instante de incerteza que um jovem rapaz, de sorriso amistoso e olhos vivazes, se aproximou delas.

- Com licença, senhoritas, parece que estão precisando de ajuda.

disse ele, com uma gentileza que era ao mesmo tempo amigável e reconfortante.

Aurora olhou para o rapaz, Enzo, com uma mescla de gratidão e surpresa. Ela assentiu, seus lábios curvando-se em um sorriso tímido.

- Sim, estamos tentando encontrar um transporte para nos levar até o centro da cidade.

respondeu Aurora, sentindo um alívio se insinuar em seu peito.

- Posso ajudá-las, tenho um veículo ali, não muito longe daqui. Posso levar vocês até onde precisam ir. ofereceu Enzo, indicando um carro estacionado não muito distante dali.

Com um misto de agradecimento e curiosidade, Aurora e Leticia aceitaram a ajuda oferecida pelo jovem rapaz, embarcando na esperança de que aquele encontro inesperado pudesse ser um sinal auspicioso para o recomeço que ela tanto almejava.

Enzo abriu a porta do carro com um gesto amável, permitindo que Aurora e Leticia entrassem. A calma e simpatia do rapaz dissipavam qualquer desconforto que ainda pudesse pairar no ar.

Enquanto Enzo dirigia pelas ruas movimentadas da cidade, uma conversa amena preenchia o ambiente do carro. O som suave da rádio servia de trilha sonora para o momento, amenizando a tensão que a mudança na cidade havia gerado.

- Sou Enzo, prazer em conhecer vocês.

disse ele, seu tom amigável refletindo a vontade genuína de ajudar.

- Aurora! respondeu ela, oferecendo um sorriso agradecido.

- E esta é Leticia. Estamos retornando à cidade depois de muito tempo.

- O que as traz de volta? Se não se importam em compartilhar.

perguntou Enzo, mantendo-se atento ao trânsito enquanto mantinha a conversa.

- Estou de volta para reencontrar minhas raízes, talvez até recomeçar.

explicou Aurora, seus olhos azuis refletindo determinação.

- E estamos indo para o Hotel Waldorf Astoria.

Enzo assentiu, oferecendo um olhar solidário.

- Um lugar excelente para começar. É um prazer poder ajudar. A cidade mudou bastante desde que vocês partiram, tenho certeza de que vão se surpreender.

Enquanto a paisagem urbana de Nova York passava pela janela, uma sensação de expectativa se misturava ao ar. Era como se, naquele momento de conversa e companheirismo inesperados, um novo capítulo se iniciasse para Aurora, repleto de promessas e encontros que poderiam mudar o curso de sua jornada.

Flashback ON

Enquanto Enzo conduzia o carro pelas ruas movimentadas de Nova York, uma delas despertou uma onda de memórias em Aurora. A rua, antes tão familiar, desencadeou um turbilhão de lembranças que ela tentara suprimir.

O ambiente do carro se dissolveu diante de seus olhos, dando lugar a um passado doloroso que ainda ecoava em sua mente. Ela se viu de volta àquelas noites sombrias, quando as ruas eram seu refúgio de uma realidade cruel.

As imagens borradas se materializaram diante dela. Seu pai, envolto no amargor da bebida, seus olhos destilando ira e desespero. O som dos gritos, a sensação dolorosa dos golpes, as lágrimas que teimavam em não cessar.

Flashback OFF

Um sobressalto a trouxe de volta à realidade atual. Enzo, percebendo a mudança na expressão de Aurora, interrompeu o silêncio preocupado:

- Aurora, está tudo bem?

Seu nome pronunciado por Enzo foi como um farol emergindo da escuridão. Ele não sabia o que estava se passando, mas sua preocupação era genuína. Era um lembrete de que ela não estava mais sozinha, de que aquele passado perturbador não definia quem ela era agora.

- Sim, estou bem. respondeu Aurora com um esforço para conter as emoções, desejando apagar as lembranças dolorosas que haviam ressurgido.

Enzo lançou um olhar solidário antes de voltar sua atenção para a estrada, respeitando o silêncio que se instalara no carro. O cenário da cidade, iluminada pelas luzes noturnas, parecia serenar a turbulência interior de Aurora.

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