Escolhe-me

- Oh merda! - deixo escapar entre dentes ao olhar para a porta.

Daniel olha para mim, com aqueles olhos magníficos e com ar interrogador:

- Sim querida?

Mas fingo que nao o ouvi, tenho a cabeça a engredrar várias formas de fugir daquele lugar. Mas é impossível, certo? Como vou fugir do meu jantar de noivado? Conhecer a família e amigos mais próximos do meu noivo é o objetivo ou melhor, eles me conhecerem, a noiva surpresa de uma viagem de negócios de três semanas de Daniel à Paris.

Preciso de ar, preciso de me acalmar. Respiro fundo e levanto-me e digo que preciso de ir a casa de banho, com um sorriso rápido, viro-me e fujo, não ouvi a resposta de Daniel.

Nao fui para a casa de banho, isso exige que eu passe pela entrada central e ainda nao sei o que fazer.

Saí pela porta lateral e apanho um copo de champanhe de um garçom que entrava para sala. Caminhei para um lugar mais escuro e sento-me num banco. Será que eu o vi? Será que era ele? Sim, tenho a certeza que sim. Não há dois Arons nesse mundo.

Abro a minha bolsa e retiro o telemóvel, na lista de contatos, procuro Tia Adriana.

- Tia?

- Meu bem, está tudo bem? Não é o teu jantar de noivado? - atendeu após 5 toques, uma voz ensonada.

- Sim - atrapalhada nem me lembrei da diferença de fusos entre Paris e Nova York - Desculpa. Mas acho que não consigo continuar com isso.

- Luísa, o que aconteceu? - Após alguns segundos de silêncio, Adriana com a voz mais desperta questionou.

- Não consigo continuar a fingir ser uma noiva muito apaixonada, meio lerda e snob. Eu vou conhecer a família e os amigos do Daniel e vou ser analisada, julgada e sentenciada, antes de abrir a boca e loira - explodi enquanto passava ao pelo cabelo pintado para os tons que Daniel apreciava.

Após mais alguns segundos de silêncio, Adriana disse devagar: Querida, sabíamos que não ia ser fácil mas o julgamento dessa gente nao importa, se conseguires casar com ele. Foi para isso, que nos preparamos este tempo todo. Nao entendo porque só agora tens essa explosão. Tem corrido tudo tão bem. Nunca pensei que tivesses um anel no dedo em 3 semanas, querida e com casamento a vista em pouco tempo. Existem mulheres e mulheres atrás disso , tu sabes do que falo. O que aconteceu?

Adriana tinha razão, estava a preparar-se para se casar com um homem rico, muito rico desde que tinha atingido a maioridade. Oito anos, a trabalhar imenso para pagar os seus estudos em gestão e cursos de línguas, etiqueta, a conhecer as melhores marcas, a vestir-se como um mulher de posses, a maquiar-se, a seduzir com tudo o que tivesse ao seu alcance, para casar com um homem que lhe abrisse as portas ao dinheiro que precisavam.

Daniel Slaugther não foi uma escolha aleatória, foi o escolhido de 5 candidatos, após muitas investigações, por ser o mais novo herdeiro dos 5 homens da lista final que Adriana e ela, tinha escolhido e todas as investigações indicarem que era uma boa pesso, apesar de ter algumas namoradas, era um romântico e um desastre nos negócios, mas que em breve iria aceder ao posto máximo na sua família, ou seja, gerir uma fortuna colossal. Ela aprendeu tudo sobre os seus gostos, suas preferências em tudo e transformou-se na mulher dos seus sonhos.

Bebi a taça de champanhe e olhei para frente, o restaurante era fabuloso, com 3 estrelas Michelin, estava todo reservado para o jantar. havia um lago, com luzes dispostas nos lugares certos para criar um atmosfera romântica, com bancos a volta e lugares escuros para beijos roubados, sim já fui romântica, noutra vida. Essa vida que veio ao meu jantar. E ri-me, azar

- Luísa, estás aí?

- Tia, o Aron está aqui, veio para o nosso jantar. Deve ser amigo do Daniel, eles acabam sempre por se conhecer, certo? Essas famílias ricas, andam sempre juntas e no fim são todos amigos. A única pessoa que pode estragar tudo, está aqui.

- Oh querida! Agora percebo. O que vais fazer? O Aron pode arruinar tudo. Devia ter ido contigo. Esse sapo...

Ri-me: E o que ias fazer?

- Expulsava esse idiota do restaurante.

- Gostava de te ver tentar. Mas só precisava de te ouvir e lembrar-me dos meus objetivos e beber um goles de coragem líquida. O Aron já

não consegue abalar-me. Tenho de entrar. Uma noiva desaparecida nao vai melhorar nada.

- Isso querida, fico acordada, liga-me se precisares. Adoro-te pequenina. Tu és capaz e mil vezes melhor do que qualquer pessoa ai

Levanto-me e quase caio para o chão, com susto da figura alta e silenciosa que tenho por trás. Exala poder e perigo

Oh meu deus, deixo sair antes de me conter.

- Sim, imagino que seja disso que precisa - Aron deixou aquela voz meio mecânica e fria vir para fora. Estava mais bonito, mais forte.

Mas já me tinha recuperado do susto, e se não era eu, uma boa mentirosa.

- Boa noite senhor, deu-me um susto. Tenho de entrar. - como quem acaba de se lembrar - É convidado?

- Luísa, vamos brincar aos desconhecidos? - olhou-me diretamente nos olhos e abanou a csbeça - Convidada também? Ou acompanhante de algum idiota rico? - atirou com sarcasmo e um meio sorriso.

Apesar de manter a postura, eu não consigo deixar de reparar, o quanto ele era fabuloso, não é um homem lindíssimo, mas é muito mais interessante, aqueles caracóis negros, um par de olhos de verdes com cílios de fazer inveja a maioria das mulheres, nariz grande, a boca grande e com lábios cheios e o queijo quadrado, juntavam-se para criar um ar perigoso e misterioso. E eu ja estava calada há demasiado tempo a olhar para aquele idiota.

- Sim convidada - deixo sair, a olhar diretamente para ele - do meu jantar de noivado.