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Curando as Feridas

Curando as Feridas

Adrian@0511

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Capítulo

"Algumas feridas não cicatrizam, apenas aprendemos a conviver com a dor." Essa é a frase que venho repetindo para mim há alguns anos. Tenho agora 22 anos e há 5 anos carrego a pior lembrança que alguém poderia sentir. Era para ser um dia de comemoração, o tão esperado fim do Ensino Médio. A partir dali, teríamos que tomar decisões que iriam refletir em toda nossa vida. Então por que não comemorar? Por que não brindar essa transição para a vida adulta? Apesar de não ser meu estilo, concordei em comemorar com a turma. Era um rito de passagem e por que não celebrar? Fomos para um sítio e tudo ia bem até que meus limites foram ultrapassados. Não tive voz, não fui respeitada. Pedi para sair, disse que não queria ficar ali, mas não me deixaram. As pessoas que poderiam me ajudar viraram as costas, ignorando totalmente a gravidade da situação. Gritei para sair, pedi ajuda, implorei para não ser forçada, mas foi em vão. Fui arrastada para um cômodo fechado e, mesmo repetindo várias vezes para eles pararem, não fui ouvida. Parecia que eles estavam aproveitando o que estavam fazendo. Um momento que deveria ser de alegria se transformou em pura dor. Essas lembranças assombram minha vida, mas eu me recusei a compartilhá-las com outras pessoas por medo que sentissem pena de mim. Preferi carregar sozinha todo esse peso, vivendo momentos que jamais conseguirei esquecer e que mudaram completamente minha essência. Me afastei do mundo e, mesmo escolhendo não compartilhar com ninguém o que vivi, sofro por ter me distanciado dos meus pais e do meu irmão para não envolvê-los nessa dor. Agora, essa história volta para me atormentar. Justo agora que me permiti abrir para o amor e pensei que finalmente me livraria de todos esses tormentos que me acompanham por tantos anos. Nunca imaginei que pudesse me apaixonar, pois carrego feridas demais, traumas, inseguranças. No entanto, acabei encontrando o amor no lugar mais improvável. Sou voluntária em uma ONG e lá conheci Karl, um militar lindo com um sorriso que ilumina tudo ao redor. Karl também é voluntário e, apesar de resistir a esse sentimento, acabei me apaixonando por ele. Ambos carregamos dores do passado. Será que juntos conseguiremos enfrentar nossos fantasmas e construir um relacionamento livre de traumas?

Capítulo 1 1º capítulo - Encontro

Anna...

Me chamo Anna Luiza, mas a maioria das pessoas me chamam apenas de Anna, tenho de 22 anos, sou bolsista, estudante de psicologia e estou no último ano da faculdade. Tenho um objetivo bem definido por isso sou focada nos meus estudos e concílio a vida acadêmica com o trabalho voluntário que faço numa ONG que trata crianças com transtorno do espectro autista (TEA), além disso, faço um estágio de meio período numa clínica de psicologia, que também atende crianças. Procuro ser o máximo organizada e ter controle sob todos os aspectos da minha vida.

Moro sozinha desde os meus 20 anos por opção própria e não permito que nada tire o foco dos meus objetivos que é me formar e seguir carreira clínica atendendo crianças com algum tipo de dificuldade intelectual. Não costumo sair de casa para me divertir, a minha rotina é sempre a mesma, ONG, meu estágio e a faculdade. Aos finais de semana aproveito para me concentrar no TCC, pois em poucos meses terei que apresentá-lo e preciso de uma excelente nota para conseguir bolsa para minha pós. Como moro sozinha, procuro sempre tirar um tempinho para ir à casa dos meus pais, moro sozinha por opção e um colinho de mãe é para onde sempre quero ir quando me sinto solitária e precisando de um pouco de atenção.

Há alguns anos vi a minha vida ser destruída por um monstro, mas essa é uma parte da minha vida que nunca dividi com ninguém, nem ao menos com os meus pais. Depois de tudo que vivi pensei que nunca poderia me apaixonar por alguém, até conhecer Karl, que também é voluntário na ONG e trabalha em dias alternados com as mesmas crianças que eu. Não sei muito sobre ele, pois nunca conversamos e o que sei é apenas aquilo que consigo ver, ele é militar, pois na maioria das vezes vai à ONG de farda, o que para as crianças é o máximo, pois elas o veem como um super-herói, e têm verdadeira adoração por ele. É incrível a facilidade que ele tem em se aproximar das crianças, mesmo aquelas que tem mais dificuldade de contato, algo nele faz com que as crianças se entreguem, como se elas conseguissem ver algo além do físico, e essa entrega é surpreendente.

Karl é alto, claro, tem um olhar expressivo e eu sinto-me nua quando percebo que ele também me olha, o seu sorriso então, me deixa sem ar. Não sei se ele é comprometido, casado imagino que não, pois ele não usa aliança, mas um relacionamento? É bem provável, afinal como alguém como ele não teria uma namorada?

Somos voluntários há alguns anos, mas Karl ficou um período sem aparecer, acho que ele passou por problemas familiares, porém não sei nada a respeito. Como disse, nunca conversamos, tivemos alguns encontros no corredor, mas trocamos apenas um olá, sou muito introvertida e além disso, sinto-me estranha na presença dele, sempre que ele se aproxima o meu coração dispara, sinto como se ele fosse sair a qualquer momento, as minhas mãos começam a suar frio, fico estática. Por isso, nunca consegui dizer mais que oi e ficar me lamentando depois por não conseguir desenvolver uma conversa com ele.

Karl também é muito reservado, quando está com as crianças se dedica exclusivamente a elas, nunca vi ele afastar-se para conversar com outras pessoas, o seu momento é exclusivo delas, a sua dedicação é total. É como se as crianças trouxessem algo bom para Karl, tamanha sua devoção. Sempre o vejo de farda, e isso passa um ar mais sério, mais fechado, mas quando ele sorri tudo em volta se ilumina. Os seus cabelos são claros, não chega a ser loiro, mas um tom mais claro de castanho, ele usa um corte mais social de cabelo que harmoniza perfeitamente com o seu rosto. Ele é perfeito e eu poderia ficar horas admirando o seu sorriso e imaginando como seria um encontro com ele. Confesso que já sonhei com ele várias vezes, mas nem me animo, porque ele nem aumenos me vê.

Não consigo entender o motivo, mas me sinto completamente ligada a ele, acho inclusive que os meus suspiros por ele já estavam levantando suspeitas de Thyna. Ela é a fisioterapeuta da ONG e faz esse trabalho com as crianças à 8 anos, foi através dela que conheci o projeto, na verdade, precisei fazer um trabalho para faculdade e descobri pelo Instagram uma página que ela administra e que mostra o dia a dia das crianças, puxei conversa para entender melhor como funcionava e para ter as informações necessárias para realizar o meu trabalho e ela me convidou para visitar a ONG, foi amor à primeira vista e poucos dias depois já estava trabalhando como voluntária. Acho que o amor que Thyna tem por esse trabalho me contagiou e confesso que foi uma das melhores decisões da minha vida.

Thyna é solteira, tem por volta de 30 anos e vive em busca de uma paixão avassaladora, ela está sempre em busca de histórias de amor, parece até que rastreia no ar o cheiro de amor, rsrs. Não somos amigas e não gosto de misturar as coisas, por isso nunca comentei nada sobre Karl, mas ela já tentou várias vezes saber se eu sentia alguma coisa por ele, pois segundo ela os meus olhos não negam que sinto algo por ele. Thyna é uma ótima pessoa, mas eu sou muito reservada e não gosto de misturar a minha vida pessoal, por isso sempre desconversei.

Sai de casa há dois anos, apesar de ser muito apegada a minha família, sempre quis ter a minha independência, comecei a trabalhar como aprendiz aos 14 anos e sempre tive uma meta estabelecida, desde então me organizei para comprar o meu primeiro apartamento, como sou bolsista na faculdade não tenho despesas então consegui comprá-lo há dois anos. O meu apartamento é pequenininho, porém tem a minha identidade em cada cantinho, a minha casa é o meu refúgio, é um lugar que amo voltar ao final de cada dia. Fica bem localizado e facilita muito o meu deslocamento, pois como ainda não tenho carro preciso de utilizar ônibus ou metrô para ir ao trabalho e a faculdade. Sou muito comprometida e organizada com a minha vida, gosto de ter o controle de tudo e Karl é o que me faz perder o controle. Depois do que passei nunca me envolvi com alguém, nunca me apaixonei, mas sei o que esse tipo de sentimento pode me causar. Sou extremamente romântica, de sonhar com um príncipe encantado montado num cavalo branco e lidar com um sentimento assim não poderia ser algo positivo para mim. Por isso, sei que o melhor é manter-me distante de Karl, e evitar qualquer contato para não me machucar.

O encontro...

Concilio o meu tempo com a clínica onde faço o meu estágio, a ONG e a faculdade. Mas na ONG sinto paixão por estar, adoro as crianças e quando estou com elas nem vejo o tempo passar. Certo dia me distraí com as crianças e quando me dei conta já estava super atrasada para a faculdade, não podia perder a aula, pois era superimportante o conteúdo e ele ia complementar o meu TCC. Quando percebi, juntei os meus objetos, despedi-me das crianças e saí correndo pelos corredores como uma louca e não poderia ser diferente por ser eu, bati de frente em alguém e fui direto ao chão. Era incrível como eu tinha esse poder, estava sempre no chão após trombar em algo ou em alguém. Desta vez senti algo diferente, mas morrendo de vergonha apenas olhava para chão, balançando a cabeça em sinal de reprovação por minha estupidez.

Por que isso sempre acontecia?

Percebi então uma mão estendida como apoio para que eu pudesse me levantar, morrendo de vergonha, nem olhei de quem se tratava, estava sem graça, apenas aceitei a ajuda e ao ficar de pé percebi que era Karl. Ele me olhou fixamente e umedeceu seus lábios com a ponta da língua. Senti na hora o meu corpo reagir, fiquei paralisada até que ele se desculpou;

_ Me desculpe, estava distraído e não percebi que você vinha correndo, se machucou? Se precisar podemos ir até a posto de enfermagem, a sua mão está fria.

Não consegui dizer nenhuma palavra, estava congelada admirando ainda os olhos de Karl, como alguém podia mexer tanto comigo? Então Karl disse mais uma vez;

_ Posso acompanhar você até lá, você está pálida e pode ter tido uma queda de pressão.

Consegui então me recuperar e sem graça disse que estava atrasada.

_ Não precisa, está tudo bem. Me desculpe também, mas preciso ir estou muito atrasada.

_ Acho que você não devia sair assim, você não parece bem.

_ Estou, sim, obrigada por me ajudar e desculpe-me também. Estou muito atrasada para a faculdade e tenho aulas importantes hoje por isso estava correndo. Mais uma vez me desculpe e não se preocupe está tudo bem comigo. Tenho que ir agora.

_ Se você diz que está bem, tudo bem então. O seu nome é Anna, não é?

_ Sim. _ respondi empolgada por ele saber o meu nome.

_ E você é Karl?

_ Sim, somos voluntários no mesmo grupo de crianças. Já te vi algumas vezes, e acho muito bonito o trabalho que você faz com elas.

Fiquei encantada por saber que ele sabia o meu nome, mas não podia conversar com Karl, por mais que quisesse aproveitar aquele momento e saber mais sobre ele, estava muito atrasada para a faculdade e precisava ir.

_Karl, me desculpe, mas realmente preciso ir.

_ Claro, vai lá. E tome cuidado, você realmente não me parece bem.

_ Não se preocupe, estou bem sim pode deixar, tomarei cuidado. - Falei desconcertada e sai.

Durante todo caminho até a faculdade fiquei pensando em Karl. Como ele podia mexer tanto comigo e que reação foi aquela do meu corpo quando o vi umedecer seus lábios. Meu Deus, como queria poder beijá-lo. A sua boca apesar de pequena, tinha tom suave de rosa.

_Como ele é lindo!

Cheguei na faculdade, mas não consegui me concentrar em nada, era como se não estivesse ali. Karl não saia da minha cabeça, seu sorriso, sua boca, me lembrei do choque e como o seu abdome era firme. Meu Deus, estou perdida agora, como vou tirá-lo da minha cabeça?

Como não consegui concentrar-me, após o intervalo preferi ir para casa, precisava colocar os meus pensamentos em ordem, mesmo me lembrando a todo momento de Karl, não podia deixa esse sentimento que tenho por ele crescer, não posso perder agora o controle da minha vida. Não estou pronta para me envolver com alguém, mesmo que esse alguém seja Karl. Vou focar em minha faculdade, preciso de 100% neste TCC para conseguir outra bolsa para minha pós. Não posso colocar tudo a perder agora.

Afastamento

Anna...

Acordei muito ansiosa, hoje vou à ONG e não sei como vai ser se vou me encontrar com Karl, estou completamente perdida neste sentimento, mas tudo que eu realmente queria era tirá-lo do meu coração. Preciso me concentrar e não posso deixar de ir à ONG pois as crianças estão evoluindo tão bem, por isso o melhor é procurar saber melhor como são as visitas de Karl e evitar ao máximo encontrar com ele, para o meu bem.

O meu dia hoje vai ser muito corrido, preciso-me concentrar em tudo que tenho que fazer, tenho estágio agora pela manhã, então tenho que me organizar e me concentrar nos meus atendimentos, este último período na faculdade tem sido um desafio, já estou realizando alguns atendimentos supervisionados e não posso passar as crianças a minha ansiedade.

Hoje principalmente atendo a Clara, uma menininha linda de 8 anos, que perdeu a sua mãe num acidente de carro faz 5 meses e ela não aceita que nunca mais verá a sua mãe. Os meus encontros com ela mexem muito comigo, por isso não posso deixar que outras coisas me abalem, não posso passar nenhuma sensação de tristeza para Clara, pois isso pode prejudicar todo avanço que já tivemos.

Essa não é a área que quero atuar, não consigo lidar com os meus próprios problemas e sem contar que absorvo demais essas dores, mesmo de pessoas que não conheço, mas faz parte do meu estágio, então doou-me ao máximo que posso. Sonho várias vezes com Clara e na dor que ela sente, queria muito poder ajudá-la passar por esse momento, por isso não posso distrair-me. Vou para o trabalho e preciso focar.

Consigo desligar minha cabeça de Karl, e o dia passa rápido demais, quando assusto, vejo que já eram 12:45 horas e preciso correr, o meu horário na ONG começa às 14:00 horas e ainda nem almocei. Decido fazer um lanche rápido e vou caminhando para ONG, o bom é que os lugares são perto, então mesmo com tanta correria, consigo respirar. Ainda vejo um lado bom nessa correria, pois não tive nem tempo de pensar em Karl, porém meu alívio durou pouco, pois foi só me aproximar da ONG que sinto algo diferente até ouvir o meu nome.

_ Anna!!

Não precisei nem me virar, já sabia que era Karl pela reação do meu corpo ao ouvir o meu nome. Senti um arrepio no meu corpo, o meu coração acelerou e as minhas mãos começaram a suar. O meu coração batia tão forte, que parecia que qualquer pessoa poderia ouvi-lo.

_ Oi Anna e então está tudo bem com você?

Karl aproximou-se dizendo e me fazendo congelar.

_Você está pálida mais uma vez Anna, não seria melhor olhar isso? Você pode realmente estar doente.

Fiquei sem graça com a percepção de Karl e tentei disfarçar.

_ Não estou doente é que estou sempre correndo, a minha vida tem sido uma loucura devido à faculdade, estágio, ONG e as vezes mal tenho tempo de me alimentar.

_Você precisa se cuidar ou vai realmente adoecer.

_Precisei trocar o meu dia para ficar com as crianças para hoje, mas elas não vieram, você foi avisada?

_Ninguém me falou nada, o que houve com elas?

_Nada sério, elas foram levadas para uma atividade fora da ONG, parece que é um projeto novo, ainda não sei muito bem como funciona. Como eles foram avisados em cima da hora, não conseguiram nos avisar.

_Ah, eu entendo. Bom, vou aproveitar então e ir para a faculdade, tenho algumas atividades para pôr em dia.

_Que pena, pensei que pudéssemos conversar um pouco. Ainda quero-me desculpar pelo outro dia. Nos falamos tão pouco é tão importante assim essas matérias? Podíamos entrar e conversar um pouco.

Não tive como negar aquele pedido, apenas assenti com a cabeça e entramos. Fomos em direção ao espaço de convivência que era o local onde ficávamos com as crianças, um lugar que para mim era mágico, pois sentia todo amor que as crianças tinham, sua pureza, a inocência de cada uma delas. Sem contar que a decoração desse lugar era linda, com vários brinquedos, o espaço era dividido em vários ambientes para que cada criança ficasse onde mais se identificava. Um dos ambientes simulava um jardim e sempre estava florido, tinha um balanço, e eu nem precisava dizer que era esse o meu lugar preferido. Direcionei Karl até o espaço, me sentei no balanço e Karl ficou de pé, me observando. Não conseguia explicar a nossa ligação, era como se já nos conhecemos, Karl me olhava fixamente e tive a sensação de já ter estado ali com ele, de ter vivido aquele momento.

Me desfiz deste pensamento e desculpei-me;

_ Karl, queria-me desculpar, você não faz ideia de como é comum para mim sair trombando em coisas e pessoas, já perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu.

Percebi que ele achou graça por estar tão envergonhada e com um sorriso no rosto apenas me falou;

_ Não precisa se desculpar, eu também estava distraído, parte é minha culpa. Me desculpe também.

Rimos da situação e continuamos a conversar, na maior parte do tempo falávamos sobre as crianças, e nem vimos o tempo passar, até que Thyna entrou na sala e se assustou a nos ver ali.

_ Anna! Karl! O que fazem aqui?

_ Oi Thyna, tudo bem? Viemos para ficar com as crianças, mas soubemos somente ao chegar que elas não estariam aqui hoje. Acabamos entrando e ficamos conversando.

_ Anna você viu que horas são? E a sua faculdade?

_ Meu Deus, perdemos completamente a noção do tempo e eu perdi dois tempos da faculdade.

_ Nossa! _ Karl, falou também assustado ao ver como o tempo passou tão rápido.

_ O tempo passou voando realmente nem percebemos que já havia anoitecido.

Fiquei tão desconcertada com a situação, que me despedi o mais rápido que pude e fui embora, sabia que Thyna com o seu faro ia começar a fazer perguntas. Não queria responder nada e muito menos correr o risco de que ela fizesse algum comentário desnecessário sobre Karl.

Como já havia perdido boa parte das aulas, preferi ir para casa, chamei um carro pelo aplicativo e agradeci a Deus por ser atendida rápido. Cheguei em casa e nem me permitir pensar no que havia acontecido, concentrei-me no TCC e tentei não pensar em Karl. Sabia que as coisas estavam saindo do controle e que seria impossível controlar o que sentia por ele. Não sei como explicar, mas é como se nos conhecêssemos a muitos anos, por mais que ele me causasse reações inesperadas, estar com ele me trazia em sentimento de saudade, não era um sentimento comum não era como se estivesse acabado de me apaixonar, era como se estivéssemos nos reencontrando, como se já tivéssemos vivido isso antes. Karl mexia com as minhas emoções de uma maneira que não podia explicar.

Eu sempre fui mais contida, nunca fui de paqueras, de aventura, sempre soube que quando sentisse algo por alguém aquele sentimento seria para sempre. Era vista sempre como chata, pois quando saia nunca me interessava por alguém, eu sempre falei que para me envolver com alguém precisaria ter algo mais que um simples rosto bonito, precisava envolver sentimento. E esse sentimento estava crescendo por Karl, não era apenas uma atração, a beleza de Karl me tirava o fôlego, era algo mais. Parecia que o destino quisesse que estivéssemos juntos, era como se eu fosse atraída para ele. E esse sentimento estava tomando proporções que me deixavam com medo.

Depois daquele dia, não consegui mais evitá-lo, passamos a conversar sempre, as crianças adoravam nos ver juntos e passamos a fazer em conjunto as atividades na ONG. Karl tinha pelas crianças o mesmo carinho que eu e isso me fazia admirá-lo ainda mais. Era paciente, cuidadoso e isso me fazia sonhar acordada, certo dia imaginei até como seria ter uma família com ele.

Apesar de conversarmos bastante, ainda sabia muito pouco sobre ele, quase não conversávamos sobre a sua vida pessoal. Sabia que ele havia servido o exército, que seguiu carreira militar e que estava estudando para subir de patente. Morava com a sua mãe e uma avó, ele havia perdido um irmão, mas não entrou em detalhes sobre o motivo. Mas percebi que essa perda trazia muita dor para ele, e parecia sentir até mesmo uma culpa. Mas como ele não quis entrar em detalhes, não perguntei mais nada. Nunca falamos sobre relacionamentos, nos tornamos amigos e apesar de tudo que sentia por ele, era suficiente para mim. Preferi não me envolver mais, nos víamos apenas na ONG, apesar de algumas vezes Karl ter me chamado para almoçar ou dar um passeio, nunca aceitei, sempre usei como desculpa o meu TCC e ele parecia aceitar.

Passaram três meses desde que começamos a conversar e sempre nos encontrávamos na porta da ONG para iniciarmos juntos, os trabalhos com as crianças. Certo dia enquanto entrávamos o telefone de Karl tocou e percebi que naquela ligação tinha a resposta que há alguns meses eu esperava. Karl pediu licença e afastou-se um pouco para atender, mas pude ouvir quando ele falou o nome Liana. Sabia que não era sua mãe, pois o seu nome era Sandra e o nome da sua avó era Neide, também sabia que não tinha irmã e pela reação de Karl percebi que Liana era alguém importante na sua vida, pela forma que ele falava com ela e apesar de sentir um peso nos seus olhos. Apesar de esperar que Karl tivesse alguém, foi difícil para mim e não sabia se poderia esconder dele a decepção. Por isso acabei entrando na sala antes que Karl pudesse ver a minha expressão, iniciei as atividades com as crianças do meu grupo separadamente e evitei qualquer contato. Ao final do dia, apenas me despedi sem dar nenhuma explicação. Não podia deixá-lo perceber a minha chateação. Sabia que não existia nada entre nós e Karl nunca esboçou nenhum interesse, nunca falou nada que pudesse dar a entender sobre os seus sentimentos, mesmo assim o que eu sentia por ele só aumentava. A possibilidade de Karl ter alguém na sua vida era o suficiente para me afastar, sempre soube que não me faria bem esse sentimento e agora sabendo que ele tem alguém é um motivo maior para me obrigar a esquecê-lo.

Como fiquei afastada de Karl sem ao menos explicar o motivo, Karl me ligou várias vezes, mas não atendi as suas ligações. Ele insistiu algumas vezes, até que optou por enviar uma mensagem perguntando por que havia ido embora daquela forma e se estava tudo bem. Vi a mensagem, mas não respondi naquela hora. Mais tarde, recebi outra mensagem;

_Está tudo bem Anna, fiquei preocupado com você. Quando puder me liga.

_Estou preocupado, aconteceu algo?

Percebi que não poderia deixá-lo sem resposta e apenas falei que estava tudo bem.

_ Oi Karl, está tudo bem, não se preocupe.

Após a resposta ele não insistiu mais.

Pela manhã, fui até a ONG e avisei que precisaria mudar o dia com as crianças, aleguei alteração nos horários da faculdade, mas o que eu queria era não encontrar mais com Karl. Alguns dias se passaram e Thyna percebeu que alguma coisa aconteceu, tentou conversar, mas me limitei a dizer que estava tudo bem e a fiz prometer não falar nada com Karl.

Segui, sem tentar saber o que Liana era de Karl, tinha que me manter afastada, não podia deixar o que sentia por ele me dominar. Aquele momento era perfeito para cortar o mal pela raiz.

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