William Donavan é um magnata do petróleo, dono de um patrimônio maior do que ele pode contar. Mas sua vida de riquezas e regalias não impediu que uma doença terrível o acometesse. Agora ele tem um ano de vida e precisa correr atrás de um herdeiro. É vagando em busca de uma solução que ele se depara com Sophia Davis, uma jovem que trabalha como garçonete de dia e passa a noite dormindo no banco do parque. Sophia está passando a pior fase da sua vida desde que sua mãe se foi e seu padrasto a colocou para fora de casa. Sem dinheiro, ela trabalha e guarda cada moeda querendo poder pagar um lugar para viver. Quando é abordada por um homem que lhe oferece um contrato de casamento, que inclui um filho, ela só precisaria assinar e sua vida mudaria para sempre.
Doença, está aí uma palavra que nunca me importou muito, quando se tem dinheiro, não nos preocupamos com coisas pequenas que podem ser facilmente resolvidas pagando os melhores médicos do mundo. Mas quando essa palavrinha vem seguida de "terminal", se torna um grande pesadelo para o rico ou o pobre.
Tudo o que eu quero é tempo, nesse momento da minha vida não me importa o quanto de dinheiro eu tenho, as empresas no meu nome, quantos carros e casas eu possuo. Só me importa quanto tempo de vida eu tenho.
Um ano, foi o que meu médico disse, um maldito ano. Trezentos e sessenta e cinco dias para que eu pudesse usufruir dos meus bilhões, para que eu conseguisse ter um herdeiro e dar uma continuidade ao meu legado.
E foi assim que vim parar nesse terraço, acompanhado da garota que vi dormindo em um banco no parque. Não é todo dia que se conhece uma menina tão linda morando nas ruas de Seattle.
- Não pularia daí se fosse você. - Tentei soar baixo para não assustá-la, mas não teve jeito.
A garota levou as mãos ao peito com o susto, se virando para me encarar. Os olhos azuis me encararam com espanto e ela deu outro passo, se aproximando ainda mais da beirada.
- Não sabe quem eu sou, esse terno caro e o relógio que carrega... - ela sacudiu a cabeça em negação. - Está claro que somos de mundos diferentes, é claro que não pularia se fosse eu.
Era isso o que as pessoas sempre viam quando olhavam para alguém como eu, terno, sapatos, relógio, o dinheiro gritava vida perfeita, solução para os problemas e eu estaria sendo hipócrita se dissesse que não é verdade, ao menos era até ouvir meu diagnóstico.
- E se fizéssemos uma troca? Você leva meu dinheiro e eu os anos de vida que você quer jogar fora.
Dei alguns passos, me aproximando da loira, aproveitando que ela encarava a distância do terraço até o chão.
Não sei o que tinha me dado quando a vi no parque, dormindo encolhida, agarrada à mochila que servia de travesseiro e se abrigava em baixo de um sobretudo, que não fazia um bom trabalho como cobertor.
Depois a segui até a lanchonete onde trabalhava, sai de lá quando começou a ficar estranho, mas continuei a observar do outro lado da rua e vi o momento exato em que ela subiu até aqui.
- Do que está falando? Você é o maluco que estava na lanchonete hoje mais cedo. Não se aproxime! - ela se virou olhando para mim. - Se chegar mais perto eu vou pular!
- Me perdoe, achei que se jogar já era sua intenção. - Provoquei, mas é claro que não queria que isso acontecesse de verdade, não a deixaria desperdiçar a vida assim, mesmo que aquilo não fosse da minha conta.
- O que você quer aqui? Vá embora e finja que não me viu aqui, seja lá o que for que está querendo, seu velhote riquinho e metido a besta, eu não estou interessada!
O cabelo loiro esvoaçou com a força do vento. Tinha que admitir que ela era linda, uma garota jovem que parecia estar em volta dos seus vinte e três anos, com os olhos azuis mais fascinantes e tristes que já vi na vida.
- Eu estava pensando o mesmo que você, sabe, me jogar daqui e acabar com tudo. - Menti na cara dura, eu jamais cogitaria em tirar minha própria vida, gostava muito de estar vivo e com a vida que muitos queriam, mas enquanto eu falava com ela, conseguia me aproximar.
- Por que um rico faria isso? Se jogaria de um prédio? Que tipos de problemas você pode ter para querer acabar com a própria vida?
- Eu posso te perguntar o mesmo, que tipo de problema uma jovem tem para desejar deixar esse mundo? - Finalmente, tinha sua atenção toda virada para mim. - Que tal se você me contar o seu e eu te conto o meu?
Ela piscou rápido os cílios longos e deu uma última olhada na beirada do prédio. Mas algo na rua a assustou o suficiente para que ela quase perdesse o equilíbrio.
As mãos foram rápidas em agarrar o ferro que rodeava toda a estrutura e no segundo seguinte eu estava lá, a puxando para cima. Uma pessoa que quer se matar definitivamente não segurava uma barra assim para impedir que caia, estava claro que ela não queria isso.
- Te peguei! Te peguei! - exclamei quando cai no chão do terraço abraçado com ela.
O corpo macio sobre o meu parecia não pesar quase nada, tão leve quanto imaginei que seria. Mas o cheiro dos seus cabelos invadiu meu nariz, e para minha surpresa, era incrivelmente bom.
Apertei ainda mais os braços em volta dela, sentindo suas curvas se encaixarem de forma perfeita contra mim.
O choro que explodiu dela me dizia o medo que estava sentindo e todo o desespero. Nunca soube o que era isso até algumas semanas atrás.
- Ele está aqui, me encontrou outra vez. - A garota repetia com o rosto enterrado no meu peito.
- Quem está aqui, querida? - segurei seu rosto, erguendo para que ela me encarasse. As maçãs agora estavam molhadas, o nariz vermelho e os olhos ainda mais assustados. - Eu posso te proteger, é só me dizer quem é.
Os olhos azuis varreram o lugar, como se ela esperasse que algo ou alguém fosse brotar do nada ali. Dava para ver que ela estava morrendo de medo.
- Não posso deixar ele me pegar! Me tira daqui, me ajuda a sair daqui e faço o que você quiser! - pediu com desespero e eu me levantei do chão, espanando todo o pó que consegui, antes de puxá-la junto de mim.
- Ninguém vai te tocar, fique tranquila, não vou deixar que nada de ruim te aconteça. - Abri a porta pesada de ferro e estendi a mão para ela. - Vamos?
- Não podemos ir por aí, ele... ele vai me ver e... Não podemos!
"Ele" então era algum filho da puta que a estava perseguindo. Fazia sentido que ela ficasse olhando em volta a todo segundo enquanto trabalhava.
- Não vou deixar ele chegar perto de você, posso te proteger. - Ela me encarou, desviando os olhos para minha mão estendida, a dúvida transbordando. - Sei que não tem nenhum motivo para confiar em mim, mas te garanto que se vier comigo, ninguém nunca mais vai lhe incomodar!
Então ela aceitou, deslizando a mão delicada e calejada sobre a minha. Eu não perdi tempo, desci as escadas com ela em meu encalço, até alcançarmos o meu carro.
Os olhos dela varreram a rua, em busca desse tal alguém, mas eu a empurrei para dentro do carro, não a queria correndo perigo por ali, olhando em volta, procurando alguém que não lhe incomodaria mais. Porque eu fui sincero quando disse, não deixaria que ninguém a incomodasse mais.
Outros livros de Lili Marques
Ver Mais